Vá a Lisboa! Chegue á noite e de navio, entre pela porta da frente, pelo Tejo, verá que é inesquecível, mas se não puder ir de navio, não se preocupe, chegue de avião, mas vá. De avião já terá uma noção do que vai encontrar em termos de recursos humanos em Portugal, as gentis hospedeiras! (assim são chamadas as aerovelhas da TAP),mas o quadro, felizmente, está em renovação.
Se chegar de navio, veja, do Tejo, Lisboa inteira, sorridente, com as suas luzes. Identifique os lugares, os monumentos. Convença-se que é rio, não é mar as aguas onde, no momento, navega. Veja de perto a ponte 25 de Abril, você vai passar por baixo dela, da pequena réplica da Golden Gate, isso mesmo, aquela lá de São Francisco, Califórnia. Olhe para o lado direito, e veja, mais uma réplica, bem menor, do Cristo Redentor, o nosso do Rio de Janeiro. Continue olhando e, se for baiano, perceba a semelhança com a nossa Salvador, pois verá uma cidade alta e uma baixa. Lisboa é cheia de ladeiras, altos e baixos, sabendo de logo que as semelhanças não param por aí, isto no aspecto físico da cidade.
Olhe mais! Se encante. Veja as docas com os seus bares e movimento noturno, espero que chegue mesmo a noite. O Cais do Sodré, o Terminal de comboios, o Terminal de Barcos, O Mercado da Ribeira, tudo muito bem iluminado. Deixe o olhar alcançar o que quiser, pois tudo será maravilhoso, não há nada feio em Lisboa quando ela é vista do Tejo.
Deixe o navio ou o hotel, lógico que depois de tomar o pequeno almoço, é assim que eles chamam o café da manhã: Se possível, vá a pé até a Praça do Comércio. Chegue lá, fique de costas para o Tejo, não por muito tempo, ele não vai gostar, porque, narciso como é, não vai entender este desprezo, mas é necessário, para que você veja toda esta praça com os seus arcos e com o maior deles, o que dá acesso à Rua Augusta. Atravesse-o, ande pela rua, absorva-a, alcance o Rossio. Veja o Teatro Dona Maria e observe o movimento. Chegue até o teatro, esqueça a sujeira, não veja estas coisas, não olhe os mendigos, que ainda podem estar dormindo na esplanada do teatro, vire à direita, beba uma ginja, uma bebida alicorada típica de Portugal. Tome esta bebida, custa apenas 1 euro, e quando o empregado perguntar com ou sem, diga com, porque assim você pode ver e sentir o fruto dentro do copo. Beba vagarosamente olhando o movimento deste largo, que se chama São Domingos. Preste atenção, veja a África presente em Lisboa. Se surpreenda com os negros e negras vestidos a rigor, com as suas roupas coloridas e típicas. Se por perto estiver algum português poderá sentir o desprezo que eles têm por estes negros, aos quais, desdenhosamente, chamam de “os pretos”. Se tiver sorte ouvirá uma velha portuguesa dizer que “esses pretos” tem mais direitos de que os portugueses, dão-lhes casa, dão-lhes comida, emprego, não se lhes podem maltratar, enfim, todo o ódio e rancor da ainda “raça” ariana, que não admite a perda das colónias, incluindo aí o nosso querido Brasil, que hoje exporta para Portugal, prostitutas, marginais, desocupados, amantes que se apossam dos “maridos” portugueses, o que é tema de reportagem televisiva e de queixa policial, e olhe só, aos cuidados da policia judiciária, uma das divisões da força publica em Portugal, que parece ter mais policia de que gente, GNR, Guarda metropolitana, forças armadas em geral, etc., além de outras autoridades que agem como se policia fossem, os senhores fiscais dos transportes. Se tiver num dia feliz pode encontrar, numa mesma viagem, três ou quatro patrulhas a lhe pedir o bilhete, cuidado! Eles são autoridades mesmo, andam em gang, nunca entra um sozinho, só de três em diante, e ficam muitos felizes de aplicarem coimas (multas). Todos tem a mesma resposta, isto é proibido por lei, vá reclamar no local adequado.
Você continua em Lisboa, mas por um momento esquecerá disto, caso não tenha portugueses por perto, porque os negros das mais diversas etnias, estão falando uma língua que não entende, nem poderia. Os dialetos são variados, como variadas são as origens: Cabo Verde, Guiné, Angola, Moçambique, São Tomé, a tudo isto acrescente os “chinocas”, estão por todos os lados de Lisboa, e não só, mas em quase todo Portugal. Tem mais ainda: Os ciganos, você os reconhecerá, não se assuste, eles não fazem mal até o momento em que você não faça nada que eles não gostem, nem caia na bobagem de ofender um membro do clã: o clã inteiro vai lhe pegar, se sair vivo, o que se dúvida, poderá contar a estória. Fique atento e veja se entra numa das diversas lojinhas que vendem ouro, usado ou não. Observe se não há algum casal de cigano dentro dela: não é vendendo, é comprando mesmo. Eles andam com dinheiro vivo na mão e, se tiver sorte, poderá ver a negociação entre o vendedor e o cigano pagador. Possivelmente a mulher terá escolhido um bracelete, bem largo e bem pesado, o maior brilho possível, custa a bagatela de 5.000,00 euros, que serão pagos à vista, talvez, com a negociação, possa sair por 4.000,00 euros. O preço na verdade não é o importante, o importante é que será pago em dinheiro vivo, transportado no bolso do cigano. Inacreditável, mas é assim mesmo.
Saia da loja, siga em frente e alcance a Praça da Figueira, tome o eléctrico, para nós, um bondinho. É todo amarelo, alguns são vermelhos. Entre nele, é o de nº 12, e vá até o castelo de São Jorge.
Chegou! Acabe de subir a pé para o Castelo. Perto das muralhas, ainda fora do castelo, veja que primor de banheiro público para homens, fica num cantinho do lado direito, com o sugestivo nome de “urinol”. Se tiver coragem e vontade, e se for homem, mije mesmo, só terá esta oportunidade. Acabou! Continue a subir e entre no Castelo, é pago, mas não deixe de entrar. Agora olhe o Tejo e Lisboa lá de cima, fique surpreso com tanta beleza. O Tejo vai te olhar também, ele sempre olha para quem o admira. De soslaio, para que ele não perceba e não fique chateado, olhe Lisboa de cima: nunca mais esquecerá esta visão.
Olhe tudo, fixe-se em cada detalhe, nos telhados, nas escadarias, nas ruelas. Nos nomes das ruas e becos. Depois de olhar bem, desça vagarosamente pelos becos, pare nas tascas (pequenos bares) tome uma imperial e aproveite para comer um pastel de bacalhau, que não é pastel, é o nosso conhecido bolinho de bacalhau. Se tiver com muita fome, coma um prego, mas se a fome poder esperar, deixe para comer este prego no Rossio. Se não gostar de prego, pão com carne de vaca, coma uma bifana, pão com carne de porco; coma mesmo, é bom. Olhe a estação, admire o monumento, entre nela, veja o que eles conseguiram fazer.
Se tiver com dinheiro suba a avenida da Liberdade, escolha o lado direito de quem sobe, vai encontrar as marcas Dolce Gabana, Luis Vouiton, Trussard, Armani, Tous, dentre muitas outras, pois em Lisboa também tem tudo isto. Antes porém, olhe para a Rua depois do Correio, veja o Ateneu, olhe o prédio que fica do lado esquerdo desta rua, olhe a fachada. Aqui tem Hard Rock e tá na moda, é incrível não é?
Suba a rua toda e dê de cara com o Marques de Pombal. Olhe o monumento, veja o que ele sugere. É isso mesmo, é para demonstrar o poder desse homem, que continua guardando a sua preciosa cidade, mas não lhe de muita atenção e siga em frente, cuidado com a rotunda! Eles são loucos dirigindo, atravesse no sinal e vá até o parque. Respire fundo e suba tudo. Agora vire-se e olhe para a sua frente: Viu? Uma maravilha, mais Tejo e mais Lisboa.
Não pare por aí, se estiver cansado demais desça, vagarosamente, o parque. Lá em baixo pegue o metro, linha azul e saia na estação do Chiado, ali você pode ver o Fernando Pessoa te esperando para um café, na espalanda da “Brasileira”.
Se ainda tiver pique vá subindo, passe pela frente do Consulado Brasileiro e siga em frente, vai chegar em um lugar chamado Santa Catarina, entre nas ruas, olhe bem as ruas e os eléctricos que transitam por ali. Grave o nº 28, você vai precisar tomar este bondinho se estiver em Lisboa no sábado e quiser ir à feira da ladra. Quando encontrar o Alto de Santa Catarina, pare: deslumbre-se! Veja o seu navio ancorado lá do alto, aviste o outro lado do Tejo.
Ainda é cedo, mas se gostar de dançar música de salão e for uma terça, quinta ou sexta-feira, desça a rua e vá para o Mercado da Ribeira. Você vai se divertir. Aí vai encontrar o que os portugueses chamam de baile. Bom mesmo é aos sábados e domingos, mas como você, possivelmente, não estará aí nestes dias, aproveite e entre logo: mulheres pagam 2.00 euros e homens 3,00. Não tome susto, é assim mesmo, a meia e a terceira idade também se divertem e o fazem pela tarde, os bailes começam as 3 ou 4 e acabam as 7.00 ou 8.00. Se não quiser dançar, apenas sente-se e divirta-se. Olhe os tipos, olhe as roupas, olhe as louras, aqui como em todo o lugar do mundo, penso eu, depois dos 35 todas as mulheres são louras. Aprenda a viver, pois ai está uma lição de vida, embora a “society” portuguesa não recomende a ninguém tais bailes.
Não olhe para os homens directamente, eles vão te chamar para dançar, embora, cortesmente, aceitem um não, mas não é bom. Não dê muita colher de chá aos portugueses, eles sempre pensam que as mulheres sozinhas que vão a estes bailes estão caçando, o que não é uma grande mentira, mas tudo comporta exceção. Preste atenção nas senhoras portuguesas, olhe bem as bijouterias, ou até mesmo as jóias, elas ainda tentam mostrar as posses ostentando as suas preciosidades, muitas, visivelmente, falsas. Se for homem, cuidado! As senhoras atacam com o olhar sem qualquer pudor, algumas, mais afoitas, vão mesmo no vamos ver.
Por hoje volte ao barco e descanse, amanhã terá um dia agitado e corrido, afinal só terá três dias em Lisboa e deve, nesse dia, conhecer muita coisa. Se não estiver esgotado, saia do navio ou do hotel à noite, vá ao Jardim da Estrela e entre no Pavilhão Chinês, que de chinês não tem nada. Não deixe de ir. O Bar é mesmo sensacional. Pena que tudo agora no Bairro Alto encerre às 2.00 da madrugada, mas aí, se quiser esticar mesmo, você desce até as docas e dança, querendo, até de manha. Pode escolher a vontade.
Cansou, vá dormir. Amanhã é outro dia, dia de comer e de ir ao outro lado, em Cacilhas, almoçar lá. Se gosta de marisco e peixe, vai adorar. Pense em comer bem e olhar Lisboa, mais uma vez, do outro lado do Tejo. Simplesmente deslumbrante!
Almoce bem e volte. Agora pegue o metro no Cais Sodré, onde o barco vai te deixar. A linha é a verde sentido Telheiras. Saia na Alameda, faça a conexão com a linha vermelha, siga até a estação oriente, não se preocupe, não vai se perder, é a estação terminal. Você vai sair no terminal e entrará, querendo, diretamente no shopping Vasco da Gama. Digo-lhe que é melhor subir as escadas e sair na rua onde poderá ver a maravilha da arquitetura, seja do shopping, do terminal misto (comboio, metro, ônibus) e ficará mesmo extasiado.
Entre no shopping Vasco da Gama e sinta-se no navio, a ideia é esta. Olhe os detalhes, saia pela porta afora para não gastar dinheiro e ter tempo de ver mais. Veja tudo no detalhe, não deixe nada passar desapercebido. Não vá ao aquário, seu tempo é curto, mas se for imprescindível, jamais esquecerá do local.
Siga em frente e, de novo, dê de cara com o Tejo, olhe para o lado direito e veja todo o colosso que é a Ponte Vasco da Gama. Passeie pelo Parque, admire a arquitetura. Tome, se lhe apetecer, o teleférico, caso contrário, ande margeando o Tejo e passe pela ponte de madeira, encontre o Cuba Libre. Descanse um pouco, e se o Zé estiver lá, o Zé é inconfundível, é um cabo verdiano que está sempre de boné, não há outro ali, peça um Mojito (limão, hortelã, rum e agua mineral), dizem que era a bebida preferida de Heminghway em Cuba. Curta a bebida e o visual, vale a pena.
Já sei que você não quer sair daí, mas é preciso, afinal está em Lisboa e precisa ver o fado. Hoje a noite é um dia bom para tal, mas não vá em casas de espetáculos, vá onde os portugueses vão escutar fado e onde as pessoas podem cantá-lo em momentos permitidos. Mas escute a dor do fado, os portugueses sabem cantar muito bem a dor. Vá ao Jardim do Poço do Bispo, ou em tascas em Alfama.
Ainda é cedo, não vá nem para o hotel e nem para o navio agora. Vá para as docas de novo, aconselho, o bar dos ingleses, (Irish) tome um drink, fique a vontade, e, mais uma vez, observe. Vai ver uma galinhagem mais estilosa, mas galinhagem do mesmo jeito. Inglesas, francesas, gaulesas, enfim as nacionalidades fazendo uma bonita estoria de união, enfim, todas se oferecendo, muitas já bem bêbadas. Sem problemas, em Portugal podemos beber livremente.
Deixo você descansar agora, porque amanhã é dia de comer bacalhau e tomar vinho, deixe para o último dia isto que é para ir embora com os sabores, deliciando-se. É melhor que faça isto no almoço. Se ficar no centro de Lisboa, não tenha medo, em qualquer tasca pode pedir este bacalhau. Se preferir sair do centro, vá de novo ao Parque das Nações e na passarela dos restaurantes escolha o que tem o nome Sabores do Atlântico: peça uma couvada de bacalhau, você nunca mais vai esquecer, não vou nem dizer como é; tira a surpresa e antecipa-se a degustação e eu jamais faria isto com você. Se tiver ainda com dinheiro para gastar peça um bom vinho alentejano, tem de ser alentejano. O preço realmente faz a diferença, portanto não dá para recomendar os baratos. Fique atento ás letras no rotulo VQPRD (vinho de qualidade produzido em região demarcada. Se tiver com pouco dinheiro, não tema, tome o Monte Velho, ou então o EA, pode arriscar o Periquita, vá em frente, não se acanhe. Se o dinheiro tiver sobrando experimente um Cartuxa, quanto mais velho melhor ou ainda um 100Reys. Agradeça a Deus estar aí e sinta-se um felizardo. Muito poucos fazem o que você fez até agora.
Poucos sentirão Lisboa como você acabou de fazê-lo, porque agora, depois da couvada, e depois de um digestivo, tome mesmo, a comida é pesada. Ah! Ia esquecendo, se estiver em companhia de mais 2 pessoas, peça somente uma couvada, você vai ver que dá e, talvez, até sobre, talvez mesmo.
Fique uma meia hora sentado olhando o Tejo, veja a paz e pergunte-se porque o português é tão mal humorado, não deveria, pois quem tem o Tejo tinha de ser feliz vinte e quatro horas. O Tejo, tal qual o mar da nossa Salvador, traz paz, escuta-nos, consola-nos.
Se não tem medo de perder dinheiro, ainda que pouco, não deixe de ir ao Casino de Lisboa, abre as três da tarde, mas não fique muito tempo, aquilo é uma tentação. Vá as máquinas do diamante, se tiver sorte, vai tirar os diamantes da cor rosa, 1500 euros, dá para uma boa farra. Não tente muito, constate que as máquinas são cruéis e vão te dando esperança até tirar o seu último vintém, mas vale a pena, se tudo for a titulo de brincadeira.
Pronto! Agora escolha o que quiser fazer, qualquer coisa lhe fará bem. Tome um táxi e volte ao centro, cuidado com o taxista, ele vai lhe perguntar de onde é, se tá a passear, o que faz, vai falar de Pedro Alvares Cabral, das conquistas portuguesas, do tempo que passou na guerra da África, eles são ufanistas, embora taxistas, pedreiros, encanadores, etc. São curiosos como todo bom português. Saia no Rossio e, se quiser aproveitar porque está em Lisboa, entre numa livraria, vá a um sebo, a uma loja de antiguidades.
Tem muito mais coisas, mas não dá para quem só vai passar três dias. Se ficasse mais tempo, você ainda poderia ir à feira de Carcavelos, onde a ciganada vende tudo, Luis Vouiton, Tous, Dolce Gabana, Lacoste, etc, etc. É a festa da luso cultura, aí encontramos: africanos, brasileiros e portugueses, porque eles vão mesmo. As senhoras portuguesas, que embora não admitam frequentam estas feiras e compram as falsificações como todo e qualquer vivente. No sábado, pela manhã, outra feira, a da ladra, olhe bem o nome. Se vende de tudo, de tampa de vaso sanitário quebrada até relógios finos de parede, antiguidade mesmo, livros, discos, pratos, tudo exposto no chão, ao ar livre. No domingo, outro encontro com a lusofonia, você poderia ir à feira das Galinheiras, ou então à feira do relógio: mais falsificações, mais africanos, mais ciganos, mais brasileiros, mais ucranianos, russos, etc., etc.
Seria bom, também, ver um pouco e aprender, como é ser politico e fazer política em Portugal, assistir um debate no parlamento é ter munição para muitos programas do Feio, é este mesmo o nome do humorista, e dos gatos fedorentos. Ver o Sócrates sofismar é maravilhoso. Assistir um ministro mostrar chifres para os deputados, é hilariante. Ver o séquito da Manuela Ferreira Leite é fenomenal; Aqui os políticos andam de turma, nunca se está só, mas isto parece ser universal. É bom saber, porque um deputado diz literalmente, que o parlamento não é, embora pareça, “o cabaré das coxas”!
Enfim, venha a Lisboa e viva Lisboa, lembrando que Portugal não é só Lisboa e que em muitos dos recantos portugueses há um rio, que pode não ser tão lindo e importante com o Tejo, mas como disse Fernando Pessoa, “[…] mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia, porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia”.