sábado, 5 de dezembro de 2020

A ESPERA DO INTERROGATÓRIO - LINDLEY IV

 Estou aqui assistindo a livre do Presidente da República, em todas as quintas feiras isto acontece. Nessa oportunidade nós podemos saber, sem grandes complicações, quais as medidas que estão sendo tomadas pelos governos em todas as áreas do país. Hoje, especialmente hoje, estamos com o Ministro da Justiça e O Superintendente da Polícia Federal e ao mote da “live” é, exatamente, o contrabando de nossas madeiras.

Gente do céu, automaticamente me lembrei e LINDLEY e do pau Brasil! É impressionante, parece que estamos no mesmo há 520 anos, nada mudou, a diferença é a tecnologia e os meios como se desvia a madeira do Brasil para outros países. E engraçado, a gente não pensa em muitas coisas, até que alguém ou algo nos faz raciocinar sobre determinado aspecto: Por exemplo:  nessa “ live” fiquei sabendo que o maior comerciante de café do mundo é a Alemanha, pasmem os senhores! A Alemanha que não produz café algum e a maior comerciante dessas comodities.   Também, nessa mesma “live”, soube que na Alemanha existe om grande número de ararinhas azuis: puta que pariu! Raciocinei: porra como é que a Alemanha pode ter tantas ararinhas azuis se tal pássaro não é original de lá. Como essas ararinhas foram parar na Alemanha?  O que aconteceu?  Será que elas migraram sozinhas, saíram   daqui do Brasil, cruzaram o Oceano, entraram no continente Europeu e conseguiram alcançar a Alemanha?  Que diabos é isso!

Vi ainda, nessa mesma “live”, a tecnologia que só agora foi implementada no Brasil para identificar a origem do produto, seja madeira, seja do reino animal, mineral enfim, essa tecnologia já existe há muito tempo na Europa, e lá há muito que eles já podiam identificar 

Tudo isso estou comentando, porque eu vou continuar falando de Lindley, que era inglês, esteve aqui e tentou contrabandear   pau brasil.

A onda da vez é o nosso ipê

Acho muito engraçado que países que recebem essa nossa madeira, muitas vezes extraídas ilegalmente, se deem ao luxo de criticar e exigir do nosso governo proteções ambientais, que eles mesmo ajudam a minar. É muito interessante mesmo, eles quererem impedir que a nossa floresta seja desmatada, alegam que estamos destruindo o meio ambiente, entretanto, permitem que os seus nacionais comprem madeira extraída da própria Amazônia, muitas vezes, ilegalmente. Compram abaixo do preço real, mas isto nem sequer é levado em conta, e esses sete países (Unocracia) querem? Se unir mais e destruir os demais? Nos fazer de escravos, retornar a uma colonização em que eu colonizo e mando e vocês obedecem para me favorecer. Que é isso? Então vocês mesmo pregaram   tantas doutrinas de liberdade e agora querem este retorno medíocre.

Bom, mas vamos ao Lindley, Ele estava desesperado com a situação em que se encontrava, preso em um local insalubre, vendo a sua esposa passando vexames por estar presa junto com muitos homens, num ambiente nocivo, sofrendo “de modo diverso do meu, queixando-se de dores violentas e de inchações por todas as partes do corpo” (LINDLEY 1805;38)

Ao inglês foi tirado tudo, nem lhe deixaram levar lápis e papel, e ele precisava escrever para pedir explicações, para pedir auxílio, segundo ele:

Tinham sido baixadas ordens terminantes para que não me fornecessem pena e tinta: mas consegui frustrá-las ocultando um lápis e parte de um caderno de papel que achei meios de comprar. O primeiro uso eu fiz deles foi solicitar uma pequena caixa de medicamentos que tinha a bordo: houve humanidade bastante para atender-me, mas até mesmo com esta ajuda sinto-me bem doente dia a dia mais fraco(...) LINDLEY 1805; 37-38).

Lindley procurou escrever ao Desembargador Claudio, o que presidia a tal comissão que foi enviada a Porto Seguro para averiguar o contrabando de madeira, solicitou uma audiência, mas, segundo ele, o Desembargador, grosseiramente, mandou dizer-lhe que quando ele precisasse ser ouvido seria chamado.

Os dias foram passando e o inglês permanecia preso no subterrâneo da Casa da Câmara e Cadeia, cada dia mais fraco. Comia a comida que conseguisse comprar através de algum carcereiro, isto porque “o alimento era passado pelo mesmo orifício, mas obtê-lo ficava aos meus próprios cuidados e expensas”, e bebia água de um “jarro grande colocado do lado de fora da janela, e por uma abertura nela existente nós o tomávamos para dele nos servimos” LINDLEY 1805;37)   

Não é brinquedo não, dias terríveis o inglês passou na cadeia.  Dá para imaginar mesmo o mau cheiro que devia reinar no ambiente. Não bastasse mesmo o estado lastimável do local, não se vê o inglês, nos seus comentários, falar em banho, higiene pessoal, enfim.

Entretanto, após o inglês tomar conhecimento que os seus homens estavam sendo levados para inquirição, animou-se um pouco, pois sabia que logo deveria ser ele, e foi o que sucedeu “no dia 24 “tive a satisfação de ver a escada mais uma vez arriada. Intimado a subir e fui conduzido, sob escolta, à sede da Comissão. (LINDLEY:1895;38)

Foi o inglês, mais uma vez inquerido  sobre o contrabando do pau brasil, isto durou  5 horas, mas voltou ao lúgubre lugar, onde encontrou a esposa aflita em função da demora, entretanto  diz ele que  o ar puro lhe fizera bem e ele sentia-se um pouco revigorado o que lhe ajudou a pacientemente esperar até o dia 27, quando novamente foi interrogado, oportunidade em que “ fiz ver em termos vigorosos, qual a nossa horrível situação, o obtive a promessa  de sermos transferidos de masmorra” (LINDLEY 1805: 38).

A transferência ocorreu no mesmo dia, e o inglês e a sua esposa foram transferidos para “cima, a um pequeno aposento   com tabiques de madeira, sendo-nos concedida a liberdade de passarmos a outro maior, contíguo. Cada qual possuía uma janela, sem grades, havendo livre circulação, dessa inestimável benção, o ar puro. Uma sentinela armada foi posta diante de nós.” LINDELY 1805;38).

Mas as expectativas de melhoras do inglês demoraram pouco, pois ali, apesar de menos nocivo à saúde, tendo o ar circulando, o vento os deixava (ele a  mulher) desconfortáveis, além do local ser uma morada de morcegos, que ficavam sobrevoando os aposentados. Também o inglês se queixava da grande zoada que os guardas faziam, porque eles costumavam jogar à noite. Além de tudo isto, ficava muito chateado com as visitas inoportunas do Capitão -Mor, residia nos aposentos acima do seu, e adentrava aos dele a hora que lhe conviesse. LINDLEY 1805;38-39)

Enfim, o inglês continuava a sua saga, o que poderia ser uma melhora, e apesar das queixas dele, para ele não funcionava, pois ele andava injuriado com tanta falta de privacidade, com tanta sujeira, com o mal estar da sua esposa.

Entretanto, ele continuava sendo solicitado a tratar doentes, até mesmo o Capitão lhe pedia favores. A Comissão continuava trabalhando na investigação e Lindley preocupado com a demora nas decisões, mal sabendo ele que aquilo era só o começo.

terça-feira, 17 de novembro de 2020

MÉDICO E PRISIONEIRO - LINDLEY NA PRISÃO

 

Realmente, sigo acompanhando as eleições dos Estados Unidos, pois fiquei muito surpresa com declaração do Sr. Biden, e até agora não percebo aonde ele quer chegar. Não posso deixar de concordar com o Presidente Bolsonaro no que diz respeito à Amazônia.  O que é isso, será que nos estamos aqui a mercê de um estadista americano, que nem se sabe se realmente será o Presidente  do pais mais poderoso do mundo, que acha que está em plena era colonial para querer intervir no território de outro país? Que diabo é isto? Em que tempos estamos?  Qual o interesse maior do Sr Biden na Amazônia?  Nossas riquezas ali? O nióbio? Enfim, qual o interesse Sr. Biden? Vai cuidar da sua terra, se você conseguir tomar posse, vá cuidar do seu país racista, vá tratar de humanizar a sua polícia, vá cuidar das grandes desigualdades sociais que existem nos Estados Unidos.

Pois, mas eu não queria falar de  zorra de eleição americana, quero mesmo é falar de LINDELY, o nosso contrabandista inglês, o contrabandista que não  fez qualquer contrabando, mas não posso deixar de fazer uma ligação entre  o inglês e  o que hoje está acontecendo  com a Amazônia:  o inglês veio  atrás de riquezas brasileiras, tanto que topou trocar as suas mercadorias pelo pau brasil, bem como  aceitou a amostra de “ouro” que lhe chegou às mãos através e um morador de Porto Seguro, o que não é muito diferente da atualidade, onde muitos estrangeiros se estabelecem na nossa floresta, negociam com indígenas, se  fantasiam de ONGS  com intuito de defender o verde, a natureza, os índios e a humanidade enfim, porque fazem questão de dizer que a floresta Amazônica é o pulmão do mundo, entretanto, o que eles na verdade querem é a riqueza que esta floresta  pode oferecer, seja com a sua flora seja com os seus minerais, todos sabem que existe  no solo daquela parte do pais  o nióbio, uma preciosidade para  os interesses  das grandes potencias controladoras da tecnologia .  Li que o nióbio  “é usado em ligas de aço para a produção de tubos condutores de fluidos, ele deixa o aço ainda mais resistente” e não só para isto, falam que até o acelerador de partículas  utiliza o nióbio em algum  dos seus componentes, não sei explicar isto, mas por este particular  vocês já podem  sentir a importância  deste elemento, que também é usado em turbinas de avião, carros, dutos de óleo e gás[1] . As maiores reservas de nióbio estão aqui no Brasil, segundo dados 98,4% e pode ser encontrado em Minas Gerais, Goiás, Amazonas.  Esta invasão de ONGS estrangeiras na Amazônia, bem como as interferências de outros governos, nos parece uma invasão da nossa soberania, o que efetivamente, não pode ser permitido.

Voltemos, entretanto, ao nosso inglês e à sua estória enquanto esteve aqui no Brasil, especificamente na Bahia, entre Salvador e Porto Seguro.

Um fato muito curioso em relação ao inglês é que ele, apesar de ser acusado de contrabandista, em muitas ocasiões, entretanto, ele era chamado para exercer a medicina, mesmo não sendo médico.

Segundo ele, isto aconteceu porque:

Quando o meu brigue aportou pela primeira vez em Pôrto Seguro, fui visitado pela quase totalidade dos moradores do local, ignorantes que pareciam macacos a espiar tudo. E mal deram com minha caixa de remédios, indagaram de quem era e julgaram, certa ou erradamente, que eu deveria ser médico, e sendo estrangeiro, sem dúvida médico famoso.” (LINDLEY 1805:44)[2]

Inglês sacana, olhe o desprezo com que ele fala da população: “macacos ignorantes” e quão se achava superior a todos, ao julgar que por ser estrangeiro, o médico tinha de ser famoso, mas deixemos para lá estes pormenores, para nos focar mesmo nessa missão que, querendo ou não, foi quase que imposta ao inglês, que continua descrevendo a sua então mais nova aptidão:

Antes de cair a noite, várias canoas encostaram no navio transportando doentes, estropiados, cegos, todos sofredores e pobres (segundo diziam), alguns suplicando pelo amor de Deus, outros implorando em nome de Maria, Nossa Senhora. Como logo estabeleci o sistema de gratuidade, eles jamais me permitiram acabar com aquilo, até que, visitando um pobre homem atacado de febre maligna, caí doente, e, por felicidade, perdi toda a clientela. (LINDLEY;1805;44)

Na verdade, o inglês teve razão em declarar a sua felicidade por deixar de “clinicar”. Imagine o desespero, gastar todo o seu material farmacêutico, trazido para as eventualidades da viagem, com pobres miseráveis que não tinham condição de pagar-lhe.

Todavia a trégua em relação a essa habilidade do Lindley foi mínima, porquanto já preso, encarcerado, vivendo o pão que o diabo amassou, como vocês verão nos próximos textos, ele era chamado para atender doentes:

Agora são os clientes de nôvo, numerosos como nunca, não obstante estar eu proibido de falar com qualquer pessoa. Cada sentinela sofre de algum mal, ou traz-me parente, vizinho, amigo enfermo, além de outras criaturas que tem permissão do comandante para este fim. Em resumo: multiplicaram-se tão rapidamente as consultas reduzindo o conteúdo da minha pobre caixa, que o Senhor Tomás**(nome que me dão), gostaria de nunca ter-se atribuído  o oficio de curar, ou pelo menos, havê-lo exercido de modo mais profissional, sendo bem pago pelos seus remédios(LINDLEY : 1805;44-45)

Efetivamente o homem tinha razão, ele que estava ali jogado às traças, sem dinheiro, preso, numa situação vexatória, ele com a sua mulher, poderia, ao menos, ganhar alguns trocados com esta habilidade que lhe fora atribuída pelos da terra.

Agora veja bem o contra senso. O homem era um criminoso, entretanto, era chamado para curar pessoas, o que não lhe deu qualquer regalia em relação ao lugar em que esteve aprisionado, seja em Porto Seguro, seja em Salvador, era convocado até mesmo pelas autoridades maiores:

O comandante pediu-me que fosse ver um doente, num vilarejo além da cidade. Lá segui eu, acompanhado de um soldado, e o paciente era o Sr. Rodrigues da Fonte, de quem eu já ouvira falar. Tinha ele na véspera sofrido um ataque de apoplexia; percebi que estava muito mal, com a respiração ofegante e difícil, o pulso fraco e irregular, por vezes parando de bater. A medicação tópica e interna que ousei aplicar não produziu o menor efeito, havendo a natureza perdido toda a sua força e energia (LINDLEY:1805 p. 45).

Não foram somente esses casos, muitos outros se sucederam e falaremos dele no decorrer das crônicas, entretanto, nesse caso específico, o cidadão faleceu, e Lindley fala das condições insalubres em que o paciente se encontrava, o que contribuía para a sua piora.

Estava o pobre homem num quarto fechado onde não penetrava o ar puro e a luz; apenas uma vela era mantida sobre sua cabeça, enquanto ele jazia imóvel numa grande cama, que ocupava um canto do aposento, a cabeceira e um lado encostados na parede. Entre esta e o doente havia um certo espaço onde sua mulher e outras criaturas do sexo feminino se acocoravam, passando por cima do corpo do homem, quando era preciso. Na parte superior da cama estavam colocadas diversas pequenas imagens, uma perna, um pé, um espadim e outras relíquias. Uma coroa de madeira trançada era sempre mantida suspensa sobre o pobre homem, e o conjunto formava a mais curiosa mistura de moléstia, estupidez e superstição. O aposento, cheio de parentes, visitas e criados, estava muitíssimo quente e abafado; senti-me feliz ao deixá-lo, pois, nas condições atuais do desgraçado, minha permanência ali não poderia ser de qualquer utilidade LINDELY:1805;45).

Deixemos, no entanto, de lado, temporariamente, esta habilidade imposta ao nosso inglês, e vamos ao local da prisão.

Lindley e sua esposa foram jogados no cárcere da Casa da Câmara e Prisão de Porto Seguro[3], nos subterrâneos da casa, segundo o seu relato, um lugar nojento, cheio de lixo, insalubre, e ali ele teve de ficar, até que que as autoridades resolvessem a sua situação.

Olhe bem como ele descreve o lugar que o deixaram juntamente com a sua esposa:

“...determinaram que embarcássemos, conduzindo-nos ao longo da praia e, depois, morro acima, até a prisão comum. Levaram-nos a um quarto no pavimento superior da cadeia, em cujo assoalho abriram um pequeno alçapão, arriaram uma escada e nos mandaram descer até certa profundidade (cerca de quarenta pés), o que fizemos, penetrando numa masmorra abaixo do nível do solo, da qual se exalava um fétido miserável. Estava inteiramente às escuras. Deus sabe quais os nossos sentimentos. (LINDLEY; 1805:36)

Agora pensem  como o inglês e a sua esposa se sentiram ali jogados, quanto pior, acusados de um crime que não cometeram, sem ter ainda qualquer oportunidade de defesa, sem julgamento  de qualquer juiz, por ordem apenas da Comissão que fora enviada da Bahia( Salvador) para a apuração do crime.

Imaginem o desespero da mulher do inglês, que continua descrevendo a vexatória situação em que se encontravam:

O guarda da prisão favoreceu-nos com uma luz, vimos então a nossa terrível situação! Em três cantos do aposento acumulavam-se montes de sujeira, lixo, cascas de laranja e legumes etc. tudo em estado de putrefação. O ouro canto tornara-se de uma repugnância horrível por causa dos vários e míseros ocupantes que a masmorra encerrara. E tôda ela parecia jamais ter sido limpa desde a sua construção. Quatro dos meus marinheiros haviam ai sido confinados durante os oito dias anteriores, e acabavam de ser removidos para o cárcere ao lado, para que fossemos admitidos. Um banco isolado e duas tábuas formavam uma cama e isso construía o único mobiliário da peça. (LINDLEY 1805;36-37)

Vejam bem a humilhação a que o Lindley e sua mulher foram submetidos.  Foram recolhidos a prisão comum, onde todo e qualquer marginal à época eram recolhidos, sem qualquer regalia, sem qualquer privilégio, sem quaisquer cuidados, seja com a própria condição humana, seja em relação a uma mulher está no meio de prisioneiros outros, sem qualquer privacidade.

O inglês realmente comeu o pão que o diabo amassou, e a sua saga continuará ao longo de muitos meses, e eu vos contarei em pequenos capítulos para que vocês não fiquem massacrados com a leitura.

 

 



[1] Revista Galileu, edição 330, janeiro /2019

[2] LINDLEY, Thomas. Narrativa de uma viagem ao Brasil, Londres, 1805. Brasiliana, Vol. 343, Direção de Américo Jacobina Lacombe, trad. Thomaz Newlands Neto, São Paulo, Cia Editora Nacional 1969

[3] “As casas do Conselho (Câmara Municipal) e cadeia são de pedra e cal e muito suficientes. A Vila era cabeça de Comarca, nela havendo um Ouvidor, um juiz ordinário (presidente da Câmara), três vereadores e um procurador do Conselho, um capitão-mor de Ordenanças e um Vigário da Vara, Mas contava com poucos moradores. “o comum é serem pobres”. Luís dos Santos Vilhena, Recopilação de notícias metropolitanas e brasílicas, contidas em vinte cartas, edição anotada por H. Brás do Amaral, Salvador, 1922, Vol. II, p.547

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

PRISÃO DO INGLÊS -THOMAS LINDLEY - Capitulo II

 

Agora, em plena eleição “democrática”, tão democrática que temos a chance de ver “espíritos a votar”, volto ao Thomas Lindley e ao ano de 1802.

O Governador geral, naquela altura   Vice Rey, era o Fernando José de Portugal e Castro o Marquês de Aguiar – Vice rei e Capitao general de mar e terra do Brasil.

Lindley em Porto Seguro entra em contato direto com o Capitão Mor – Governador da Província, assim que ele chama, embora na verdade o homem fosse Ouvidor, Jose Dantas Coelho e com os seus filhos, aceita a proposta que lhe foi feita por Gaspar para trocar as suas mercadorias  por pau brasil. Ele aceita esclarecendo:

“à proposta pareceu-me tão vantajosa que não hesitei, exceto quanto à incerteza da permissão para exportar-se aquele produto. Mas como a oferta partia do próprio governador, considerei meramente nominal qualquer proibição que pudesse existir: assim, dissipadas todas as dúvidas concordei com a troca” LINDLEY 1805: 26)

Tudo acertado, artigos do brigue selecionados pelo filho do  Ouvidor em valor equivalente à carga de pau brasil que seria entregue ao nosso inglês, era só esperar o momento de seguir para pegar a mercadoria no Rio Grande.  Acontece que, uma semana após este acerto, é comunicado que o acordo não poderia ser cumprido porque Gaspar, talvez  por ter caído a ficha  declarou que :  “eles, os guardiões do  comércio, iriam  emprenhar-se em negócio ilícito”. LINDLEY  1805;26), caso o negocio fosse realizado.

Bom, mas o jeitinho brasileiro funcionou, àquela altura, o jeitinho português, e o Ouvidor e seu filho disseram ao inglês, que ele poderia arrumar esta mercadoria por outros meios,” e que não haveria qualquer embaraço ou posição da parte deles”, LINDLEY: 1805:26.

Vejam bem queridos leitores, olhe bem o que as autoridades, responsáveis pelo cumprimento da lei, disseram ao inglês: Não lhe vou criar qualquer embaraço.”   Ora, esta afirmação veio a calhar para as pretensões do inglês, que, na verdade, queria mesmo era obter lucro  e não hesitou em entrar de cabeça na empreitada, mesmo sabendo  da ilicitude do negócio.

Assim, o ainda comerciante inglês, já fez um negócio  ali mesmo em Porto Seguro, uma pequena quantidade a ser entregue em dez dias. Com o que ele não contava era com uma doença que lho infectou, pois “foi acometido de uma grave febre, que quase me vitimou” (LINDLEY;1805:26)

A doença do inglês não impediu que uma parte da madeira  estivesse pronta para ser entregue, e ele  deu esta informação ao Gaspar, o filho do Ouvidor, este, mais uma vez, sabendo  na merda que estaria se metendo,  falou com Lindley para que não recebesse tal mercadoria pois ele tinha” motivos secretos e  da mais imperiosa natureza para dar os seus conselhos”,( LINDLEY  18055:27.)

Este conselho fez LINDLEY desistir definitivamente do negócio, e fazer com que ele decidisse partir, assim  que o leme  da embarcação estivesse pronto, o que foi feito, embora, segundo ele, outros defeitos se apresentassem no brigue, o que levou a  deitar ferros[1] no Rio Caravelas logo  depois da sua partida, que ocorreu em  25 de junho  logo alcançado o Rio Caravela, porque  descobriu que a avaria era muito mais delicada do que ele  tinha pensando, e ali procurou  quem lhe  reparasse completamente a popa.

Grande azar o de Lindley, quando o brigue já estava quase reparado,  ele foi surpreendido, no dia 02 de julho, “com a visita de um oficial, acompanhado de alguns soldados que subiu a bordo munido de uma ordem de apreensão  do brigue, o qual deveria conduzir a Pôrto Seguro, sendo a tripulação enviada por terra ao mesmo lugar” (LINDLEY 1805:27.)

Não houve resistência por parte do inglês, e assim que o brigue ficou completamente pronto foi levado para Porto Seguro, onde  chegou a 11 de julho, onde já estava uma Comissão, que fora enviada pelo Governador da Bahia, para realizar a prisão do inglês, bem como de todas as pessoas com ele relacionadas.

De acordo com LINDLEY, foi a partir deste dia que ele resolveu fazer o diário.

Por que o inglês foi preso, se ele desistiu do negócio?

Diria eu: o inglês foi preso por força da inveja, do desejo de vingança, por querelas entre um particular e as autoridades locais:   O  Ouvidor , que parece ter sido um mal pagador, devia  a algum comerciante  em Porto Seguro, e  este  credor  foi  até a capital da província, ou seja, em Salvador

Deveu-se minha prisão a informações prestadas por um morador de Pôrto Seguro, que fora à Bahia com este propósito, vingando-se da falta de pagamento de uma dívida do governador civil, a quem acusava de comerciar  em pau-brasil, declarando, ainda, que o brigue estava carregado desse artigo. Acusou também os dois filhos do governador bem como o capitão mor, de haverem realizado uma expedição que subira o Rio Grande, acompanhados de empregados, índios e outros homens, a fim de explorarem certa mina de diamantes que existia às suas margens, e terem regressado  com  apreciável quantidade de pedras preciosas. E, finalmente, acusou o governador de extorsão e de ser opressor de todas as pessoas a ele imediatamente subordinadas”( LINDLEY 1805;28)

Com esta denúncia Lindley e sua pobre mulher foram jogados às enxovias[2], juntamente com a sua tripulação, sendo encarcerados, também, os dois filhos do ouvidor (Gaspar José e Antônio Luís Dantas Coelho, o Capitão- Mor Mariano Conceição, Antônio José Maranhão dono de um armazém e funcionários subalternos.

Imaginem em que merda o inglês se meteu, levando junto a sua mulher, pobre coitada!

UM ano depois dessas prisões, também o Ouvidor Jose Dantas Coelho foi preso juntamente com outros envolvidos no caso que o Príncipe Regente, Dom João VI denominou “escandaloso contrabando praticado em Porto Seguro” ( Carta Régia enviada ao Governador da Bahia  em 1803.[3]

Bom foi assim que o LIndley e a sua esposa foram parar na cadeia, e vocês não queiram saber que tipo de cadeia era a da época.

A saga do inglês e da sua família, prosseguirá num próximo capítulo, lembrando que o inglês não comprou a madeira, não havia nenhum pau brasil na embarcação, mas, ainda assim foi preso e jogado na prisão juntamente com a sua esposa e sua tripulação.



[1] Deitar ferros – ancorar, jogar a âncora  

[2] Enxovias – parte subterrânea das prisões. Geralmente úmida e escura, que, outrora abrigava os presos por crimes graves ou de alta periculosidade.

[3] Carta Règia – documento com o qíliaal  o rei dirigia-se aos administradores contendo determinações gerais e permanentes. A correspondência é diretamente do rei aos administradores.

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Thomas Lindley - Um contrabandista na Bahia

 

Conheci o Lindley em plena pandemia.

 Tenho aqui em casa um livro cujo título é “Na Bahia de Dom João VI. [1] e ., tardiamente, pois já o tenho aqui há algum tempo e o fui deixando-o de lado por força da obrigação de outras leituras, comecei a lê-lo. Bom, todavia, o fato é que peguei o livro achando que  ele seria uma descrição da Bahia  no  tempo de Dom João VI.

Só para lembrar, Dom João VI[2] é aquele rei que todos aqui conhecem de uma maneira caricata, por ser muito porco, lembrem do seriado da Rede Globo, lembrem de Dona Carlota Joaquina e, do mais importante, Dom Pedro I.    Eu prefiro lembrar de Dom João VI como o Rei de Portugal que, fugindo de Napoleão Bonaparte, veio com a sua corte para o Brasil em 1808,  estabelecendo-se no Rio de Janeiro,  promovendo um desenvolvimento nunca  antes visto;  logo de inicio abriu os portos às nações amigas, lembram disto nas aulas de história no primário?  Isto não nos esqueceram de dizer!  autorizou a instalação de manufaturas no pais, autorizou a construção de faculdades de medicina, bibliotecas, museus, tipografias  e o banco do Brasil, dentre outras coisas.  

Bom, mas não estou aqui para falar de Dom João VI, até gostaria muito, porque um Rei que fez tanta coisa pelo Brasil e ainda conseguiu enganar o Napoleão Bonaparte, que é o que dizem os seus historiadores, tem mesmo muto ainda que dar em termos  de conhecimento da nossa história e da história mais imbricada à nossa, que é a Portuguesa, [3]  então vamos ao nosso personagem: LINDLEY

Era um “comerciante com idade de 30 anos, casado, homem de boas letras e suas tinturas de sciencias e medicina” TAUNAY;1926:5) Seu nome completo era Thomas LIndley

Mas por que diabos este senhor veio parar no Brasil? Segundo TAUNAY:   No ano de 1795 a Inglaterra tomou o Ceilão e a Colônia do Cabo à Holanda, que passava por dificuldades decorrentes da revolução francesa. Para o Cabo então, segundo o mesmo autor, afluíram muitos comerciantes britânicos, dentre eles estava o nosso personagem, entretanto, em 1801 começaram os boatos de que haveria paz entre a França e a Inglaterra, o que levaria à devolução da praça aos antigos donos, ou seja, à Holanda. O medo tomou conta dos comerciantes e eles passaram a procurar por novos mercados, e foi aí então que começa a nossa aventura com o nosso Lindley.

Lindley escreveu em seu diário: “

Em consequência disto procuraram-se outros mercados sendo logo despachados navios para as Ilhas Mauricias, bem como para o Rio da prata e várias outras praças, em todos os quadrantes

Foi por esse tempo que participei, entre os amantes da aventura, do financiamento de um brigue[4] com destino a Santa Helena e outro mercado e assumi o encargo de dirigir pessoalmente a viagem. Velejamos do Cabo no dia 25 de fevereiro de 1802, aportando em Santa Helena em princípios de março. Nossa estada foi aí de três semanas, aproximadamente, alguns dias após a partida, enfrentamos forte vendaval, que avariou consideravelmente o brigue, obrigando-nos a arribar no porto mais próximo do Brasil. Chegamos à Bahia (ou São Salvador) pelos meados de abril. [5]

 

Pronto, eis como o Lindley veio parar aqui, vejam só, coincidentemente, como Cabral, por culpa de tormentas marítimas.

Segundo ele, nenhum navio estrangeiro podia comerciar neste porto, e é verdade, lembrem-se que só com a chegada de Dom João VI ao Brasil é que os portos foram abertos às nações amigas, o que não impedia  o forte contrabando, mesmo com todo o rigor da fiscalização que só permitia a entrada no porto de embarcações estrangeiras que tivessem avarias, observando-se todo o aparato que ele mesmo descreve no seu diário. Apesar de toda a fiscalização ele diz:

Não obstante todo este rigor aparente, era costume haver apreciável contrabando frequentemente praticado pelo próprio tenente e pelos demais funcionários nomeados para impedi-lo, ou por indivíduos com eles acumpliciados. Agora, porém, dá-se o contrário, as leis que só existiam, até então, pró-forma tem sido rigorosamente aplicadas, foram infligidas severas punições.... (. LINDLEY, 1805:24)

Terminado o serviço no brique, isto após 1 mês   de estada, Lindley saiu do Porto  da Baía de Todos os Santos, isto já em maio, pretendendo rumar para o Rio de Janeiro, onde ele iria vender as suas mercadorias, entretanto, e mais uma vez, o vento trabalhou contra ele,  o que aconteceu durante 5 dias, quando foi avistado um barco de pescador e Lindely descobriu que estava  em Porto Seguro,  e guiado pelo mestre do pesqueiro resolveu que iria  parar e esperar o tempo melhorar, todavia o que não estava nos planos aconteceu:” na entrada do porto o brique foi  de encontro  a uns recifes que lhe arrancaram o leme.”( LINDELY, 1805: 25)

Segundo o então ainda comerciante, ele e a sua tripulação tiveram uma boa acolhida: O “Governador da Província, ou Juiz  e o capitão -mor, ou capitão militar, receberam-nos aparentemente  com a maior hospitalidade, dando-me permissão para comerciar, encomendando para mim  um novo leme e dispensando-me todo o conforto que o lugar podia oferecer” LINDLEY, 1808;25

Assim quedou-se Lindley em Porto Seguro, vindo a conhecer a família Dantas Coelho, família à recém chegada de Lisboa, ou seja, o Juiz estava em Porto Seguro há dois anos. “Um dos filhos desse senhor, Sr. Gaspar despachava os negócios oficiais imediatos do pai, ao passo que outro, Antônio tinha  sido enviado ao Rio Grande, lugar situado nos confins da Capitania, a fim de superintender a arrecadação proveniente do corte de madeira nas proximidades do rio. (LINDLEY; 1808:26)

Conta-nos Lindley que, logo no dia seguinte à sua chegada que em conversa com o Sr Dantas Coelho e o seu filho Gaspar sobre os produtos da terra, foi informado da grande quantidade de madeira – pau brasil – existente e do alto valor desta mercadoria na Europa e do interesse demonstrado pelo Senhor Gaspar, notem bem, o filho do Juiz, em trocar uma partida dessa madeira  com as minhas mercadorias.  Lindley, de cara aceitou, embora não tivesse a certeza de que era permitida esta negociação, mas, segundo ele, como a proposta partiu do filho do governador na presença do próprio, aceitou[6].

A partir daí o inglês começou uma saga, que certamente não estava nos seus planos, mas todas as consequências desta relação com o Governador, seus filhos, o pau brasil, virá numa próxima publicação, para que os senhores leitores não se enfadonhem, porque a história é longa.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



[1] TAUNAY, Afonso de E.  Na Bahia de Dom João VI, Imprensa Oficial do Estado da Bahia, Bahia, 1928, Edição fac- smile2012

[2] O nome de Dom João VI era João Maria José Francisco Xavier de Paula Luís Antônio Domingos Rafael de Bragança. (penso que a Vera é descendente dele, pois não é que a danada também tem o apelido Rafael, penso que herdou o gosto pelo frango no churrasco.

[3] Ler Ronaldo Vainfas, Jorge Pedreira, Oliveira Lima, Laurentino Gomes, Pedro Calmon, Evaldo Cabral de Melo Neto dentre tantos outros.

[4] Brigue – tipo de embarcação à vela, com dois mastros com velas quadradas transversais, embarcação de menor porte, por essa razão, mais veloz (Wikipedia)

[5] LINDLEY, Thomas. Narrativa de uma viagem ao Brasil, Londres, 1805. Brasiliana, Vol. 343, Direção de Américo Jacobina Lacombe, trad. Thomaz Newlands Neto, São Paulo, Cia Editora Nacional 1969 pág. 24

[6] LINDLEY, Thomas, ob cit, pg.25

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

ESCREVER É BOM


 Muitas, mas muitas mesmo,  pessoas me perguntam como tenho tanta facilidade para escrever. Alguns chegam a me dizer que tremem em frente a uma folha de papel em branco. Reconheço que tenho mesmo facilidade, mas esta facilidade qualquer pessoa pode ter. Li muito quando era jovem, afinal um dos meus piores trabalhos no internato era limpar a biblioteca da escola, esta atividade me deu a oportunidade de  manusear muitos livros, próprios da minha idade e também os impróprios, mas, li alguns. Logicamente que a leitura era escondida, até porque para ler tinha de parar de limpar. O fato é que isto me ajudou bastante. Durante algum tempo, quando tinha oportunidade de estar com a minha família, minha mãe nos obrigava, a mim e aos meus irmãos, a interpretar textos, tais textos estavam nas contra capas de alguns cadernos. Era um exercício interessante. Bom, mas o fato é que escrevo mais facilmente que alguns.

Por ser só no internato, escrevi muito sobre a minha vida e estória, bem como das colegas. Este também é um bom exercício, fazia uma espécie de diário, o que recomendo a todos. 

Veio a escolha da profissão e eu escolhi Direito; quer profissão para escrever mais de que esta? Claro que não: ela bate record, e olhe que quando advoguei não tinha computador e a facilidade de copiar passagens de textos anteriores para um novo, enfim, não tive esta facilidade, mas escrevi e pronto. Depois disto fui para o Judiciário, e puta que pariu!  Vá  escrever assim no inferno. Entretanto, a lateri da minha profissão, eu  continuava a escrever sobre a minha vida nos meus diários: casos da vida, passagens das audiências, enfim, escrevi. Gosto disto. E aí e que acho que está a diferença entre mim e os que me questionam: Eles não gostam de escrever e de ler; e isto dificulta imenso esta habilidade.

Bom, mas este bolodório  (peguei você) todo é para que eu peça vênia para dar algumas dicas para quem quer escrever algo. 

Se você está querendo escrever sobre uma matéria técnica, quando falo técnica estou falando de textos ligados a uma profissão, que vai ter de fazer: primeiramente você vai escolher o tema. Escolhido o tema, você vai procurar saber se alguém já escreveu sobre ele e quais os aspectos analisados, isto serve para que você conheça mais da matéria, saiba quais as posições que mais se coadunam com o seu pensamento, quais as que são contrárias e por que o  são.  Depois de analisar, se não todos, ao menos uma boa parte de autores que discutiram a matéria, você começa a dialogar  com estes autores, questionar o texto deles, perceber se você consegue responder as questões postas. Se você não conseguir responder as questões, não comece ainda a escrever, porque você não vai conseguir um bom texto.  Não pense em criticar A B ou C, discordar é uma coisa, criticar, tentar destruir o outro, é outra   A grandiosidade do autor está exatamente em colocar o seu ponto de vista sem sacanear ninguém. O mesmo trabalho que você teve ou está tendo para escrever seu artigo, seu ensaio, sua dissertação, eles também tiveram.  Lógico que algumas pessoas são brilhantes, outras medíocres, mas ainda assim, eles tiveram de ler, estudar, analisar, enfim, tiveram o trabalho da criação.

Arrume as ideais com muita clareza, veja a melodia da escrita. Quando falo em melodia da escrita, é porque a escrita é como uma ópera, uma valsa.  A coisa vai crescendo, o ritmo aumentando, em dado momento você está tão dentro da melodia, que você tem de chegar ao auge e parar, não se arrisque a escrever coisas infindáveis, tudo tem começo, meio e fim.

Você tem de fazer com que cada leitor entre na melodia também, dance com a sua música, queira chegar ao fim, ao êxtase. 

Nunca esqueça que você não é o único que escreve sobre determinado tema, alguém antes de você já fez, o isto,  e se não o fez, o seu tema te remete a um tempo anterior, então  há que se fazer esta ligação entre o passado e o presente, isto é essencial para uma boa escrita.

Este caminho entre o passado e o presente é o que, em metodologia, chamam de estado da arte. Eu, na verdade, não sabia deste nome, ou melhor desta expressão, mas quando se escreve uma tese de doutorado ou uma dissertação de mestrado você tem, por instinto, de fazer tal digressão.

Sim, mas textos mais simples, como fazê-los? Textos mais simples você escolhe o tema, o caso que vai contar, a estória.  Se você, por exemplo, quer falar de uma determinada história que aconteceu em 1920 em alguma cidade da Itália. Procure logo saber como estava a Europa nesta época, o que aconteceu na Itália naquele ano e qual o resultado específico dos acontecimentos no local que você escolheu, daí comece a trabalhar com os personagens dentro deste contexto. 

Os fatos históricos são encadeados, eles não aparecem soltos, uma causa remota dá consequências diversas em diversos lugares diferentes e é preciso fazer estes elos. Não é pormenorizar as coisas, mas há de se fazer um link (para ser mais moderno).  Quando Dom João VI veio para o Brasil com toda a família real, isto foi a consequência do que estava acontecendo na Europa, quando Napoleão iria invadir Portugal.  Ora, se você quer escrever sobre isto, você vai ter de falar um pouco das coisas que Napoleão fez e como estava a Europa naquele momento e, só depois disto, é que você vai trazer o Don João para cá. Não comece dizendo que Dom João veio embora para o Brasil e pronto.

Você quer falar da Inquisição Portuguesa no período colonial aqui no Brasil(Bahia). Você há de falar minimamente o que era a Inquisição, fazer a ligação da Igreja com os reinados, como eles agiam na Europa (Portugal e Espanha) para ser mais exato, e depois chegar ao Brasil em 1591. Você há de falar quem era o Rei da época, que eram os reis da Espanha, e outros detalhes até chegar aqui com o governador Francisco das Manhas. Kkkkkkkkk, é isto mesmo, o homem passou a ser conhecido como Francisco das Manhas mesmo.  Ele  veio ser  governador geral e trouxe, na sua caravela, os  membros da Inquisição. Enfim, você tem de fazer o elo para poder adentrar literalmente ao assunto.

Vai escrever um romance?  Comece pensando exatamente o tema deste romance:  Suspense!  Amor!  Espiritualidade, sei lá mais o que.  Depois do tema você  vai pensar nos seus personagens principais, porque no romance você vai fazer a trama entre muitas pessoas, muitos personagens, mas não se preocupe de início em criar todos os personagens, muitas vezes eles vão aparecendo no desenrolar da sua estória, vão se criando, ganhando força, podendo até modificar  a própria estória que você pensou, mas não deixe que um personagem secundário tome o lugar do seu protagonista. Não confunda o leitor.

Quando escrever, tente não rebuscar tanto a linguagem, o leitor não gosta de coisas difíceis e complicadas.  Não faça rodeios, seja claro e objetivo.

Se você quer escrever uma crônica ou um conto, observe bem a diferença entre um e outro. Sempre fico confusa, mas foque em uma coisa: cotidiano – o cotidiano é a vida do dia a dia, são as situações que ocorrem e da qual ou você participa ou toma conhecimento. Se você for escrever sobre um fato deste (seja um fato político, uma conversa que ouviu, uma cena que presenciou, você vai escrever uma crônica. Na crônica você  pode dar sua opinião, discutir o que alguém disse,  fazer comentários, enfim, você está livre   para  dizer  da sua impressão, mas preste atenção, se você vai escrever sobre um acontecimento real, você não pode  alterar a realidade deste fato, porque você se arrisca a fazer um fake News, e o Careca lá de cima  não vai te perdoar.

Um conto: um conto é uma pequena estória  que você cria do começo  ao fim, você não tem a obrigação de  se preocupar  com a verdade  real, você simplesmente escreve um conto: conta alguma coisa, arruma um tema, um personagem, ou mais de um, mas em número limitado e você faz um conto, assim, como não quer nada.

Não tenho pretensão de   ser aqui nenhuma técnica, tampouco ensinar ninguém a escrever, quero apenas ajudar a quem acha que não tem esta habilidade, por isto mesmo não vou aqui falar em artigo, ensaio, resenha etc. etc.  isto fica com os livros e mestres de metodologia. 

Espero que aproveitem alguma coisa deste texto e passem a escrever.  Estejam sempre atentos ao português, porque  escrever não combina muito bem com “ a gente vai” falar de tal assunto, há que se observar o mínimo das  regras gramaticais, ortografia, concordância, enfim, tem de saber o mínimo da sua língua, isto, entretanto, não significa que você tenha de modificar a fala do seu personagem, se for o caso, se ele não sabe falar corretamente o português, ou qualquer outra língua. Isto é permitido, afinal você está escrevendo para que o seu leitor entenda, perfeitamente, o que o seu personagem é, o que a sua escrita descreve.

Recordo-me que, em algum momento da minha vida, soube que em um vestibular o tema da redação foi “a vida vem em ondas como o  mar”.  Como você começaria a escrever sobre isto? Em primeiro lugar você deveria fechar os olhos e lembrar o mar em um belo dia de sol, ficar imaginando a união, lá no infinito, na linha do horizonte, dos azuis, o do céu e o domar, depois você teria de imaginar o movimento das ondas, o seu vai e vem, ali na beirada, na área, e por aí vai, até perceber que este movimento de vai e vem é exatamente o que tem a ligação com o tema da redação  que é exatamente a vida e o seu vai vem, os seus problemas, as suas alegrias e as suas tristezas, a superação, enfim.

Por outro lado, leia bastante. Quando ouvir algo que seja diferente, estranho aos seus ouvidos, dê uma paradinha e leia sobre o assunto.  Uma palavra nova deve ser entendida perfeitamente para ser bem aplicada. Não se acanhe de colocar uma “porra” em uma escrita. A porra pode significar   coisas muito boas:  Veja por exemplo: “aquele cara é um cara da porra”. O que significa isto? Que você conhece uma pessoa que é boa, interessante, amigo, inteligente: e tudo isto está exatamente definido no “da porra”. É só saber colocar a expressão na hora correta e no lugar correto. É fantástico!

Um grande exercício que vai te ajudar muito é escrever os seus sonhos. Aqueles sonhados mesmo quando você está dormindo; quando você os descreve você está exercitando a escrita, o pensamento, a concatenação dos fatos sonhados, você vai ter uma sequência, você vai estar criando um texto.

Um outro bom exercício é você, quando pensar em alguma coisa, colocar a ideia num papel e ir  colocando ali tudo o que você pensa sobe aquele assunto, não necessariamente ordenado, correto, apenas coloque  os seus pensamentos; é o tal do “brain storm”; kkkkkk, eu também sei falar disto. Aí, depois deste exercício, você vai rever tudo aquilo e tirar o storm do brain. A palavra storm significa tempestade em inglês: olhe só a modéstia e o brain é a mente, o cérebro. Uiuiui!

Bom, tudo isto foi para lhe ajudar, lhe dizer que todos nós somos capazes de escrever, que não se deve ter medo do papel em branco. Desculpem se fui m muito pretensiosa, mas o intuito era, e é, de ajudar.    

  


domingo, 23 de agosto de 2020

As cinzas de Dona Yvone




Ontem, dia 22.08, eu e meus irmãos e mais alguns da família, fomos espalhar as cinzas da nossa mãe.  Ela estava aqui em casa comigo desde o mês de fevereiro ou março, acho eu. Coloquei a urna no espaço onde costuro, talvez para receber os fluidos de Dona Yvone, porque ela sabia costurar. Minha mãe foi sempre um faz tudo, mas faz tudo mesmo: era uma super mulher. Educadora, parteira, cozinheira, doceira, catequista, costureira. Ela metia as caras e ia fazendo as coisas. Não sei como se tornou parteira, mas penso que foi quando morávamos em Camaçari, pois ela acompanhava a velha parteira da cidade em diversos partos. Aprendeu a manha mesmo, porque fez muitos. Eu não teria coragem, sinceramente, mas dou Graças a Deus por ela ser tirada e meter as caras, porque com esta coragem ela ajudou muitos a virem ao mundo.
Bom, o certo é que minha mãe ficou aqui em casa dentro da urna, na verdade não era para demorar tanto, mas a pandemia chegou e a gente não podia se reunir para fazer esta distribuição das cinzas.
Acontece que tive que tomar uma atitude, com pandemia ou não, porque ela me deu pressa para fazê-lo. Pois não é que a danada me apareceu em sonho e me disse que queria mudar de casa, que não estava gostando daquela casa onde estava. Logicamente no sonho tratava-se mesmo de uma casa, ela morava em uma casa que ela dizia ser feia e queria sair dali, e, como sempre, eu tinha de me virar para fazer as vontades dela.  Acordei sabendo o que devia ser feito, tinha mesmo é de jogar as suas cinzas em algum lugar onde ela se sentisse, como sempre foi e quis, livre.
Falei com os irmãos que tínhamos de organizar isto. Em princípio pensei em colocar as cinzas no mar, entretanto, meu irmão Luciano me alertou: “Dona Yvone gostava era de matas, rios, plantas, portanto deveríamos colocar suas cinzas num lugar de muitas arvores.”. Concordei de imediato: Minha mãe era uma pessoa bem espiritualizada; Ela recebia entidades, dentre elas caboclos a exemplo de “boiadeiro”. Também tinha muita ligação com São Lazaro, Nana, Cosme e Damião.
Era de distribuir “flores” como ela chamava as pipocas do velho. Se bem me lembro, na segunda feira era o dia de fazer isto. Acompanhei muitas vezes minha mãe para as sessões da umbanda que ela frequentava. Presenciei muitas e muitas vezes as manifestações das entidades. Ficava preocupada e meio descrente, mas deixava que ela passasse pipoca em todo o meu corpo, que era o que sempre fazia quando o “velho”, (São Lázaro) chegava. A preocupação era por conta do corpo de Mainha, é que ela tinha problema nas articulações e as entidades velhas se contorcem muito quando se manifestam. Felizmente ela não tinha nenhum caboclo que bebesse: se tivesse aí a merda estava feita, porque minha mãe não bebia álcool no dia a dia, aliás ela não bebia nem no dia a dia, nem noite a noite, talvez a noite, quando meu pai era vivo, ela se embriagasse por osmose, porque o velho bebia para cacete, por ele e por ela.
Bom, Luciano sugeriu a reserva Sapiranga. É um belo lugar, com riachos, vegetação densa, trilhas, enfim, uma pequena floresta. Um lugar ideal para a finalidade que tínhamos em mente. E lá fomos nós. A urna foi comigo, no meu colo. Mentalmente eu ia falando com minha mãe, e tenho certeza de que ela estava me ouvindo. Não deixei de sacanear com ela, pois achei que ela não queria ficar comigo, mas eu bem sabia da vontade dela sempre. Ela nunca quis ser enterrada em gavetas, sempre me pedia isto: que era para enterrá-la em cova cavada na terra, Não consegui atendê-la num primeiro momento, mas agora não teria  desculpa, eu tinha de fazer o que ela queria que era voltar a natureza, ser uma parte dela, então  fomos lá na Sapiranga e cada um lançou um punhado das cinzas(cremamos os ossos).
Eu fiquei com a maior parte. Distribui as cinzas em todas as direções, inclusive na água. Foi um momento muito bonito. Um dos meus irmãos conseguiu captar alguns flashes. As cinzas formaram nuvens e se espalharam por entre as árvores, parecia uma coisa de contos de fadas, uma claridade imensa, por entre as copas das árvores o sol adentrava e as        cinzas ali flutuando entre aqueles espaços, a luz do sol fazendo o mais fantástico efeito.
Cumprimos o desejo de Dona Yvone, ela agora está no seu meio, com os seus caboclos, com os seus meninos, com os seus adorados e respeitados espíritos. Com certeza está muito feliz e nós também estamos.
De lá da reserva voltamos para a casa de Tininho, onde comemoramos juntos o momento, aliás comemoramos duas coisas, a volta de minha mãe à natureza e a formatura de Mariana. Falamos muito dela e de tantas coisas que aconteceram na nossa família. Vimos as fotos que foram tiradas dos momentos em que lançávamos as cinzas no ar. Lindas fotos, grandes flashes. Em casa, analisando as fotos, pude ver em uma delas, paralisando um dos vídeos, o rosto de minha mãe, acreditem, identifiquei o rosto dela em paz, muito tranquila, com a expressão de felicidade. Não me importa se ninguém conseguir ver, ou que não acreditem que consigo ver. Sei é que ela se fez presente fisicamente para nos agradecer. Agora ela é ar, terra, água e estará sempre conosco, mais uma vez se dividindo para dar um pouco a tantos quantos dela precisem.
Beijos mãe.   








segunda-feira, 6 de julho de 2020

A wulombe ri nandziya ha roche - Ela tarda, mas não falta


“A wulombe ri nandziya ha roche “Este é um proverbio   changana – uma etnia africana – que significa: A verdade pode tardar, mas sempre chega.
Pois é, em 2010 eu escrevi um texto e o terminei com este provérbio. Hoje começo um novo texto com ele, para confirmar exatamente isto; A verdade tarda, mas não falta.
Após 32 anos a verdade veio à tona. Um recurso biotecnológico resolveu uma dúvida que amargurou a vida de, ao menos, três pessoas. Cada uma delas de uma maneira cruel e especial. Um pai, uma mãe e um filho.
Um teste de DNA que só foi feito porque a Justiça obrigou um dos envolvidos a fazê-lo, terminou com a dúvida de um dos participantes desta relação triangular: o pai. A este pai se atribuiu uma paternidade que foi assumida até quando o filho, maior, estudante de direito, resolveu solicitar alimentos. Diga-se de passagem, alimentos que foram pagos, mesmo com os pais separados, até aos 18 anos. Como ainda era universitário, a lei se fez cumprir, e o pai foi obrigado a pagar a pensão.  Mais uma vez, apesar de indignado, o pai que era taxado de tudo que não presta: miserável, egoísta, filho da puta, dentre outros predicados que agora não interessam,  pagou os alimentos, mas, em audiência, fez uma exigência ao Juízo, que o filho se submetesse a um exame de paternidade porque ele, ainda hoje, tinha dúvidas de que  aquele rebento era mesmo seu filho.
Observe-se bem, este homem, durante 24 anos de sua vida, com todas as dúvidas de que aquele menino era seu filho,  o ajudou na sua formação seja física ou intelectual, pagou, claro que resmungando muito, contrafeito da vida, a pensão que  levou o alimentado a ser um advogado e a saber das consequências  de todos os seus atos e os da sua  adorada mãe, tanto que, quando foi designado o exame, recusou-se a fazê-lo, só o fazendo quando realmente obrigado pela Justiça
O resultado saiu recentemente, e sabe qual foi; Negativo 100%, confirmando a impossibilidade daquela criatura ser filho daquele que lhe atribuíram como pai.
E agora?  O que vai ser deste rapaz, que nutria um ódio mortal pelo que lhe diziam ser seu pai? Ódio este alimentado pela ira de sua mãe, que não conseguira ficar com o agora, pseudo pai, sacaneando-lhe a vida em todos os sentidos.  No dia em que descobriu uma nova namorada do homem, mandou-lhe um presente:  Uma caixa com um coração de algum bicho atravessado por uma flecha, ou sei lá o que. 
Cheia de exigências ganhou “de graça” um apartamento de cobertura num bom bairro de Salvador além da tão significativa e sustentadora pensão que recebia em nome do filho, enquanto este era menor.
O que esta senhora tem a dizer agora? Como vai justificar ao filho que a esta altura, deve ter sido feito por obra e graça do espírito santo, quem é o seu verdadeiro pai e qual a necessidade de uma mentira que durou 32 anos?  Como justificar o ódio mortal a quem, por pior que tenha sido para ela, sustentou a sua mentira por tantos anos, mesmo sem o saber, apenas com a dúvida de que algo errado  existia, pois, sabidamente,  nunca poderia ter filhos, aliás, não os fez em nenhuma das mulheres que teve, apenas esta  senhora bicuda e chata conseguira esta proeza, em apenas alguns dias  de  relacionamento.
Evidente que o  pseudo pai ficou feliz, afinal sempre quisera um filho e este estava lhe sendo dado de bandeja, ele jamais poderia perder esta chance de fazer um herdeiro, mas não custava nada ter feito o DNA logo logo no nascimento, mas naquele momento deveria estar tão feliz, e talvez apaixonado pela bicuda que não lhe passou pela cabeça isto.
O tempo foi passando, o menino quanto mais crescido, mas demonstrava características que nada tinham a ver com o pseudo pai, seja fisicamente, seja mentalmente.  Não havia nenhuma semelhança.  Isto foi se refletindo no tratamento que o pai lhe dava, a criança crescera desconfiada sempre, não olhava de frente para ninguém.  Chamava o pseudo pai pelo nome, talvez prenunciando o que estaria por vim.
Bom o fato é que, depois da separação dos pais a distancia aumentou entre o pseudo pai e o  pseudo filho, que cresceu com o ódio e a raiva daquele que lhe sustentou indevidamente, porque nunca o gerara, e, portanto não tinha obrigação alguma de fazê-lo, alimentado pela raiva e ódio  da mãe, que possivelmente nunca amou aquele homem, apenas se aproveitou dele para a tirar de uma situação crítica, pois segundo ela, quando a mãe descobriu que ela estava gravida a expulsou de casa, o que hoje se dúvida também.
Não sei se a senhora mãe ainda está viva, mas gostaria de ver qual seria a sua reação ao saber do resultado deste teste. O que ela iria fazer, ela que desprezava o pseudo pai, lhe achinava, lhe chamava de moleque, dentre tantas coisas que tivemos conhecimento no decorrer da relação daqueles dois, que jamais deveriam ter se unido?
O que está passando agora pela cabeça desse rapaz, que teve a vida completamente destruída por uma mãe irresponsável, uma m mulher mentirosa, aproveitadora, que enganou a tantos, esquecendo-se que um dia a verdade viria`` a tona.
O que vai fazer esta mulher mãe agora, vendo o seu filho arrasado, é o que acho que ele ficou e ficará durante muito tempo ao descobrir, descobrir não, confirmar, que verdadeiramente aquele pseudo pai não era mesmo o seu genitor?
Deus os ajude, sinceramente, Deus os ajude. E continue ajudando aquele que, sem qualquer obrigação, ao menos durante 25 anos sustentou alguém que nada tinha a ver consigo, alguém que o odiou sempre, mas isto não impediu que assegurasse a subsitência  dessa pessoa.mpo.
Não queria ser n nenhum dos três.  A primeira por ser mentirosa e agora vai pagar caro pelo erro que cometeu.   O rapaz porque, se tinha problemas psíquicos, certamente os terá aumentados com esta descoberta – confirmação do óbvio, por ser a sua mãe uma mentirosa,  e o pseudo pai pela revolta de ter sido explorado durante tanto tempo.
Dos três, o único que apesar de ser considerado o pior da estória, é que evidentemente será o mais facilmente perdoado, pois com certeza terá a grandeza e a generosidade de nada exigir, o que passou, passou.  Pedir tudo que gastou de volta nunca vai apagar o fato de ter sido enganado tão descaradamente por uma mulher que talvez um dia tenha amado, mas que não teve qualquer princípio, seja ético ou moral.
Que Deus os ajude.