Estava assistindo aos comentários sobre a repercussão das
manifestações de ontem, dia 13 de março e, decididamente, fiquei com uma
vergonha enorme.
O governo e o partido dos
trabalhadores subestimando esta
concentração, esta força, esta energia dos cidadãos brasileiros, que só estão querendo o respeito às suas instituições, à moralidade, uma volta da ética e, junto com
tudo isto, uma politica econômica clara, que tire o país da crise em que o governo nos colocou, por inabilidade, por
falta de competência, por apenas estar preocupado em se manter, a qualquer
custo, no poder.
Tive vergonha de ouvir todos os
comentários. Os petistas de carteirinha,
tentando o impossível, vincular esta enorme cobrança popular, a um golpe
articulado pela oposição, que por um acaso qualquer, embora isto não tenha sido
uma tônica nas manifestações, foi vaiada, vide Aécio Neves e o Alkimim em São
Paulo.
Golpe! Golpe é o que o PT está
querendo nos dá. Então um homem que desrespeita o cidadão brasileiro, a
justiça, procura deboche, gozação, ironia, subterfúgios, mentiras, sendo
processado pela Justiça por força das tramoias que aprontou, que praticou
enquanto no governo, vai, de novo, participar dele? Que Vergonha! Estou completamente atônita e não consigo
acreditar no que vejo e ouço.
Então uma pessoa que recebe setecentos
mil por uma palestra, aliás, um valor que eu, pessoalmente, considero mais de
que exorbitante para ouvir um “bhrama” qualquer falar, não sabe quem pagou este
dinheiro. Faça-me um favor. Está mais de que evidente de que, qualquer pessoa
em sã consciência, não pagaria dinheiro algum para ouvir o Sr. Lula, falar de
absolutamente nada, porque ele não tem nada a oferecer. Até mesmo o timbre da voz já me deixaria sem
qualquer intenção de ouvir qualquer palestra.
Não gosto do tom, não gosto do discurso, não gosto da ironia, da
agressividade.
Um miserável que tem coragem de
abrir a boca num depoimento e dizer, numa ofensa aos seus próprios eleitores,
aqueles que tanto o defendem, que aquele imóvel “tríplex de luxo em Guarujá” não
prestava para si porque era “um tríplex Minha Casa minha vida”. Um imóvel com
mais de duzentos metros quadrados era muito pequeno para a sua família. Olhe é
mesmo um deboche, um desrespeito, um descalabro.
Ouço e vejo mentiras em cima de
mentiras, não dá mais para acreditar em A, B ou C; Na presidente da República e
no ex-presidente da República, nem pensar. Se era difícil para mim aceitar o
discurso petista antes de toda esta vergonha, pior agora com tantas evidências
e fatos devidamente comprovados que confirmam a existência de tantos
favorecimentos pessoais, tanta corrupção.
O achado entre as coisas do ex-presidente
de objetos catalogados como patrimônio público me deixa perplexa, quanto pior a
justificativa de estarem ali no depósito “cedido” por uma transportadora para armazenar
tais coisas.
Depois de tudo isto, este governo
descreditado, incompetente, ainda discute o retorno de Lula para algum
ministério, sob o argumento de que somente ele tem o poder de conseguir uma
união politica para tirar o governo da crise em que ele se encontra, num claro
sinal de, mais um desrespeito á ordem instituída, pois, atrás desta desculpa,
desta mentira, porque pessoalmente acho
que o ex-presidente não tem mais esta
capacidade de aglutinação, o momento pelo que passa, com tantas acusações e tantas inverdades
deslavadas e “safadas” para justificar o
seu patrimônio e o da sua família, está a indecência de outorgar, com uma manobra, o foro
privilegiado ao ex.
Embora eu não perceba bem o
motivo desta manobra imbecil, porque o
STF saberá, diante de tantas provas evidências e denúncias, fazer justiça, agradando, ou não, aos presidentes ou
ex presidentes.
O governo achar que o ex presidente pode articular e evitar o impeachment é um argumento
mentiroso, descabido, “descarado”, desrespeitoso aos brasileiros.
Vergonha! Isto é um atentado
contra República, contra a democracia.
Por tudo isto resolvi, para
tentar entender tudo isto, recorrer a uma releitura de CRISES DA REPÚBLICA de
Hannah Arendt e logo nas primeiras
páginas “ A veracidade nunca esteve entre as virtudes politicas, e mentiras
sempre foram encaradas como instrumentos justificáveis nesses assuntos. Quem
quer que reflita sobre estas questões ficará surpreso pela pouca atenção que
tem sido dada ao seu significado na nossa tradição de pensamento político e filosófico,
por um lado, pela natureza da ação, e por outro, pela natureza da nossa capacidade de negar em
pensamento e palavra qualquer que seja o caso”. ( ARENDT-1973:15)
Os historiadores sabem como é vulnerável a textura de fatos na qual
passamos nossa vida cotidiana; está sempre em perigo de ser perfurada por mentiras
comuns, ou ser estraçalhada pela mentira organizada de grupos, classes ou
nações, ser negada e distorcida, muitas vezes encoberta cuidadosamente por
camadas de falsidade, ou ser simplesmente deixada cair no esquecimento. (ARENDT
-1973:16)
O discurso politico, seja como
promessa, seja como justificativa, nada tem de verdadeiro, e isto está mais de
que evidente no que estamos passando há 13 treze anos e meses, embora o discurso da mentira seja institucionalizado
e utilizado por todos os que já passaram pelo poder, mas nos últimos anos
ele se acentuou de uma maneira estúpida. Somos, nós brasileiros, tratados como
imbecis, como se não tivéssemos capacidade de entender, compreender, assimilar.
Bom, mas tudo tem um preço, e
como bem diz o ditado “mentira tem pernas curtas” e quando a casa cai, apesar
das novas mentiras justificativas, há que se ter uma reação; e esta reação foi
vista nas ruas ontem, embora hoje eu tenha ficado envergonhada de tudo o quanto se está
fazendo para minimizar as consequências
de toda esta manifestação popular.
Todavia, apesar desta vergonha,
tenho a esperança de que a voz do povo terá reflexos e embora a curta duração deste movimento popular,
menos de duas ou tres três horas, deixará consequências e haverá uma reflexão coletiva e, mais uma
vez fico com a sapiência de Hanna Arendt:
“ a questão básica é: O que realmente se passou? Do modo como vejo a coisa, pela primeira vez num longo
tempo surgiu um movimento político espontâneo fazendo não apenas propaganda,
mas agindo, e ainda mais agindo quase que exclusivamente por motivos morais.
Junto com este fator moral, bem raro nesta coisa comumente considerada um mero
jogo de poder e interesses, entrou uma outra experiência, nova para o nosso tempo, no jogo da política:
demonstrou que agir é divertido. Esta geração descobriu o que o século dezoito
chamou de “felicidade pública”, que significa que quando o homem toma parte da
vida pública abre para si uma dimensão da experiência humana que de outra forma lhe ficaria fechada
e que de uma certa maneira constitui parte da felicidade completa” [...] As coisas boas na história são quase sempre
de curta duração, mas mais tarde tem uma influência decisiva no que acontece
por longos períodos de tempo” (ARENDT-
1973:175)
É isto que espero, que esta influência
seja sentida e que tenha as consequências
corretas e “verdadeiras” para nós, cidadãos brasileiros.
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