O galinheiro estava em alvoroço,
o galo do pedaço estava apático, já não procurava mais as galinhas, que se
insinuavam, enquanto ele fugia com evasivas idiotas. A uma ele dizia que tinha que fazer ronda,
defender o galinheiro de intrusos, a outra dizia que tinha que olhar os pintinhos
recém chegados, a uma outra que ele tinha de fazer entrevistas com os frangos
para saber quem poderia, no caso dele faltar, assumir o seu lugar, enfim,
desculpas esfarrapadas, que as frenéticas galinhas não aceitavam e cacarejavam
durante todo o dia, todas desesperadas e desconfiadas das saídas estratégicas
do galo, que desaparecia no decorrer do dia sem que ninguém o localizasse nas
proximidades.
Contar estórias e histórias; ficção e realidade se misturando para fazer rir, chorar, viver.
quinta-feira, 30 de maio de 2013
sábado, 25 de maio de 2013
Notícia de um falecimento
O dia amanheceu calmo, mas ela
tinha uma sensação estranha, um presságio de notícias ruins, e, infelizmente,
às 10:00 da manhã, tudo se confirmou.
O telefone fixo toca, ela segue
para onde fica o aparelho. Vai sem
querer ir, era como se tivesse a certeza que não ia receber uma boa notícia.
Todavia, tem mãe, irmãos, filhos e netos.
- “Alô”.
- “Bom dia, quem fala”
- “A senhora ligou para quem”
- “Para a Sra. Cornélia Semog “
- “É ela”
- “Sra. Cornélia fui encarregada
de lhe passar uma notícia desagradável, e o faço eu porque a família está
transtornada.”
Tomou um susto e, imediatamente,
recordou do seu amanhecer e do pensamento que teve enquanto se dirigia ao local
onde ficava o aparelho.
- “Sim, pois não, o que houve”? E
na sua particular irreverência: “Quem morreu”?
- “A Sra. já sabe?”
- “Sabe de que minha senhora”?
- “A Senhora está perguntado quem
morreu, sinal de que já deve saber de alguma coisa!”
- “Sra. o que: Qual é o seu nome?
Diga logo o que aconteceu pois está me deixando nervosa.”.
- “Meu nome é Izolda com “z” e sou
amiga da família”
- “Que família minha senhora, adiante
logo o acontecimento”
- “Bem que me disseram que a
senhora era um pouco esquentada”
- “Pqp: a senhora vai falar ou
não, se isto for um trote a senhora vai se dar mal”
- “Vou falar sim, é que a informação
não é nada boa”.
- “Vou desligar esta merda, e a
senhora vá sacanear outra pessoa”
- “Já sacaneei hoje, se a senhora
entende assim a comunicação que tenho a fazer, já sacaneei umas três pessoas”
- “Caracas, vou desligar mesmo! “
- “Dona Cornélia se a senhora
soubesse a notícia que tenho para lhe dar, a senhora me tratava um pouco
melhor, com mais educação, porque eu que não tenho nada com a estória, ´que fui
solicitada para falar consigo”
- “Sra. sei lá o que, Izolda com
“Z”, eu vou desligar, não tenho tempo a perder, se a senhora não quer cumprir a
sua obrigação “moral” acho eu, o problema é seu. Certamente, se alguém morreu e
eu tiver de saber, no momento certo saberei, portanto, como não lhe conheço,
como não tenho a menor ideia de quem tenha morrido que faça parte da minha
relação de amizade, e se fosse alguém da minha família eu já saberia, até porque
eu seria eleita, à unanimidade, para pagar as despesas funerárias, não vou
ficar aqui falando com alguém que não
tenho qualquer relacionamento, afinidade, conhecimento, enfim, não vou ficar
falando com a senhora.”
Bate o telefone e vai fazer as
coisas que tem de fazer, mas a porra do telefone toca outra vez.
- “Dona Izolda com z vá a merda”
- Cornélia, sou eu Cornidilia: Quem é
esta Izolda com “z” que lhe deixou tão irritada? Por que você está tão nervosa?
Então você já sabe o que aconteceu não é?”
- “Pqp, outra vez!!! Eu não sei de banana nenhuma e parece que não
vou saber. A outra estava neste mesmo papo e por isso já atendi assim. Mas o
que foi que houve mesmo, você vai dizer logo ou vai fazer rodeios para falar? Se
for assim eu vou desligar o telefone porque vocês estão me fazendo ficar
nervosa”.
- “Calma Cornélia, você só tem de
respirar um pouco, ficar calma, pois a noticia é realmente ruim.”
- “Que cacete, que notícia ruim é
esta que vem de cagado. Dizem que notícia ruim chega logo, mas esta parece que
não quer ser noticiada, pelo menos para mim, pois, ao menos, duas pessoas
diferentes já sabem”
- “É: por isso que ninguém queria ligar para você,
todos temendo a sua reação!”
- “Rapaz, vocês tão mesmo de
sacanagem comigo! Que diabo aconteceu?”
- “Não fale o nome do demo; neste
momento o melhor é falar em Deus”
- “Cornidilia, vou esquecer da
nossa amizade e do elo que nos une e vou mandar você para aquele lugar.
- “Cornélia é mesmo difícil falar
com você: todo mundo tem razão mesmo, você é grossa, ignorante, nem mesmo num momento
deste, e para te dar uma notícia desta, a gente tem de abrir qualquer precedente
para você, não vou falar nada, procure saber o que aconteceu sozinha.”
Cornidilia desligou o telefone na sua cara e
ela, que já estava espumando de raiva, de curiosidade e tensão, ficou sem saber
o que tinha conhecido. Pensou em ligar para alguém, mas desistiu: uma terceira
pessoa ia ligar se o caso fosse mesmo importante, ela saberia, se é mesmo que
alguém tinha morrido, da notícia.
Outra vez o telefone toca, desta
vez o celular; ela olha o número no visor, não reconhece aquele número. Os três
algarismos do início demonstram que a ligação não é local.
- “Atendo, não atendo, atendo,
não atendo”. Continua olhando para número sem tomar qualquer atitude”. Decide não atender e vai preparar alguma
coisa para comer, mas outra vez o telefone toca, agora os dois começam a tocar
concomitantemente.”
- “É realmente alguém que eu devo
conhecer bem morreu, pois não é possível que tanta gente ligue para mim em um
dia de sábado, neste horário, em que a grande maioria que conheço já está se
preparando para começar “os trabalhos””
Vai atender o celular. De novo o
mesmo número que não conhece. Não atende. Vai para o fixo, há um número que
também não conhece e que não é local. Fica olhando os dois telefones; no
pensamento faz “uni, dune, te etc., o
escolhido foi você”. Dá risada, pois só neste momento é que percebe o que significava
uni, dune, ter, que tanto usou na sua infância para escolher alguma coisa, (um
dois e três) e este pensamento faz com que ela dê uma imensa gargalhada e é
assim que atende ao celular.
- “Sra. Cornélia Semog”
- “Sim”
- “O meu nome é Cornelson”
- “Como”?
- “Cornelson, é estranho mas é este mesmo. Sou de Bombinhas,
Santa Catarina, estou indo para a Cornuália e, alguns amigos comuns mandaram
que eu procurasse a senhora, para me dar algumas informações sobre o local”.
- “Sr. Cornelson, acho que lhe informaram erroneamente, não
conheço a Cornuália, a não ser através
de um livro que li há tempos atrás. “Catadores de Conchas” acho eu, penso que
fica na Inglaterra, Irlanda, não sei bem, portanto, não lhe posso dar qualquer informação”.
- “Como a senhora não sabe! Estou
aqui na minha mão com um artigo escrito por si, e amigos comuns me deram o seu
telefone.”
- “Continuo achando que houve um grande
engano, ou uma coincidência extrema, pois nunca escrevi nenhum artigo, nunca
estive em lugar com este nome, enfim, acho que por força do meu nome, Cornélia, resolveram
me enfiar uma Cornuália, que não conheço, não quero conhecer. Esta questão de "corno" é assim, todo mundo sabe e quer tirar um sarro.”
- “Bom, mas não é possível, porque dias atrás encontrei um nosso amigo comum, que infelizmente faleceu, e foi ele quem
me deu o seu número”.
- “Quem faleceu meu senhor”,
- “AH a senhora ainda não sabe,
não posso crer, ele falava tanto na senhora, ele que dizia que a senhora foi
uma das pessoas mais dignas que ele conheceu, que ele admirava tanto. A Senhora
que deveria ser a primeira a saber, ainda não sabe do falecimento dele”.
“Pqp! Realmente hoje não é o meu
dia: Olhe aqui senhor não sei das quantas, vou desligar e tenha um péssimo dia e
que a sua Cornuália se transforme mesmo em uma grande "corno" e como manda a tradição, que o senhor seja o último a saber, aliás, o senhor,
decididamente, está indo para o lugar adequado”
Desliga o telefone e já não
aguenta mais, a curiosidade o nervoso a agonia. O celular toca de novo.
- “Vá a merda”,
- “O que? Que é isto Cornélia? Bom
mas parece que você já sabe.”
- “Sei de que?
- “Sua reação ao telefone já diz
tudo”
- “Tudo o que?”
-“ Do seu nervoso, da sua
aflição, da sua angústia, mas não se preocupe, tudo vai dar certo, nós
estaremos aqui, juntos com você”.
- “De que você está falando Cornalina?”
- “Dele, obviamente, estou falando
dele”.
- “Dele quem?”
- “Do pai de seu filho”
Danou-se, pensou ela, que tinha três
filhos de parceiros diferentes.
- “De que filho cacete?”
- “Do seu marido”. Ele vai ser
sepultado daqui a pouco, acho que daqui há umas duas horas. Das diversas
mulheres que ele teve só falta você, todos estão aqui comentando a sua
ausência, tem até aposta se você vem ou não.
Você devia vim, o enterro em si ainda vai demorar e se você vier agora
ainda vai ter tempo de ver as mulheres todas se entreolharem querendo uma matar
a outra, cada uma no seu nincho com a família, quero dizer ela e os filhos, você
sabe que são muitas, isto aqui está mesmo hilário, você devia vim. Tem gente
aqui falando que ele teve toda razão em lhe deixar, uma pessoa que é tão
rancorosa, tão ruim, que nem no momento deste vem prestar solidariedade, tinha
mesmo de ser deixada”.
- “Como é que é! Quem morreu
mesmo?
- “Você ainda não percebeu? Ele, o
pai de seu filho”
- Olhe, quer saber, não sei de
quem você tá falando, se você no disser o nome não vou saber qual dos pais de
um dos meus filhos faleceu, portanto... Além do mais, nenhum dos meus filhos me
disse nada até agora, bem improvável, pois, que estejamos falando de algum dos
meus maridos.”
- “O mais mulherengo mulher! Pois
só de ex, aqui, tem umas quatro, só falta mesmo você para completar a zorra”.
Desliga irritada o telefone. Fica
pensando, qual deles faleceu, se foi um de seus maridos, porque o filho
respectivo não ligou para dizer,ele sim, ou um dos tios, é que deveria lhe
ligar para dar a notícia.
O celular toca outra vez, olha o
número, e reconhece o telefone, seu coração acelera.
“Alô meu filho, eu já sei de
tudo, você quer que eu vá com você para o enterro? Se quiser eu vou. Nesta hora
vou esquecer o que aquele sacana fez comigo e você, vou passar por cima de
tudo, vou apenas lembrar que ele é o seu pai vou te dar apoio.
“Como é minha mãe? Meu pai
morreu!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
domingo, 12 de maio de 2013
O Segundo domingo de maio
É domingo, por incrível que
pareça, dia das mães, um destes dias de consumo intenso criado pelo consumismo, que, aproveitando o
sentimentalismo falso de muitos, não de todos é claro, se aproveita para encher
as burras, como se o dia das mães tivesse data fixada no segundo domingo do mês
de maio.
Mãe é todo dia, mãe não tem data
certa, nem tempo certo, nem intensidade no amor. Mãe apenas ama, não porque tem
obrigação de fazê-lo, e sim porque uma parte de si está fora do seu corpo,
acabando de se desenvolver. O Elo de ligação entre esta parte que se
exterioriza e a que permaneceu no próprio corpo da mãe é uma coisa que ninguém,
que não passa pela experiência, entende.
Há mães de todas as maneiras,
mães boas, mães más, mães inteligentes, mães famosas, mães desligadas, mães
loucas, mães possessivas, mães irresponsáveis, mães sufocantes, mas estas
qualidades de cada mãe, não existem por ela ser mãe, e sim porque, antes de ser
mãe, ela é uma pessoa com todos os defeitos e virtudes, que se potencializam
quando a pessoa vira “mãe”.
Sei que sou uma mãe completamente
defeituosa, mas ninguém duvide que sou mãe: louca, alucinada, mandona, agressiva,
mas com todas as responsabilidades que adquiri no momento em que um outro ser,
que não pediu para vir ao mundo, saiu de dentro de mim.
Nunca fui amorosa, e nem mesmo a
maternidade me fez assim, continuo escondendo sentimentos, seja para
ascendente, seja para descendente, mas isto não indica qualquer coisa do meu
amor, seja pela ascendência, seja pela descendência. Não gosto de ser melosa, para mim esta
melosidade significa mais uma fraqueza de que amor. O meu amor se exterioriza
de diversas maneiras, principalmente, e, infelizmente, na parte material desta
relação de responsabilidade com o outro, mas nada e, nem ninguém, entra no meu
interior para saber o que é ter sentimento imenso que é o de saber que, apesar
de se ter de deixar que o outro cresça, que se liberte de suas entranhas, do
seu domínio, não se desliga a tomada em nenhum momento. Sofro quando aquele ser
sofre, choro se sei que ele não tá bem, penso no que ele pode estar pensando. Tenho
vontade de me meter nas coisas até hoje, embora tenha a ciência de que cada um
tem um destino e que ele está imbricado com cada ato que se pratica. O destino
não é dado por Deus, muito pelo contrário, o nosso destino, à exceção dos casos
de força maior, é fabricado dia a dia por nós mesmos e, por isso mesmo, mãe
sofre muito, porque vê, pode antever até, o que vai se passar na vida de um ser
tão amado, tão querido, que está fabricando erroneamente a sua própria vida,
mas que você, que o trouxe ao mundo, não pode intervir, porque há um momento
que fica tarde para isto, e a gente tem de se conformar, e, se possível, apenas
apoiar.
Há quem ache que devemos apoiar
os filhos em qualquer momento da vida e em qualquer situação: eu, pessoalmente,
não concordo com isto, porque não se pode, nunca, apoiar o erro, ainda que
muitas vezes o erro esteja dentro da nossa própria cabeça, que entende diferente
muitas coisas. As vezes esquecemos que a diferença de idade de uma mãe para um
filho é mesmo uma coisa “delirante”. É porque em muitos momentos deliramos, dizemos coisas que não
queremos, vemos coisas que não existem. Algumas mães são capazes de, esquecendo
dos seus preconceitos, dos seus valores, entenderem os seus filhos; eu não sou assim, efetivamente não sou assim,
e não entendo e nem aceito uma porrada de coisas, mas, apesar disto, não sou capaz de abandonar o meu pedaço mais de três meses, olhe que já tentei muitas
vezes. Deixo de dar dinheiro, deixo de ligar, deixo de procurar, digo a mim mesmo que vou deixar ele quebrar a
cara, aliás, se fosse contar as inúmeras vezes que disse isto, não existia mais nem um pedacinho
de cara dele, tava tudo lenhado e eu perderia um dos mais belos sorrisos do
mundo, que é o sorriso do meu filho quando ele está em um momento de felicidade
e eu posso olhar-lhe, sorrateiramente, para que ele não perceba o grande amor
que sinto, o grande desejo que tenho de que ele se encontre, seja feliz, viva
uma vida digna e saiba transmitir valores bons para os seus filhos.
Pois é, comecei este texto para
falar de televisão, porque liguei a
televisão cedo, e à exceção de dois programas, um rural e um outro de samba,
que por acaso é apresentado por Diogo Nogueira, o que já alivia mil e uma
“tesões”, hoje traz a família de Jair Rodrigues: todos os demais canais que a
antena alcança estão transmitindo pregações de todas o pastores e em todas
as igrejas possíveis, inclusive a
santa missa de Aparecida, o que eu acho um verdadeiro saco, pois não gosto
que entrem na minha vida assim, isto é
uma massificação do “cristo” que eu não
consigo entender, não aceito, não gosto.
Isto não significa que não tenha fé, tenho sim, mas não tenho uma fé
paga, que existe apenas porque Deus, ou seja quem for, vai atender-me na
proporção da minha contribuição. Bom, mas isto agora não interessa, o que
interessa mesmo é que, dia criado pelo consumo ou não, hoje é um dia que
filhos, que não são filhos vinte e quatro horas, como são todas as mães,
lembram que tem de comprar um “perfume”,
um “sabonete”, “uma roupa”, “um relógio”, até um carro uma viagem, uma joia
para os mais abastados para lembrar o que nenhuma mãe, em momento algum da sua
própria vida, esquece, que é ser mãe, que é ter um pedaço de si própria fora de
si própria, um pedaço que é maior do que o seu próprio corpo, de sua própria
alma, que sofre, chora, seja de agonia, seja de felicidade, seja, apenas, por
amor.
Por mais inacreditável que seja,
amo meus filhos, o que saiu de dentro de mim e os que a vida colocou no meu
caminho sem a minha efetiva participação, amo os três com a mesma preocupação
de mãe que quer que todos eles sejam muito, mas muito felizes mesmo!

sexta-feira, 10 de maio de 2013
Há sempre esperança
São três horas da manhã. Há chuva lá fora, o vento, mostrando todo o
seu poder, desnuda as árvores, folhas caem em profusão, ouve-se o som das
folhas rolando pelo chão. Um pouco mais
longe, mas não menos presente, o som das ondas chega aos seus ouvidos. Fica
imaginando a altura das ondas, a espuma densa se formando. Sim, o som é forte,
sinal de que o mar está mesmo alto, violento e quer tomar todo o espaço.
Ela não entende porque está
acordada, dormira cedo, efetivamente. O dia decorrera tranquilo, não fora a
notícia do falecimento de uma pessoa que teve um momento de importância na sua
vida. Tomara duas garrafas de vinho, um deles espanhol, ambos deliciosos,
evidentemente que houve compartilhamento do vinho, ainda assim, os efeitos
fizeram-na dormir antes das 7 da noite, e o resultado é este, acordada desde
1:30 tentando acessar a internet. Depois de três dias conseguiu acessar a sua
caixa de mensagens, mesmo assim, com muita dificuldade. A luzinha verde do
modem oscila e, no meio da leitura de uma mensagem, tudo para.
Fica com cara de besta olhando aquela tela inerte na sua frente, nada se
movimenta, tudo travado. Desliga a
máquina, torna a ligar, tenta, outra vez entrar na net, clica no google, uma
esperança! Aparece a página de pesquisa.
Clica no site a acessar e fica esperando, olhando aquela rodinha a girar,
girar, girar, para depois ver na tela; página indisponível. Tem ganas de rumar
o computador no chão. Pensamento que
logo lhe sai da mente não só porque lembra do preço da máquina, como também
pelo fato de que a miserável não tem culpa. A culpa da demora no acesso à
internet é da operadora, no caso hoje, da OI, que, depois de dois dias da
compra do chip que lhe garantiria o acesso aos seus sites, registra apenas as
mensagens a lhe dizer quanto tem de saldo, quantos megas já utilizou, enfim,
uma série de informações ordinárias que não condizem com a realidade, porque
ela não conseguira, até o momento, entrar na sua webmail. E lá se vão os
créditos e a sua paciência.
O vento continua lá fora, fica
pensando na planta que, pela tarde. já estava quase totalmente envergada, agora,
possivelmente, já está no chão, todavia fica torcendo para que ela volte ao seu
estado primevo, porque ela é forte, ela enverga mas não quebra, este é o lema,
que pode ser aplicado a si própria. Ela sofre, passa dificuldades, enverga, tem
a sensação de que tudo acabou, mas, de repente, está ela ali outra vez,
inteira, com marcas, mas inteira. Não sabe onde arruma forças para vencer as
suas tempestades, os seus ventos interiores e exteriores, os relâmpagos e os
trovões, que lhe incomodam imenso, mas ela arruma estas forças, seja olhando a
própria chuva, o mar violento ou calmo, uma planta nascendo, um riso franco de um
amigo, esta última opção, mais escassa, mas o fato é que ela arruma forças e
sai dos infernos em que entra, que, acreditem: não são poucos.
A madrugada vai em frente, e ela
não consegue dormir. Não quer pensar em problemas e por isso mesmo, resolve
escrever: queria não falar de coisas tristes, queria contar um conto novo, um
acontecimento engraçado, fazer as pessoas sorrirem, mas é difícil, porque a
própria natureza lá fora está triste, chora forte as suas mágoas, se faz ouvir,
ela quer mostrar aos homens que lhe estão fazendo mal e que ela vai reagir, dá
pequenos avisos, mas ninguém parece se incomodar, ela leva cais, paredões, mas eles dizem que tudo é
natural. Não é não; cada dia que passa o mar cresce mais um pouco, e derruba
tudo: paredões, sacos de areia, vai tomando o seu espaço invadido. Barcos vêm
parar na areia, prejuízos se acumulam, e ninguém percebe o que se passa, culpam
até Deus; dizem que não merecem o que está acontecendo, esquecendo-se do que
fazem para que a natureza se comporte tão agressivamente, é um retorno, apenas,
ela só está devolvendo o que lhe proporcionaram.
Arembepe -Ba |
Arembepe alagado = Ba-2013 |
Rio Jacuípe - Ba |
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