O numero é 403. Não esqueçam este
número de maneira alguma.
Estava eu em casa da minha amiga
Vera e queria saber como, de Cascais chegaria a
Sintra e vice-versa, tudo isto porque algumas pessoas iriam chegar do
Brasil e eu tinha que, no domingo, levá-los à Sintra e depois retornar à Oeiras
onde almoçaríamos na casa da minha amiga.
Já fui por diversas vezes à
Sintra, de ônibus, de comboio, de carro, mas sempre sai de Lisboa, ou de
Carnaxide, mas agora a Vera mora em Oeiras e eu não queria sair de Oeiras para
ir pegar trem em Lisboa para ir à Sintra. Comecei a pensar como é que Cascais,
tão pertinho de Sintra, não tinha algum transporte público ligando os dois
sítios. Fui pesquisar na internet e encontrei duas opções, ambas saindo do
terminal rodoviário de Cascais, as camionetes de números 403 e 417.
A principio pensei: vou pegar
qualquer delas, se a finalidade é chegar em Sintra e retornar para Cascais,
qualquer uma das duas serve.
Não, não é assim.
Primeiro tive que procurar a paragem, dentro da próprio terminal,
da caminhonete de no 3. A indicação não
é visível. Olhe que até perguntei a algumas pessoas, que também não souberam
informar, mas, finalmente, um motorista me disse. Por incrível que pareça é a
primeira paragem da pista que fica no interior da estação, no sentido dos ônibus
que estão chegando. A de nº 417 é a primeira ou segunda do lado externo do terminal no sentindo contrário. Bom, o
certo é que esperei um pouco e a caminhonete chegou, ela sai de quarenta em
quarenta minutos, tanto de um terminal quanto de outro – Cascais ou Sintra.
Confesso que peguei o ônibus sem
grandes pretensões, mas, que grande surpresa: primeiro ele percorre vários bairros de Cascais. Conheço a vila,
entretanto fico sempre por ali por perto
da estação de comboios, já fiz alguns incursões, mas nada que me afastasse
tanto da estação que não pudesse voltar andando. Aliás, tenho um passeio
predileto que recomendo a todos que um dia visitem Cascais: vão até o Jardim
que fica na parte alta, é só você subir
aquela ladeira maravilhosa, de onde, a cada passo, você vai descobrindo a baía de Cascais, não há como errar, a subida margeia o mar e
você chega ao forte, dali é só você passar em frente a ele, atravessar a
rua, dobrar para a esquerda e você vai
encontrar a grade do jardim acompanhe a grade até a entrada principal e aí
entre, atravesse este jardim todo se tiver folego, que você perderá quando alcançar o outro lado
e encontrar o castelo e à frente deste, o farol e o lugar, talvez o mais bonito
recanto de Cascais. Ali, por favor, não
se esqueça de entrar no restaurante do
lado esquerdo, você vai ver as escadinhas, é imperdível. Bom, todavia eu não estou falando de Cascais,
e sim do caminho para Sintra.
É mesmo uma grande e prazerosa viagem. Você vai passar pela Guia,
Alcabideche, Belora, Rana sei lá mas o que e vai se afastando do centro, e aí
meu amigo, é como uma mágica: de repente você começa a ver, deslumbrar o mar à
sua esquerda se você estiver indo em direção à Sintra. Aí você se distrai olhando
o mar, lá embaixo, porque estamos em uma serra, e, de repente, quando este desaparece entre as casas, você retorna a estrada e pense:
agora estamos em estradinhas tão estreitas que se dois ônibus tiverem de passar em direções opostas, um tem
que parar, se encostar bem de um dos lados da estrada para que o outro possa
passar. Casinhas pequenas ladeiam a estradinha. Plantações de
couve, alface, folhas verdes em geral
aparecem aqui e ali nos terrenos mínimos mas bem aproveitados. Uma laranjeira com frutas amarelinhas, um
limão siciliano, uma limas(limões tipo Haiti no brasil). Flores, muitas
flores, um colorido imenso. A vilazinha
acaba e o mar imponente, agora bem distante, se impõe. E a caminhonete segue,
mar e mar, penhascos se descortinam e ele lá, o Atlântico poderoso e azul se
mostra. Choro, fico a imaginar o motivo de
não ter descoberto esta caminhonete antes. Se assim tivesse acontecido,
pelo menos uma vez a cada mês, chovendo ou não, faria esta viagem de Cascais a Sintra.
O ônibus sai da estradinha e
entra em mais uma vilazinha, as pequenas casinhas brancas contrastam com o azul
da imensidão do mar ao fundo. É uma paisagem de tirar o folego. |A estrada
estreita ainda mais, a impressão que temos é que o ônibus vai bater em algum
muro, alguma parede de pedra, vai entrar casa a dentro, mas ele segue
tranquilamente, tirando fino aqui e ali.
Vislumbro um forte lá ao fundo,
bem no alto. Sei que já estive aqui, mas a sensação não é a mesma. O motorista
anuncia, Cabo da Roca, após ele só o mar
imenso, nada mais. O ponto mais ocidental
da Europa, dali fica-se mais perto do Brasil. Dou risada. O mais perto que ainda é tão longe.
Neste momento lembro-me de
Alberto, espero que ele esteja bem. O Cabo da Roca fica em Colares, que
pertence à Sintra, aliás, onde também fica a Azenhas do Mar, a praia da maça, e
muitos outros lugares dignos de serem visitados. O ônibus faz a volta e a
viagem continua, o mar agora está atrás de mim, mas ele voltará a ficar ao meu lado.
Começo a ver, do meu lado
direito, o Castelo de Sintra lá no alto, o ônibus faz zig zag na estrada, as
curvas são inúmeras, e o castelo se desloca para meu lado esquerdo, é
interessante esta sensação, mais algumas vilazinhas vão passando, o mundo, em alguns pedaços da estrada, parece
ter parado.
Sintra se aproxima, ao lado da
estrada uma linha férrea, que passa por
passeios, ruas, etc. acho interessante e lembro-me que há um trenzinho que circula
no verão, que leva às praias, penso que este será o caminho que percorre.
Chego à Sintra, o ônibus atravessa um bom pedaço da cidade e para na
estação de comboios, é o terminal do 403, onde também peguei de volta o 417,
que faz um caminho bem diferente, mais rápido inclusive, mas sem a beleza do
403.
Quando for em Portugal e quiser passear em Cascais e Sintra, não
esqueça. 403. Delicie-se, prepare o seu coração.