[...] eu não posso brincar
contigo – disse a raposa. – Não me cativaram ainda.
-Ah! Desculpe – disse o
principezinho.
Mas, após refletir,
acrescentou:
- Que quer dizer
“cativar”? [...]
[...]-É algo quase sempre
esquecido – disse a raposa – Significa “criar laços”...
-Criar laços?
-Exatamente – disse a raposa,
- Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros
garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de
mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas,
se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Será para mim único no
mundo. E eu serei para ti única no mundo[...]
[...] Mas, se tu me
cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos
que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da
terra. Os teus me chamarão para fora da toca, como se fossem música. E depois,
olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim não
vale nada. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas
tu tens cabelos dourados. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O
trigo, que é dourado, fará com que eu me lembre de ti. E eu amarei o barulho do
vento no trigo....
[...]-A gente só conhece
bem as coisas que cativou – disse a raposa. – Os homens não tem tempo de
conhecer coisa alguma. Compram tudo já pronto nas lojas. Mas como não existem
lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo,
cativa-me!
-Que é preciso fazer? – Perguntou
o pequeno príncipe.
-É preciso ser paciente –
respondeu a raposa[...] (SAINT-EXUPÉRY 2009)