terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Mito ou Realidade? As minas de Gabriel Soares


Estou em casa sozinha preparando, mais uma vez a ceia do final do ano.
 Lembro-me que, no ano passado, o senhor Garcia me apareceu sem mais nem aquela exatamente nessa mesma situação. Pensei comigo mesmo: Seria tão bom se aquele velho chato me aparecesse com alguma novidade da Bahia quinhentista! Sabia, entretanto, que isto seria quase impossível, até porque, da última vez que o senhor Garcia apareceu, foi quando me disse que ia reformar o seu testamento para me colocar nele como beneficiária. Lembram que ia me dar Arembepe? Penso que ele ficou muito aborrecido com a minha reação, ou então, ele se deu por morto mesmo, e se foi para o seu lugar no infinito e aceitou a sua morte e deixou o seu espírito descansar.
Continuei nos meus afazeres, mas, de repente, um calafrio imenso, os pelos eriçados e sentindo a presença de alguém ou alguma coisa estranha na casa.
- Bons dias! 
De imediato reconheci a voz do Senhor da Torre. Fiquei excitada e ao mesmo tempo apreensiva. Certamente o senhor Garcia não tinha qualquer problema em aparecer onde quer que fosse, bastava querer, mas fiquei inclinada a perguntar-lhe como me achou.
Eu tinha me mudado de casa e já estava mesmo achando que este era um dos motivos do desparecimento do Senhor Garcia. Olhe que tem horas que me acho louca mesmo, tenho de concordar com as pessoas que me acham assim e sem qualquer vergonha verbalizam este pensamento, e é bem assim eu me sinto em relação a esta estória com o Senhor da Torre.
=Bom dia Senhor Garcia, quanto tempo?
-Diga-me lá: por que não avisaste que mudaste de direção? Estivemos em tua casa em Arembepe algumas vezes e demos com os burros n´àgua.
Sorri com a expressão, e disse: Oh senhor Garcia eu não sei como encontrá-lo, aliás, da última vez que o senhor esteve comigo, disseste-me que estava no hospital da Misericórdia. Passei lá outro dia, no dia 04 de dezembro e até fiquei inclinada a entrar.
Pelourinho
Igreja da Misericórdia
Fiquei atônita, incrédula com o que acabei de falar, então eu iria entrar na Misericórdia para ver o senhor Garcia em pleno dia de Santa Bárbara e em pleno ano de 2019? Endoidei de vez, este homem conseguia me tirar do prumo mesmo.
- E ainda estou, disse-me ele, mas, como vês, vivo.
- Felizmente , felizmente. O que tem de novo para me contar? Antes, porém, esclareça-me em que ano estamos.
-Como em que ano estamos? Estas de borla comigo?
-Claro que não, mas preciso saber para tentar me localizar, inclusive no pedaço da madeira preta.
-Estamos em 1609. 
- 1609, quem é o governador?
Extas mesmo de borla comigo, então não sabes quem é o governador?
- Diogo Siqueira
E Francisco de Souza.?
- Também, é que mais uma vez o Rei dividiu o governo do Brasil, ficando aqui na Bahia o Diogo e, no Rio de Janeiro, o Francisco de Sousa
- Francisco de Sousa? Aquele que era um aficionado por minas?
Pelourinho
-Sim, ele mesmo, sabes que ele   tanto chafurdou na Corte, que terminou por ser nomeado para Governador do Sul, governo com sede no Rio e janeiro e ainda conseguiu a promessa de receber o título de nobreza ligado às Minas.
- No Rio de Janeiro?
-Sim, por que o espanto?
Ora, se ele tinha interesse em encontrar as minas que foram identificadas por João Coelho de Sousa, irmão de Gabriel Soares de Sousa deveria ficar perto do Nordeste, especificamente aqui em Salvador da Baia, ou em Sergipe, nunca no Rio de Janeiro.
- O importante para ele era estar aqui, não importa qual o lugar, até porque, também em São Paulo há perspectiva da existência de metais, não só lá como alderredor.
Sim, e ele em encontrou tais Minas?
Neste momento o Senhor Garcia deu uma larga risada. – Não ele não encontrou.
Agora quem ria era eu, mas ria por dentro, até porque o senhor Garcia não poderia saber se o Francisco tinha ou não encontrado tais minas, afinal ele falecera em maio de 1909. Francisco havia retornado ao Brasil em janeiro daquele ano e ido para o Rio de Janeiro, e pouco era o contato de ambos, bem como as notícias. Possivelmente, o Senhor da Torre não saberia do que acontecera entre janeiro e maio de 1909 com relação às minas.
- Mas diga-me lá Senhor da Torre, quem era mesmo João Coelho de Sousa
- Já disse-lhe: era irmão de Gabriel Soares de Sousa, este eu conheci muito bem, porque era um rico dono de engenho aqui mesmo na Bahia
“Gabriel Soares de Sousa, nascido em Portugal cerca de 1540 emigrara para a Bahia no fim da década de 1560. Durante uma permanência de dezoito anos na Bahia tornara-se um bem-sucedido plantador de cana e participou do conselho municipal em 1580. Seu irmão João Coelho de Sousa, descobriu depósitos minerais no interior da capitania, morreu antes de poder explorar essa mina, mas deixou a Gabriel um mapa que lhe indicava a localização. Em 1584 Gabriel foi à Corte com uma petição para a concessão dessa e quaisquer novas descobertas. Recebeu-a em 1590, ganhando a patente de Governador e Capitão-mor da Conquista e Minas do Rio São Francisco. Regressou à Bahia com 360 homens, comandou uma expedição ao vale superior do Rio Salitre na cabeceira do São Francisco. Morreu na viagem de regresso e foi enterrado no mosteiro beneditino da Bahia sob uma lápide com a inscrição “aqui jaz um pecador” (...) (RUSSEL WOOD 1939: 55-56).[1]
Como sempre, notei que o homem não estava gostando da conversa, que girava em torno de uma obra que não era dele. Ele adorava falar de si e das suas proezas. Gostava de endeusar-se, de falar da sua Tatuapara e da defesa que esta representava para a cidade do Salvador.  Falar de uma figura importante como era o Gabriel Soares[2] era muito para ele, acontece que não dava para mudar o assunto, e quando insisti mais um pouco, ele, como sempre, deu as costas e foi-se, sem saber o que eu tinha de falar para ele sobre estas minas e  da importância que teria o seu neto Francisco Dias D´Ávila para encontra-las.  Foi bom até, porque ele não iria acreditar mesmo que Francisco chegaria a tanto, todavia ele vai saber, porque eu tenho certeza que o Senhor Garcia, morrendo ou não efetivamente em maio de 1609, não deixará de aparecer para mim e eu terei a oportunidade de contar-lhe tudo o que o seu neto representou para a nossa Bahia, perenizando o nome dos GARCIA D´ÁVILA.[3]. 







[1] RUSSELL-WOOD, A.J.R. Fidalgos e Filantropos. A Santa Casa de Misericórdia da Bahia, 1550-1755(trad. De Sergio Duarte, Brasília, Editora Universidade de Brasília, 1981, Coleção Temas Brasileiros, 20.
[2] Gabriel Soares de Sousa escreveu o Tratado Descriptivo do Brasil, (1587) uma das grandes fontes para o conhecimento da Bahia Colonial, pode ser encontrado na Biblioteca Digital do Senado Federal.
[3]  Ver.  O feudo: a Casa da Torre de Garcia d'Ávila: da conquista dos sertões à independência do Brasil. Bandeira, Luiz Alberto Moniz. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira 2000: 

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

E" Espanha" sacaneando até em sonho


Hoje, dia 20 de dezembro, talvez pela proximidade do aniversário dele, sonhei com meu pai; um sonho estranho, diferente, para as bandas do esquisito.
 Estava eu em um lugar diferente dos que conheço ou costumo estar, com certeza um centro comunitário, um salão de um clube, uma sala de reuniões: não sei mesmo o que era: móveis antigos decoravam o local, que tinha uma mesa bem grande. O ambiente era escuro, havia alguma tonalidade de vermelho naquele ambiente, mas não consigo identificar o motivo, talvez as cortinas de um veludo muito pesado e escuro, fazia com que o ambiente ganhasse aquela tonalidade.
 Bom, estávamos eu, um senhor que identifiquei como sendo o José Russo e uma senhora, mais para jovem de que para senhora mesmo. A moça estava com uma espécie de agenda preta na mão. Ela abre a agenda e me pareceu que havia na capa daquela agenda preta, na aba lateral da direta, um auto falante, aquele negócio que parece uma tela cheia de furinhos por onde sai o som. O tamanho deste aparelhinho que era colado na aba lateral da agenda era o mesmo da própria agenda.  A senhora liga o dispositivo e entra a voz de uma mulher, que falava espanhol com o mesmo sotaque do meu pai(galego) acentuando os “x” e os “se”. Era como se fosse uma rádio comunitária, na qual se dava in formações de uma comunidade específica.
Em dado momento a voz fala: Lamentamos informar o falecimento de um galego que trabalhava na padaria Nova Paris, ali, pelos lados do Taboão e Pelourinho. De imediato identifiquei que estavam falando de meu pai. Comecei a me emocionar muito, porque a voz continuava falando dele, e, de repente alguém diz: ele vai falar, e ouço em alto e bom som a voz de meu pai, agradecendo, pasmem!  Àqueles que foram ao enterro dele. Choro muito, me emocionei bastante, e ouço Jose Carlos dizer-me: “Eu não queria que lhe mostrassem isto, sabia como ias ficar”.  Sim me emociono muito e senhora desliga o que   chamo de rádio, e vai para uma outra ala da sala, era como se fosse uma janela grande separando a sala de um outro espaço. Ela começa a passar roupa, acho eu, e eu me dirijo até ela e pergunto: O que significa tudo isto? O que vocês estão querendo? O que está acontecendo?  E ela sem parar o que estava fazendo, diz que ela tem dois irmãos, o Dartanhazinho e o Amazoninhas. Acho estranhos os dois nomes, mas deixo ela continuar, até porque não conseguia entender muito bem o motivo de tudo aquilo. Bem eles são filhos de uma negra, minha mãe e por isso mesmo ficamos todos calados até agora, mas não posso continuar com este silêncio. Os dois são filhos do Espanha, um tem 25 anos e o outro 20. Fico atônita.
Quando meu pai faleceu, salvo engano, o meu filho tinha seis anos, hoje ele tem 45, assim estas pessoas não poderiam ser meus irmãos de maneira alguma, a não ser que o Espanha fez filho no plano espiritual
A mulher olha para mim com uma cara de bicho, eu dou as costas e saio com o Senhor José Carlos me acompanhando.
De repente ´estou em outro ambiente, embora no mesmo prédio, onde há duas moças que estão sentadas no chão, em cima de um tapete e trabalham com alguma coisa. Vou em direção a elas e vejo que elas trabalham com coisas bem pequeninas.
Pergunto que tipo de coisa era aquela: vejo panelinhas pequeninas, frigideiras, etc., etc., tudo em um material que me parecia de alumínio. Viro-me para uma delas e pergunto o que ela faz, ela diz que é doutora em manquitaria. Mquiteria! O que é isto? É esta arte, a de trabalhar com este material e produzir miniaturas.
Enquanto falo com uma das moças, a outra levanta e volta trazendo uma caixinha retangular cheia de forminhas que ficavam arrumadíssimas dentro da caixa. Ela me diz que faz todas aquelas miniaturas a partir daquelas forminhas e do material que está em outra caixa.
Fico fascinada por aquilo e pergunto se elas dão curso daquilo, aliás digo-lhes que sempre quis fazer aquele tipo de trabalho.
Uma delas, que primeiro me mostrou as pecinhas me diz que ela pode dar o curso, mas que é muito difícil e demorado.
Digo-lhe que não há problema e que quero e vou fazê-lo.
Acordo, fico     querendo decifrar este sonho, que começa com meu pai e termina com uma possibilidade de adquirir mais um conhecimento, ou para alguns, uma habilidade a desenvolver.
Como sempre, meu pai pregando mais uma peça, como era de seu costume, adorava sacanear os outros, e, quase, mesmo em sonho, conseguiu em relação a mim, pois imagine, a esta altura do campeonato, saber que meu pai teve ou tinha mais dois filhos. Eh Espanha, não precisava me pregar esta peça para me lembrar, do que não esqueço, que o seu aniversario  hoje, dia em que escrevo este texto, que não e o mesmo do dia do sonho, e também para me dizer que você sabe de tudo o que está acontecendo por aqui, o meu acompanhante  na jornada do sonho prova isto. Por outro lado, também entendi a mensagem, o seu agradecimento, e pedi a sua filha Letícia que encomende uma missa na Igreja em que o senhor casou -se com Dona Yvone, que deve estar aí ao seu lado, rindo da peça que você tentou me pregar. Sejam felizes e saibam que lembramos de vocês, sempre. Aqui todos bem, na medida do possível, família crescendo Um beijão.  


terça-feira, 26 de novembro de 2019

O TEMPO NÃO PARA



Acabo de perder o começo do texto que estava escrevendo, certamente não será reproduzido, não vou lembrar dele todo como estava, mas o fato é que estava falando que acordei muito cedo e que, ao desligar o ar condicionado, ouvia o barulho de água caindo, ao puxar  a cortina  da janela via a chuva caindo forte mesmo, o que me impedia de dar a minha caminhada matinal, foi onde parei e agora tentar continuar com o que comecei.
Não sei se estou alegre ou triste. Se, por um lado, tenho a alegria de olhar através da janela e ver a rede, as minhas plantas, a minha pequena pimenteira, que mais parece uma árvore de natal em miniatura, porque ela está salpicada de frutinhas vermelhas e verdes, tão pequenina e já produzindo tanto. Gosto efetivamente disto, de olhar pela janela a vida acontecendo, por outro lado, entretanto, fico triste, porque, ao contrário do que dizem da velhice, que ela traz muita paz e muita compreensão, resignação, sei lá mais o que, eu não  consigo alcançar este nirvana, aliás, penso que tudo isto é muito falso. Agora tenho mais pressa de que antes, quero fazer muita coisa que ainda estão por fazer, e que tenho receio de que o tempo seja muito curto para executar os meus planos.    
O tempo passa depressa, ele só não acaba com a minhas dívidas kkkkk, que parecem se reproduzir com o passar do tempo, até por causa disto tenho pressa, se nada acontecer daqui para frente não sei bem o que fazer. A chuva engrossa lá fora, a pimenteirazinha balança, a chuva forte faz com que as folhas e os frutos balancem. O balançar dos frutos faz um reflexo que efetivamente me lembra as bolas natalinas nas árvores de natal.
Volto ao meu raciocínio, entretanto, não quero me dispersar. ‘Quero acabar a série de Garcia D´Ávila, quero publicar ao menos um livro desta série. Acho que vou escrever história conversando com o Senhor da Torre até o dia da minha morte, e enquanto a artrose não tomar conta dos meus dedos. Vejo que, apesar de estar muito próxima do desfecho do senhor Garcia, pois estava fazendo um texto que se reportava a 1609, ano da morte dele, ele jamais irá desaparecer, porque ele agora é eterno. Espíritos são imortais, daí posso   falar com ele até a minha morte física, porque ainda tenho a possibilidade de, na eternidade encontra-lo e, quem sabe, reencarnada em alguma escritora-historiadora, eternize a mim e a ele. Pretensão da porra! Entretanto, a tenho.
Sim, tenho pressa: quero aprender a usar a overlock, presente de Carlos, possivelmente para me deixar ocupada 24 horas,e fazer inúmeras roupas, mesmo que seja para não usá-las, porque não terei tempo, mas posso doa-las a alguém  além de me exibir,kkkkkkkkkkk, pois recebo muitos elogios, acho que gosto disto, embora 50 por cento do sucesso seja de Dora, a minha pró e dos estampados das roupas.   
Acreditem se quiserem, queria muito, ou melhor quero, fazer com que as pessoas gostem de história e adorem o conhecimento. Como é fantástico conhecer, saber! Apesar de saber que nada sei, como disse Sócrates, o conhecer nunca é demais, e, ainda que  alguns achem que é bobagem o que faço  com relação a História da Bahia, vou continuar  escrevendo e tentando que as pessoas  saibam  do que  possivelmente aconteceu na nossa Bahia colonial, tão esquecida pelos livros de história(os da escola- didáticos)  É uma história que não se aprende na escola, nem mesmo quem, como eu, fez a licenciatura em história toma conhecimento de alguns fatos, personagens relevantes para o conhecimento e entendimento do nosso passado.  Não dá tempo, no curso, aprender tantos detalhes que passam desapercebidos.
Preciso, pois de tempo, e ele passa rápido. Quero ajudar, fazer o bem.  Sou bem materialista e sempre  a estar dando alguma coisa a alguém(dinheiro) bens materiais, mas já descobri que não é só isto, aliás, descobri não: sei, entretanto, para poder fazer este tipo de bem, o espiritual,  tenho de me preparar mais, tenho de me conhecer mais para poder conhecer o outro. Por enquanto fico  triste, porque vejo a necessidade material do outro e nada posso fazer, já fiz tanto que entrei numa barafunda financeira da porra, mas continuo  me afundando mais, porque as vezes uma casa pode cair, uma pessoa pode morrer de fome, outra pode ter um infarto, por falta de bem material que eu, podendo ou não, tenho mais condições de arrumar, ainda que me endividando; e, quando penso nisto, aí é que vejo que preciso de correr mais, de arrumar alguma maneira  de aumentar a minha renda. Se é para dividir mais, não tem problema, o que não quero é deixar nada para ninguém pagar. (Fábio),kkkkkk, se eu deixar sei que ele vai ficar muito puto.
A chuva continua, não posso fazer a minha caminhada matinal. A falta desta caminhada, com certeza, vai me fazer mal, o meu corpo está tão acostumado que ele passará todo o dia me cobrando este exercício. Penso: hoje não vou ver as minhas amigas domésticas: ah como é bom dar um bom dia para elas e vê-las sorrir. Sim, é muito bom. Será que isto é ajudar alguém?  Deve ser, porque elas realmente abrem um belo sorriso ao responder o bom dia. Acreditem, passei alguns dias viajando e uma delas, a que mais demonstra o prazer de falar comigo, me   disse: “estava sentindo a sua falta, o que aconteceu?   Descobri que faço falta, que aquele meu bom dia é importante para elas.
Há também o lixeiro, acho ele muito preguiçoso, pois sempre está sentado com a picaretinha na mão, certamente sempre avaliando o trabalho que vai ter durante todo o dia. Olho para ele todos os dias da mesma  maneira, mas não posso deixar de pensar na preguiça, que eu também teria para executar aquela tarefa, pois quando vejo a quantidade de folhas no chão, a quantidade de mato que enraíza pelos paralelepípedos da rua e que tem de ser retirados, ah sim: teria mesmo preguiça!
A chuva aumenta mais, a pimenteirinha continua a balançar, mas ela é forte e não vai acontecer nada, quando a chuva passar ela vai estar mais bonita, mais viçosa, o que adoraria que acontecesse comigo, mas o tempo é impiedoso, se ele serve para permitir as nossas realizações, também serve para cobrar  um pedágio alto pela sua passagem e como parece que não paguei em dia  tal pedágio, impiedosamente ele se mostra, nos olhos, nos dentes, nas juntas, mas eu sigo tentando  aprender a fazer o bem, a dividir conhecimento, a tentar ajudar as pessoas, conservando sempre a minha autenticidade e ouvindo Cazuza para perceber e aceitar que o TEMPO NÃO PARA.                    

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

A herdeira de Garcia D'Ávila



Parece brincadeira; uma semana após  publicar o texto falando sobre a ausência e a possível morte definitiva do Senhor Garcia,  estou sozinha aqui em casa e  ouço algumas batidas fortes na porta; me aborreço porque a porra da porta tem campainha, e não posso entender  por que não  a acionam ao invés de bater na porta naquela violência.
Saio da sala apressada para ver quem era. Abro a porta tão violentamente quanto as batidas que lhe deram.Acreditem: ninguém, nadica de nada, nem um pé de gente, nem um carro, nem cavalo.
Cavalo! Já sei, disse para mim mesmo,  é o Senhor Garcia, entretanto, logo o pensamento passa, porque ele não se daria ao luxo de bater na porta, apenas entraria e pronto.
Volto irritada para dentro, e o susto foi grande.  Estavam sentados no sofá:  o Senhor Garcia, um outro senhor, que identifiquei como sendo o núncio do outro dia, e um menino feio como todos os meninos feios que existem.
O Senhor Garcia deu a maior gargalhada quando viu a minha reação. Eu estava mesmo apavorada, então o desgraçado estava ali se sentando com mais duas pessoas e eu não vira passar por mim. Desta vez não tive qualquer reação física. Todas as vezes que o senhor Garcia aparecia eu ficava arrepiada, trêmula, na verdade: com medo, mas, desta vez, eu não sentira nada e ele estava ali, sentadinho. Só me assustei bastante.
- Por que não fostes ao hospital[1] como pedi?
- Senhor Garcia, o senhor não iria entender o motivo, mas não foi possível sair daqui:  a viagem, como o senhor sabe, é longa, eu não tenho cavalo, etc. Parei de falar, porque me dei conta que estava falando e justificando como se estivesse no tempo dele. Disse para mim mesmo: “estás ficando maluca mulher, tu nem andas a cavalo kkkkkkkk!”
- Não sabes o esforço que estou a fazer para estar aqui. Sinto que estou a morrer e preciso ter forças para modificar o testamento que fiz anteriormente  beneficiando  aos padres do São Bento, eles não me deixaram em paz, tive de sair da minha  casa e ir para o hospital[2] para ver se eles me deixavam mais tranquilo, mas,  agora tenho de refazer o testamento  e,  como quero deixar-te algo, precisas dar-me o teu nome completo, e outras informações que possam identificar-te com facilidade. 
Trouxe o meu amigo para testemunhar isto. Este menino é meu Este é meu neto, Francisco, ele é que será o herdeiro de tudo o quanto construí, este filho da mãe, feio como todos os feios, que parece ter sido cagado ao invés de parido, mas não tenho outro herdeiro, portanto, ele é que, de mão beijada, vai receber tudo, entretanto, quero dar-te algo.
-Oh seu Garcia deixa isto de lado! Não vos preocupeis com isto.
- Todavia eu quero, portanto....
Neste exato momento me transportei para Lisboa, e me vi questionando o “portanto” dos portugueses. Eles falam, falam falam, e no final dizem: portanto, e eu fico a esperar a complementação, que nunca vem. O portanto, pois, é justificado antes, eu digo tudo o que quero e depois falo, portanto, kkkkk, é uma maneira bem engraçada de finalizar uma oratória., todavia, eu achava que isto era uma coisa mais moderna, e vem ali o senhor Garcia a me dizer exatamente a  palavra ”portanto”, mas com uma finalização mesmo:  vais ser  minha “herdeira”,  porque quero, portanto.... (ou seja) não há mais questionamentos e pronto, é o que quero.
Fiquei imaginando o que o senhor Garcia poderia deixar para mim.
Quase lendo o meu pensamento, ele disse-me:
- Deixar-te-ei este local em que vives.
Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk . Como é que é Senhor Garcia, vai deixar-me a minha própria casa?
- Sim, para que não venhas a ter problemas. Construístes ilegalmente nas minhas terras, todos sabem que estas terras são minhas, e para que os demais herdeiros não te possam tirar-te daqui, vou deixar-te estas terras
Eu não conseguia parar de rir mesmo, então vou ter direito ao que já é meu. Puta merda, o homem era doido mesmo, e eu mais de que ele que ainda lhe dava ouvidos.
-Senhor Garcia o que significa estas terras, além desta casa?
- Tudo, de Arembepe até a margem direita do Jacuípe.
Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk, realmente não pude conter o riso. Pensei nos Figueredo, donos de muitas terras em Arembepe, nas minhas vizinhas laterais, Solange e Eliana, nos vizinhos do fundo, nos da frente, no Mar Aberto, em Colo, em Vu, em Duinha, Chris:. Kkkkk, tudo meu. Eu iria despejar todos das minhas terras.  A aldeia dos hippies, hoje tombada, enfim tudo em Arembepe agora, por vontade do Senhor Garcia, era meu. Eu que tive tanto trabalho para conseguir escriturar minha casa. Hilário mesmo!
Então   vi que o Senhor Garcia começou a ficar muito vermelho e muito aborrecido com a minha risada, e sem mais delongas levantou-se e saiu, deixando-me, mais uma vez, abruptamente e com a certeza de que ele não voltaria mais nunca. Ele ia morrer mesmo de uma vez e pronto, e eu ficaria sem as novidades, ou melhor, eu já não poderia conversar com ele, agora na minha vez de contar-lhe os acontecimentos “post mortem”.

BIBLIOGRAFIA
CALMON, Pedro.  História da Casa da Torre. Uma Dinastia de Pioneiros. Salvador, Fundação Cultural do Estado da Bahia, 3ª. Ed. 1983
MONIZ BANDEIRA, Luiz Alberto, O Feudo – A Casa da Torre de Garcia D’Ávila, da Conquista dos Sertões à Independência do Brasil.  RJ, 19ª ed   2000 (recurso eletrônico) acesso em 25.10,2019
RUSSEL -WOOD, A.J.R, Fidalgos e Filantropos. A Santa Casa de Misericórdia da Bahia, 1550-1755. Trad.  Sergio Duarte, Brasília, Editora Universidade de Brasília, 1981  



[1][1] A Santa Casa de Misericórdia foi fundada em Lisboa em 1498 e a “filial da Bahia era a mais importante do Brasil colonial (....)  A irmandade. Recrutava os seus membros dentre cidadãos eloquentes, fossem os aristocratas da terra, comerciantes ou artesãos proeminentes. RUSSEL-WOOD (1981:XIV-XV).  A Casa de Misericórdia de Lisboa em 1516 editou o Compromisso de Lisboa finalidades, espirituais e corporais, dentre os corporais estavam: resgatar cativos e visitar prisioneiros: tratar dos doentes; vestir os nus; alimentar famintos, dar de beber aos sedentos; abrigar os viajantes e pobres;  sepultar os mortos.(RUSSEL WOOD, 1981: 14-15). Obviamente o Senhor Garcia era membro da Santa Casa de Misericórdia, por seu um homem bom da cidade, rico, grande proprietário e poderia estar, como esteve internado na Instituição onde faleceu.   
[2] Segundo os autores que escreveram sobre Garcia D’Ávila, a exemplo de Pedro Calmon, Bandeira, dentre outros, Garcia D`Ávila foi tão incomodado pelos padres do São Bento, que para se livrar deste assédio foi para a Santa Casa de Misericórdia. “Envelhecera o grande lidador. Roçava os noventa anos, quando, importunado pelos frades bentos que queriam lhes deixasse parte dos bens, fugiu para a hospedaria do hospital da Misericórdia, e aí, a 18 de maio de 1609, ditou o testamento a Francisco de Oliveira, servindo de testemunhas o desembargador Baltazar Ferraz, o licenciado Gonçalo Homem de Almeida, irmão do lente de Coimbra, o cristão novo Antônio Homem, queimado pela Inquisição em 1624, o tabelião, ancestral( quem isso imaginaria na primeira década do século XVII!). da Casa que ombreará, em ambição e poder, com a Casa da Torre” (1983:34).   “Os monges que receberam de Catarina Álvares a doação da ermida de Nossa Senhora da Graça, bem como de uma vasta área ao redor e eram grandes proprietários de grandes extensões de terra na zona do rio Jaguaribe, nas imediações de Santo Amaro de Ipitanga e Itapoá, passaram, entretanto, a submeter Garcia D’Ávila já bastante enfermo nos últimos anos de sua vida, a crescente pressões a fim de força-lo a fazer mais  doações ao Mosteiro de São Bento (...) E o cerco dos beneditinos chegou a tal ponto que o poderoso Garcia D’Ávila, sentindo-se por eles coagido e impedido de dispor livremente dos seus bens, teve de ir “fugindo” de casa para  o hospital da Santa Casa de Misericórdia, a fim de que pudesse agir conforme sua consciência mandava. A indignação contra tal procedimento ele não escondeu. Manifestou-a, reiteradas vezes, ao ditar em 18 de maio de 1609 seu testamento(...) (2000:96-197)

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Psicografando! Será?

Monsarraz - Alentejo Pt.

Era muito estranho, desde a última vez em que o Núncio do senhor Garcia esteve aqui em casa, não mais tive qualquer notícia dele. Ficava me perguntando: Será que ele morreu de uma vez? Sim, porque ele  no tempo certo, e segundo a historia oficial, o senhor Garcia falecera no mês de maio; assim, como o Núncio aqui esteve em maio, me dizendo que o senhor Garcia queria falar comigo lá no hospital da Santa Casa,  penso eu definitivamente ele se foi e que  não mais vai aparecer.
Também, se apareceu não conseguiu me encontrar, estive viajando por quase um mês inteiro, e ele com exceção de só uma vez no trem em Lisboa indo para Cascais, ele só me aparecia lá m casa em Arembepe.
Em Portugal pensei muitas vezes nele, mas nada aconteceu. Um dia indo para a casa da Vera lá em Oeiras, vi uma loja com um anuncio de leitura de TARÔ. Me interessei e entrei na loja, e marquei a consulta com a taralóga para o dia seguinte; No dia  da consulta cheguei e lá havia uma senhora bem bonita, não sei porque, não entendo bem, estava ela toda de preto,  vestia uma roupa que eu não conseguia definir muito bem, parecia uma dama antiga  vestindo preto, um odelo de roupa de pessoas de outro século, no de saraus, de castelos, enfim, a mulher era bem diferente.
Pediu-me que dissesse a minha data de nascimento e a hora do meu nascimento, disse-lhe, daí ela já me falou uma série de coisas, inclusive que eu tinha uma mediunidade extraordinária e que eu tinha capacidade de cura pelas mãos.  Como é a quarta ou quinta vez que ouço isto, penso que daqui para frente vou tentar desenvolver isto. Entretanto, isto não foi o interessante da minha consulta.  Ela continuou e acabou de me dizer algumas coisas que via nas cartas, umas boas e outras más, e perguntou-me se eu queria saber alguma coisa especifica: falei-lhe que queria publicar um livro, e seu eu conseguir isto.
Antes de abrir o baralho ela me perguntou sobre o que seria o livro que eu queria publicar.  Falei que era sobre a história da Bahia no período colonial, bem lá nos primórdios do descobrimento e colonização.  Também falei mais ou menos como seria a metodologia que iria aplicar.  Dito isto ela jogou as cartas e me disse claramente: “sim você vai publicar o livro, mas quem será o autor?”  Obviamente que serei eu, respondi.  Aí ela argumentou: “Você!!!!! E o espirito que lhe informa  os fatos, os acontecimentos?”  Fiquei olhando para a mulher, devo ter feito uma cara completamente idiota, porque ela  falou:  “Se estás a psicografar O autor do livro é o espirito e não você”.
Minha cara deve ter piorado mais ainda: “Que espirito o que?  Ninguém me aparece não, eu criei este personagem(espiritual) embora ele realmente tivesse existido e sido tão importante na história da Bahia, mas nunca o vi, e os fatos que narro são frutos de pesquisa minuciosa, leituras, etc.”.
E ela insiste: “Estás enganada,  este homem sobre o qual escreve, é que lhe conta  a sua própria história, e portanto você é somente um conduto, um elo de ligação dele, entre o mundo dos espíritos  e a terra.”
Não pude deixar de rir, estava achando aquilo bem engraçado. Então eu faço força e o Senhor Garcia acha bonito. Imaginei a cara dele rindo de mim, e me provando que ele era o poderoso mesmo, mas eu tinha a certeza absoluta que a taróloga  entrou numa wiber  que  eu não entendia, ou não queria entender, até porque aquilo não era mesmo verdade.  O Senhor Garcia, apesar de um personagem que eu não posso dizer fictício, tivesse existido mesmo, eu não   me vejo vendo-o em sua forma etérea e a ouvir ele descrevendo os fatos.

Com a afirmação de que conseguiria publicar o livro, com grandes novidades que provocariam polemicas, pois  eu falaria de coisas que o Senhor Garcia sabia, e só ele sabia, e nada disso poderia ser comprovado através de documentos, o que significaria uma série de questionamentos e poucas respostas para eles, deixei o local  e saí  ladeira acima, voltando para casa da  Vera e pensando  em tudo aquilo que ouvira.
A esta altura eu já estava mesmo querendo que, o que a mulher falou, se tornasse realidade.  Já pensou eu falar diretamente com o senhor Garcia e ter informações de, minimamente, sessenta e poucos anos de história da Bahia, e não só dela? Saber de fatos e acontecimentos   que somente eu, euzinha, saberia, contados pelo próprio senhor da Torre.  Ah! Seria bom demais!
Voltei de Portugal e estou aqui, mas nada acontece, o Senhor Garcia não aparece, e acho que não vai mais aparecer, MORREU, literalmente morreu e levou o seu espirito que vagava  por suas  terras e invadindo o que ele achava ser ainda seu, a exemplo da minha casa, onde ele chegava sem qualquer cerimônia.
Estava realmente com saudade de exercitar a minha imaginação e conversar mais com o Senhor da Torre, mas parece que não vai ser ainda hoje, vou ter de aguardar às ordens do dito senhor, ou então, ir em alguma sessão espírita para ver se o trago de volta.
            

terça-feira, 20 de agosto de 2019

Muito cristalino





Acordei, tudo claro, mas a claridade era muito diferente, um claro muito alvo. As paredes brancas pareciam querer sair do lugar, pareciam ter movimento. O branco delas parecia iluminado. Estranhei aquela claridade, pois não é que todas as manhãs  a rotina era igualzinha: saia do quarto, ia até o fundo da casa, pegava a roupa da andada, vestia a roupa, vinha calçar o tênis, fazia o alongamento fajuto e lá me ia caminhar, sem nunca ter notado este brilho, esta iluminação, este branco tão branco.
Na caminhada, me parecia que o verde das folhas das árvores era mais verde, o azul do céu mais azul, as cores todas que se mostravam eram mais nítidas. E as pessoas: Ah as pessoas! estas pareciam que estavam   coradas, a pele viçosa, os dentes mais brancos. Até o homem de cor foveira que levava o seu cachorro lindo, sim o cachorro era lindo, todo branco como tudo que é branco, de uma luminosidade sem precedentes, parecia que tinha passado algum tipo de óleo no corpo, porque ele também brilhava.
Pensei comigo: será que sonhei com alguma coisa boa? Tive sexo esta noite? Sorri deste pensamento, pois sexo para mim já virou artigo de primeira, não é acessível kkkkkk. Bom se não sonhei com nada bom, se não tive sexo; por que esta visão tão fantástica de tudo e todos?
Não conseguia responder a estas perguntas, e fui tentando fazer um exercício de memória: O que fiz nestes últimos dias? Quais as notícias boas que tive nessa última semana? Quem eu encontrei? Ia tentando lembrar-me de tudo, pois realmente queria uma justificativa para tanta luz, tanta claridade, tanto brilho. Eu realmente estava impressionada com tanta nitidez das coisas, dos bichos, das pessoas.
Pensei e repensei, mas não encontrava mesmo uma resposta para isto. Dei as minhas cinco costumeiras voltas, cumprimentando as minhas amigas domésticas, que como eu, acordam cedo para chegarem ao trabalho a tempo de servir o café da manhã dos patrões. Bem verdade que não faço isto, até porque o patrão daqui toma o seu iogurte e come a banana, quando muito, e, aliás, eu não tenho mesmo nenhuma vontade de fazer nada para ninguém, quanto pior pela manhã.
Vi a negona: a ela parecia mais negona hoje. Fiquei olhando para a pele daquela mulher, feia como todas as feias, não porque era negra, mas porque ela era feia mesmo, Vi com mais nitidez as pernas tortas, o beiço grande, o nariz esparrachado no meio da cara, Tudo isto emoldurado por um cabelo  destes que você emenda no seu próprio e fica aquela cabeleira enorme, mas que você percebe nitidamente que  não é natural. Recordei do dia em que a negona, ainda não tão nítida, mas sem poder esconder a sua feiura, falou comigo com a voz tenebrosa que tem: a miséria fala alto  demais, ouço tudo que ela fala no telefone quando está sentada na cadeira sem uma perna lá na porta da maloca onde ela reside. Ah tenho que dizer que ela é segurança e que trabalha à noite: quando esta é a razão de encontrá-la todas as manhãs, quando está chegando do trabalho.  Pois bem, a negona vira para mim um certo dia e me diz algo referente à idade, dizendo que “que a gente (eu e ela) não nos trocamos por nenhuma dessas meninas”. Dei risada para cacete.  E ela continuava a falar, “eu, com 45 não me troco mesmo por nenhuma menina desta”, eu só fazia rir e então lhe disse: Venha cá, quantos anos você acha que tenho? Relutante ela disse: uns cinquenta e cinco!  Ri mais ainda, e quando falei em 65 anos, a negona disse que não acreditava de maneira alguma, e se eu tivesse mesmo esta idade, ela queria chegar nela assim como eu. Não parei de rir hora nenhuma depois desta conversa, pois não podia imaginar aquela senhora com a minha idade. A mulher já era toda desengonçada aos 45, imagina com mais vinte anos nas costas?  Continuei rindo muito ao lembrar disto, e então vi uma outra amiga que com um riso lindo me do bom dia todos as manhãs. Sempre achei que ela tinha uma barriga enorme para o tamanho dela, mas hoje, especialmente hoje, me pareceu que a barriga era maior do que a de antes, uma bola toda fortinha, mas uma bola grande, o que de nenhum maneira apagou  ou apaga o belo sorriso e a felicidade do bom dia daquela moça desconhecida que me brinda com o seu sorriso todas as manhãs.
Bom, continuei andando e já na última volta, continuo me questionando de qual o motivo de tudo aquilo? Passei a mão no rosto, sabia que não estava de óculos, pois não vou andar de óculos, e, nesta passada de mão no rosto foi que lembrei: o motivo de tanta nitidez, abestada, é a operação de catarata que você fez.
Acreditem, é real, e olhe que eu só fiz em um olho, estou esperando grana para fazer o outro: a claridade, a nitidez, a iluminação são completamente diferentes. Sorri, fui para casa e já me acostumei com esta claridade e nitidez, que eu achava que vinha da alma, mas que era apenas o cristalino do meu olho  direito que voltou a ter as suas funções normais; mas bem que eu gostaria que outros fossem os motivos: talvez um dia, quem sabe!.   

terça-feira, 18 de junho de 2019

Emoção igual -Mais uma vez de volta


Estou excitadíssima, o dia da viagem está chegando e eu já não sei controlar a minha ansiedade, misto dela com emoção. Depois de mais de um ano estou voltando à Portugal. É simplesmente fantástico. Estou idealizando cada passo. A Vera hoje mora em Oeiras e, por isto, tenho o privilégio de pegar o Comboio que sempre me levou a Cascais, antes entrava trava no comboio pelo simples prazer de ir de Lisboa a Cascais pela linha, como eles chamam o caminho de ferro que liga as duas cidades. Agora, obrigatoriamente, para chegar em casa, tenho de fazê-lo, mas o faço com um prazer enorme. Alie-se a isto a possibilidade de ver o Alentejo, Sinto até frio na espinha, dá um arrepio danado.
Casa do Alentejo -Lisboa
Primeiro de tudo é chegar na estação do Cais do Sodré, tomar umas imperiais ali em um dos quiosques ou um bar. Pena que o antigo restaurante fechou, ali onde eu conheci uma senhora português, que, apesar dos seus setenta e lá vai anos, ainda era uma garçonete, ou melhor, uma empregada de mesa.  Gostava de ver aquela senhora a andar pelas mesas servindo um e outro. Não entendia direito porque naquela idade ainda o fazia, mas acredito que depois de tanto tempo ali na lida, ela não tinha muito o que fazer em casa. A velhota foi com os meus cornos, aliás, no dia em que conseguiu falar comigo, olhe que ela tentava, disse-me: Que ficava olhando para mim ali sozinha, tomando meus whiskies, pagando a minha conta, e saindo para voltar no outro dia.
Torre de Belem
Uma vez disse-me que me admirava porque eu era uma brasileira diferente. Segundo ela dificilmente uma brasileira estaria ali sozinha e pagava as suas próprias contas. Não entrei em muitos detalhes, não ia dar corda para ela falar mal de brasileira, mas, dali em diante, ela parecia que me esperava. Se passasse alguns dias sem lá ir, muitas perguntas: A menina está bem? Aconteceu alguma coisa?
Sim, tenho saudades disto e de tantas outras coisas. Do português bigodudo, que tinha olhar do homem do fado da Amália, era engraçado, todas as vezes que o encontrava vinha-me à cabeça a figura do fadista da Amália Rodrigues. Ah como lembro-me da Mouraria!  não somente por causa do fado, mas porque ali vivi momentos intensos de felicidade. Vi a reinauguração da praça Martim Moniz ao lado do meu querido alentejano. Quantas e quantas vezes atravessei aquela praça: inúmeras.  Como era bom entrar na Rua da Palma, talvez procurando exatamente o fadista  da Amália, mas, se nunca o encontrei, a Rua me presenteou com uma outra figura, esta  mais real e palpável, que entrou no meu coração e nele se grudou e parece-me que para sempre, porque por mais que a distância seja oceânica, o mar não consegue apagar tantas lembranças, tantas coisas boas vividas com tanta intensidade.
Praça Martim Moniz
Élvas

Ah Nossa Senhora da Saúde! A igrejinha pequenina ponto de referência para tantos encontros e tantas observações. No ano passado quando lá estive, tomei tanto vinho ouvindo a Raquel, salvo engano, Tavares, cantando Roberto Carlos, que já sai grogue dali, ainda fui para o Zé da Mouraria. É verdade que não comi o bacalhau, já não tinha mais, a Vera esqueceu de fazer a reserva esclarecendo que queríamos o bacalhau, mas, ainda assim, provei do dito cujo, pois diante de tantas queixas e de tantos pedidos ao  empregado de mesa para me dar alguma sobre de algum prato, acreditem que foi verdade, um gentil e alegre brasileiro que estava ao meu lado, deu-me um porção do dele. Agradeci imenso,
Pois é, lembro-me de tantas coisas que aconteceram em Portugal: Uma vez estava eu passando pela frente da estação de ferro do cais do Sodré e a florista disse: “pois não é que a puta está linda hoje”. Primeiro achei estranho que aquele comentário fosse feito sobre mim e para mim, mas foi sim, não havia qualquer pessoa(mulher) passando à frente da florista. Estava eu toda de azul, e o azul cai-me bem, sei disso. Só não sabia que a mulher me observava e que achava que eu era “puta”, mas vá lá: valeu o elogio, kkkkkk.
De outra feita, recordo-me que andava pela serra de Carnaxide, onde a Vera morava na época e eu também ,pois morava com ela, e um carro parou; eu, solicita, porque sempre que estava ali a caminhar(exercício) dava informações sobre o Hospital Santa Maria, parei e esperei ao homem abrir o vidro do carro, pois não é que o desgraçado perguntou-me – “Estas a serviço?. Puta merda! Quando, em alguns segundos a ficha caiu, quase viro mesmo uma rameira: mandei o homem a porra e outros impropérios mais. Acreditem que foi verdade mesmo.
Mais as coisas não pararam por aí. Uma vez tomei um taxi, e não sei porque  a conversa com o taxista chegou a um ponto em que eu falei algo, tipo: “Não, eu já passei da idade de fazer muitas coisas, acho que o senhor estava a falar em festas, procurando uma maneira de me dizer alguma piada, com certeza, E o sacana me vem com esta: “ Que velha o que, a menina ainda dá muitas voltas”.  Não sei bem o que ele quis dizer com as “muitas voltas            , mas certamente significava alguma sacanagem.
Sim, mas estou mesmo com saudades, muitas, mesmo sabendo da curiosidade dos lusitanos e do que eles pensam a respeito das brasileiras.  Eu tirei de letra, mas é muito chato, entretanto isto não retira e nem arrefece a minha paixão por esse país, cheio de lugares, lugarejos, lugarezinhos, onde você entra e sai pela mesma rua onde entrou. Todos lhe reservando uma surpresa, uma emoção diferente.
Coimbra
Grandes cidades como Braga, Coimbra, Guimarães, Viana do Castelo, somente depois que comecei a estudar Garcia D’Ávila e em consequência a história da Bahia, vim entender a minha atração por Viana do Castelo. Pois não é que o Caramuru era de lá? Aliás, tantos e tantos portugueses que para cá vieram, e não só para cá, quanto para África, Índia, alhures, saiam de Viana, não porque de lá fossem, mas porque era um centro de navegação, onde se aprendia a navegar, continuam a fazer navios por lá.
Agora quero ir em Rates, vou fazer de tudo para lá ir.  Já fiquei sacaneada, pois vi que aconteceu, ou vai acontecer uma grande homenagem à Thomé de Souza que de lá era, e as datas não coincidem. Uma pena, pois gostaria muito de participar dessa homenagem. Aliás, será que o Senhor da Torre não me aparecia por lá? Seria bem engraçado! Será que ele me confirmaria que o Thomé de Sousa era mesmo seu pai?  Pois o Garcia D´Ávila também era de lá, tanto que inspirou-se em uma torre de Rates, para fazer a sua em Tatuapara. É o que dizem os historiadores que estudam o Senhor
Igreja em Rates
da Torre.
Sim, gostaria muito de fazer muitas coisas em Portugal, uma delas, com certeza ainda farei, desde que a Vera me suporte, embora agora esteja mais difícil, a casa ficou mais pequenina, passarei uns três meses pesquisando a Bahia colonial, mas aquela dos primórdios mesmo, não sei o que vou encontrar, porque  documentos do século XVI e a respeito do que que quero são escassos, mas ainda assim tentarei. Quero falar dos governadores e das suas devassas, entendendo como devassas uma inspeção que deveria ser feita quando eles retornavam a Lisboa, ou melhor, deixavam de ser governadores e eram substituídos. Normalmente estas devassas eram feitas por quem estava chegando. Vamos ver o que achamos. Preciso de tempo e dinheiro para fazer esta pesquisa, morarei por algum tempo na Torre do Tombo e no AHU, mas sei que vai valer a pena, e, como os meus sonhos, de uma maneira ou de outra, se tornam realidade, sei que farei isto.
Ai, enquanto faço esta pesquisa, e como não sou de ferro, outras paragens: vou conhecer mais lugares, lugarejos, lugarzinhos. Oxalá tenha um motorista particular, se não tiver, sem problema, transporte público é o eu não falta, e irei andar por aquele país e ter mais emoções, mais aprendizado, mais espaço no meu coração para o amor.
Tejo
Até breve, meu querido Pais. Até muito breve amado Tejo, vista a seu pijama de prata para me esperar e vamos, nós dois, olhar a nossa querida Lisboa, e quem sabe, oxalá ainda possa cantar, em alguma noite nos bons arraiais da cidade. “Um craveiro, numa água furtada, cheira bem, cheira a Lisboa, uma rosa a florir na tapada, cheira bem, cheira a Lisboa..., cheira bem, cheira a Lisboa, cheiram bem, porque são de Lisboa, Lisboa tem cheiro de flores e de mar”
Saudades!     

sexta-feira, 17 de maio de 2019

Garcia D'Ávila XXII -Um núncio nada amistoso


Chovera a noite toda. A Rua da Gloria estava, mais uma vez, alagada. Olhei do portão e a rua parecia um rio, peixinhos passavam pela água barrenta, a água já estava a meio palmo do portão. Da minha casa   A rampa da garagem já estava toda coberta de água. Uma lástima. A rua estava deserta, evidentemente que ninguém podia sair das suas casas. Pensei na pobre da Christiani, certamente a casa dela já tinha alagado, fica na parte mais baixa da rua e a menor chuva enche tudo.  De repente pareceu-me ver alguns cavalos entrando na rua, digo para mim mesmo,” que coisa estranha. A rua toda alagada e gente andando (nadando) a cavalo !” Deduzi que os cavalos poderiam passar pela água, então alguém estava vindo ajudar os que não podiam sair de casa.
Fecho o portão e entro em casa, que continua toda fechada. Os vidros embaçados, pois a junção da chuva e do salitre não é boa.  Fico deitada na sala e pego um livro para ler. Não podia fazer absolutamente nada, nem mesmo ficar na varanda, pois a chuva forte de açoite molhava tudo. Mal começo a minha leitura, o tratado sobre o Brasil de  Frei Vicente do Salvador ouço batidas fortes no portão. Pensei logo em Christiani, e sequer lembrei da chuva e sai correndo para abrir o portão. Surpresa!  Três  homens montados em cavalos  estavam à minha porta. Tomo um baita susto. Até porque eles eram muito estranhos, vestidos com roupas diferentes, chapéus diferentes, e não pareciam estar molhados.
- Quem são vocês?
Um deles, tirando o chapéu responde:
-Sou Manoel Pereira Gago,  procurador da Casa da Torre e amigo  de Garcia D`Ávila.
- Quem?
Não acreditei no que ouvia. Outro  morto para me sacanear. Assim eu não aguento, falei para mim mesma. Esta casa vai virar um anexo de Tatuapara, ou da Igreja da Sé, onde Garcia DÁvila foi enterrado.
Pensei em fechar o portão dar meia volta e entrar em casa outra vez. Mas de que adiantaria? O tal do Manoel Pereira Gago entraria de qualquer forma, ele, os outros dois homens, seus cavalos,  todos  eram espíritos e passariam pelo muro, portão, enfim, entrariam de qualquer maneira, ai resolvi rapidamente  enfrentar a situação.  A chuva, entretanto, continuava, eu me molhando toda, tinha que voltar para a varanda. Os homens continuavam como se aquele temporal não estivesse acontecendo. Por outro lado, era muito interessante não tratar mal o Senhor  Gago, afinal ele poderia ser uma grande fonte de informações, caso o senhor Garcia não aparecesse mais. O homem era procurador da Casa da Torre e foi o tutor do neto do Garcia D´ávila, além de tutor virou sogro, enfim, aquele senhor era um poço sem fundo de conhecimento sobre os Garcia D´Ávila.
- Sim, Senhor Manoel. O sr disse que é amigo do Senhor Garcia D´Ávila. Onde ele está? Faz tempo que não aparece.
- Exatamente por este motivo que aqui estou. O Garcia está muito doente, está lá no Hospital da Misericórdia e pediu-me par te vim buscar.
- Me buscar? Para que? Para levar-me onde?
- Ah minha jovem, ainda não tenho o dom da adivinhação. Apenas sou amigo dele, e lhe quero fazer o que pode ser a sua última vontade.
-Senti um calafrio no corpo. Puta merda. O senhor Garcia não podia fazer isto comigo. Será mesmo que ele deixaria de me fazer visitas? Será que iria aceitar a sua morte mesmo, e não mais viria conversar comigo? Quem então iria me falar de coisas da Bahia colonial, de acontecimentos histórico importantes?  De coisas pitorescas? Acho que fiquei tão atônita, que o homem perguntou-me:
-Estas pálida, Sentes-te bem? E de um salto desceu do cavalo e eu senti sua mão forte a pegar no meu braço, para evitar que eu caísse.
-Estou bem sim. Mas o que aconteceu com o Se Garcia?
- O Garcia  está muito fraco e  para não ficar aqui em Tatuapara aguentando, inclusive a pressão dos padres beneditinos, foi ter à Misericórdia e  pede que a menina vá lá ter. consigo
- Como vou sair desta, penso eu? O Senhor não está a ver como está a rua, não posso sair daqui agora.
- Que tem a rua?
-Não vês que a rua está alagada?
-Alagada? Estás a brincar?
Meu Deus! O que faço agora.  Como me sair desta?
- Infelizmente não vos posso acompanhar. Diga ao senhor Garcia que assim que a água baixar vou ter com ele, todavia, hoje é impossível.
O Senhor Manoel Pereira Gago, que de gago não tinha nada, quase vociferou;   achei que ia me bater, mas  montou no cavalo e partiu com os seus dois acompanhantes. Acho que o Senhor Garcia mandou que ele me tratasse bem
Voltei para dentro de casa, e de imediato fui procurar ver no computador  quem era este homem que se dizia amigo de Garcia D´Ávila, e na verdade, o que estava acontecendo mesmo com o Senhor Garcia.
Coloco no google o nome – MANOEL PEREIRZ GAGO, descubro uma série de coisas: uma delas, a mais importante: é que fora escolhido pelo Garcia D´Ávila como tutor do seu neto. Fiquei realmente desesperada. Então o senhor Garcia, quase como uma despedida, mandava me avisar da sua morte e do seu desejo de falar comigo, talvez pela última vez? Entretanto, como as coisas estavam eu não podia sair de casa. Este último pensamento me deixou incrédula. Estás doida mulher? Então ias fazer o que? Ir na Santa Casa de Misericórdia? Ias lá procurar por GARCIA D’ÁVILA ? As pessoas iam te levar diretamente para uma casa de “loucos”. O pior é que pensei mesmo nisto. O que eu poderia fazer? Nada, então decidi ficar na sala lendo mais coisas sobre o Pereira Gago e a sua amizade com o Garcia D´Ávila.
Evidentemente que eu sabia que o Pereira Gago fora  nomeado tutor de Francisco  Garcia D´Ávila, só não sabia o seu nome completo, e fui para os livros de testamento  do São Bento e tentar tirar mais informações; por outro lado, já ia pensando na perspectiva de que o senhor Garcia me deixasse e também falasse do seu neto, Francisco Dias D´Ávila, o filho de Isabel com um dos filhos do velho Caramuru, o que uniu as duas famílias das mais poderosas da Bahia..
Intrigada mesmo com a aparição de outro personagem histórico, queria logo saber por que o homem fora escolhido e a ligação entre os dois, Garcia e o Gago. Também me fazia espécie que tudo isto estava acontecendo no dia 20 de maio, segundo historiadores, o dia da morte do Garcia D`Ávila há quatrocentos e setenta anos atrás.
Dizia para mim mesma: A minha ligação com este homem é mesmo muito forte. Será que ele era meu parente mesmo, afinal ele tinha Garcia, meu pai tinha Garcia, toda a minha família galega tinha Garcia, eu e meus irmãos não o tínhamos por erro de cartório.
Achei o testamento[1] e recomeço a lê-lo com toda a atenção possível, já o lera antes, mas agora com o recado da morte próxima do Senhor da Torre e da visita do seu amigo e tutor do neto, tinha de fazê-lo criteriosamente. Certamente as entrelinhas do documento ia me mostrar alguma coisa, que não percebera antes. O que mais me intrigava mesmo, era o fato do de que o que fora escolhido tutor era das bandas de Porto Seguro. 
Não, o testamento não acrescentara muita coisa, mas relembrei o quanto o senhor Garcia estava aborrecido com os Padres do São Bento. Segundo ele os padres fizeram com que ele assinasse  uma doação de muitas terras para eles, mas, em disposição de última vontade ele anulou todas as doações feitas, fez  o seu neto seu maior herdeiro.
Fiquei mesmo preocupada, o fato do Senhor Garcia morrer não me incomodava muito, ele já estava morto mesmo, mas a perspectiva de não vê-lo mais, pois se acaso ele aceitasse a morte nesse momento, todos os meus planos iam para o beléleu, entretanto, nisto tudo havia uma esperança, a de que, caso o Sr da Torre não aparecesse mais, o Sr Pereira Gago podia, muito bem substituí-lo, e aí seria ótimo, porque o a lacuna deixada pelo Senhor da Torre seria preenchida, e não só, agora eu saberia do Francisco Dias D’Ávila, o neto, sobre o qual o Senhor Garcia sempre se recusou a falar.
Com esta esperança fico aguardando  nova visita, seja de um, seja de outro. fico aguardando um peguei no sono.






[1] Livro II Tombo do Mosteiro de São Bento, p 284