segunda-feira, 30 de abril de 2012

Indicação Bibliográfica


Nunca pensei que isto fosse acontecer, mas posso garantir que é muito bom, bom mesmo, dá um prazer imenso, um orgulho grande, uma sensação ótima.
Alguns podem achar que é pedantismo meu falar sobre o assunto, mas não vou me importar com isto, porque esta felicidade que senti e sinto está acima de qualquer coisa, inclusive de preocupação com o que os outros pensem ou deixem de pensar.
O fato é que, no ano passado, 2011, estava eu fazendo uma pesquisa pelo Google, exatamente por força do trabalho do doutorado e ao colocar o assunto que queria encontrar – Legislação Colonial e Justiça Colonial em Moçambique - dei de cara como meu nome em uma série de sites.
Olhe gente, não nego não, fiquei mesmo extasiada.  Eu, Esmeralda Simões Martinez sendo citada em artigos de mestres, mestrandos, doutorandos, fazendo parte de bibliografia de teses de dissertações. É mesmo sensacional.
Em um dos artigos o articulista chega a dizer: “segundo a jurista e historiadora, Esmeralda Martinez”, pense aí! Bem verdade que não conseguimos agradar a gregos e a troianos, porque o mesmo artigo que foi publicado em uma revista no Brasil foi rejeitado por outra, sob o argumento de que havia algumas conclusões “simplistas”. Tudo bem, até concordo,pois pelo comentário, descobri que não se pode, seja em artigos, seja em dissertações, seja em teses, fazer sínteses de duas linhas, porque isto é muito “simplista”. Simplista ou não, o artigo foi citado e me  fez sentir muito importante.
Hoje, dia 30 de maio, embora quase sem poder fazer nada, porque o som dos meus vizinhos não permite, coloquei o meu nome no Google, e eis que me deparo com um projeto denominado – OS COMPROMETIDOS - e qual não foi a minha surpresa por encontrar meu nome na descrição do site. Evidentemente que abri e, realmente, a surpresa foi maior ainda: pois não é que na bibliografia indicada pelo projeto esta o artigo LEGISLAÇÃO COLONIAL PORTUGUESA PARA O ULTRAMAR, publicado pela revista Sankofa!
Olhe que fiquei mesmo emocionada, até porque o projeto em questão é do Centro de Estudos Sociais – CES- da Universidade de Coimbra em Portugal, que tem uma equipe de investigadores do mais alto nível, incluindo o Doutor Boaventura de Sousa Santos, o que significa que o meu artigo realmente é bom, porque não estaria relacionado na bibliografia de um projeto desta qualidade.
Bom, o fato é que to me sentindo mesmo muito importante, vendo o reconhecimento de um trabalho de pesquisa, de sistematização, que me tomou muito tempo, me fez gastar muito dinheiro, me fez ficar afastada dos que gosto, mas que, realmente, valeu a pena!     

segunda-feira, 16 de abril de 2012

COM DRUMOND

Sonhei que estava fazendo uma prova e que a primeira questão a ser respondida continha, apenas: “CEM – Drumond” e  Aidê ou Aída  ligado a outro nome, por acaso, de uma mulher.
Relia aquela questão muitas vezes sem entender nada. Dado que a prova era de história, respondia as demais perguntas, mas encucada com aquela primeira, que eu não sabia para onde iria,nem como começar. Aí, no meio daquela confusão mental, uma luz apareceu, e eu quase gritei: “matei a charada: Cem não significa cem, e sim “sem”,  a forma  que Drumond encontrou de negar tudo naquele poema”. A pessoa que estava tomando conta da prova, apesar de mandar que eu me calasse, sorria diante da minha “descoberta”, acho que porque ninguém tinha coseguido chegar lá, mas eu dizia que aquilo seria um caso de  anulação da questão,  que era mal elaborada, confusa, induzindo  as pessoas a erro, etc.
Acordei, e a primeira coisa que fiz foi procurar na net  se havia alguma ligação entre Carlos Drumond de Andrade e o “CEM”; para minha surpresa, e olhe que surpresa! Há sim.  Drumond escreveu máximas, uma delas diz exatamente o que possivelmente era o pensamento real do autor: “Cem máximas que resumissem a sabedoria universal, tornariam dispensáveis os livros”. Dei muito boas risadas, porque, logo de ínicio, ao que parece no site em que  vi isto, as máximas de Drumond estão ordenadas alfabeticamente,  há uma que diz: “Adão, o primeiro  espoliado - e no próprio corpo”.
Achei  interessantissímo esta estória, a do sonho e  a sua correspondência  real, não sabia destas máximas e  continuei  lendo:
“As academias coroam com igual zelo o talento e a ausência dele”.  Olhe que associei  esta aqui há alguns “talentos” premiados pelas academais, que a gente não consegue entender como  eles alcançaram este  “pedestal”, porque efetivamente há muita coisa medíocre neste universo acadêmico; posso dizer isto com muita tranquilidade, porque tive acesso  a muitas teses de doutoramento que, não nego não, até mesmo eu, que  também posso ser considerada por outrem como “medíocre”, não aprovaria de nenhuma maneira, pelos mais variados motivos, muito principalmente pela própria falta de fundamentação e conteúdo.
Com estas maravilhosas máximas, lembrei-me do tempo da adolescência em que fazíamos cadernos de pensamentos, hábito deveras salutar; lembro-me perfeitamente no Salette, onde fui interna, que estes cadernos eram  um hábito; quase todas as “grandes” tinham. Eu não pertencia a esta categoria “grande”, pois sequer tinha doze anos, mas como era mesmo metida resolvi fazer um, e olhe que colocaram ali pensamentos  filosóficos  importantíssimos: imaginem que aos 11/12 anos, na sexta série,(segunda do ginásio) eu já ouvia falar de Schopenhauer:   “A solidão é a sorte de todos os espíritos excepcionais” ; “A glória é tanto mais tardia quanto mais duradoura há de ser, porque todo fruto delicioso amadurece lentamente.”; “Nas pessoas de capacidade limitada, a modéstia não passa de mera honestidade, mas em quem possui grande talento, é hipocrisia”. Victor Hugo:  “Ser bom é fácil. O difícil é ser justo”;“Há pensamentos que são orações. Há momentos nos quais, seja qual for a posição do corpo, a alma está de joelhos”;”Fazes-me falta, estou ausente de mim própria”;”Comer é uma necessidade do estômago; beber é uma necessidade da alma.”;(este é divino) “Ser contestado é ser constatado”;O sábio sabe que ignora”;”Mais facilmente se julgaria um homem segundo os seus sonhos do que segundo os seus pensamentos.”;”Chega sempre a hora em que não basta apenas protestar: após a filosofia, a ação é indispensável”;  Baudelaire:  “A admiração começa onde acaba a compreensão."; “O homem que só bebe água tem algum segredo que pretende ocultar dos seus semelhantes." (ótima) “Não podendo suportar o amor, a Igreja quis ao menos desinfetá-lo, e então fez o casamento.","Apenas é igual a outro quem prova sê-lo e apenas é digno da liberdade quem a sabe conquistar.", e tantos outros. Evidentemente que não conhecia a obra de nenhum deles, mas algumas de suas máximas filosóficas estavam no meu caderno, que não deixou de ter  Saint Exupery, que era a moda da época“O essencial é invisível aos olhos”; “Você é responsável pelo que cativa”, e por aí vai. Estas máximas, com certeza, são melhores que livros de autoajuda (acordo ortográfico).Olhem bem o que diz Drumond: “A dor é inevitável, o sofrimento é opcional.” O que o autor de um livro de autoajuda levaria cinquenta páginas para dizer, é dito em apenas uma frase, e, com certeza, você vai fazer tudo para evitar o sofrimento, sem qualquer leitura  que lhe deixa mais culpado ainda, sem qualquer resignação com esta dor, sem explicações espirituais que lhe fazem piorar, ao invés de melhorar, porque ninguém melhora quando aceita sofrimento pela simples lógica de que você tem de passar por isto ou aquilo para encontrar a paz e purgar a sua falta, falta esta que,segundo alguns, pode ter sido praticada mesmo em outras encarnações; a questão é apenas de livre  arbítrio,  como bem diz Drumond. Se você quer escolher o sofrimento, o problema é seu,se quer passar a vida toda sofrendo, faça isto, mas se escolher ser feliz, afaste a dor, ainda que seja dando-lhe de beber, pois “dar de beber a dor é o melhor, já dizia a Mariquinhas”.      
Estou muito feliz com o sonho que tive, pois ele me fez redescobrir Drumond, que, mais uma vez, me surpreende com tantos poemas que não conhecia e que falam de amor,  como este que transcrevo  abaixo, que tem direção certa, para tantos quanto amem como ele mesmo sugere:

“Conselho de um velho apaixonado.

Quando encontrar alguém e esse alguém fizer
seu coração parar de funcionar por alguns segundos,
preste atenção: pode ser a pessoa
mais importante da sua vida.

Se os olhares se cruzarem e, neste momento,
houver o mesmo brilho intenso entre eles,
fique alerta: pode ser a pessoa que você está
esperando desde o dia em que nasceu.

Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo
for apaixonante, e os olhos se encherem
d'água neste momento, perceba:
existe algo mágico entre vocês.

Se o 1º e o último pensamento do seu dia
for essa pessoa, se a vontade de ficar
juntos chegar a apertar o coração, agradeça:
Algo do céu te mandou
um presente divino : O AMOR.

Se um dia tiverem que pedir perdão um
ao outro por algum motivo e, em troca,
receber um abraço, um sorriso, um afago nos cabelos
e os gestos valerem mais que mil palavras,
entregue-se: vocês foram feitos um pro outro.

Se por algum motivo você estiver triste,
se a vida te deu uma rasteira e a outra pessoa
sofrer o seu sofrimento, chorar as suas
lágrimas e enxugá-las com ternura, que
coisa maravilhosa: você poderá contar
com ela em qualquer momento de sua vida.

Se você conseguir, em pensamento, sentir
o cheiro da pessoa como
se ela estivesse ali do seu lado...

Se você achar a pessoa maravilhosamente linda,
mesmo ela estando de pijamas velhos,
chinelos de dedo e cabelos emaranhados...

Se você não consegue trabalhar direito o dia todo,
ansioso pelo encontro que está marcado para a noite...

Se você não consegue imaginar, de maneira
nenhuma, um futuro sem a pessoa ao seu lado...

Se você tiver a certeza que vai ver a outra
envelhecendo e, mesmo assim, tiver a convicção
que vai continuar sendo louco por ela...

Se você preferir fechar os olhos, antes de ver
a outra partindo: é o amor que chegou na sua vida.

Muitas pessoas apaixonam-se muitas vezes
na vida poucas amam ou encontram um amor verdadeiro.

Às vezes encontram e, por não prestarem atenção
nesses sinais, deixam o amor passar,
sem deixá-lo acontecer verdadeiramente.

É o livre-arbítrio. Por isso, preste atenção nos sinais.
Não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem
cego para a melhor coisa da vida: o AMOR !!!

Aproveitem, pois,leiam estas máximas, faz bem  à alma.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Cheira bem, cheira a Lisboa!

O cheirinho do café invadia tudo. Ela não tomava muito café, mas gostava imenso daquele cheiro, porque isto lhe remetia às viagens; aeroportos, metros, estações de comboio, rodoviárias, enfim, o aroma realmente era associado a coisas boas.
Era um dia especial para ela, afinal, depois de longos três anos e meio, acabara a tese e ia entregá-la para a impressão e, depois, fim: ao menos desta fase. Agora era só esperar que marcassem a defesa, o que ainda ia demorar.
Descia as escadas para pegar o metrô e ir até à Faculdade e pensava: “Por que não estou tão alegre como deveria? Afinal está tudo pronto; o resultado de tanto sacrifício, tanto dinheiro gasto, tantas dívidas aumentadas estava alí”. Bem verdade que ainda falta a defesa, mas o caminho já está mais de 70% percorrido. Ainda que não venha a ser considerada uma tese brilhante, perder é que ela não vai mais, com certeza. Então algum orientador de renome iria deixar que uma tese fosse apresentada se ela não tivesse a mínima condição de aprovação? Acredita-se que não, então...
Todavia, nem este pensamento lhe alegrava. O cheiro do café ainda persistia, embora ela já estivesse mesmo na plataforma de parada dos trens. Olha os trilhos, pensa, por segundos, idiotamente, tudo podia acabar ali, era só uma questão de coragem e de alguns segundos.
Surpreende-se!  “Por que teve este pensamento? O que se passa?”
O trem chega, ela entra e esquece-se de procurar a resposta para pensamento tão idiota.
Chega à Cidade Universitária, sai do metrô, sobe as escadas lentamente; mais uma vez o cheiro forte de café bom invade suas narinas ela pensa: “por que será que no Brasil eu não sinto este cheiro tão bom”? Por certo não andava ela nos lugares adequados.
Não está feliz mesmo: está com a consciência do dever cumprido, de ter, mais uma vez, alcançado uma meta, mas feliz não está. Tenta procurar o motivo de não se sentir como deveria, pois sabe, perfeitamente, que não é todo dia que alguém apresenta uma tese de doutoramento, nem todos os dias e nem qualquer um. Ela era uma privilegiada e sabia disto, afinal tivera condições, mesmo se endividando toda, de estar fora do seu país, da sua casa, fazendo a sua pesquisa e realizando sonhos, tentando esquecer pesadelos.
Está quase a chorar. Entra na faculdade, vai até o local onde marcara com a orientadora que tem de autorizar a entrega da tese. A orientadora chega rapidamente, não lhe dando tempo de chorar e nem de pensar na sua tristeza, que já é mesmo visível.  Chegam à Secretaria e a funcionária diz que não é preciso entregar qualquer papel, que apenas eles queriam a garantia de que a orientadora sabia que a tese poderia ser entregue. Não sabe se chora ou si ri. Orientadora e ela entreolham-se, ambas não acreditam muito no que está a se passar, mas enfim... É assim e pronto!
Sai da secretaria e vai pagar uma parcela da semestralidade que lhe dizem que está em aberto. (2010). Não entende bem o motivo, pois sempre cumpre religiosamente as suas obrigações, e agora esta! Logo agora, quando tem de gastar tanto com impressão, com emolumentos, com propinas, tem esta infeliz notícia de que deve um semestre. Bom, como não acha o recibo e tem de entregar a tese, não tem muita alternativa faz o pagamento, (687€) contrariada claro, mas tem de o fazer, e ainda tem de pagar a atual, a de 2012.
Comprova o pagamento na Secretaria e se dirige a “Reprografia” que fará o serviço de impressão, entrega a “pen” para que façam a gravação e sabe do preço que terá de pagar. Toma um susto da porra, pois, por 15 exemplares tem de pagar 388,00€, isto já com um desconto de 7%, que não sabe se efetivamente foi dado, mas como o serviço ficara bem feito quando do mestrado, tudo bem.
Sai da faculdade, e volta a fazer o percurso inverso. Pega o metro e segue, outra vez, para Marques de Pombal. Agora ela iria, mais uma vez, porque era quinta feira, à tasca do Sr. David, comer o cozido à portuguesa, comida que aprendera a gostar e da qual não abria mão neste dia, mas nem isto melhora o seu interior: Está, efetivamente, triste.
Rio Tejo
No metro fica querendo entender a sua tristeza e começa a fazer a ligação entre ela e a sua volta, definitiva, para o Brasil. “O que vai lá fazer? Vai ficar morando onde tem a sua casa, o que lhe sobrou da partilha de um casamento? Vai tomar conta da mãe? Vai ter de assumir mais uma vez a responsabilidade total sobre ela? O que será da sua vida agora?”. 
Estação de Comboios do Rossio
Estas perguntas lhe deixam mais triste ainda. O metro chega à Restauradores, onde tem de sair. Sai e, por um momento breve, esquece-se dos pensamentos e olha, extasiada, a estação do Rossio. É linda! Extraordinariamente linda!  Fica ali parada por uns segundos, o suficiente para que de novo o seu pensamento volte à pergunta anterior: “E agora? O que vai ser de você? Quando você vai ter oportunidade de ver isto outra vez?” Chora, não tem mais condição de segurar o choro, as pessoas lhe olham: Ela esta parada na frente da estação olhando em direção á Avenida da Liberdade: Faz a ligação entre o nome da avenida e à sua liberdade, que a acaba ali. No momento em que entregar a tese na secretaria da faculdade já não tem mais motivo algum para estar em Lisboa, tem de voltar a sua medíocre vida na sua terra, onde tem de dar satisfações, onde não pode andar sozinha à noite, não pode entrar em bares, onde não tem bailaricos, onde não recebe elogias, onde não é minimamente feliz, onde só tem problemas e eles estão mais próximos (“o que os olhos não vêm a alma não sente”, é o que dizem), onde ninguém lhe espera, onde vai estar só, e esperando que migalhas de amor lhe sejam dadas em formas de: “relógio”, “óculos”, “biquíni”, “perfume”, “saias”, “discos”, “até de presença ausente” coisas materiais que, se bem que bonitas, de nada lhe adiantam porque não lhe fazem bem à alma. Não haverá mais caminhadas no Estoril; não mais irá à Marina de Cascais; não irá mais ao Alto de Santa Catarina; serra de Carnaxide, não haverá mais travessias do Tejo. Adeus às almeijoas à bulhão pato, bacalhau à lagareiro, favas, moambas, etc. etc. Adeus vinhos do Alentejo, adeus mojitos, adeus viagens ao interior de Portugal. Adeus a liberdade, a tantas coisas boas enfim.
Todavia, tem de se acostumar, reacostumar, e é o que vai tentar fazer, esperando não encontrar em nenhum lugar onde esteja, o cheirinho do café da estação de metro da Marques de Pombal, para não se lembrar do cheiro que “cheira bem, cheira a Lisboa”.