Os
dias se passaram o casal chegou ela foi
encontra-lo no hotel, na Avenida de Roma, em Lisboa e acertaram os detalhes de
tudo. Ela teria que seguir até o Porto e eles a pegariam na estação. Ficariam
um dia em Vila do Conde e depois seguiriam para Amarante.
Chegado
o dia, foi o que ela fez, Ela já conhecia o Porto, bem como Vila do Conde, mas
naquele momento tudo era uma novidade, pela situação claro. Chegou à estação
ferroviária do Porto e lá estavam eles. Ainda no trem ela ia pensando: meu Deus
como será isto? Ela e a colega eram tão diferentes. Ela irreverente, a outra
pacata, senhorial, séria, mãe, esposa, doutora. De comum com a outra, apenas a
profissão. Naturezas completamente diversas.
Ela bebia, e muito, a outra sequer tomava vinho, vejam vocês, que
problema. Mas a gentileza do convite era
irrecusável, portanto, agora tinha mesmo e a que se comportar, afinal ela era
um Dra. que tinha sido convidada para passar natal na casa de uma família
portuguesa, que ela jugava cheia de melindres, de não me toques, de sobriedade. Outra coisa, ela estava em Lisboa fazendo o
mestrado em Direito, portanto, tinha a sua bagagem intelectual e cultural e
toda a pretensa liturgia do cargo que ocupava.
Muito
bem recebida na estação pelo casal e um primo deles, um senhor muito gentil
que, logo que ela adentrou ao carro começou a colocar músicas brasileiras a
tocar, começando logo com Maria Bethânia; ela de logo, já ficou sensibilizada
com a estória.
Lá
se vão eles em direção à Vila do Conde onde o hotel já havia sido reservado.
Colocou a bagagem no quarto e foi para a portaria, onde eles ficaram esperando
para levá-la para uma maratona que teve, ali o seu começo. Foi recebida por
todos os familiares do casal com pompas de rainha, melhor vinho, melhor comida,
queijos, tudo enfim. Ela estava encantada. Soube, pela amiga, que ela tinha de
comprar um presente para o seu amigo secreto, pois ela fora incluída na lista. Aí
é que ia ser duro, imagina: como comprar presente para quem não se conhece? Resultado:
o seu amigo secreto não foi tão secreto assim, porque teve de perguntar a amiga
quem era a pessoa, como ela era, enfim, os detalhes, para que o presente não
ficasse tão dispare da pessoa.
Para
sua sorte, todavia, eles foram almoçar, ou jantar, já não se lembra bem, na
casa da sua amiga oculta, que era uma menina de uns 14 anos, uma adolescente
com todos os pormenores da sua fase de vida.
Coincidentemente a menina tinha cabelos encaracolados, não iguais aos
seus, aliás, ninguém tem um cabelo igual ao seu, rebelde tal qual a sua dona em
tempos idos, o desgraçado desfaz os seus cachos, fica em pé, revolta-se com o
vento e se põe em pé de guerra com ele, resultado, o vento sempre vence e eis
uma verdadeira catástrofe. O da amiga oculta era lindo, cachos bem mais soltos,
nuances de louro, tudo aliado ao frescor da juventude. Notou que a menina usava uns brincos bem
grandes e então decidiu: “vou comprar brincos” e lá se foi ela à procura dos
brincos, no entanto, não achou nada que interessasse e resolveu comprar um
conjunto de, se bem lembra, lápis, canetas, estojo, etc. da Ágata alguma coisa.
Estava bem na moda, e era realmente interessante e estava dentro do valor
fixado para os presentes.
Dia
da festa todos seguiram para Amarante. Ela preocupada, realmente estava
tentando conscientizar-se que era uma Dra. e tinha de se comportar como tal,
afinal, não podia decepcionar os seus anfitriões. Chegaram a Amarante lá pelo meio dia e foram
direito para a casa da família que estava preparando a ceia de natal. Ela apesentada a todos estava meio inibida,
sabia que, de uma maneira ou de outra, era o centro das atenções, ela que era
tão diferente da colega que a levou. Eles estavam acostumados com a sobriedade,
com a educação, com a delicadeza e aparece ela: nada sóbria, nada delicada, com
apenas educação. Bom mas ao que parece, depois do primeiro impacto, tudo bem. E
aí começou a sua derrocada, ou melhor, a do casal que a levou.
Vinho,
bacalhau, azeitonas, etc. etc. Ela tomando todas, queria ajudar na cozinha, mas
era impossível, assim ficou entre os homens e estes não lhe pouparam os copos.
Resultado que, no final do dia, ainda sem a ceia, ela já estava para lá de Bagdá,
tirou até foto chupando, pasmem vocês: espinha de bacalhau.
Tudo
corria as mil maravilhas, ela já à vontade ouvindo piadas, brincando, mas aí
veio o momento em que teve de ir ao banheiro!!!!!!!!!
Mostram-lhe
onde ficava a casa de banho e lá se vai ela. Entra, fecha a porta, tira a
calça, senta-se no vaso. De repente, quase dá um grito: Tinha outra pessoa no
banheiro. Quase se levanta do vaso, por alguns segundos ficou ali sem saber bem
o que fazer e aí, entre o real e o fictício do álcool, percebeu que era o seu
próprio reflexo no espelho da porta e, infelizmente, notou que aquilo ali que
estava sendo refletido era a sua “dita cuja”. Coisa mais feia, se a bicha já é
feia totalmente fechadinha, guardada, imagine toda a vontade vertendo água. Bem
verdade que tem gosto para tudo, os homens, em geral, e até mesmo algumas
mulheres, gostam desta coisa, mas ela não tinha qualquer motivo para admirar
uma coisa daquela, pior ainda, naquela situação. Diante da desagradável surpresa de ser
literalmente apresentada à sua própria “coisa”, na casa do alheio e por um
espelho maldito colocado, para ela, indevidamente, na porta do banheiro, acabou
o serviço, enxugou-se e saiu da casa de banho decidida a falar do mau gosto do
idealizador daquela indignidade.
Saiu
do banheiro e dirigiu-se diretamente à dona da casa, que estava na cozinha e bem
perto dela disse: Quem foi que teve a brilhante ideia de colocar espelhos na
porta da casa de banho? Isto é uma afronta, pois não é que eu fui apresentada à
minha coisa assim, tão desagradavelmente? A senhora olhou para ela e ela pensou:
É agora, vou ser é expulsa desta casa. Mas, ao contrário do que pensou, a
mulher olhou para ela e disse:
Como
é? Não entendi direito.
E
ela repetiu om todas as letras o que dissera antes.
A senhora quase tem um ataque de riso, ria e
ria, e chegava mesmo a se embalançar de rir, e todos olhando para as duas sem
entender porra nenhuma.
Ela,
não satisfeita, ainda fez outro comentário. Por que merda não botou espelho
também na parede atrás do vaso? Assim as coisas seriam mais justas e
igualitárias, porque o homem quando fosse utilizar a casa de banho também
poderia ver o seu instrumento pelo espelho. A mulher não parava de rir, e o
povo com mais curiosidade ainda. A colega atônita olhava para ela com uma
grande interrogação, embora já estivesse rindo de ouvir a gostosa gargalhada da
dona da casa.
Refeita,
e agora ela é que não sabia o que fazer, a senhora passa a contar a estória
para os demais. Evidentemente que mesmo em tamanho estado etílico, ela ficou
ruborizada, mas todos se escangalharam de rir daquilo tudo, o que,
decididamente quebrou todo o gelo entre ela e os familiares da amiga, que,
apesar de ruborizada, sorria e dizia: “Só você mesmo para fazer uma coisa
desta”.
Passou
a noite em família, com pessoas agradáveis e que se mostraram realmente como
eram, apenas e tão somente, porque a irreverente Dra. que eles abrigavam era
uma pessoa “normal” que podia até mesmo, dizer sacanagens, ser engraçada,
enfim, ser ela mesma.
Agradece
a todos pelo que lhe proporcionaram, mui principalmente ao casal “cítrico”. Tenham
um bom Natal.