Roberto Carlos canta “DETALHES”,
ela ouve e presta atenção à letra: se emociona, lembra-se de quando foi lançado
o disco e que ela ganhou um “compacto” com somente duas músicas, mas ela só se
lembra de uma delas, que é exatamente esta: DETALHES.
Tinha apenas dezessete anos,
trabalhava em uma empresa que comercializava água mineral, ela estava no auge
da sua beleza de menina, ainda não podia ser considerada uma mulher, tinha tudo
para sê-lo, aliás, os seus chefes, que eram muitos na empresa, uma limitada com
quatro sócios e mais um gerente assim pensavam, o último deles resolveu que ele
é que tinha de ser o primeiro homem da sua vida. Sem dúvida ele conseguiu ser,
mas apenas o primeiro homem que lhe mostrou, efetivamente, quão canalhas podem
ser aqueles que têm algum poder e pensam em utilizar este poder para receber
favores, o que hoje caracteriza, e bem, o “assédio moral”. Todavia, o cara não
conseguiu nada, apenas ensinar-lhe que devia evitar os homens apaixonados ciumentos,
que querem ser dono do outro e não medem esforços para desemprenhar este
ridículo papel.
Pensa consigo própria, perdeu a chance
de receber uma bela indenização, não só desta empresa, mas de algumas outras em
que trabalhou. Dessa vez os “felinos” escaparam, não só os “felinos” como
também os “equinos” e os “pinheirais”. Mas
nada disto, de todas as vicissitudes que passou por força da sua inocência e
beleza, todas as suas desventuras com estes homens mais velhos, lambões,
idiotas e ridículos não conseguiram tirar o seu “frescor” a sua juventude, a
sua vontade de viver e de vencer, tampouco acabar com os sonhos que a música
DETALHES lhe fazia viver hipoteticamente, pois ela sonhava mesmo com uma calça “LEE”
desbotada, que era a moda da época, e só servia se fosse comprada no cais,
“contrabandeada” sabe-se lá de onde. Ela tivera duas, não lembra muito bem como
elas chegaram até si, mas teve duas “LEE” LEGÍTIMAS. Ia trabalhar muitas vezes com ela, preferia
ir de calça, dado que quando ia de vestido para o trabalho e escola era um Deus
nos acuda. Ela vestia realmente muito curto, se subisse uma escada tinha de
segurar o vestido para que a bunda não aparecesse, a roupa era tão curta que ,
quando era feita por sua mãe, ou por alguma tia, as calcinhas eram feitas no
mesmo tecido, para disfarçar o indisfarçável. Hoje ela vê as jovens usando o
mesmo recurso para mostrar o “rabo”, suas formas e curvaturas, algumas até a
própria profundidade.
O fato é que DETALHES lhe levava
a sonhar muito e ela lembrava-se de seu primeiro namorado, um rapaz lindo, com
o qual, infelizmente, não fez amor, do que até hoje se arrepende, talvez em
outra encarnação eles se encontrem, esta ainda é uma esperança.
Roberto Carlos continua a cantar,
agora já é “Falando sério” e ela se vê no momento atual da sua vida: e as
palavras são mesmo cruéis. “Falando sério é bem melhor você parar com estas
coisas de olhar para mim com olhos de promessas, depois sorri como quem nada
quer”. “Você não sabe, mas é que eu tenho cicatrizes que a vida fez”. Ela tem mesmo cicatrizes profundas, que foram
deixadas por tantos quantos passaram pela sua vida: “amores”, amigos” “familiares”. Ela é sensível, embora muitos
não creiam nisto. As cicatrizes dos amores continuam, ao que parece, abertas, as
antigas porque não cicatrizaram direito e deixaram marcas indeléveis, as mais
novas porque ainda estão abertas, doidas, e lhe reportam mesmo a fatos
atuais.
A música muda, agora é Cavalgada,
ela sorri, já teve esta música ofertada para si em uma festa, um cowboy interiorano do sul do seu Estado lhe ofereceu.
Hoje sorriria muito, mas à época ficou indignada. Cavalgada é mesmo pesada
para alguém oferecer a outrem, isto num começo de nada, porque realmente nada aconteceria entre ela e o
ofertante, aquilo era pacifico: afinal
ela estava ainda apaixonadíssima pelo seu companheiro de então, não que
ela o tenha esquecido, mas o amor anterior era mais forte, mas possessivo, mais
vivido, porque era de ambos.
Mas as recordações agora são outras, Roberto Carlos canta “Café da Manhã” e ela lembra de quantas e
quantas vezes a situação a que a música
se reporta foi vivida com muita intensidade nos diversos motéis da
sua cidade , nos quais ela ia com
a pessoa que virou o seu grande e imenso amor, vivido, sofrido, doído que
parece não querer acabar nunca. Resta, ao menos, uma lembrança.
Está pensando em terminar isto,
mas a música que segue é pior ainda, mas ela gosta de sofrer e
ouve: “Mas acontece que eu não sei viver sem você, as vezes me desabafo me
desespero porque, você é mais que um problema, é uma loucura qualquer, mas sempre
acabo em seus braços.......”
Bom, ela não quer mais ouvir
nada, se a cada música que ouvir associar algum fato por si vivido, terá muito que
chorar, contar, sofrer; melhor terminar como bem diz Djavan: “Desinflama meu amor, tudo seu é muita dor, VIVE”.