quarta-feira, 11 de junho de 2014

Sou brasileiro com muito orgulho e muito amor

O nome do bar é “cool”. Pronuncie bem o “l” final, deixe-o vibrar entre a língua e o céu da boca. Não se pode fazer bico, pois, se o fizer o bar vira um sanitário público.

O certo é que estávamos ali, chegamos cedo para pegar uma boa mesa para assistir o jogo. Como o bar é o primeiro de uma série de 30 a 40 seguidos, observávamos carreatas de pessoas passando em frente ao bar, a predominância do “verde e amarelo” era notável. Todos queriam mostrar nas vestes o que lhes ia ao coração, o orgulho imenso de ser “brasileiro”.

Os modelos variavam. Desde a famosa camisa oficial da seleção brasileira de football, com emblema da CBF e tudo, que era delicadamente beijada por um patriota, às tiras verdes e amarelas formando um bustiê para não cobrir nada, ou melhor, deixar entrever o patriotismo nacionalista, literalmente, no peito. As tiras nem cobriam e nem sustentavam tanto amor patriótico transbordando por todos os lados.
A cantora que animava os torcedores antes do jogo começar, durante o intervalo, e no seu final, também vestia verde e amarelo, acho que se pode chamar aquela roupa de um collant de tiras estilizado, ao melhor estilo “brasileiro”, que deixava mostrar as curvas e voltas de uma brasileira pequenina do Espírito Santo, mas com uma voz do tamanho do Brasil.

Adiante, um pouco mais na frente do bar, pais que orgulhosamente mostravam os seus herdeiros, bebês verdes e amarelos, o símbolo da nação protegendo um deles do vento, uma proteção aos seus jovens filhos, o outro, trazia uma faixa na cabeça com o nome e cores do Brasil. Os pais, devidamente paramentados, não deixavam quaisquer dúvidas de suas origens.
Uma bandeira imensa passa, todos gritam. Vendedores estão parados na frente do bar, de um lado o cachecol de Portugal, do outro, camisas, bandeiras, chapéus do Brasil.

Uma vuvusela potente soa: o jogo esta prestes a começar. Todos estão sentados, a banda já não toca, também eles querem ver o jogo. Hino Nacional Brasileiro, alguns, na verdade uma mesa com umas 30 pessoas, levantam-se e, mão no peito, cantam o Hino Nacional Brasileiro. O jogo começa, todos nervosos, na verdade queríamos mesmo ganhar. Muitas cervejas, muitas “porras” e “putas que pariu”. Um jogador cai: “Juiz safado” tá roubando Portugal. Um comentário de um lusitano: “É isto aí, somos pequeninos”. Ainda bem que são eles que dizem. O jogo continua, não gosto do que vejo, mas estou calada, não queria melindrar ninguém, bem sei eu como torço em épocas de copa do mundo.

Intervalo. Mais música. O jogo tá empatado: não temos ainda preocupações, afinal estávamos classificados, mas o que queríamos mesmo era ganhar, aliás, as duas partes envolvidas, tanto Portugal como o Brasil, embora classificados para a fase seguinte, queriam ganhar um do outro. O primeiro para, como diria um critico de meu trabalho, “dar uma alfinetada nos brasileiros”, tentar voltar a tempos idos em que mandavam no Brasil, o segundo porque sempre quer vencer e mostrar que já não é mais obediente, já não aceita ordens, é o melhor do mundo, ao menos em football.

O jogo recomeça, estamos todos ansiosos, Portugal volta melhor, Cristiano Ronaldo aparece mais no jogo, já se fala mais nele, consegue algumas passagens por Lúcio, mas nós confiamos no nosso capitão. As queixas continuam de ambos os lados. Ninguém tem coragem de levantar do lugar para pegar uma cerveja, nem os garçons se atrevem a passar na frente de algum torcedor. A hegemonia é mesmo brasileira. Há portugueses, uns mais patriotas de que outros, vestem as camisas da seleção, mas são poucos naquele espaço. Muito poucos mesmo. O jogo, á essa altura, se arrasta, não acaba; o empate permanece. Um susto no finalzinho do jogo, nada que o nosso goleiro não possa enfrentar, mesmo todo amarrado como a televisão mostra, ele não deixa a bola entrar. Toma a pancada e se refaz.

Acaba o jogo, aí é que o negócio pegou mesmo. Até mesmo as árvores que circundam o espaço onde ficam as esplanadas sorriem com o seu verde-amarelo natural. Olhem bem, não é uma foto montagem e nem nenhuma fotografia encomendada. Percebam o colorido natural destas árvores? Não temos culpa, a própria natureza nos prefere e demonstra isto com a sua coloração,olhem que esta coloração ja se apresenta desde o jogo anterior.

A Banda recomeça a tocar. A cantora pequenina de voz potente canta o hino nacional brasileiro. Erra a letra, mas a moçada em baixo do ínfimo palco ajuda: ela se refaz e canta corretamente toda a letra. O samba toma conta de todo o espaço. As pessoas voltam a passar, desta feita, no sentido inverso. Parece brincadeira, mas o verde e amarelo tomou conta de todos os espaços mesmo, mas, ainda assim, há lugar para todos; a lusofonia faz a união: portugueses, angolanos, moçambicanos, cabo verdianos, poucos, bem verdade, mas ali estão, unidos, juntos, valorizando a língua e alegria. Todavia, não só lusófonos se fazem presentes, muitas outras nacionalidades se achegam, a mistura demonstra a força da música e do football.

O jogo Brasil e Portugal mal termina no campo, começa um outro em um outro campo: o da sedução. Elas se deixam encantar pelo brasileiro todo colorido, com o Brasil pintado no corpo. O português com a camisa 17 dança com a brasileira. Uma mulher bonita dá um beijo no portuga apaixonado.

 Uma moça linda chama atenção, pela sua altura e beleza, pela capa de super mulher(uma bandeira do Brasil) e pelo olhar que lança para alguém que esta na parte de cima do bar e quer lhe jogar uma camisa.

Enfim, o 0X0 já não importa mais. Acabou. Vamos ao próximo. Agora é a vera mesmo: Brasil X Chile e Portugal X Espanha. Ibéricos contra ibéricos, americanos do sul contra americanos do sul. Seria mais justo?

O certo é que vi o jogo Brasil e Portugal em Lisboa, no Parque das Nações, com a nítida impressão de que estava em casa, no meu país. Depois deste jogo acho que o dono do bar deveria mudar o nome do estabelecimento para “Hot”, pois, o que se fez presente ali, do início ao fim do jogo e, ainda, depois dele, foi a quentura do brasileiro, o nosso calor humano, a nossa alegria de povo que esquece o sofrimento em momentos como esses, talvez só de quatro e quatro anos, o povo que mostra e ensina ao mundo o que é ser “BRASILEIRO, COM MUITO ORGULHO E MUITO AMOR”.




segunda-feira, 9 de junho de 2014

Para quem gosta de carne - Malassada


Desde muito pequena gosto de carne, e, principalmente, da malassada, ou malassado, que era feita por minha avó Antonieta e por minha mãe.
Todos nós lá em casa somos carnívoros, de pai a neto, ou melhor, de fio a pavio, só deixamos de comer carne quando o dinheiro não dava nem para o ovo de galinha, quiçá para alcatra, filé especial ou filet mignon, carnes recomendadas para a malassada, que, como o nome sugere é uma carne muito mal passada, mas que fica saborosa. Por gostar tanto e achar que todos devem degustá-la, digo a maneira como eu faço e que todos, sem exceção, que já a provaram, adoram
Detalhe: é uma comida rápida e combina bem com arroz, batatas ou macarrão, mas um caldo desta maravilha por cima do feijão nosso de cada dia é imperdível. Ah! Também é excelente para os preguiçosos que não gostam de ficar na cozinha.
Carne - Filé mignon, filé especial (contra filé) ou alcatra (prefiro os dois primeiros)
Molho – Tomate, pimentão, cebola e alho.
Tempero – pimenta do reino, sal e extrato de tomate.
Limpe a carne tirando todas as nervuras. O tamanho é você quem decide. Se for contra filé e estiver muito largo, corte no meio no sentido vertical.  Passe na carne o sal e a pimenta, depois que tiver passado os dois, lambuze a carne com o extrato de tomate (pouco, pois é somente para ajudar a carne a ficar dourada). Se estiver sem pressa deixe um pouco no tempero, caso contrário pode passar à segunda fase de imediato.
Coloque uma panela, ou se preferir, uma frigideira no fogo (eu faço na caçarola para não sujar o fogão), deixe esquentar bem, muito mesmo, coloque um fio de azeite de oliva, eu boto bem pouquinho, deixe esquentar bem o azeite, quando estiver bem quente coloque a carne, deixe dourar de todos os lados. Para ela ficar bem dourada, enquanto estiver dourando, levante a carne e deixe a panela secar e fazer aquela crosta marrom no fundo, recoloque a carne esfregando-a no fundo da panela, para que ela pegue toda aquela cor, vá fazendo isto até que todos os lados estejam da mesma tonalidade.
O levantar a carne e deixar a panela ficar com o fundo marrom é fundamental, porque a carne fica dourada e evita que ela passe do ponto, pois a malassada é mal assada mesmo, tem de ficar dourada por fora e vermelha por dentro.
Pronta a carne coloque-a em algum recipiente e passe a fazer o molho: bote na panela o pimentão, a cebola o alho e o tomate cortados em rodelas (com o vc preferir). Coloque um pouco, mas muito pouco mesmo, de água para ajudar no cozimento dos temperos, uma colher de extrato de tomate, se quiser e perceber que o resíduo que ficou na panela não é suficiente para dar gosto ao caldo, coloque um caldo de carne, mais um pouco de sal e pimenta, deixe amolecer bem, o caldo fica com uma cor de ferrugem.
Na hora de servir,coloque a carne em um recipiente que dê para ela ser cortada em fatias, que devem ser finas, a fim que o sabor da carne seja realmente percebido, jogue o molho por cima juntamente com o caldo que saiu da carne enquanto ela estava esperando o molho ficar pronto. 

Acompanhe com macarrão a alho e óleo e manjericão (se não souber fazer me pergunte que eu digo como é; com arroz, purê de batatas, enfim, o acompanhamento é você quem decide. Mas se preferir o macarrão, faça este, porque outro molho vai mascarar o sabor da malassada que é a vedete da festa.

Bom apetite.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Devoradora de cartões

Foi até a costureira para fazer uma barra de uma calça que havia comprado na Zara, que até tinha este serviço, entretanto, demorava em demasia para entregar.  Para sua surpresa, a dona do estabelecimento era uma brasileira, que, salvo engano, era do Pará. Entregou a calça, pagou, como sempre por estes serviços, antecipadamente, e depois de cinco dias, o que também achava um absurdo, foi buscá-la.
Neste dia a senhora estava mais desafogada, e, ao que parecia, gostava muito de conversar, porque, com a curiosidade adquirida ao longo dos anos em que estava em Portugal, lhe fez muitas perguntas; algumas normais, tipo de onde você é no Brasil, tá fazendo que aqui, se era casada, enfim. A mulher não era feia, também não era nenhuma miss, mas era arrumada; pequenina, um corpo bem feito, um rosto ainda sem rugas. As roupas, Ah as roupas! Não adequadas nem para a idade, nem para o local, nem para profissão, mas já estava acostumada a isto. Ela própria chamava atenção pelas suas roupas, não que fossem parecidas com a da costureira e com a de muitas brasileiras que viviam naquelas paragens (Lisboa e adjacências), mas porque eram coloridas, saias longas, vestidos longos, calças pantalonas, enfim, vestia-se diferentemente das portuguesas e chamava bem atenção por isto, mas não vestia roupas inadequadas à sua idade e nem, tampouco, as usadas pelas “periguetes!
Suas roupas eram elogiadas pelos portugueses, tanto mulheres quanto homens.  Chegou mesmo a ouvir de um senhor que trabalhava no AHU que ele achava interessante a maneira dela vestir-se, também presenteou uma funcionaria da secretaria da faculdade com uma pantalona estampada, vez que a mulher falou tanto da beleza do traje que, no dia seguinte, colocou a calça em uma sacola e lha entregou. A funcionária, entre surpresa e maravilhada com o presente, lhe agradecia, o que lhe valeu um reconhecimento que muito lhe ajudou quando necessário. Também deu vestidos e sapatos levados do Brasil, que foram muito cobiçados pelas amigas da senhora  da casa onde morava.  
Bom, mas não foi para falar das suas roupas que começou este texto, e sim para contar uma história real, que, com muita freqüência, acontece em Portugal, com mulheres que aparentam ter uma melhor condição financeira de que as demais e que se deparam com portugueses cafajestes – O golpe da máquina que “engole cartão”.
Na terceira ou quarta vez que esteve com a costureira do Pará ela começou a falar de portugueses homens, especialmente daqueles com os quais teve relacionamentos e sai com uma desta: segundo ela, conheceu um Martinho, um homem com aparente cinqüenta e poucos anos, em uma discoteca em Lisboa, ficou com ele naquela noite e marcaram para encontrar-se no final de semana, pois o homem, segundo informações dele próprio, trabalhava muito e só tinha tempo de sair nos finais de semana; ela, por sua vez, também não tinha uma vida fácil e não estranhou nada.   No encontro da discoteca o Martinho fora muito gentil e atencioso e lhe pagara uns dois drinks.
Ansiosa, aguardava o final de semana, porque efetivamente o rapaz, segundo ela, era interessante e ela estava há muito tempo sozinha, pois acabara um “caso” que teve com um outro portuga.  No final de semana, arrumou-s toda, pegou o carro e foi encontrar-se com o cidadão, que marcou o encontro em Belém, antecipando que eles iam almoçar na cervejaria  Portugália.
Não que a Portugália seja o melhor restaurante de Lisboa, mas não é um restaurante dos mais acessíveis, por exemplo: brasileiros que trabalham com serviços domésticos, em cafeterias, mercados, ou que trabalhem com os famosos recibos verdes não têm dinheiro sobrando e lá não vão, tampouco portugueses que não tenham um salário razoável.  Ela já se empolgou com isto, porque como dizia: já estava cansada de bancar tudo sozinha, inclusive para amigas que, sem a mesma sorte que ela, não ganhavam para nada, quanto pior, para freqüentar restaurantes.
Uns beijinhos trocados no local marcado, e eles marcham para o restaurante. Ela pediu um bife, que é a especialidade da casa, ele também o fez. Ele tomou vinho e ela cerveja. Conversaram sobre banalidades e sobre a vida de ambos, afinal estavam se conhecendo, embora ela tenha estranhado muito o fato dele sempre querer saber se ela tinha outras rendas, se tinha bens no Brasil, se dividia a renda da casa com alguém, se o negócio era só dela, no entanto, atribuiu o questionário à curiosidade portuguesa mesmo.
Lá se vem à conta, que não foi das mais baratas, pelo menos para ela: oitenta euros. A conta foi entregue a ele, evidentemente, e ele deixou ali em cima da mesa, parecia estar esperando algo, mas ela não ligou muito, passada uns 20 minutos ele tira a carteira do bolso e faz uma expressão terrível:  ela olha para ele entre angustiada, parecia que o homem estava se sentindo mal. “ O que aconteceu, você está pálido, está com uma expressão estranha”? E ele, entre  nervoso e envergonhado diz: “O cartão não está  na carteira e eu só tenho parte do dinheiro da conta”.Ela, evidentemente, não iria passar vexame e, tirando o seu próprio cartão da bolsa, e para que ele não ficasse sem dinheiro algum na mão, pagou a conta toda. Não o fez satisfeita, mas o fez.
Saíram do restaurante e ele ainda queria dar umas voltas, mas ela ficou chateada com a história do dinheiro e disse que ia para casa, até porque tinha algumas encomendas para entregar no dia seguinte; segunda feira. Despediram-se com a promessa de que ele iria, na terça,  no atelier, para  lhe dar o dinheiro
Bem verdade que isto realmente aconteceu. Na terça ele estava lá e lhe deu metade do dinheiro da conta. Ela com vergonha  recebeu sem nada dizer,  mas não ficou nem um pouco satisfeita, embora tenha entendido que a metade da conta era de sua responsabilidade, esta foi a mensagem.
Passados alguns dias o  Martinho lhe liga outra vez,  convidando-a para um “baile” lá pelas bandas de Santa Iria, ela já conhecia  o local, era bom mesmo, música ao vivo, portugueses dançando, local familiar.  E lá se vai ela na sexta feira toda arrumada, perfumada e  com algum  dinheiro na bolsa. Como sempre, fora no seu carro e se encontraram na entrada da casa de festas.
Neste dia a conta foi pequena e ele fez questão de pagar toda, uns 20 euros já contando com a entrada, que tem de ser paga. Como ia trabalhar no sábado, ela tomou pouca cerveja, e ele também. Lá pelas duas da manhã  despediram-se e ela  voltou para casa sozinha.
Os dias se passaram e o Martinho telefona, muito aflito, numa quinta feira ao final da tarde. Pede que ela vá encontrá-lo em tal lugar as sete com urgência, ela fecha o atelier e nem passa em casa, pois se fosse lá chegaria atrasada. Marcaram, mais uma vez, em Belém, na frente do Centro Cultural. Ela fez o caminho mais rápido, foi por Algés e estacionou o carro na primeira vaga que achou, fazendo restante do caminho, uns duzentos metros, quase correndo e se perguntando o que teria acontecido para o cara tá tão nervoso.
Visualizou a figura de longe: ele caminhava de um lado para outro, com as mãos nos bolsos do casaco. Era efetivamente um homem bonito, cabelos prateados, uma boa estatura, bem arrumado. Dizia ele que era trabalhava com vendas. Aproxima-se e ele lhe dá um forte abraço e lhe diz que precisa de um grande favor dela. Ela o olha e pergunta-lhe:  “o que aconteceu”? E ele, com a voz trêmula, diz:  “fui tirar um dinheiro naquela máquina  e ela prendeu o meu cartão e estou sem nenhum dinheiro na mão e preciso fazer um pagamento  ainda hoje”.  Ela toma um susto e pergunta: “você  já tentou falar com o Banco?”. Ele diz que não tem condição devido ao horário, que no dia seguinte vai resolver o assunto. E ela, ainda bem surpresa, incrédula e assustada pergunta-lhe  quanto precisa, e ele, cinicamente, lhe diz, que precisa de uns trezentos e cinqüenta  euros. Ela diz que não tem,  e ele, quase chorando, pergunta quanto ela pode dispor naquele momento, pois era mesmo uma emergência:  ele tinha de fazer, senão o pagamento total, mas uma parte dele,  à pessoa a quem tinha prometido e que já estava chegando para receber o dinheiro. E ela, idiotamente, diz que tem duzentos euros  na sua bolsa,  dinheiro que iria depositar no banco no dia seguinte, porque tinha pagamentos a fazer. Ele lhe diz que na manhã seguinte lhe levaria, sem falta, o dinheiro, e ela, com cara de idiota, tira da bolsa, tomando cuidado para que o seu cartão do “multibanco” não fosse visualizado por ele, o dinheiro e lhe dá os duzentos euros. Ele lhe agradece muito, lhe dá muitos beijos, e sai em disparada, dizendo que na manhã seguinte, assim que conseguisse resolver o problema do cartão no Banco, iria ter com ela, lá ao atelier para lhe devolver o dinheiro aproveitando para almoçarem juntos.
Ela vai embora com a sensação de que fora enganada, que caíra, idiotamente, num conto.  Na manhã seguinte espera o cidadão. A manhã passa, o dia passa, outro dia, a semana, e ele nada, nem mesmo o telefone atende.  Ela pensa em dar uma queixa, mas como dar queixa: então ela ia numa esquadra dizer que conheceu um cara chamado Martinho e que este, depois da terceira ou quarta vez que saíram, lhe aplicou o golpe da máquina engolidora de cartão!  Não, não ia fazer isto; os policiais iam dar risada da sua cara, quanto pior, não iam acreditar na estória. Então uma brasileira ia ter dinheiro para dar a algum português! Qual o que?
Ficou meio cabreira com a estória da mulher, não levou muito a sério a questão, mas ficou atenta, porque nada é impossível de acontecer, ainda mais quando existe uma porção de desocupados em Lisboa e muitos a procura de alguém que lhes dê boa vida.
Passados alguns dias desse episódio, ouvia uma portuguesa, na televisão, a contar uma estória bem parecida com a que a brasileira tinha contado, e recentemente, uma reportagem, também na televisão portuguesa, falava do assunto alertando as senhoras para este tipo de golpe.  O cara se aproxima, começa a assediar a mulher, convida-lhe algumas vezes, e quando esta já está envolvida, aplica o golpe do cartão. Portanto, um aviso: onde quer que você esteja, fique atenta, não caia no golpe da “máquina devoradora de cartão”
         


domingo, 1 de junho de 2014

Não quebre coisas coisas - Faça sexo

O dia malmente amanhecera e ela já estava com um terrível mau humor. Aliás, este mau humor, nos últimos meses, anos até, era uma freqüência.  Ela mesma notava e todos que a circundavam. Fosse onde quer que fosse, estivesse com quem estivesse, o seu semblante demonstrava a sua insatisfação com o momento que estava vivendo.
Apesar de mal humorada ela tinha de sobreviver, fazer as coisas normais e, principalmente, manter a sua casa limpa, porquanto ela abominava a sujeira, mas tudo estava sendo um grande sacrifício para si, o que antes era um grande prazer, agora passava a ser uma obrigação cruel, quanto pior, quando se sentia cobrada por todos que chegavam à sua casa; imagine que até o ex- marido se arvorava em fazer comentários da poeira, da mancha em algum móvel, da desarrumação dos CDS.
O fato é que, com bom ou mau humor tinha de levantar, como em todos os outros dias, não podia passar a sua vida deitada em frente à televisão, esperando que o dia e a noite passasse e chegasse um novo dia sem mudanças, sem perspectivas, sem nada.
Levantou-se e, para piorar o seu humor, pisou no controle da televisão que, com um ruído seco, partiu-se.  Chegou à exasperação por dois motivos; o primeiro com a quebra do controle e o segundo a constatação de que estava muito pesada mesmo, do contrário, o controle agüentaria a pisada sem maiores problemas.
Olha o aparador à sua frente e vê as imagens de Santo Antonio e Nossa Senhora de Fátima, chega mais próximo das duas e pede que eles lhe ajudem a ter um dia bom.  Ao se aproximar em demasia do aparador dá um encontrão no mesmo e a imagem de Nossa Senhora balança, e se não fosse o seu rápido reflexo em alcançá-la, era mais um motivo para o mau humor aumentar, afinal a imagem fora trazida de Fátima e ela sabia que tão cedo voltaria lá para comprar outra.
Pensa consigo: - “Vou acender uma vela e colocar um incenso para ver se espanto as coisas más”, e é o que faz, mas a vela não acende facilmente, gastou quase cinco palitos de fósforos em tentativas vans.  Pega a vela, liga o fogão, e a acende na chama, faz o mesmo com o incenso. Volta à sala e coloca os dois nos seus devidos lugares.  Reza um Pai Nosso, uma Ave Maria, chama por Ogum, Depois vai ao banheiro para as primeiras necessidades e higiene do dia. Abre a torneira e fica esperando pela água que não sai.  Xinga! Merda hoje efetivamente não é o dia.
Sai do banheiro e vai pegar um copo de água no filtro, pega o copo e coloca embaixo da torneira, a água flui fortemente e de repente o copo transborda molhando o chão.  “Puta que pariu! Vai mesmo ser um péssimo dia”.
Volta ao banheiro e acaba o que começou, depois vai até a bomba para encher um balde da água do poço, sua salvação nessas emergências.  Liga a bomba e ouve um ruído estranho, a água flui um pouco e, de repente, com um som esquisito da bomba, a água para de correr. “carraio, será que hoje tudo resolveu me sacanear”?
Puta dentro das calças, ou melhor, da camisola, leva o balde para o banheiro joga metade no vaso e com o restante começa um banho de gato, lavando as partes intimas.
Tenta não pensar nesses embaraços, não quer associá-los a nada, mas é inevitável não o fazer, afinal tudo esta começando errado, aliás, continuando uma rotina que ela não gosta. Há muito que está tensa, nervosa, sua carne treme ao menor aborrecimento. Tem horas que pensa que está enfartando, tal a sua ansiedade e angustia. O peito insiste em demonstrar que não está satisfeito com a sua rotina, com a sua falta de prazer, com a sua circulação lenta, que só acelera por aborrecimentos.
Mede a pressão, 15X9. “Vou mesmo ter uma zorra a qualquer hora”, pensa e se arrepende de ter medido a pressão.  Ela já sabia qual seria o provável resultado, a sua vida não dá chances ao corpo de equilibrar-se. Esta sempre tensa, sempre mal humorada, triste, apreensiva. Nada consegue lhe agradar.
Tenta, para dissipar os maus pensamentos e os maus agouros, acessar a internet para ler alguma coisa boa, alguma mensagem que melhore o seu mau humor. Pois não é que a porra da internet nao funciona, não consegue conectar-se de maneira alguma. A esta altura o sangue já está todo concentrado na sua face, ela tem vontade de quebrar o aparelho (modem), o próprio notebook, mas controla-se e não o faz.  Desliga o computador e vai calçar o tênis, resolve andar, ainda que o tempo esteja muito nublado.  Calça o tênis novo que comprou para substituir o velho “mizuno”, que está lhe abandonando. Já colou a sola verde umas três vezes, ele não mais resiste mesmo.   Sai portão afora e logo nos primeiros duzentos metros sabe o que lhe espera com o tênis novo, caminha mais um pouco, mas tem de parar, os dois calcanhares ardem, informam o que ela não queria saber. Ela volta, mas não tira o tênis, idiotamente, não quer ficar descalça. Resultado: duas bolhas imensas nos pés.  Olha a vermelhidão indignada, então compra um porra de um tênis de R$699,00 e este quer lhe acabar os pés. Merda total.
Agora as coisas ainda estão piores. Duas bolhas enormes, um ardor insuportável e ela olhando aquela zorra sem saber mesmo o que vai fazer.
Vai fazer um suco de maracujá para tentar acalmar-se, ainda eram sete da manhã e tanta coisa ruim já tinha acontecido: o controle da televisão, a santa, a vela e o incenso, a falta de água, a performance da bomba, o chão m olhado, as bolhas nos pés. O que mais viria?. Resposta automática, assim que pega o maracujá ele lhe cai das mãos, pega-o embaixo da geladeira para onde ele tinha rolado. Lava-o com a água do filtro, não depois de, mais uma vez, se aborrecer com a falta da água na torneira, havia esquecido-se disto.
Vai cortar o maracujá e quase corta o próprio dedo. “Não é possível uma zorra desta, o que esta acontecendo”? Insiste no suco, devia ter desistido logo quando a fruta caiu e rolou para debaixo da geladeira. Coloca a polpa no liquidificador, água e, quando liga o bicho um desastre: esquecera de colocar a tampa e o caldo amarelo com pintinhas pretas toma conta de toda a pia; o que ficou dentro do liquidificador é jogado fora quase que com o copo do aparelho.
Agora sim é que o negócio vai pegar, como vai limpar aquela sujeira toda sem água? Tenta secar com a toalha de papel, mas ali tem que entrar água, caso contrário, daqui a pouco as formigas vão fazer uma festa. Resolve pedir um balde de água na vizinha, que com boa vontade lhe passa o balde pelo muro: Acreditem se quiserem: metade da água cai em cima dela quando ela tenta pegar o balde do outro lado do muro.  O palavrão sai com toda a sua força. A vizinha pede o balde outra vez, diz que enche de novo, mas ela está para lá de irritada e agradecendo-lhe, diz que mais tarde, caso a água não chegue mesmo, pede outro.
Limpa da melhor maneira possível a sujeira, enquanto faz isto o telefone toca, ela vai atender sem bem olhar o número que chama, e aí o mau humor tende a aumentar, é uma empresa que liga nos horários menos indicados, procurando alguém que não reside na sua casa, ela desta vez, manda quem está falando “tomar no...”, desliga o aparelho com raiva, resultado, parte um pedaço do desgraçado.
Tremendo de raiva tenta se acalmar: bebe água; toma a zorra dos remédios da pressão; do colesterol, e outros naturais, para o fígado e para elevar a taxa do estrógeno. Neste momento a ficha cai: EUREKA!  Ela lembra que há muito, mas há muito tempo mesmo, não faz sexo, e entende que todo este mau humor, esta ansiedade, esta angústia, enfim, oitenta por cento dos seus problemas é isto: FALTA DE SEXO.  Sim este é o problema; mas como solucioná-lo? Vai procurar sexo com quem? Ela não tem parceiros, e acreditem, nem mesmo amigos que possam fazer uma caridade. Ela não tem ninguém. Pela sua cabeça passam mil conjecturas: “Vou comprar um vibrador; vou alugar um garoto de programa; vou arrumar um namorado, aliás, tenho de fazer isto logo antes que arrebente toda a casa”, porque é o que vai acontecer, uma vez que as suas mãos parecem não agüentar nada, o seu equilíbrio é péssimo, não consegue sequer fazer os exercícios que exigem equilíbrio na Yoga, uma merda total. Pensa em cenouras, pepinos, coisas roliças, mas vem a preocupação de parar num hospital como aconteceu, é o que dizem, com um ator de telenovelas da globo, há algum tempo atrás.
Tenta afastar tais pensamentos, mas o seu corpo não deixa, ele está pedindo sexo, mostrando o que a falta dele faz. Ela não tem outra saída, tem de procurar algo que, ao menos, diminuía esta carência, e com a contribuição da net, que agora funcionou mesmo, acessa um site pornô e, vendo cenas calientes, deixa que o seu corpo reaja. E ele reage bem, e ela retira um pouco do peso, mas não está satisfeita, porque ela precisa mesmo é de ser acariciada, mordida, penetrada, sentir-se preenchida, ter algo convexo no seu côncavo, que vibra só em pensar na possibilidade de isto realizar-se a qualquer momento. É o que espera.