sábado, 30 de dezembro de 2017

Minha pró de costura

O ano de 2017 não foi um  bom ano par mim, aliás, acho que para a grande maioria dos brasileiros, entretanto não posso dizer que não aconteceram coisas interessantes: a primeira delas  foi a decisão que tomei de aprender corte e costura. Podem rir! Mas fui aprender mesmo, e nisto já tenho mais de seis meses no curso.  Quem quiser ver a produção pode entrar no blog e ir no botão costuras  e vai ver as minhas obras de arte. Duvidam! Não duvidem não, é real, tudo que está ali foi eu quem fez, seja bem feito ou mal feito, é made by mera, estou pensando já em Mera`s  collection, que tal! Kkkkkkkkk;

A calça, umas das primeiras produções
Pois é, por força desta decisão conheci uma pessoa que, e ela não imagina quanto, me deixou de queixo caído, por me dar conta que ainda existem pessoas como ela, quando a gente não mais acredita em muita coisa, em bondade, em generosidade, em responsabilidade, enfim, quando a gente está tão escaldada das peças da vida, armadas e fomentadas por outrem, não pensa jamais que encontrará uma alma boa. Eu encontrei: não só eu, mas, também, todas as pessoas que fazem o corte e costura com ela. Estou falando de uma AUXILIADORA, não uma auxiliadora qualquer, mas a nossa DORA, Maria Auxiliadora Lima, salvo engano, digo salvo engano, porque a mim não interessa o seu sobrenome, o que me interessa é a DORA, a nossa pró.

Disposta, paciente, responsável, sincera, atenta, generosa, pronta para ajudar sempre, aliás, com este nome, - AUXILIADORA, ia fazer mesmo o que, senão auxiliar, dar, ensinar, mostrar?

Vejo o carinho com que as suas alunas lhe tratam, o que significa que não é só na minha turma que ela é da maneira que estou falando. As suas alunas a idolatram mesmo. Eu achava muito engraçado quando alguma delas me dizia “eu já tenho oito anos” aqui com a Dora, e eu, pensando comigo mesma, achava que  a pessoa que me disse isto fosse  burra, tivesse alguma dificuldade motora, sei lá o que, ou melhor, fosse igual a mim, pois, mesmo tentando e fazendo de qualquer maneira as peças, eu continuo não tendo o menor dom para a costura, nenhum mesmo, ando cheia de furos de alfinetes, agulhas, xingo a máquina, corto tecido que não é para cortar, se vou desmanchar alguma costura termino cortando o pano, enfim, não sou nenhuma virtuosa em corte e costura, mas passar oito anos para mim era mesmo uma derrota total.  Nada disto! É que não se vai ali para aprender corte costura, vai-se ali para aprender a vida, pois enquanto ali estamos esquecemos mesmo de problemas, certo que eles retornam logo após cruzarmos o umbral da porta, mas naquele espaço pequenito, cercados de máquinas de todos os lados, temos a sensação que a vida é melhor, que podemos ajudar os outros, que podemos dar força a quem precisa, que podemos ser solidários.


Acho, que mesmo a pessoa mais prepotente do mundo, ao adentrar naquela porta, tem de descer do salto para encontrar a humildade, amor, generosidade, porque é isto que naquele espaço reina. Brincamos, sim brincamos, somos palhaços das nossas próprias histórias, nos tornamos parceiras, irmãs, amigas. Conferimos as nossas próprias mudanças, aprendemos a nos auxiliar, quebramos a frieza de alguns, enfim, aprendemos a ser melhores, tudo isto porque somos auxiliadas por nossa grande AUXILIADORA. Obrigada Dora, continue com a sua missão de AUXILIAR., Este meu agradecimento, tenha certeza, é coletivo, acho que cada uma das suas “costuretes”queria te dizer isto, eu, a mais ousada, a mais sacaninha, a mais desbocada, sem qualquer procuração, tomo a ousadia de dizer isto. Um beijo imenso.

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Garcia D´Ávila IV

Agora eu estava realmente preocupada: Então este homem ia aparecer aqui em casa a qualquer hora?  Pensei em muitas situações: Já pensou eu no banheiro tomando banho com a plateia olhando! E fazendo as minhas necessidades? E se eu arrumasse um namorado e tivesse  numa hora de intimidade, aí ia mesmo ser uma droga. Ah seu Garcia, por favor, desapareça!
O pensamento racional era este, desapareça o Garcia D´Ávila, mas, no íntimo o que eu queria, com todo o medo possível, era que ele me contasse toda a sua história mesmo, não só a dele, mas dos seus pares na época e de seus descendentes . A minha curiosidade  ia além do meu receio de tantas e tantas coisas que poderiam ocorrer, inclusive a de ser tachada de louca pelos meus vizinhos  quando  me ouvissem falando sozinha.
Eu estava sempre em sobressalto agora, acordava todos os dias pensando na possibilidade do Sr da Torre aparecer: tomava banho correndo, trocava de roupa agoniada, realmente preocupada com o que poderia acontecer se aquele garanhão me pegasse em uma situação favorável aos seus desejos sexuais. Já me via em momentos de Dona Flor e seus dois maridos.
Todavia, apesar de todas as preocupações, eu queria  continuar conversando  com ele, entretanto ele sumiu, passaram-se uns três meses sem que ele aparecesse. Evitei de ir no Castelo e depois de tanto tempo relaxei, parecia que o  Sr da Torre me esquecera.
Apesar disto eu continuava a ler sobre ele e seus descendentes.
Me enganei, ele não me esqueceu, muito pelo contrário, quando apareceu depois destes três meses, disse-me que todos os dias vinha aqui em casa, que ficava quieto escondido, pois queria saber da minha vida, dos meus hábitos, de como  eu sobrevivia, enfim, ele estava me vigiando.
Bom, fazer o que não é, já que ele apareceu, e eu cheia de curiosidade sobre a vida daquele homem, perguntei:
Igreja de Monte Serrat atualmente
Sr Garcia, tenho uma curiosidade, veja se podes me explicar: Qual o motivo do Sr. Construir a Igreja de Nossa Senhora do Monte Serrat?
Vista  da Baía de Todos os Santos da Ponta de Humaitá
- Sabes disto!  O Thomé de Souza ordenou-me a construção de um Igreja em Itapagipe. Conheces aquele sitio?
- Sim, senhor! Até morei lá em um período da minha vida.
- O que! Morastes lá? Tu invades as minhas terras sempre, não sei porque não faço nada contigo, porque moras na minha terra, aqui em Arembepe, pois estes terrenos são meus, até lá para as bandas de Sergipe Del Rey, tudo é meu, não pagas foro, e agora me diz que já morou  Itapagipe!
- É difícil explicar, mas se alguém tinha de te pagar foro, este alguém deveria ser o meu pai, seu xará.
-Xará, o que é isto, o que significa este nome?
- Significa que o meu pai também é Garcia, não D´Ávila, mas Martinez Garcia?
- Martinez Garcia, de onde ele veio, este nome é ibérico.
-Sim senhor, meu pai era espanhol. Bom, mas isto não tem a menor importância, mas me fale da Igreja.
  -Como sabes eu recebi uma sesmaria em Tapagipe, e foi lá que comecei a criação de gado, com as duas vacas que recebi do Governo, mas eu não fiquei somente nisto, porque comecei a visualizar o futuro. Os colonos precisavam de casas e precisavam de material para construí-las, então resolvi fazer olarias para vender tijolos para a construção, deu tudo certo, e fiz mais de três lá em Tapagipe[1]. Mas o Governo precisava de mais proteção para as naus e para proteger a própria entrada da baía, então tivemos de construir um forte.
- O forte de Monte Serrat
-Não, não foi este o nome dado a ele.
E qual foi então?
-São Felipe
E a Igreja, como ela surgiu?
- Á Igreja .
-Mandei construir e depois doei aos beneditinos.
- Dizem que não foi o senhor que construiu a igreja e que também não foi o senhor quem doou a Capela aos beneditinos, e sim um Governador de nome Francisco de Souza.
- Quem disse isto? então no meu testamento em 1609 eu fiz a doação aos beneditinos, como forma de recompensa, no acordo que fizemos para que fossem devolvidas as minhas terras doadas pela Mecia.[2] E quem é este Francisco de Souza, Não o conheci, em 1609 quem era o Governador era Diogo do Menezes.
- Notei que o Sr Garcia D´Ávila estava ficando muito irritado com esta conversa, tentei mudar de assunto rápido, mas ele estava indignado mesmo.
- Estes beneditinos são mesmo impossíveis, eles fizeram com que eu saísse da minha casa para me livrar deles, das constantes investidas para que eu doasse as minhas terras, me obrigaram de todas as maneiras a ceder diante das suas insistências, fui para a Misericórdia e lá refiz o testamento tirando deles o que eles me obrigaram a doar, mas tive de negociar muito, pois eles gostam muito de dinheiro e de terras e querem as minhas.
-Ah Sr Garcia, esqueci de vos dizer que estive em São Pedro de Rates.
- O que, como lá chegastes? Em que navio embarcastes? Como consegues estas coisas, vos que sois uma mulher?
-Oh Sr, Garcia, gostaria muito de poder explicar ao senhor, mas é co0pletamente impossível dizer ao senhor como lá estive, o senhor não acreditaria e, mais uma vez, me chamaria de bruxa e me entregaria à Inquisição, se isto fosse possível.
- Mas como estivestes em Rates?
- Fui para Portugal e de Lisboa fui até Póvoa do Varzim e, consequentemente, e por causa do senhor, fui até São Pedro de Rates, tirei até algumas fotos.
-Tirastes o que? Fotos? O que é isto?
Outra vez estou em apuros para explicar ao Sr Garcia  as coisas, e já estava me desesperando, quando, de repente, ele disse-me
- Tenho de ir-me, hoje tenho de estar na Câmara, pois sabes que sou Vereador não sabes?
- Sim senhor Garcia, eu sei, mas gostaria muito de saber dos vossos estaleiros em Tatuapara, o senhor era mesmo um grande empreendedor.
-Como eu era? Estou aqui, eu sou um grande isto ai que falastes
Meu Deus! Tenho de aprender z falar com este homem, mesmo sabendo  que ele é uma alma penada, tenho de tomar cuidado com as palavras, ele fica irritado muito facilmente e eu não sei qual seria sua reação.
De repente ele levanta-se e diz: Tenho de ir-me, outro dia falamos sobre os estaleiros. Vou à Câmara, tenho reunião hoje, e. como sempre, ele partiu como chegou: evaporando-se no ar.  




[1] Nesta ponta de Tapagipe estão umas olarias de Garcia D´Ávila e um curral de vacas do mesmo [...]  Gabriel Soares de  Souza. Tratado  Descritivo do Brasil , Segunda Parte Memorial e Declaração  das Grandezas da Bahia, pg 145.
[2] No testamento de Garcia D´Ávila, efetivamente há menção a esta doação, e ao acordo para a devolução das terras deixadas por Mecia, Livros Tombo do Mosteiro de São Bento, Livro II,.É mais verossímil a assertiva de que a Igreja foi construída mesmo pelo Garcia D´Ávila e também que ele fez a doação aos beneditinos, como se pode comprovar através do livro tombo II do Mosteiro de São Bento. 

domingo, 3 de dezembro de 2017

O Sr da Torre - Continuação III

Voltei para casa com a sensação de que perdi uma grande oportunidade, que não tinha conseguido informações suficientes do Sr. Garcia D´Ávila, como por exemplo, o fato da denúncia de Isabel, sua filha, contra Mécia Rodrigues a sua falecida esposa.   Queria confirmar mesmo que a denúncia se deu porque a Sra. Mécia era cristã nova, ou seja; ela e seus pais vieram de Portugal exatamente pelo fato de serem judeus e, coercitivamente, se tornarem cristãos, por isso mesmo eram chamados de cristãos novos, judeus convertidos.
Estes judeus convertidos comprometiam-se a não observar mais as práticas judaicas, entretanto, Isabel denunciou a madrasta dizendo que a mesma, em casa, continuava observando tais práticas, de acordo com Isabel ela “presenciara dita Mécia Roriz(Rodrigues) três ou quatro vezes em dias diferentes mandar lançar azeite nas panelas da vaca e galinha, dizendo que, porque eram magras o fazia”. Estão vocês rindo! Não riam não, isto era considerado um costume judaico. Em outra passagem, Isabel informa que Mécia Rodrigues comia carne nos dias em que se deveria comer peixe. Salvo engano, nós ainda mantemos o hábito de comer peixe na sexta feira santa, tão lembrados?  Aliás, se bem me lembro, acho que também tínhamos  um costume de comer peixe às sextas feiras. Ainda na denúncia, Isabel informa que quando morreu um escravo de Mécia, esta mandou deitar fora toda a água da casa
Na mesma época em que Mécia foi denunciada, ou seja; na Primeira Visitação do Santo Oficio à Bahia, (1591) sob o comando de Heitor Furtado de Mendonça, foi denunciada a Sra.  Ana Roriz, cristã nova que veio com toda a sua família, marido e filhos para a Bahia estabelecendo-se em Matoim, onde eram proprietários de um engenho de açúcar próspero, o que, entretanto, não evitou que a matriarca da família fosse denunciada e mandada presa para Lisboa, A Sra. Ana Roriz foi presa aos oitenta anos de idade.
Bom, mas não quero falar de Ana Roriz, quem quiser saber mais a respeito desta família, pode encontrar todas as informações nos arquivos da Inquisição na Torre do Tombo, todos os documentos da visitação do Santo Oficio na Bahia estão digitalizados e podem ser acessados através do site da Torre do Tombo.[1]
Voltando à Isabel e a sua denúncia, que não gerou qualquer consequência. Também ia perguntar ao Sr. Garcia D´Avila se foi realmente verdade que ele teve um outro filho que o denunciara ao Santo Oficio, já que estávamos tão íntimos, era melhor obter esta confirmação diretamente da fonte original, a ter de procurar  fontes históricas, mas foi esta a opção que restou, e, de acordo com  CALMON(1983:31), [2] a denúncia existiu mesmo, na denúncia o filho bastardo de Garcia D´Avila, João Homem, declarou-se filho do Sr. da Torre e de uma senhora de nome Catarina Roriz o homem gostava deste apelido) ao visitador do Santo Oficio.  Não encontrei qualquer informação a respeito das consequências desta denúncia, entretanto no seu testamento o velho da Torre reconhece, indiretamente, o filho, deixando um legado para as duas filhas deste, ou seja, para as inclusive determinando ao neto Francisco, o seu herdeiro, que as recebessem em Tatuapara, na casa da Torre.
“Declaro e mando, que o possuidor do prazo acima dito, suas benfeitorias hirá dando cinquenta mil réis em cadahum anno, cinquenta mil réis, os quaes se depozitarão e entregarão na Caza da Santa Misericórdia desta cidade athé a quantia de cento e cincoenta mil réis para dote e casamento da filha mais velha de João Homem, que Deos tem; o qual dote a dita Caza entregará ao marido que com ella cazar, cazada a dita filha mais velha hira dando pela mesma ordem outra tanta que se depozitara na mesma forma para casamento da outra órfã segunda filha de João Homem para caz doutra órfã, segunda filha de dito João Homem[...], [...] depois de cazadas, querendo ellas com os ditos maridos, acomodar-se nas terras do dito prazo, as acomode como melhor lheparecer desorte que comodamente possao nella viver em suas vidas com rossas e creações ; eem quanto não se cazarem  o dito possuidor as recolherá  em Tatuapara[...] Livro II do Tombo do Mosteiro de São Bento, pp.283-284. [3]
Fiquei pensando: volto outra vez a Casa da Torre?  As minhas entrevistas com o Sr. D´Ávila me deixavam aflita, embora a curiosidade da historiadora batesse forte, mas tinha que acabar com aquilo, até porque para ir ter com o dito senhor, eu precisava gastar dinheiro. Percebam bem: tinha de pegar meu carro, colocar gasolina, sair de Arembepe, dirigir até Praia do Forte, pagar a entrada, sim porque só tinha acesso às ruinas pagando a entrada, será que valia a pena tudo isto? Eu posso responder a esta pergunta, racionalmente valia muito a pensa, mas o meu emocional me dizia que tinha de acabar com esta história.
Bom tenho que decidir isto, mas, para minha surpresa, quando cheguei em casa, quem está sentado na minha sala? O Sr. Garcia D´Ávila, se não fosse um espirito e eu sabia disto, diria que em carne e osso. Tomei um grande e imenso susto. Meu deu ganas de perguntar-lhe como ele entrou na minha casa.
O desgraçado nem me deu tempo de recuperar-me: -   Sois casada? Quem é o vosso marido?  A quem ele paga o foro?
- Sr D´Ávila como me achou?
. Segui-te, simplesmente, foi difícil porque esta geringonça em que andas é muito rápida, mas meus cavalos são bons e cá estou.
- Sr D´Ávila o senhor não pode invadir assim a casa dos outros, faça o favor de retirar-se.
- Como? O que estas a dizer? Vais me expulsar da minha própria terra? Se alguém tem de sair daqui certamente  é a senhora. O homem estava vermelho de raiva. Eu já nervosa, tentando falar baixo, mas com uma vontade danada de gritar, corri para o quarto e me tranquei, como se isto fosse suficiente para afasta-lo, ledo engano!  O homem estava lá diante de mim parecia querer agarrar-me, me esganar.
-Não podes fugir de mim, não vês, não percebes?
Sr. Garcia o que o senhor quer de mim/
Quero saber o que sabes sobre a minha família, que termines o que começastes. Deixaste-me curioso, porque falas de coisas das quais não me lembro de ter passado ou acontecido.
-Claro senhor D´Ávila que não podes saber de coisas que aconteceram depois do seu passamento.
-Já vos disse que estou aqui, e que não houve qualquer passamento, mas não quero aborrecimentos consigo,s quero é que me contes mais, gosto da sua narrativa, mas daqui em diante teremos que marcar um dia, pois estas a me fazer perder muito empo e sou um homem muito ocupado, tenho que cuidar dos meus bens, do gado, dos escravos, do açúcar, das terras,  etc.´
Sr D´Ávila eu preciso comer, dormir, não podemos tratar disto em outra hora?
- Nem percebi que já está a escurecer. Não vai ascender as tochas e o azeite?  Onde estão os seus escravos para fazer isto?
-Em que ano o Sr está vivendo?
- Em 1592.
Pensem aí como seria difícil para mim explicar àquele senhor, acostumado a ser obedecido, o garanhão de Tatuapara,( pois o danado era mesmo um comedor, era um garanhão português, macho que demonstrava, em ações, esta qualidade tão cultivada pelos homens portugueses que aqui vieram, e penso que ainda cultivam orgulhosamente os hoje patrícios) transou bem, andou com as oficiais e reconhecidas pela sociedade da época, como também as extra oficiais, teve aventuras com mulheres brancas e com as índias,, teve a esposa Mécia, aliás, com quem casou obrigado, pois este seu casamento foi, como se dizia à época, na justiça. E  como diria minha mãe,  “quem puxa aos seus não degenera”, a  sua filha Isabel  andou adiantando o serviço e teve um casamento determinado pela Justiça ( foi deflorada pelo homem que se tornou o seu primeiro marido), Sim, voltando ao Sr D´Ávila, como eu poderia dizer a ele que o tempo havia mudado, que eu não tinha escravos, que a luz era elétrica, etc. então não expliquei nada, e lhe disse que mais tarde providenciaria tudo, que a luz do dia ainda era suficiente, mas que ele precisava  ir embora, que de lá de casa, Arembepe para a Torre, seu castelo, era longe e quando ele chegasse lá já seria noite alta.
Consegui convencer o homem que realmente montou no cavalo que estava apeado à porta lá de casa. Fui até a porta para vê-lo desaparecer, pedindo a Deus que ele não desse na telha de retornar e ainda preocupada com os vizinhos, que, certamente não iam entender nada, vendo-me a falar com alguém que só eu podia ver, falar, conversar.   
Quando tive a certeza de que não voltaria mesmo, passados duas horas ou mais que ele se tinha ido, peguei os livros e comecei a ler, afinal tinha de ficar afiada mesmo porque, com certeza, ele não ia desaparecer assim tão fácil da minha vida e agora eu estava perdida mesmo, pois ele poderia aparecer a qualquer momento e lá na minha casa. Este último pensamento me provocou calafrios, só faltava agora eu acordar com o homem da torre deitado ao meu lado.,.
Mas, o que descobri, será objeto de um novo capitulo. Kkkkkk, aguardem




[1] Digitarq.arquivos.pt
[2] CALMON Pedro. História da Casa da Torre – Uma Dinastia de Pioneiros, 3ª. Ed. Salvador, Fundação Cultural do Estado da Bahia, 1983
[3] Livro II Tombo do Mosteiro de São Bento, p 284 ( a grafia é a da época, como está no livro de tombo)