terça-feira, 10 de novembro de 2015

Voce me cativa?

[...] eu não posso brincar contigo – disse a raposa. – Não me cativaram ainda.
-Ah! Desculpe – disse o principezinho.
Mas, após refletir, acrescentou:
- Que quer dizer “cativar”? [...]
[...]-É algo quase sempre esquecido – disse a raposa – Significa “criar laços”...
-Criar laços?
-Exatamente – disse a raposa, - Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Será para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo[...]
[...] Mas, se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. Os teus me chamarão para fora da toca, como se fossem música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim não vale nada. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos dourados. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará com que eu me lembre de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo....
[...]-A gente só conhece bem as coisas que cativou – disse a raposa. – Os homens não tem tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo já pronto nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
-Que é preciso fazer? – Perguntou o pequeno príncipe.
-É preciso ser paciente – respondeu a raposa[...] (SAINT-EXUPÉRY 2009)

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Transforme-se; mas não se esqueça

Talvez pela proximidade de mais uma grande transformação na minha vida eu esteja lembrando tanto de uma outra passagem, a do tempo em que vivia no Engenho Velho da Federação.
Comecei a morar ali logo após a saída do internato, ou seja, aos quatorze anos. Morei bastante tempo ali, tanto tempo que tive tempo de mudar de casa três vezes, sendo que a última foi a definitiva, pois meus pais, não sei bem como, conseguiram comprar um imóvel na Rua Apolinário Santana 51-E da 1ª. Travessa, depois denominada Travessa Fernanda, homenagem a uma moradora daquela descida terrível.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

O futucador de orifícios

Aquilo estava incomodando muito, tinha que tomar uma atitude, procurar um médico especializado para dar um jeito na estória, por fim aquele incomodo que há anos lhe tirava o humor.
Não havia mais como adiar e o jeito foi perguntar aos amigos se conheciam algum proctologista. Uma amiga conhecia um, afirmava que ele era o bom, talvez o melhor e tinha o nome de Sebastião.
Bom com este nome eu já pensei que ele deveria ser muito bom, tratar as pessoas com muito cuidado e paciência, afinal o santo que morreu todo espetado tinha este nome e não deixaria que um seu xará maltratasse ninguém.

domingo, 21 de junho de 2015

Clorofilando


É domingo, mais um deles, iguais na nomenclatura, diferente por todos os outros motivos. Cheguei da caminhada bem a tempo de não pegar uma chuva, que, sem qualquer aviso, cai forte. Resisto por um momento, mas a chuva cai tão forte ganhando mais força nos beirais por força da água que escorre do telhado, que eu venho deitar na rede. Gosto de ver a chuva cair, sempre tive um sonho de ter uma casa toda de vidro exatamente para ver a chuva cair. Em Portugal achava o máximo olhar o teto do Vasco da Gama e ver a água escorrendo por ele.

terça-feira, 9 de junho de 2015

Uma feiticeira na Inquisição da Bahia -" Arde-lhe-o-Rabo"

Mais uma vez estou andando por Salvador, estou em frente à Catedral Basílica do Salvador, a Igreja está fechada, sento nas suas escadarias e fico olhando o movimento da Praça do Terreiro, olho as baianas sofisticadas, com roupas lindas e muitas contas, pintura exagerada, olho-as com os olhos de ver, e vejo o que virou a nossa baianidade, uma forma de exploração, de ganhar dinheiro. Ao mesmo tempo em que vejo isto, também me transporto e vejo as negras de ganho mercando os seus produtos ainda no tempo colonial e da escravidão.  Tiro o olhar destas baianas, que quase atacam os turistas que passam por minha frente. Eles sem me vir e sem qualquer olhar igual ao meu, são quase que atropelados pelas baianas: sorriem, tiram fotos, pagam até para isto, são guiados para as casas de “gemas”. Eu, diferentemente deles, fico realmente vendo, entendendo, procurando identificar os traços da nossa Salvador colonial, ali naquele lugar de tamanha importância para a nossa história. Mais uma vez sinto uma angustia imensa, apesar de ter alguma conservação, o Terreiro de Jesus e o Pelourinho precisam de obras de conservação. O casario precisa ser preservado, a história precisa apresentar-se aos soteropolitanos, e assim poder ser visualizada, exatamente, através de nosso patrimônio, que o Estado tem obrigação de conservar.

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Tem rima!

Estava eu na Junta de Conciliação e Julgamento de Santo Amaro da Purificação. Sim, esta mesma, a cidade do clã Veloso, do Lira, e tantos outros, e onde, segundo a história que eles fazem questão de lembrar, o Imperador fez xixi e, logo por aí, se vê a importância que esta cidade teve em períodos idos, pois o Imperador lá esteve efetivamente.
Santo Amaro é uma cidade com um belo passado colonial, muito cheia de engenhos naquele período, fontes históricas indicam a existência de 120 engenhos(1878), sendo um dos mais importantes o Acupe, ratificando assim a sua participação efetiva na economia da Bahia.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Vaticinando

Já faz muito tempo, mas pelo pitoresco da história, não consigo esquecer. Passei por muitas cidades do interior enquanto exercia a magistratura, cada uma com o seu folclore, com as suas figuras e personagens. Gente boa, gente ruim, educados, mal-educadas, prepotentes, enfim, consegui, na minha caminhada, ter contato com todo o tipo de pessoa. Certamente, para eles, também, fui prepotente, orgulhosa, pedante, enfim, tudo que se podia dizer de uma pessoa sozinha, que ocoupava um cargo importante, uma autoridade que tinha de se impor e com muitas responsabilidades. Minha aparência, segundo alguns, já era um grande problema, pois sempre usei "jeans" e meu cabelo  era encaracolado, muito pouco recomendável para uma Excelência.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

"Amores Nefandos" - Confissões e Delações na Primeira Visitação do Santo Oficio da Inquisição na Bahia - 1591

Continuo andando em Salvador com os olhos de ver, olhos que jamais pretendo que deixem de ver, já falei antes,  que os meus olhos agora não só enxergam e olham, eles vêm, sentem, recriam, estão a serviço da memória, do conhecimento, da reconstrução. Quanto tempo perdi sem usar os meus olhos de ver, e com eles é que estou na Cidade Alta ali pelas bandas da Paço Municipal; à minha frente está a Câmara, do lado esquerdo, estando eu de costas para o prédio da Câmara, está o Palácio do governo do outro lado a Rua da Misericórdia que vai dar na Sé, e após no Terreiro de Jesus.  Estou, efetivamente no centro da cidade.  Descendo a rua vou parar um pouco antes da porta de Santa Luzia, (São Bento) que limita a cidade pelo Norte, se sigo pela direita, alcanço o Terreiro de Jesus, Pelourinho e a porta Sul da cidade, a porta de Santa Catarina (Carmo).

quarta-feira, 13 de maio de 2015

O olhar de ver - recriando o tempo e o espaço

Tive que ir ao Banco do Brasil, que fica no Comércio. Deixei o carro no Shopping Bela Vista e peguei o metrô, a ideia era sair na estação da Lapa e descer andando para o comércio, mas, pelo adiantado da hora, resolvi pegar um ônibus para a Praça da Sé, e de lá descer o elevador, e foi o que fiz. Saio do elevador e ando pelo comércio, pois não consigo chamar diferente àquela parte da cidade, mas, ando ali agora com os olhos de ver. Não quero mais olhar somente, quero olhar mesmo com os olhos de ver. Primeiramente ver o inevitável e o inegável, que é a Beleza da cidade

sábado, 9 de maio de 2015

Vendo

Os meus olhos de ver hoje estão imensamente tristes. Estão vendo coisas que eles não gostariam. Não é apenas um olhar, é o ver, que faz com que todos os nossos sentidos fiquem aguçados, e com eles toda a nossa história de vida e da daqueles que a nós estão ligados. Queria apenas olhar, não ver como estou a ver agora. Ver a vida de entes que conviveram conosco por uma boa parte de nossas vidas, indo embora, assim, como se nada fosse Não gosto efetivamente do que vejo, mas nem mesmo o olhar posso desviar, seria talvez uma grande irresponsabilidade de minha parte apenas olhar sem ver.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Uma noite das mil e uma noites

Está em casa, há convidados, não era bem uma festa, mas havia pessoas em sua casa. Um jantar? Não, aquilo não parecia um jantar, apenas uma reunião de amigos com canapés, drinks e uma boa conversa. Todos pareciam felizes.  A conversa se desenrolava sobre muitos assuntos, inclusive o preferido de muitos deles, a critica aos discursos pronunciados no Congresso Nacional (Câmara dos Deputados e Senado). Gostavam de criticar e sorrir das bobagens,

sábado, 28 de março de 2015

Será possível?

O dia não amanheceu nem melhor, nem pior, que os outros. Não posso sair para andar, estou proibida de tomar sol, e, mesmo com o protetor solar, não vou arriscar.
O que faço para compensar este intervalo de uma hora da minha caminhada matinal, que ocorre, sempre, entre 06h15min/06h30min e 07h15min/07h30min? Ler ou escrever: sempre estas opções são as primeiras que aparecem. Tenho de fazer isto para não pensar muito, não rememorar os problemas, eles não se afastam, se impõem de uma maneira tal, que parece que já estão mesmo incrustados no meu ser.

quinta-feira, 26 de março de 2015

A Privataria Tucana- Amaury Ribeiro Jr

Recomendação de leitura
Livro - A Privataria  Tucana
Amaury Ribeiro Jr
SP ,Geração Editorial, 2011, Coleção História Agora

Parece que este país vive sob o signo da corrupção. É esta a constatação que fazemos com a leitura oportuna da obra de Amaury, porque por ela e, através dela, constatamos, exatamente, que  a corrupção, o ganho fácil, a lesão ao patrimônio público, o financiamento de campanhas eleitorais com  dinheiro sujo, lavados em paraísos fiscais, é uma constante no país

quinta-feira, 19 de março de 2015

Resenha livro BOCA DO INFERNO - Ana Miranda

Resenha   -Boca do Inferno
Ana Miranda
São Paulo -Cia das Letras, 3a.ed,  1989

Acabo de ler o romance histórico de Ana Miranda – Boca do Inferno. A referência ao Boca do Inferno é realmente à Gregório de Matos, o nosso poeta do período colonial, que com os seus versos satirizava a sociedade baiana.

segunda-feira, 9 de março de 2015

Um presente vivo

Talvez tenha recebido um presente pelo dia da mulher, só podia ser isto., ou quem sabe um coelho da páscoa antecipado.  Todavia, não podia desembrulhar o presente, muito menos usá-lo, gozá-lo então, impossível. Mas, o presente estava ali, todo embrulhadinho, num belo papel em que predominava o azul. O presente era vivo, vivinho, se movia diante de si, procurava lhe envolver, parecia ter braços pernas, um corpo inteiro. Tinha uma boca, e que boca, tudo isto ali, mas ela não podia, ao menos não devia, deixar que o presente se desembrulhasse. Era melhor ficar dentro do pacote. O que seria aquilo? Parecia gente, mas uma pessoa não poderia vim embrulhada, sufocaria de certeza.  Custou a crer que tinha recebido mesmo um presente. Quem se lembrara dela assim no dia da mulher ao ponto de lhe mandar um tão lindo pacote?

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

DESENCONTRO MARCADO II

Acordara cedo, mas o frio intenso fez com que ela permanecesse na cama, leu mais umas páginas de Saramago em O Memorial do Convento, entretanto não queria sair de casa tão tarde, tinha um compromisso e, antes dele, teria que ir à Faculdade pegar os quatro exemplares da dissertação e tese para levar ao Arquivo Histórico do Ultramar e à Sociedade de Geografia, o problema é que o Arquivo Histórico só abre uma hora da tarde e ela queria entregar os exemplares exatamente neste horário, porque pretendia estar na Merendinha do Arco às 13h30min, afinal o encontro estava marcado e não seria ela a falhar.
Tomou coragem e as dez estava completamente pronta, decidiu que iria pegar um taxi, assim adiantaria mais as coisas. Chegou à faculdade e, felizmente, os exemplares estavam prontos.  Colocou tudo em uma sacola e dirigiu-se ao metro, preferindo ir até o Campo Grande e lá pegar a linha verde. Olhou o relógio: sim, chegaria a tempo na Sociedade de Geografia e depois, logo ali na Praça da Figueira tomaria o quinze e iria até o Arquivo Histórico e depois voltaria para o Rossio para o encontro marcado.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Poder e posse

O dia está lindo, há sol, o céu azul, o verde das árvores. Sentada na cama observa tudo isto pela janela do quarto “da Gatucha” é assim que a amiga trata este cômodo da casa. É engraçado como personaliza-se algo: seja um espaço, seja uma coisa, seja até mesmo uma pessoa, pois quando personaliza-se também dá-se, ou toma-se posse, seja atribuindo-a a si próprio seja a outrem, por exemplo: o quarto da Gatucha; o quarto é dela, não é de Maria e nem de João, é dela e ela é que tem a posse dele, no caso do quarto em questão, ela tem apenas uma posse temporária, completamente justa, exerce-a de vez em quando, mas tem uma posse.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Uma nova tentativa - Continuação da análise

Já acordou de “calundu”; então insistia naquela história de analista, mesmo tendo a certeza que não daria certo, insistia; devia ser o desejo de participar do mundo dos “ins”. Agora, ao menos, tinha a consciência que seria analisada por uma mulher, pois até mesmo o sobrenome já era sugestivo do sexo. LARANJEIRA. Um laranjeiro, certamente, não daria frutos, seria uma árvore estéril. Bom, o certo é que tinha consulta marcada às 15h00min com a Doutora Laranjeira.
Arrumou-se toda, parecia que ia a uma festa. Por que isto? Perguntou para si mesma, então você vai ao analista, que é uma mulher, e se emperiquita toda desta maneira?

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

ENCONTRO NÃO MARCADO

Estava, mais uma vez, em Lisboa e, portanto, não lhe custava nada tentar um contato com o Madeira. Já vinha pensando nisto no avião e, assim que colocara os pés no solo português, ainda dentro do aeroporto da Portela, decidiu que tentaria contatá-lo.
- Será mesmo que ele ainda lembra-se de mim? Tanto tempo se passara desde o último contacto, quando ela decidira que seria mesmo o último. No seu consciente, no seu racional, sabia que era melhor não tentar nada, mas o diabinho interior, com os seus tridentes futucando ali e aqui já decidira por si. Sim, ela ia entrar em contato, só não o fazia naquele momento porque estava sem rede no tele móvel e ansiosa pelas malas que não apareciam na esteira. Já se passara quase quarenta minutos do desembarque ela não via as malas.