Acordei nostálgica, tive um sonho esquisito
em que era traída na tampa, via a cena à minha frente. O engraçado é que eu, apesar do susto, via o
amor entre aquelas duas pessoas e simplesmente me afastava, era o melhor, nisto
tudo havia uma coisa mais estranha ainda; tudo começara por causa de uma
discussão sobre um santo: kkkkk acreditem! São Gregório. Acordei, e, de imediato, fui ver que Santo
era este e qual o seu dia: 03.09. Bom, ao menos o homem é do meu mês de
nascimento. Confesso que fui olhar para saber exatamente esta data, porque
penso que pode ser um sinal para jogar na mega – sena. Do jeito que ando com as
finanças é melhor acreditar em qualquer coisa., e ainda mais quando ele está
associado a uma traição tão intensa quanto esta. É duro saber que até em sonho
sou traída, humilhada, enfim.
Mas havia mais motivos para esta
nostalgia, sim havia. Recebi algumas imagens da Bahia antiga, já as tinha visto
em outra oportunidade, mas, talvez, pelo momento e circunstâncias atuais, elas
me fizeram mesmo voltar a um tempo em que a vida era linda, sem quaisquer
problemas, somente esperanças e sonhos.
Uma das imagens me traz momentos
vividos na Rua Chile há tantos e tantos anos. A Rua Chile era a Rua, pense em
uma coisa chic. Ali estavam: O Adamastor, bem embaixo do que hoje é o hote, por
sinal maravilhoso, onde a rua se divide para dar lugar à Rua da Ajuda e Rua Chile. Quantas vezes gazeei aula na Medalha
Milagrosa para ir à Rua Chile. Algumas vezes com a passagem de ônibus paga pela
Meluzinha, com o único fim de passar pela Casa da Música e, sob algum pretexto
idiota, afinal nenhuma de nós tocávamos e nem pensávamos em tocar qualquer instrumento,
entravamos na loja e olhavamos aquele belo homem que ali trabalhava. Não sei se
era dono, filho do dono, ou apenas um empregado, sei que o diabo era lindo. Êxtase
total se ele apenas cumprimentasse uma de nós.
Fico pensando na pureza daquela idiotice, ficávamos apaixonas por alguém
apenas por olhar para a pessoa, contentávamos-nos em ouvir a voz dizendo bom dia,
oh então como vai, e mais nada, amávamos à distância e sem quaisquer certezas
ou esperanças. Lembro do nome do pobre coitado; hoje ia ganhar um dinheiro da
porra com assédio: Fernando Fllemon ou Tilemon, não lembro bem. Espero que
tenha sido muito feliz e que ainda esteja vivo, mas, certamente não o quero ver
mais nunca, para não perder aquela imagem que guardo até hoje: olhos claros (penso
que verdes) numa pele morena e cabelos lisos, meu Deus, era bonito mesmo!
Outra foto me traz a mulher de
roxo, apesar da foto em branco e preto, sei que a roupa era roxa. Quantas e
quantas vezes vi aquela mulher vagando pela Rua Chile, a qualquer dia e a
qualquer hora que fosse à Rua Chile ela estava lá, ficava mais em frente à
Slopper. Que loja fantástica! Hoje,
quando chego em determinadas lojas de Lisboa, ainda posso ver a Slopper. Tem
uma parte do Corte inglês, a que expõe as carteiras e lenços (marroqueria), que
é igualzinha ao nicho que expunha estas
coisas na loja daqui de Salvador, que tanto sucesso fez, entre o high Society da terra, e até entre aqueles
que lá nem chegavam perto, a exemplo de mim e da minha família. Adorava entrar naquela loja, e ir até ao
fundo do prédio, não queria ver nada, e sim apreciar a Baía de Todos os Santos,
qualquer pretexto para entrar ali valia a pena. Que coisa mais linda. Ali
deveria ser um puto dum hotel.
Cansei de me perguntar o que
aquela mulher fazia ali; de onde veio? Quem era? Por que chegou a este
estágio? Será alguma desilusão amorosa?
Será que perdera um grande amor? O fato
é que ela com seu olhar vago, vagava pela rua, onde, algum dia, penso eu,
desfilou como uma rainha. Os panos da roupa eram bons e ela andava mais ou
menos limpa, sinal de que era cuidada de alguma maneira.
Em outra foto o abrigo da Praça
Castro Alves, onde, e, quantas vezes meu Deus! Esperei o ônibus para ir para
casa, seja com minha mãe, com meu pai, sozinha. Ah quantas lembranças de uma
Praça em que vi pela primeira vez um desfile de “bichas”, e nem venham para cá
dizer que eu sou homofóbica, é que quando eu tinha dezessete anos, e não havia
qualquer homofobia, pelo menos aparente
e nem ninguém dava todo este valor “clamor” à palavra gênero, as bichas
desfilavam nas escadarias do prédio do lado esquerdo da Praça. Não lembro que
era aquilo, um prédio cinza. Ri tanto naqueles desfiles. Ia com minhas tias,
irmã e tios. Nunca tive nenhum problema, e até conhecia algumas das que
desfilavam.
Outras fotos trazem mais e mais
recordações, edifício sul América! Como era bem ter uma sala naquele edifício,
só poderosos tinham escritórios ali, e no carnaval, que maravilha! O trio
elétrico fazendo a volta para retornar pela Carlos Gomes. Que apertadinho mais
gostoso, e a gente ainda achava que era uma bagunça. Hoje sim que é uma
merda,
. Ver o encontro de trios, ver Dodô
e Osmar, Trio elétrico saborosa, apaches, filhos de Gandhi. Os rapazes dos
Internacionais e dos Corujas, os Barões do Barão, e o melhor deles, o JACU: que
saudades!
É mais tenho de sair mesmo e subo
novamente a ladeira. Em frente ao Palácio Rio Branco o casario foi recuperado,
a fachada a mesma, mas o interior virou um shopping center de primeira, muitas
lojas de grife e muitas pessoas. É a Rua Chile recuperando o seu glamour.
Como viram, a nostalgia deu lugar
`euforia, mas isto durou muito pouco, porque quando saio do torpor e do
encantamento que foi trazido pelo texto do Nizan, caio na real, e de real só
vejo mesmo o Fasano e o Hotel Palace, o resto está tudo igual, quanto pior:
ainda tenho receio de andar pela Rua Chile, principalmente à noite. Todavia,
como Nizan, reconheço o potencial da área e o potencial da nossa terra, e,
embora sabendo que isto vai demorar muito, penso que aquele centro de salvador
vai ser recuperado e nós, talvez meus netos, comemoraremos a beleza e o glamour
da nossa RUA CHILE, da nossa Salvador, da nossa Bahia.