Sim, a gente ia
entrando na casinha, digo casinha porque esta especifica casa de minha avó
Antonieta parecia uma casa de bonecas. Tinha, salvo engano, um quarto, uma sala
comprida, um banheiro a cozinha e uma área.
Do lado esquerdo da sala, onde ficava o quarto e o banheiro, entre um e
outro, havia um mínimo hall e ali, uma mesinha mínima com um pequeno nicho com
santos e a “lamparina”, que, diuturnamente, permanecia acesa, como para iluminar aquele
espaço e todos dentro daquela casa.
Contar estórias e histórias; ficção e realidade se misturando para fazer rir, chorar, viver.
terça-feira, 25 de setembro de 2012
sexta-feira, 21 de setembro de 2012
Dá para explicar?
Acorda pensando na sua vida; como
se isto fosse uma grande novidade! Ela vive pensando na sua vida e na de tantos quantos a
rodeiam. Reza, pede a Deus por todos, e, num gesto, leva à mão ao crucifixo que
carrega no pescoço: é um crucifixo de ouro cravejado com pequenas pedras verdes(verdadeiras), que lhe foi dado de presente e, desde o dia em que o ganhou, e lá se vão anos, está ali no pescoço, só sai dele quando a sua dona vai fazer ultrassonografias ou
outro qualquer exame, ou ainda quando vai para a acupuntura. É um companheiro e
tanto, pois, mesmo com a beleza da peça, que é mesmo uma joia, a sua
representação é o que mais vale, por isso mesmo o gesto de levar a mão ao
pescoço e pedir a ajuda tão necessária.
Quem lhe deu esta joia, também
lhe deu a pulseira de ouro que carrega no braço esquerdo junto ao relógio, que
também, por incrível que possa parecer, é um dos muitos presentes que recebeu da mesma pessoa,
O seu pensamento já não está mais nos outros, e sim nela, porque num gesto
quase que automático passa uma perna na outra e sente a tornozeleira, uma correntinha
de ouro com um trevo e uma figa, que, por mais estranho que possa parecer,
também lhe foi dado pela mesma pessoa.
Sorri e passa a mão pelas
orelhas, e nota que também ali a presença da pessoa se faz presente, está com
um brinco de ouro com pedras azuis, que também lhe foi dado pelo mesmo presenteador.
Pensa: Como alguém pode esquecer
outra carregando em si tantas lembranças; quanto pior quando, algumas delas, a
exemplo da tornozeleira, lhe foram oferecidas após, ela e o presenteador, estarem separados, e ela recebeu, simplesmente, porque ele soube que a antiga fora perdida, que, por acaso, também lhe foi presenteada pela mesma pessoa.
Lágrimas escorrem pelo canto do
olho. Sim, por que tudo tinha de acontecer? Para que uma pessoa que faz questão
de estar tão presente causou uma tão grande ausência, um vazio enorme num peito
aberto ao amor.
Que estranha maneira de se fazer
presente é esta, quase se tatuando no corpo de outrem! Que estranha maneira é
esta de alguém sofrer por outrem deixando que a sua presença se encrustre em si
desta maneira.
Não tira nunca as coisas, parece
que tem medo de perder este contato, de retirar uma tatuagem que lhe deixará
marcas feias, que sempre lhe lembrarão do que estava tatuado ali, quanto pior,
se as tatuagens eram perfeitas, coloridas e lindas, as marcas da sua retirada
serão feias, vão parecer queimaduras na pele, vão mesmo é deixar marcas
indeléveis perenizando uma ausência presente.
Tenta parar de pensar nisto, mas
é impossível. Tenta lembrar-se da sua casa, e aí nota que isto não vai afastar
o pensamento e nem a presença de quem quer esquecer. A sua casa está tão cheia de lembranças
quanto o seu próprio corpo. Na sua sala
a televisão que lhe traz o mundo para dentro dela lhe foi presenteada pela
pessoa. O aparelho de som onde ouve as suas músicas preferidas, que lhe fazem
sonhar, também lhe foi oferecido pela mesma pessoa. Os próprios discos, uma
grande maioria deles, também são pequenos mimos, enormes nos seus efeitos,
quando lhe levam a recordar momentos tão felizes, mas que se foram, embora
fiquem ali perenizados por vontade de ambos, talvez inconscientemente por ele,
Tony Bennet, Bossa Lounge, Al Jarrou, Emilio Santiago, Andrea Boticceli, Zeca
Pagodinho, Djavan, Gloria Stefan, tantos, tantos outros, e tantas recordações.
Pois é, o som que toma conta do
coração e da casa entra por todos os seus poros, ela se arrepia só de pensar
nisto e de lembrar que, quando ouve as músicas, na sua grande maioria, quando está só, o faz deitada numa rede
que lhe foi trazida pela mesma pessoa, em alguma das muitas viagens que faz ao nordeste. Todas as redes da casa. É incrível! Eela pensa:
são mais de cinco, e todas, sem exceção, chegaram a casa através dele.
Desiste de lembrar-se de mais
coisas, mas a sua casa não tem somente sala, e ela se lembra das taças de
vinho, ali a hegemonia dele é mesmo gritante, tudo ali lhe foi trazido por ele,
que também é quem, quando aparece, leva o conteúdo das taças, mas não é só isto
que, na cozinha, acusa a sua presença que se impõe de todas as maneiras. Os
pratos brancos que substituíram os que foram quebrados, pratos iguais aos que
tinham enquanto juntos e moravam na mesma casa. Não só os pratos, há também o
abridor de garrafas, as facas grandes, o facão, os belos pratos de servir refeições.
Dentro do freezer esta o bacalhau especial trazido do mercado municipal de São
Paulo. Na despensa o palmito, ele sabe que ela gosta e faz estes mimos.
Quer não pensar, quer não fazer
mais nenhuma associação da ausência presente que se impõe todos os dias na sua
vida, mas é impossível. Agora, mais de que nunca, ele vai estar presente, mesmo
quando ela não estiver em casa, quando sair dela para procurar alguma diversão,
procurar deixar de ficar tão doída com tantas lembranças e com tanta presença, Sabe
que não adiantará nada a fuga, pois o que vai proporcionar este distanciamento
da casa onde a presença é tão grande é exatamente um carro que, se não um
presente, é uma doação condicionada, uma espécie de usufruto de bem móvel,
porque é dele.
Não consegue mesmo entender, não
sabe por que uma pessoa pode, faz questão, de se fazer tão presente e, ao mesmo
tempo, ser uma ausência tão grande que leva a outra a duvidar que isto exista ou
existiu mesmo. Não! Isto é mesmo real, a
pulseira, o crucifixo, a tornozeleira, o brinco, as tatuagens da alma, tudo
isto é muito real, muito presente.
Não sabe o que fazer; pega no
crucifixo e solicita a ajuda de Deus, e, neste momento,percebe: ironicamente,
está vestida com um pijama que era dele!!!!!!!! Tem de gargalhar mesmo. É o que faz
no seu solitário quarto do outro lado do Atlântico.
terça-feira, 18 de setembro de 2012
Espelhinhos Sacanas!!!
O vestido é branco, é como se
fosse uma bata mais comprida, estilo indiano, coisas que gosta. É completamente
transparente e foi comprado, exatamente, pelo insuportável calor que esta
fazendo na cidade. A casa onde está é cheia de portas de espelhos
e, de repente, olha para a da cozinha e se vê ali refletida, aliás, não quer
crer que seja ela mesma. O vestido
transparente permite notar que a sua silhueta foi embora, já não tem divisão no
corpo, já não sabe mais onde fica a cintura, estomago ou barriga, tá tudo
junto, e como diria alguém, “ta tudo junto e misturado”; uma mistura horrível,
que não deve ter gosto de porra nenhuma, talvez por isso mesmo algumas pessoas,
normais-anormais, não tenham qualquer desejo pela sua figura. Sim, porque o que
se lhe apresenta ali naquele espelho não é nada. Será um homem? Será uma
mulher? Um travesti? Aquilo não é nada, é um amontoado de carne que se expandiu
para todos os lados cobrindo todos os espaços, destruindo suas formas,
acrescentando-lhe curvas indesejáveis e pregas incríveis.
Fica indignada, pensa em tirar o
vestido, aquela porra que lhe permitiu, sem ela querer, que se desse conta do
lastimável estado em que se encontra aos 59 anos.
Não será melhor quebrar as portas
da casa? Quebrar cada espelinho daquele que lhe faz ver a realidade que tenta
em todos os momentos esconder, ou melhor, não perceber. Aqueles pedacinhos de
espelhos devem estar lhe desconfigurando; é claro que não pode estar daquela
maneira, aquela não é ela, ou melhor: será mesmo que aquela é ela ou ela é
aquele que se vê? Será esta, ou a que
pensa que é, que é a real ?
Merda de espelhos; tenta não os olhar mais, mas não tem jeito,
eles estão em todas as partes. E a claridade! Esta miserável cúmplice daqueles
pedacinhos malditos de realidade, também contribui para que ela se dê conta do
que realmente é. O contraste da luz faz
com que a silhueta apareça por baixo do leve tecido, é isto mesmo; é ela sem
cintura, com o estomago alto, com gorduras localizadas nas laterais, com a
bunda mole, com os braços cheios de pelanca, que já não podem nem mesmo dar um
bye: ao invés de saudação, as pessoas terminariam por ficar ofendidas.
Puta que pariu! Pensa em como as
pessoas são falsas e como procuram se enganar a si e aos outros todos os dias. De
que adianta a yoga, o pilates, as caminhadas? Porra nenhuma, as marcas do tempo
estão aqui a lhe mostrar que nada vai resolver a bancarrota em que o seu corpo se
encontra, daí para frente, se é que isto pode mesmo piorar, já esta muito
insatisfeita com o que vê, não sabe o que pode acontecer: pensa que vai andar
recolhendo pelancas e enfiando-as não sabe onde. Será que um cirurgião plástico teria
capacidade de tirar metade destas pelancas? Não acredita, ele ia ter de
recortar tanto que a obra final iria ficar uma merda. Assim é que a desconfiguração
seria mesmo total, porque o resultado não seria nem ela e nem nada.
Diabos de pedacinhos de espelhos inconvenientes;
tem vontade de dar uma porrada na dona da casa, como se ela tivesse alguma
participação nisto, como se fosse culpada da sua velhice, dos seus defeitos físicos,
da perfeição da genética. Sim, perfeição da genética, é exatamente aquilo que a
sua genitora foi com a idade que ela está agora, só espera que, quando
alcançar a idade que ela tem atualmente, ao menos consiga andar: a mãe já não
o faz.
Resolve sair daquele espaço
torturador, aliás, parece uma casa de terror, e vai para o quarto. Vê-se,
então, num espelho maior, não muda nada, até mesmo piora, os quadrinhos dos
espelhos das portas se juntam neste espelho maior para lhe mostrar, com mais
detalhes, o que o passar dos anos lhe deixou de herança, além das dívidas, claro.
Tem de tudo, efeito de casca de laranja na pele, aquele que é combatido com
diversos produtos que, simples e vergonhosamente, são sempre derrotados pelo
tempo. Mossas de celulite! Têm pelas pernas, ancas, braços. Era melhor ser um só buraco, ao invés de
tantos em tantos lugares diversos. Aqui
também, os anticeluliticos perderam, descaradamente, a guerra. Os responsáveis
por estas “armadilhas” deveriam ser presos, isto é uma afronta aos
consumidores, uma mentira descarada e deslavada, vendida em supermercados,
farmácias, botecos até, no Brasil agora se vende em ônibus.
Quer quebrar o espelho, não o faz,
a voz da razão não lhe permite, ela lembra que está em casa alheia e que,
apesar do corpo que ele reflete lhe pertencer, ele, espelho miserável,
propagador da verdade, não é dela, além do mais, ele está cumprindo, e bem, a sua
função, talvez a mais social que poderia ter, mostrar-lhe exatamente como ela é
e está.
A razão, também, talvez para lhe
fazer esquecer as rugas que tomam conta do seu rosto, as pregas que fazem as suas
mãos parecerem de bruxa dos desenhos animados, dos seus pés enrugados e secos, fica
martelando: “Você é sábia, tudo isto que se mostra no espelho é muito pequeno
diante do que você é intelectualmente, diante da sabedoria que tudo isto que se
espelha no seu físico lhe trouxe”.
“Manda a razão à porra: então sua
ordinária! De que vai adiantar todo este saber se ninguém tiver coragem de se
aproximar de mim, de estar comigo, se a minha aparência não deixa que as
pessoas se aproximem, nem mesmo para compartilhar o saber? Sai de
mim e vá procurar consolar outra idiota, não eu, que to me lixando para o
saber, ele sequer me deu condição de pagar
algumas plásticas que não me deixariam chegar a isto, ao menos, por
enquanto”.
“Doutora, olhe bem, Você alcançou
coisas que muitos poucos conseguiram. Você faz parte de um mundo distante do
comum dos mortais, isto é um privilégio, e isto só se consegue com o passar do tempo,
portanto, mais uma vez lhe digo, aprenda a gostar destas marcas porque elas são
o resultado da sua própria vida, da sua experiência, do seu saber”.
“Olhe razão, vá para o inferno:
então eu fiz tudo isto diferente dos pobres
mortais, mas o tempo me dá o mesmo efeito que dá a eles, se fosse diferente, se
alguma coisa fosse relevante em relação a tal da minha experiência, também o
meu físico teria de ter algum privilégio sobre os dos demais mortais, que
fizeram outros sacrifícios diversos dos meus”.
“Dra., Mestre, Doutora, olhe
bem, veja quantos títulos. Quem os tem tantos? Veja o que você conseguiu?”
“Querida razão, não me aborreça.
Quantas ou quantos têm estes títulos eu não sei, espero que bem poucos se o
resultado final for o que hoje tenho: A solidão, as marcas do tempo se
instalando sem pedir qualquer autorização, a elevação das minhas “taxas”, os triglicérides, o colesterol, a pressão
arterial. Ah! Tem uma coisa que baixa, o “estradiol” e com ele o fogo do
desejo, da paixão, que já nem posso partilhar com alguém. Também os peitos, estes miseráveis: os róseos mamilos que se impunham diante de
olhares vorazes, e que pareciam querer ganhar qualquer guerra, agora,
cabisbaixos, olham para o chão, nem mesmo nas poucas vezes que, correspondendo
a alguma estimulação endurecem, mudam de direção, continuam a olhar para baixo,
possivelmente envergonhados do estado em que se encontram. Olhe razão, vá para
aquele lugar e me deixe em paz com as suas ponderadas ponderações. Como você é
abstrata não tem onde se lhe pegue, fica assim, dando de sábia e “gostosona”.
Certamente você nunca saberá o que é ser gostosona, nunca sentirá o prazer de
ser tocada, bolinada, mexida. Nunca terá o gosto de ouvir, ao passar na rua,
alguém (e olhe que a esta altura não faria nem exigência do sexo) dizer que
você é gostosa, ou ainda, para os menos novos, que você é a luz do dia, flor do
dia, uma boneca que anda e fala, dentre
outras destas coisas ridículas que fazem um bem da porra ao ego, e, se deixarmos
passar disto, ao próprio corpo. Você não sabe nada disto, nem amor você
conhece, porque cheia de razão como é, racionalizando tudo e sempre, não vai se
permitir dominar por um sentimento, que, na maioria das vezes, nos retira o próprio
eu para que outro dele se aposse. Olhe razão: deixe-me em paz com esta história
de saber.”
Olhou-se outra vez no espelho,
tirou o vestido, vestiu uma calça grossa e uma blusa folgada, que não lhe
deixasse qualquer marca, calçou o tênis, foi subir a serra, descarregar a raiva
e recobrar as energias, afinal, o tempo lhe deixara mais uma marca, a da
responsabilidade, e por ela, ela tinha de se cuidar, de tentar viver da melhor
maneira possível, ainda tinha dependentes, ainda não podia fazer o que lhe desse
na telha, o melhor mesmo era tentar baixar as taxas, e se foi.....
sábado, 8 de setembro de 2012
Enganados! Será?
Acho interessante ver as pessoas
acharem que estão enganando as outras; penso que elas pensam que são
inteligentes e que todas as demais, pobres mortais, são burras.
Quando as pessoas enganam as
outras, lógico que estou falando daquelas pessoas que conhecemos razoavelmente
bem, chega mesmo a ser engraçado, hilário até, porque a gente percebe mesmo que
está sendo enganado e deixa que o idiota, que nos esta enganando, pense que
esta conseguindo este grande feito.
A pessoa tem “tiques ou tics” não
sei bem, que denunciam tanto as suas inseguranças em relação ao que está
falando, ou à mentira deslavada que esta sendo contada, só que elas não se
apercebem disto.
Por exemplo, conheço uma pessoa
que tem um “tic”: quando está mentindo, contando algo que não foi real: começa
a falar e a boquinha horrorosa tende para o lado esquerdo, resultado: um espectro! A pessoa já é feia por natureza
e ainda arruma um “tic” deste que lhe torna muito mais feia; feia
em vários sentidos: exterior por não ser mesmo privilegiada pela
natureza, e interior pelo fato da mentira
deslavada, cínica, imbecil, sem a menor necessidade, que está contando. É bom que aqui fique claro que não sou das pessoas
que dizem que “quem ama ao feio, bonito lhe parece” e nem “que a beleza é
interior”. Não sou não: para mim feio é feio e pronto. Se você olha para alguém e a pessoa é feia,
não tem belos traços, tem boca torta, nariz enorme, olhos enviesados,
infelizmente, a pessoa é feia mesmo. Acho, como Vinícius, que “beleza é
fundamental”.
Falando em “tics” conheci uma
outra que adorava falar de Freud, Jung, enfim, de psicologia. Achava engraçadíssimo
quando ela começava a “descrever”, “narrar”, “falar sobre”, nunca soube
entender muito bem o que se passava ali, e os dois dedos, o polegar e o vizinho
do mindinho alcançavam os dois pontos entre os olhos e eram ali esfregados: algum
tipo de massagem para ativar os neurônios, quem vai saber! Eu só achava
engraçado e interessante, era como se fosse um sinal de que, naquele momento, o
“saber” ia ser compartilhado; que éramos privilegiados por isto. Para mim,
apenas uma demonstração da total insegurança daquele que sabe que o seu saber
não é o saber, mas vai se fazer o que?
Pois é, penso que vivo uma
legião de mentirosos. Uma das grandes e
esfarrapadas desculpas que ouço é quando alguém diz que não atendeu ao telefone
porque estava no banheiro, puta que pariu! Pensam que eu sou idiota ou o que?
Façam como eu, passo todo o tempo com o telefone no silencioso, tive de me
acostumar a isto, primeiro por causa do trabalho; segundo por causa das aulas;
terceiro por causa das pesquisas em arquivos e bibliotecas, em que não podia
ser incomodada e nem incomodar os meus pares. Me acostumei tanto que esqueço,
literalmente, de tirar o silencioso, resultado: não ouço nenhuma chamada, é bem
melhor de que mentir. Aliás, quem me conhece mesmo sabe que odeio celular, que
não gosto de falar ao telefone, enfim, muitos nem ligam porque já sabem que não
vou atender por todos os motivos já expostos; agora inventar desculpas para
justificar o não atendimento é uma merda. Não justifique nada, simplesmente não
atenda e não diga por que não atendeu, é melhor.
Pior que tudo isto é você estar
com alguém e ouvir o telefone da pessoa tocar e ela não atender. Bem verdade
que, às vezes, faço isto, porque tem momentos de uma total inconveniência, mas
ver a pessoa não atender ao telefone porque realmente não quer é um pouco
demais. Pergunto-me: para que dar o número se já sabe que não vai atender.
Melhor não dar. Outro dia alguém me
pediu o meu telefone, eu disse que não sabia o número. A pessoa me olhou com uma cara incrédula:
então eu não sabia o número do meu telefone! O diabo é que eu não sabia mesmo, aliás,
continuo sem saber, tanto que coloquei na lista dos contatos o telefone de
“eu”, mas, na verdade, no caso a que me refiro, ainda que eu soubesse, não o
diria a quem mo pediu; pois imaginem só: foi um garçom brasileiro num restaurante
de Lisboa. Tudo bem que a gente tem de tratar bem a todos, mas isto não
significa que viva dando o seu número de telefone a qualquer um.
De outra feita dei o número
errado; simplesmente troquei o último número, felizmente que o “cara” não ligou
na hora, senão o caso tava perdido e eu passava por sacana. Entretanto, o
melhor mesmo é não mentir, mas naquele momento foi o melhor que pude fazer para
não magoar o rapaz que estava tão interessado na minha pessoa e que eu não
queria, de maneira alguma, demonstrar qualquer descaso, foi outro garçom. Penso
que ando a agradar a classe! Não
confundam, entretanto, mentira com omissão. A omissão em alguns momentos é louvável,
evita-se muitas coisas, mas a mentira, como diria minha mãe, tem pernas
curtas, e a gente um dia descobre que um companheiro de longa data, destes que
acorda e dorme com você, que as pessoas até os confundem como marido e mulher, que
até tem momentos de prazer (sexo) e dividem contas, tem um caso e um filho com
outra pessoa. Olhe que eles passaram muito tempo juntos, pensando um deles que
era companheiro mesmo do outro. Já notaram que não eram não é? Esta omissão não valeu a pena, porque isto não
é omissão: é, e foi, uma grande e enorme traição!!!!!
Pois é, outra coisa que detesto é
a curiosidade das pessoas em relação à vida do alheio. Lá quero eu saber onde
as pessoas foram, estão ou vão. Não me interessa; pior ainda, quanto gastaram: pouco me importa, a não ser quando alguém esta
gastando o que é meu; aí sim, fico “piursa”
deve ser assim que se escreve, uma mistura de raiva com ursa, porque se
a porra é minha, quem tem de gastar sou eu sem dar satisfação às outras
pessoas. Aquelas que gastam o dinheiro que não é seu é que tem obrigação de
prestar contas. Ultimamente, quanto pior, na minha velhice, quando pensava que,
até por força da própria idade, da maturidade, da “sapiência”; não se esqueçam
de que velhice, para alguns, é quase um sinônimo de “saber”, penso que é
“experiência”, mas cada um dá o nome que quer ao passar dos anos e ao acumulo
dos cabelos brancos que, infelizmente, se aboletam em todas as partes do corpo,
o que é horrível; percebam que se olhar no espelho e ver os grisalhos
revoltados, porque eles são revoltados mesmo, são mais grossos, inconvenientes,
teimosos, se colocam em espaços indevidos, me deixa para lá de irritada, mas
fazer o que não é? Eles estão aí e pronto, mas, voltando ao assunto e a minha velhice, conheço
pessoas que tem curiosidade mórbida a respeito da minha vida: gente que quer
saber onde fui; com quem fui até mesmo o que comi. Se compro uma coisa, tem a
desfaçatez de me perguntar quanto foi. Não gosto disto, mas a vida me
proporcionou isto na velhice, e eu, por força de circunstâncias outras, que no
momento não vêm ao caso, estou me sujeitando. Bem verdade que tenho uma
válvula de escape: a mudez. Fico muda simplesmente. Acreditem que não respondo
nada e fico somente olhando para a cara do “questionador”. É como se eu
quisesse, com o silêncio, demonstrar toda a minha insatisfação com tanta
curiosidade.
E aquelas pessoas que além de
questionarem querem dar palpites! Ah estas, são mesmo o fim da picada, ainda
tem algumas que se fazem acompanhar de outras, que nem sabem quem você é
direito, e se julgam no direito de, também, dar palpites, comentar; e a gente
descobre que a droga desta pessoa, que você nunca viu, não sabe de onde veio,
sabe muito da nossa vida, logicamente, porque alguém, que não é só curioso, é
também fofoqueiro e gosta de falar da vida do alheio, lhe contou. Um
comentário: tem gente que sabe mais da nossa vida de que nós mesmos, porque
quem fala dela o faz de uma maneira que, de repente, o fato é outro, as pessoas
são outras, os resultados são outros e a gente se descobre outra pessoa, outro
momento, numa outra vida. Tem
momentos que ficamos na dúvida se
estão falando de nós mesmos ou se, no meu caso, por força da velhice, me esqueci
daquilo.
É, mas vou ficar por aqui, só de recordar estas passagens já estou ficando irritada, porque, efetivamente, não há nada
que irrite mais uma pessoa de que a mentira e esta mania que as pessoas têm de,
sem ser convidadas, entrar no espaço dos outros. Se você tiver alguém na sua
vida que seja assim, mentiroso e ou curioso, se afaste: é o melhor que você
faz.
domingo, 2 de setembro de 2012
Aprenda como não pagar dívidas
Depois do convite presidencial ao endividamento, e já endividado em atenção a tão nobre pedido, temos de nos livrar das dívidas, e então...
Olhem! Sem querer dar de erudita, de
culta, esnobe, sei lá mais o que, estou, presentemente, de intimidades com
ARISTÓFANES.
Porra meu! Ter intimidade com alguém que
tem este nome já é motivo para ser admirada, pois tenho certeza que, ninguém em
sã consciência se aproximaria de alguém que se chamasse ARISTÓFANES, todavia,
como minha mãe e Marta casaram-se com homens que se chamam AURENTINO, vá lá que
eu estou muito bem na fita. Aliás, como na moda, “Causando”.
Pois é. O meu relacionamento com dito
senhor provém do fato de que, por estar muito cansada de leituras que só me
transportam à África, por causa do trabalho de pesquisa do doutorado, procurei
me distanciar bem disto e, como na casa da minha “senhoria” portuguesa tem
muitos e muitos livros, escolho um sem olhar muito bem a autoria. Escolhi pelo
título e pela espessura. Um livro destas coleções que se chamam “de bolso”.
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