quinta-feira, 10 de novembro de 2016

A caminhonete 403 - Cascais - Sintra

O numero é 403. Não esqueçam este número de maneira alguma.
Estava eu em casa da minha amiga Vera e queria saber como, de Cascais chegaria a  Sintra e vice-versa, tudo isto porque algumas pessoas iriam chegar do Brasil e eu tinha que, no domingo, levá-los à Sintra e depois retornar à Oeiras onde almoçaríamos na casa da minha amiga.
Já fui por diversas vezes à Sintra, de ônibus, de comboio, de carro, mas sempre sai de Lisboa, ou de Carnaxide, mas agora a Vera mora em Oeiras e eu não queria sair de Oeiras para ir pegar trem em Lisboa para ir à Sintra. Comecei a pensar como é que Cascais, tão pertinho de Sintra, não tinha algum transporte público ligando os dois sítios. Fui pesquisar na internet e encontrei duas opções, ambas saindo do terminal rodoviário de Cascais, as camionetes de números 403 e 417.
A principio pensei: vou pegar qualquer delas, se a finalidade é chegar em Sintra e retornar para Cascais, qualquer uma das duas serve.
Não, não é assim.
Primeiro tive que procurar  a paragem, dentro da próprio terminal, da  caminhonete de no 3. A indicação não é visível. Olhe que até perguntei a algumas pessoas, que também não souberam informar, mas, finalmente, um motorista me disse. Por incrível que pareça é a primeira paragem da pista que fica no interior da estação, no sentido dos ônibus que estão chegando. A de nº 417 é a primeira ou segunda  do lado externo  do terminal no sentindo contrário. Bom, o certo é que esperei um pouco e a caminhonete chegou, ela sai de quarenta em quarenta minutos, tanto de um terminal quanto de outro – Cascais ou Sintra.
Confesso que peguei o ônibus sem grandes pretensões, mas,  que grande  surpresa: primeiro ele percorre vários  bairros de Cascais. Conheço a vila, entretanto  fico sempre por ali por perto da estação de comboios, já fiz alguns incursões, mas nada que me afastasse tanto da estação que não pudesse voltar andando. Aliás, tenho um passeio predileto que recomendo a todos que um dia visitem Cascais: vão até o Jardim que fica na parte alta, é só você  subir aquela ladeira maravilhosa,  de   onde, a cada passo, você vai  descobrindo a baía de Cascais,  não há como errar, a subida margeia o mar e você chega ao forte, dali é só você passar em frente a ele, atravessar a rua,  dobrar para a esquerda e você vai encontrar a grade do jardim acompanhe a grade até a entrada principal e aí entre, atravesse este jardim todo se tiver folego,  que você perderá quando alcançar o  outro lado  e encontrar o castelo e à frente deste,  o farol e o lugar, talvez o mais bonito recanto de Cascais.  Ali, por favor, não se esqueça  de entrar no restaurante do lado esquerdo, você vai ver as escadinhas, é imperdível.  Bom, todavia eu não estou falando de Cascais, e sim  do caminho para Sintra.
É mesmo uma grande  e prazerosa  viagem. Você vai passar pela Guia, Alcabideche, Belora, Rana sei lá mas o que e vai se afastando do centro, e aí meu amigo, é como uma mágica: de repente você começa a ver, deslumbrar o mar à sua esquerda se você estiver indo em direção à Sintra. Aí você se distrai olhando o mar, lá embaixo, porque estamos em uma serra, e, de repente, quando  este desaparece entre  as casas, você retorna a estrada e pense: agora estamos em estradinhas tão estreitas que se dois ônibus  tiverem de passar em direções opostas, um tem que parar, se encostar bem de um dos lados da estrada para que o outro possa passar.  Casinhas  pequenas ladeiam a estradinha. Plantações de couve, alface,  folhas verdes em geral aparecem aqui e ali nos terrenos mínimos mas bem aproveitados.  Uma laranjeira com frutas amarelinhas, um limão siciliano, uma limas(limões tipo Haiti no brasil). Flores, muitas flores,  um colorido imenso. A vilazinha acaba e o mar imponente, agora bem distante, se impõe. E a caminhonete segue, mar e mar, penhascos se descortinam e ele lá, o Atlântico poderoso e azul se mostra. Choro, fico a imaginar o motivo de  não ter descoberto esta caminhonete antes. Se assim tivesse acontecido, pelo menos uma vez a cada mês, chovendo ou não, faria esta viagem de Cascais a Sintra.
O ônibus sai da estradinha e entra em mais uma vilazinha, as pequenas casinhas brancas contrastam com o azul da imensidão do mar ao fundo. É uma paisagem de tirar o folego. |A estrada estreita ainda mais, a impressão que temos é que o ônibus vai bater em algum muro, alguma parede de pedra, vai entrar casa a dentro, mas ele segue tranquilamente, tirando fino aqui e ali.
Vislumbro um forte lá ao fundo, bem no alto. Sei que já estive aqui, mas a sensação não é a mesma. O motorista anuncia, Cabo da Roca,  após ele só o mar imenso, nada mais. O ponto mais ocidental  da Europa, dali fica-se mais perto do Brasil. Dou risada.  O mais perto que ainda é tão longe.
Neste momento lembro-me de Alberto, espero que ele esteja bem. O Cabo da Roca fica em Colares, que pertence à Sintra, aliás, onde também fica a Azenhas do Mar, a praia da maça, e muitos outros lugares dignos de serem visitados. O ônibus faz a volta e a viagem continua, o mar agora está atrás  de mim, mas ele voltará a ficar ao meu lado.
Começo a ver, do meu lado direito, o Castelo de Sintra lá no alto, o ônibus faz zig zag na estrada, as curvas são inúmeras, e o castelo se desloca para meu lado esquerdo, é interessante esta sensação, mais algumas vilazinhas vão passando,  o mundo, em alguns pedaços da estrada, parece ter parado.  
Sintra se aproxima, ao lado da estrada uma linha férrea,  que passa por passeios, ruas, etc. acho interessante e lembro-me que há um trenzinho que circula no verão, que leva às praias, penso que este será o caminho que percorre.
Chego à Sintra, o ônibus  atravessa um bom pedaço da cidade e para na estação de comboios, é o terminal do 403, onde também peguei de volta o 417, que faz um caminho bem diferente, mais rápido inclusive, mas sem a beleza do 403.

Quando for em Portugal e  quiser passear em Cascais e Sintra, não esqueça. 403. Delicie-se, prepare o seu coração.

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