Acordei cedo e fui andar, claro que sonhei muito, este é o meu momento de sonhar, o sonho, entretanto, e quase sempre o mesmo, arrumar dinheiro para colocar todos da minha família bem, inclusive a mim, e mais algumas pessoas ao meu derredor. Gosto de sonhar isto, fico rica porque tiro na loteria, divido o dinheiro, enfim faço planos. Há dias que o sonho é mais modesto e fico pensando quando o TRT vai pagar as minhas diferenças e o que vai dar para fazer com ela. Gosto mesmo destes momentos, mas tenho de voltar para casa e aí os sonhos acabam e eu vejo a minha realidade.
Estou lavando os banheiros da
casa, porque, para variar, estavam aqui ontem algumas pessoas que usaram os
dois banheiros e eu os tenho de lavar, caso contrário o xixi de cachaça impregna
e aí é duro para tirar este odor horrível de xixi. Neste exato momento
recordo-me dos meus quatorze quinze anos, cheios de revolta, mas também cheios
de esperanças. Morava em uma baixada no Engenho Velho da Federação, não gostava
daquele lugar, realmente não gostava, principalmente em dias de chuva e nos
finais de semana. Nos dias de chuva porque era terrível descer a escadaria com
a enxurrada, nos finais de semana porque tinha de ficar dentro de casa, não se
tinha dinheiro para nada. Ficávamos em
casa procurando passar o tempo com nada, aguardando meu pai chegar bêbado junto
com os seus amigos mais bêbados de que ele, quando não já estavam lá em casa
desde muito cedo.
Porra! Por que diabos vou lembrar
disto. Não seria melhor lembrar de
alguma coisa boa? Namorados foi o que
veio à mente. Aí me perguntei: O que
teria sido a minha vida se eu tivesse me casado com o meu primeiro namorado?
Kkkkkkkkkkk. Meu Deus, o que seria minha vida, certamente estaria lavando o
banheiro único da casa mínima, certamente no engenho velho da federação. Será
que teria me formado? Penso que sim, porque eu nunca gostei daquela vida.
Todavia seria um horror mesmo. Graças a Deus a coisa acabou como começou, nem
senti, nem vou falar em desgaste de relacionamento, nem deu tempo. Quando
percebi, aos quatorze ou quinze, já nem me lembro, o quão burro era o rapaz,
lento de raciocínio e outros defeitos imperdoáveis, acabou-se. Lembrar que o
rapaz era bem bonitinho, um corpo sarado devido ao football, mas além do
raciocínio lento, tinha um outro defeito, este mais aparente, tinha dente de
ourokkkkkkkkkkkk, gente namorei um rapaz que tinha dente de ouro. Tá doida mulher! Como teve coragem? Fiquei pensando nisto, e ai lembrei que não
era só ele que tinha um dente de ouro, a família dele inteira tinha, pai, mãe e
irmã. Seria isso um sinal de riqueza e
eu não percebi? Jejus é mais!. Sim, e
ainda estaria ligada à contravenção. Vije Maria!
Continuei limpando coisas: lavando panelas, pratos, copos, arrumando coisas, colocando outras nos seus devidos lugares, enfim, (domesticando) ou para que fique claro, fazendo os serviços domésticos. Limpando o fogão lembrei de um grande e, efetivamente, ´primeiro amor. Lindo, alto, bonito, disputado. Eu o conheci em uma festa de Sto. Antônio, nessas novenas que se rezam nas casas. Era a noite dos jovens e lá fui eu e minha irmã, Minha mãe nos deixou ir, porque todos do grupo jovem iam e era na casa de um pai de santokkkkkk, viu que sempre estive ligada. Sim, lá conheci este belo exemplar de macho. O safado além de lindo era muito descarado e mulherengo. Namoramos um bom tempo, aliás hoje diria eu que ficamos durante uns três ou quatro anos. Era o titular da área, como viajava muito e sem termos maiores compromissos, ele fazia a parte dele e eu a minha, mas quando ele chegava em salvador acabavam-se todos os namoros, afastados todos os pretendentes. Sim, mas isto agora não vem ao caso e eu pergunto: Como teria sido a minha vida caso tivesse casado com este homem? Resposta imediata, estaríamos separados, com certeza em um par de anos, eu não ia aguentar a safadeza do sem vergonha, se tivesse ficado, entretanto, hoje estaria viúva e recebendo uma pensão como esposa de um policial rodoviário. Puta merda, que lembrança.
Destino é destino filha, não se muda não,
podemos até transformá-lo, mas, no fim dá no mesmo. Pois é, uma advogada, juíza
aposentada, mestre e doutora em história, passa os seus dias entre as costuras,
as atividades domésticas, e a cozinha.
Nadei, nadei e morri na praia.