Uma das primeiras postagens no blog foi sobre Arembepe. O texto havia sido, anteriormente, publicado na revista eletrônica Patifundio, pelo qual recebi vários comentários, todos elogiavam o texto e a maneira como apresentei Arembepe àqueles que não o conheciam, entretanto, um comentário destoou dos demais. Uma pessoa que não se identificou, apenas colocou o seu pseudônimo “Édipo rei...”. Respondi através do próprio site, mas não sei se ao Édipo, ou ao rei, qualquer dos dois possui uma carga negativa, ambos representam dois complexos, leu e recomendou que eu fizesse pesquisa sobre Arembepe, porque falei coisas que não condizem com a realidade, mas isto não importa, porque vou novamente falar de Arembepe, agora com documentação, mostrando toda a beleza e originalidade desta vila de pescadores, agora já não tão “pescadora” assim.
Primeiro devo dizer que Arembepe em tupy-guarani, segundo Jasson Winck significa – “Aquilo que nos acolhe”. Se assim é, realmente não se podia encontrar nome mais significativo para este recanto do Litoral Norte do Estado da Bahia. Os braços de Arembepe já acolheram muitas pessoas, pessoas que aqui chegaram por diversos motivos, umas para simplesmente “serem livres” como aqueles que vieram habitar a Aldeia Hippie, visitada por tantos artistas que fizeram a sua fama, Janis Joplin, Mick Jagger, Jimmy Hendrix; outros que vieram pela aldeia e depois aqui se fixaram como negociantes prósperos – João e Thierry do MAR ABERTO – O Oásis de Arembepe. Outros que vieram morar aqui e depois viraram políticos como o meu amigo José Cupertino, e muitas outras pessoas, ultimamente, a Claudia, a italiana que é a minha mestra em Yoga. Muitas e muitas outras, como eu, vieram para veranear e foram ficando, ficando, ficando.
Eu já tenho, minimamente, 26 anos por estas plagas. Primeiro morei na Caraúna, depois, quando as coisas melhoraram e eu passei em um concurso publico, fui morar como sempre quis, em frente ao mar, no Piruí, uma pena que não consegui comprar aquela casa, depois, e por último, fiz a minha bela casa, onde resido oficialmente.
Pois é, por tudo isto tenho autoridade suficiente para escrever em, de, e sobre Arembepe, mostrá-lo ao mundo, convidar as pessoas para aqui se refugiarem. Sei que todos vão adorar, embora já não se tenha mais a tranqüilidade de outrora e com os problemas das cidades em crescimento, falta de água, de saneamento básico, escolas, mas aqui ainda se pode num final de tarde caminhar pela praia, seja indo para o lado da aldeia, seja para o lado do Piruí, melhor ainda se a maré estiver baixa, como esta que aparece na foto.
Caminhe pela praia e depois vá tomar uma cerveja gelada em qualquer dos bares. Se estiver mais para o fim da tarde, recomendo o Bar da irmã de Babi, a cerveja esta sempre estupidamente gelada, fica na praça principal. Compre um acarajé ou um abará e leve para acompanhar a cerveja, a dona do bar não vai se importar.
Passe aqui, ao menos, uma semana, que é para dar tempo para tudo. A caminhada da praia é sagrada, seja pela manhã ou pela tarde, tanto faz, escolha de acordo com a sua conveniência e a sua própria pele, mas não deixe de fazê-la, é bom para o corpo e muito mais para a mente. Você terá tempo de olhar o mar, de ver todas as nuances de verde deste marzão, apreciar as pequenas lagoas que se formam nos arrecifes do Piruí e ver a quantidade de peixinhos que ali vivem. Tem um listrado de amarelo e preto que é qualquer coisa, um azul anil e amarelo, que é espantoso, um que é todo amarelinho, outro somente prateado. Lógico que você vai ver uns espécimes feios, mas assim é a vida, há de se conviver com o belo e o feio exatamente para que o belo possa mesmo ser belo, ser notado, se tudo fosse igual você não saberia distinguir o bem do mal, o belo do feio, o prazer do desprazer, o amor do ódio, enfim, somente as dualidades contrárias podem lhe fazer apreciar e optar pelo que melhor lhe convier.
Bom, mas você já andou pela manha, já deve ser quase dez horas, é hora de fazer uma pergunta: Vou comer onde? Em casa ou em algum restaurante? Bem, se você quiser comer em casa, se tiver com vontade de fazer comida, vá até a colônia de pescadores, não tem erro, fica logo depois da Igreja andando para a direita. Você pode escolher onde comprar o peixe. Pode comprar de qualquer um, mas se quiser, compre na mão de VACA, é isto mesmo, uma pessoa que vive de vender peixe, mas têm o nome de vaca, coisas de Arembepe. Ele sabe fazer um file do peixe que você escolher. Repare que tem de ser peixe grande, não pense em fazer filé de agulhinha, pois este peixinho é para comer frito e bem frito, olhe como ele é lindo, veja porque lhe chamam de agulhinha. Rapaz olhe que o filezinho grelhado é uma boa pedida. Mas se você quiser comer peixe de moqueca, acho melhor você ir a qualquer dos restaurantes. Vá a Colo, Neuza, Nice, Mar Aberto, e se preferir fale com a VU, que ela faz para você, neste último caso, avise antes, e, mesmo sabendo que não precisa disto, diga que me conhece, que leu no blog a recomendação de ir à casa dela. No particular da casa de Vú, peça para ir até a cozinha, e olhe o fogão onde ela e a Marize fazem as suas iguarias.
Se, acaso, for um dia de sábado, e você tiver com vontade de comer, logo de manhã cedo, um feijãozinho, uma rabada, um ensopado de boi ou de carneiro, feijão com mocotó, tome coragem e vá à casa da VU, quem faz estas comidas é a Marize, mas o amor em nada se diferencia, seja na comida feita por uma ou por outra, muda o sabor, mas não muda a atenção, o zelo, a vontade de agradar, o amor pelos clientes e pelo trabalho que executam, por isso mesmo é que é tão bom. Coma com moderação, porque depois dá uma fraqueza da zorra.
Bar da Vu |
No dia seguinte a Neuza, vá a Nice, peça qualquer coisa, não tenha receio, aproveite para conversar com todos enquanto espera. Não se preocupe, não tenha vergonha, sente e participe da conversa, ninguém vai te incomodar ou recriminar por isso. Acho que é o único bar no mundo em que o passeio é usado como esplanada para o bar, mas não deixa de ser a passarela dos pedestres, é por isso mesmo que bom, porque você vê tudo, passa de tudo, se fala de tudo, se participa de tudo. Tomara que, no dia que você for estejam por lá também: Raimundinho, Ritinha, Cristiane, Toti, Duinha, Aguiar, Zuleide, Lidinha, aí é que voce vai ver coisa. Se você for mulher e estiver sozinha, delicie-se com a presença de um rapaz que mora nas imediações e que freqüenta o bar, de vez em quando. Se você tiver sorte, pode até trocar um olhar com ele, espero que não tão intenso como o que já troquei, fiquei, seguramente, inebriada e, ao mesmo tempo desconcertada. Se nada rolar, mesmo assim, vale a pena, o agrado aos olhos pode esquentar a alma e quem sabe, sozinha mesmo, você possa se resolver, há até uma providencial loja de artigos ligados ao “amor”. Não esmoreça e acredite que é real.
Veja como funciona um bar familiar, veja como os membros de uma família ficam jogando um para o outro as obrigações, Sinta a mão de ferro da matriarca segurando a onda dos seus filhos, do bar, da vida. Se ficar íntima deles, pois eles estão sempre por lá, diga que vai dar uma bolsa nova a Nice, que fui que mandou você dizer isto, ela vai morrer de rir e é capaz de me mandar para a “porra”, Não se esquente, é assim mesmo.
Não sei se no dia que você for a Nice vai fazer mais nada, mas, se coragem tiver, à noite, sempre a pedida será o “Mar Aberto”, faça qualquer negócio, qualquer sacrifico vale a pena, termine o seu dia ali, delicie-se. Fale com o Triste, se ele gostar de você, nunca mais será esquecida, ele vai te botar lá em cima, pois sempre haverá uma palavra elogiosa, um carinho especial para você, claro, se você for mulher e der intimidade a ele, embora ele possa fazer comentários a respeito do sexo masculino, isto não á problema.
Olhe que ainda tem coisas para fazer, mas eu vou deixar mesmo que você descubra, já dei algumas dicas deste lugar encantado que é Arembepe, mas curta ele mesmo até a sexta feira, porque agora tá ficando difícil ter tranqüilidade nos finais de semana, isto depois das onze horas, quando o povo começa a chegar para o final de semana.
Aproveite este dia para fazer uma visita à aldeia, vá ao projeto Tamar. Se tiver de carro, saia do centro de Arembepe e vá até o Coqueiro. Veja o rio. Se preferir, vá até, Jacuipe, Barra do Pojuca, neste ultimai tem uma cachoeira linda, mas não sei se recomendo ir para tomar um gostoso banho nos finais de semana, é melhor ir durante a semana. Siga mais um pouco, entre em Guarajuba, Monte Gordo, aqui, se você tiver com muita fome e for sábado ou domingo, coma o mocotó de Tereza, dos deuses, você vai ver. Pode prolongar mais, mas não recomendo, tá tudo muito cheio, verão e final de semana é enchente só, mas ainda tem muitas opções: Itacimirim, Praia do Forte, Imbassahy, Diogo, etc. etc. etc.
Tenha uma boa estada em Arembepe, e tenha a certeza que tudo que falei aqui existe e é real, você pode constatar “in loco”, deixe os que têm complexo discordar, não tem problema, aliás, é melhor mesmo que ele nunca se mostre, pois em Arembepe, o que menos queremos é problema.