Lisboa está deserta, Praça do
Comércio, Rua Augusta, Rossio, Restauradores, Avenida da Liberdade. Era
madrugada. Gatos pingados procuravam suas portas para adentrarem as suas casas,
mas eu estava ali, andando sozinha pelas calçadas molhadas e vendo as fachadas
iluminadas dos velhos prédios. Ah como era boa esta sensação! Lisboa era só
minha, as portas fechadas me davam a segurança de que estava só, que àquela
hora dificilmente alguém sairia delas para me amedrontar ou respirar o ar
que, naquele momento, eu me apossara, era todo meu.
Não sentia outro cheiro que não a
da rua molhada, das pedras brilhantes encharcadas da chuva. Tudo sombrio, mas
se consegue, senão todos, eu vejo, ver beleza nestas noites frias, molhadas e
com uma iluminação meio opaca, mas que embelezavam, mais ainda, as grandes
fachadas.
A estação do Rossio, já com as
suas portas fechadas mostrava todo o seu esplendor, como é linda! Tudo meu
agora, tinha um sentimento de posse, naquele momento eu era a dona de tudo, não
tinha de dividir nada com ninguém.