Lembrei-me dela; não sei por que
hoje, mas o fato é que me lembrei dela, talvez por estar passando creme no
corpo, pois ela tinha mania de cremes.
Era baixinha, feinha. Andava bem arrumada
bem verdade, mas nada de especial, até porque o físico não ajudava, e, por
outro lado, estava sempre com o jaleco branco por força d atividade que
exercia.
Era depiladora. Tanto trabalhava,
na época, com depilação à cera, como com pelo método eletrólise, que não
recomendo a ninguém, miséria que dói. Fica tudo bem lisinho, mas dói e muito, e
é um processo demorado. Exatamente pela
demora é que eu estive com ela, naquela minúscula sala de depilação, muitas
vezes durante quase um ano.
Fiz a depilação numa área mais de
que sensível, a dor era, algumas vezes, insuportável, mas eu agüentava firme,
queria me livrar dos aparelhos de barbear que me deixavam bastante
empolada. O salão ficava num shopping Center
de uma cidade do interior, e eu sempre marcava a depilação lá pelo final da
tarde, por força do trabalho, aliás, minha depilação virou quase um assunto
nacional, porque quando eu deixava a sala eu estava vermelha feito um pimentão,
zangada, e doída. O juiz que eu conhecia
e que freqüentava o shopping com a família, mulher e filhos e era uma pessoa
que eu bem gostava, já ficava me esperando, numa das mesas da praça de
alimentação, porque assim que eu acabava a miserável da sessão de tortura eu ia
tomar uma, para ver se a dor aliviava e a mulher dele e os filhos me
perguntavam: Qual foi a banda hoje? Sim porque eu dividi a minha “virilha” em
várias bandas, banda A, Banda B, banda C, esta última é mesmo na zona onde vocês estão a imaginar.
Vestir a calcinha depois desta “audiência”
era mais uma etapa do processo de tortura. A pele ficava irritada, vermelha,
cheia de "hipoglos". Vejam bem, como eu ficava cheirosa depois que cumpria
a pena imposta pelo Santo Oficio, pois eu só fazia isto porque era quase que
obrigada a estar sem pêlos pubianos, para agradar ao gosto do parceiro. Lógico
que penso ser mais interessante, mais higiênico até, embora esteja
cientificamente comprovado que tais pêlos, se estão ali colocados, tem a sua
função, que é a própria proteção, mas os menos informados acham que é falta de
higiene. Evidente que não deixaria que alguém fizesse tranças em tais pêlos,
mas podia apenas rebaixá-los, mas arrancá-los pela raiz como estava fazendo
era, efetivamente, uma autoflagelação.
Bom, mas a introdução foi para
familiarizar vocês com a minha depiladora e para que vocês possam entender a
estória como ela deve ser entendida.
Nestas sessões que duravam,
aproximadamente, uma hora e meia falávamos de tudo; ela fazia tudo para me
descontrair, para que a dor fosse aliviada, e me contava muitas coisas suas e de pessoas que
nunca vi nada vida, e que, com certeza, jamais conheceria, mas eram estórias
engraçadas e eu ficava ali tentando me esquecer da dor.
Um dia ela me chega e me diz que
tinha encontrado um namorado estrangeiro, ou melhor, tinha conhecido um gringo
no Pelourinho, naquelas terças da benção, e que eles tinham marcado para se
encontrar no sábado. Ela morava em um apartamento na Barroquinha, bem no centro
da cidade, ainda se podia morar ali sem problemas há uns 20 a 23 anos atrás e me
disse que ia dar um jeito de levar o diabo do homem para a casa dela depois da
farra. A moça gostava, e bem, de sexo, ao menos era o que demonstrava ao falar
no assunto. Quando ela falava sobre isto chegava a mudar a voz, a sua respiração
ficava ofegante, eu até ficava com medo dela errar a mão e meter aquela droga
daquela agulha fina que dá choque em lugar diferente das bandas já delimitadas.
O fato é que ela falava do gringo
e do que faria com ele, se ele fosse dormir com ela, o que realmente aconteceu.
É lógico que não me contou tudo, mas me deu uma aula de sedução e alguns poucos
detalhes.
Na terça feira seguinte ao sábado
em que ela ia tentar levar o “gringo” à sua casa, ela me contou o que tinha
feito:
“Fui encontrar com ele lá pelas
cinco da tarde. Fui para o Pelourinho, porque ele não conhece muito a cidade,
embora preferisse que ele fosse logo lá a casa, mas não deu para explicar
direito onde era. Fiquei no Pelourinho com ele até umas onze da noite. Aí ele
queria ir para o hotel, mas eu disse a ele que queria que ele me levasse em
casa, depois ele pegava um táxi e ele iria para o hotel(isto tudo meio na mímica,
eu não sabia falar inglês e nem ele português).