Há alguns anos atrás, não me
lembro bem quando, minha mãe me deu um livro - A FOGUEIRA DAS VAIDADES, Tom
Wolf. Ela lia muito, e, como sabia que eu tinha herdado esta sua qualidade de
grande leitora, sempre me obsequiou com livros. Não me lembro bem da história,
mas sei que a personagem principal, um homem de negócios, muito bem sucedido,
se vê envolvido em um acidente em alguma Rua do Bronx e daí para frente sua
vida muda completamente, é preso em uma cela, e enquanto aguarda uma possível
soltura, afinal ele era milionário, em que ele está sentado no chão frio, penso
que molhado, ele sente a pressão dos gases e queria que eles lhe deixassem
em paz, mas não o fazia por vergonha, humilhação, enfim, uma situação triste
para quem sempre fora o sinônimo do poder, da vaidade, da riqueza.A partir disto a história retrata a vida deste cidadão e toda a trajetória da sua queda e todos os conflitos disto resultantes
Contar estórias e histórias; ficção e realidade se misturando para fazer rir, chorar, viver.
quinta-feira, 21 de agosto de 2014
quinta-feira, 14 de agosto de 2014
SONHOS! Eles se realizam
Era uma vez uma menina de olhos
cor de mel, cabelos castanhos claros que também terminavam na cor mel, nariz
fino, com profundas olheiras, que chamavam atenção. Suas olheiras fundas
contrastavam com a doce pureza do seu olhar, um olhar penetrante, que sempre
soube expressar o que lhe vinha na alma.
Teve uma infância, até os sete
anos, normal. Bonita que era, sempre foi paparicada, reverenciada até,
protegida por muitos que lhe admiravam a beleza, a vivacidade, a pureza
misturada com uma rebeldia, que em si, realmente, era nata.
A menina bonita cresceu, passou
algumas dificuldades, nada que não fosse transpassado, seja por força da
própria vida, seja pela intervenção de outrem, seja pelo seu próprio destino, o
fato é que a menina ultrapassou as adversidades, aliás, continua a
ultrapassá-las, bem ou mal, e segue
adiante.
Mas a menina não poupou os seus
sonhos, nos seus piores momentos, nunca, mas nunca mesmo deixou de sonhar.
Numa determinada época da
vida sonhou em ser aeromoça, mas, quando
foi candidatar-se ao cargo, não
pode inscrever-se, porque era menor, e a companhia à época, a VARIG, não permitiu; somente o faria se os pais autorizassem. Ela tinha a consciência plena de que os pais não o fariam, e, portanto, nem cogitou esta possibilidade: a de pedir aos pais esta autorização, embora lha deram para casar. Coisas da vida que o ser humano faz e que não condiz com atos outros. Todavia, esta primeira derrota não a desanimou, ela queria conhecer o mundo, queria viajar. Sempre gostou de história e achava que se fosse em lugares que apareciam nos seus livros, centros d poder do passado, ela viveria a história de uma maneira diferente. Seguiu sempre com este pensamento, fez direito, mas o sonho das viagens continuou, embora interrompido pelas responsabilidades que assumiu com a maternidade.
pode inscrever-se, porque era menor, e a companhia à época, a VARIG, não permitiu; somente o faria se os pais autorizassem. Ela tinha a consciência plena de que os pais não o fariam, e, portanto, nem cogitou esta possibilidade: a de pedir aos pais esta autorização, embora lha deram para casar. Coisas da vida que o ser humano faz e que não condiz com atos outros. Todavia, esta primeira derrota não a desanimou, ela queria conhecer o mundo, queria viajar. Sempre gostou de história e achava que se fosse em lugares que apareciam nos seus livros, centros d poder do passado, ela viveria a história de uma maneira diferente. Seguiu sempre com este pensamento, fez direito, mas o sonho das viagens continuou, embora interrompido pelas responsabilidades que assumiu com a maternidade.
Viajou pelo Brasil em algumas
oportunidades, mas ela queria sempre mais. Os seus sonhos foram crescendo à
medida que o seu poder aquisitivo melhorava. Nunca sonhou com o impossível,
talvez por isso mesmo, um a um, os sonhos foram se tornando realidade.
Entretanto, um dos seus grandes
sonhos estava se afastando dela. Sonhou com ele aos trinta, aos quarenta, aos
cinquenta, e, acreditem vocês, somente o realizou aos sessenta, mas nunca é
tarde, e por isso mesmo, ele foi realizando de uma maneira intensa.
Pois é, a menina esteve em Veneza e na Grécia, dois destinos, dois sonhos acalentados
durante muito tempo, e o que parecia quase impossível, na companhia de quem
queria estar. Realizaria o sonho de qualquer maneira, sozinha ou não, mas tinha
a certeza que o faria, e fez, em grande estilo, ao menos para ela.
A Praça estava completamente
cheia de gente, o que impedia que tudo ali fosse visto como deveria ser, não
conseguia, sequer, tirar boas foto, as cabeças e a quantidade de máquinas competindo
não lhe faziam bem. Resolveu entrar no Palácio. Parava diante de tudo, das pinturas, das
esculturas, dos tapetes, dos mármores. Em momentos ficava imaginando como seria
a vida dentro daquele local.
Saiu dali, andou a não mais poder
por Veneza, um sonho, caro, mas um sonho realizado, e com a perspectiva de mais
um, este aconteceria nos próximos dias.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014
SERÁ QUE PEQUEI?
Acordou no meio da noite, ou
melhor, no meio da madrugada. Já acorda irritada, porque sabe que, nos próximos
cinco dias, irá acordar neste horário até que o organismo volte a se acostumar
a acordar em outro horário, é sempre assim.
Mas aí ela se pergunta: “por que
diabos acordei 1.30 da manhã?" Está preocupada com o que? Não teve nenhum pesadelo;
não está com vontade de fazer xixi; não se lembra de ter feito nada errado
durante o dia; não machucou ninguém, então por que isto? Liga a televisão e vê
uma reportagem sobre o Rio Tietê e a sua nascente. Acreditem se quiserem: o
Tiete nasce limpo, como é óbvio. Onde ele nasce, num interior de São Paulo, a água
pode ser bebida sem qualquer problema, aliás, é o que faz o repórter, que
continuou fazendo a reportagem sem ter qualquer reação. Há uma comparação entre o Rio Tietê e o Rio
Reno que nasce na Suíça, que segue limpo por todo o seu curso, e que, de acordo
com a reportagem, é que abastece o país, e os suíços bebem cozinham, enfim
utilizam a água do Reno sem qualquer problema.
Ela imagina se alguém cai no Rio Tietê, e bebe, sem querer, um pouco
daquela água, bem ali naquele lugar onde os guindastes estavam tirando sujeira.
Ela pensa: “Eu morreria só de pavor de cair ali”, odeia águas sujas.
Muda de canal, o guindaste
tirando sujeira do Tietê não lhe agrada nem um pouco; para no Jô Soares e vê um
ator falando da sua vida, informando que ele foi interno num colégio em Minas.
Só pode ser isto! Internato, religião,
Deus, mandamentos. A associação só pode
ser esta, todavia a ficha cai e ela lembra que, pela tarde, ao chegar ao
Aeroporto de Guarulhos para uma conexão para sua terra, passou uma mulher com
um homem do lado e ela se viu cobiçando o cidadão.
Sim, o homem era lindo, um dos
espécimes que jamais será esquecido. Aquilo era uma visão extraordinária, mas
além deste sentido, muitas outras coisas foram despertadas. O sexo era uma delas, e ela ficou imaginando
como seria aquele cara na cama. Será que ele era delicado? Será que ele era
safado? Será que ele era bom de cama mesmo? Será que ele fazia sexo oral? De
que será que ele gostava em relação a sexo? Pense aí, alguém acorda no meio da
madrugada e fica se questionando se foi certo ou errado pensar no homem do
próximo na sua mais íntima “intimidade”. Deve tá louca. Não, não tá louca nada,
o homem era lindo, gostosão, como diriam todas as mulheres que o olhassem, aliás,
que o olharam naquele momento, e em todos os outros momentos em que ele aparecia
e podia ser apreciado tanto por homens quanto por mulheres. Aquele belo espécime
era de tirar fôlego, causar invejas, cobiça, desejos, pensamentos libidinosos.
Sim cobiça, e aí ela faz a
ligação com a entrevista do ator. Não tem certeza que o colégio interno do rapaz
era um colégio religioso, comandado por padres, possivelmente era, e aí é que
ela se lembra dos mandamentos da lei de Deus, hoje quase em completo desuso,
porque logo o primeiro deles já vem sendo desrespeitado há muito tempo: AMAR A
DEUS SOBRE TODAS AS COISAS. Muitos
poucos amam Deus sobre todas as coisas, hoje, o que vemos é a prioridade do
material, muito poucos estão preocupados em amar a Deus, pode ser que o papa
Francisco consiga reavivar este mandamento, mas não acredita, Já não lembra
qual o segundo, nem terceiro, enfim, não sabe nem todos e nem a ordem deles,
mas sabe que existe um que diz: NÃO COBIÇAR AS COISAS ALHEIAS e nem a mulher do
próximo. Cai na risada. Por que não cobiçar só a mulher do próximo? Então se pode cobiçar o homem do próximo ou
da próxima? "Kkkkkkkkkkkk discriminação da zorra." Não consegue parar
de rir, pois nunca tinha pensado nisto até o momento. Então ela não pecou, porque estava cobiçando
o homem da próxima, quer dizer, em principio homem, porque aquele Deus do Olímpio
poderia ser gay, e aí, a sua cobiça não teria qualquer motivo, porque pensa que
cobiça tem que ter um mínimo de possibilidade de ser possível, ou seja, o alvo
dela deve ser alcançado. Então você vai querer uma coisa que jamais alcançará:
o seu pensamento, início de qualquer ação, mesmo aquelas que a gente diz que
fez sem pensar (esta é uma das maiores mentiras do mundo), porque você pensa; você
não pondera este pensamento, mas você pensa e age, sem qualquer intervalo entre
pensamento e ação, mas pensar, pensa sim: é o primeiro ato de tudo. Então você começa uma idealização que nunca passará
disto? Ou seja, se o homem não fosse homem, de que adiantaria a sua cobiça? Ele
jamais olharia para ela, aliás, como não o fez. Bom mais ela poderia provocar que
ela fosse notada por ele: podia jogar sua mala discretamente na hora que ele
estivesse passando; podia levantar e se esbarrar nele e pedir desculpa
cretinamente; podia seguir o casal e ver qual a possibilidade de ser vista por
aquele cidadão, enfim, podia forçar uma situação; mas se fosse ele gay, no
máximo receberia um olhar de reprovação e de desprezo que só “gay” sabe dar
para uma mulher, ou para qualquer outro ser humano digno da sua reprovação.
Bom, mas se ela não estava pecando
porque não estava cobiçando a mulher do próximo, o que não tinha nenhuma intenção
ou tendência sexual para tanto, por que estava preocupada em ter cobiçado o
homem da próxima? Isto não estava na lei de Deus, que certamente não enquadrou
o ser humano no “NÃO COBIÇAR AS COISAS ALHEIAS, afinal o ser humano não pode
ser tomado como coisa, a não ser que aquele rapaz seja um escravo, pois os
escravos eram considerados coisas, faziam mesmo parte do patrimônio do seu
dono, eram vendidos em praça publica, eram leiloados, mudavam de dono, enfim,
eram mercadorias. Bom, aparentemente aquele cidadão maravilhoso não era nenhum
escravo, mas vá lá saber. E se ele fosse uma espécie de escravo por ser um
aproveitador, um gigolô, vivendo à custa da mulher que não era nenhuma menina,
era uma loura bem interessante, muito bem vestida, muito perua, mas nada que merecesse
aquele Deus do Olímpio como companheiro.
Pensa consigo mesma: “puta merda,
olhe quantas vezes você, em pensamento, já infringiu a lei de Deus e agora você
está julgando o próximo, ou a próxima, sem saber quem é a pessoa. Não sabe dos
seus costumes, dos seus problemas. E se aquela mulher fosse a mãe daquele rapaz?
Se ela fosse a irmã? Se ela fosse apenas a sua agente?” Sim, porque aquele belo
espécime poderia ser um modelo.
Nesse momento lembra que o
mandamento correto é “NÃO DESEJAR A MULHER DO PRÓXIMO”; ri outra
vez e diz: “Realmente não pequei, pois eu não desejei porcaria de mulher do
próximo nenhuma, aliás, não tem qualquer vocação ou tendência para isto, o que desejei
e ainda desejo, é o HOMEM da próxima”.
Ri muito, e pensa “Pois não é que eu sigo, ainda que sem querer, os mandamentos
da lei de Deus”.
Lembra, então de mais um
mandamento: "AMAR O PRÓXIMO COMO A TI MESMO", e traduz: “Bom, continuo a não infringir
qualquer mandamento, pois Deus, ou melhor, quem elaborou a Tábua dos Dez Mandamentos,
só colocou tudo no masculino, e se é assim, ela entende que ela devia amar
aquele próximo, o rapaz, como se ela fosse”. Não gosta desta interpretação, pois
o amor por si devia ser maior do que o amor por qualquer outro, pois sempre
achou que se não se amasse muito não poderia amar ninguém, então, em primeiro
lugar ela, depois “o próximo” poderia ser muito amado, mas não tanto assim; kkkkkkkkkkk
se pega gargalhando, pois vê o ridículo da sua situação:” Então porra, alguém
acorda no meio da madrugada para ficar fazendo elucubrações a respeito das leis
de Deus, tá mesmo maluca. Isto não pode ser coisa de alguém normal; talvez, até
seja mesmo uma coisa para gente normal, para gente que pensa, que deseja, que
aprecia o belo e que tem a coragem de admiti-lo”. Será que existe mesmo este mandamento?
E então não há como não voltar aos
Mandamentos, que ela vai lembrando aos poucos, afinal estudou em colégio
interno e tem formação, ao menos por este particular, católica, embora sem o
seguimento peculiar; pois não é nem apostólica e nem romana, NÃO MENTIR. Sim,
ao admitir todas estas cobiças, todas estas invejas, todos estes desejos, todos
estes pensamentos ela não mente nem para si e nem para o próximo, portanto ela
é uma pessoa transparente, real, com todos os defeitos e virtudes inerentes ao
ser humano que sabe apreciar o belo e, por isso mesmo, querê-lo para si, aliás,
as 03h27min, no friozinho que está fazendo, o que ela queria mesmo era o homem da
próxima. Assim, com certeza, estas horas que passou acordada e escrevendo podiam
ter sido muito bem aproveitadas, e quem sabe ela pecaria, mais uma vez, ao
chamar o santo nome de Deus, não em vão, embora para alguns isto seja mesmo um
grande pecado, mas, para ela, seria sim o auge do agradecimento ao dizer, num
grande momento de emoção e prazer: AH MEU DEUS!
04:11, Arembepe 08.08.2014.
quarta-feira, 6 de agosto de 2014
Compensando o desencontro marcado
gaivotas no Tejo |
Depois daquela informação, de que
era ela a senhora que estava na mesma mesa com ele, parece que ficam
petrificados, ambos calados na frente da tela, onde só o branco do silêncio de
ambos se fazia presente. Nenhum dos dois conseguia escrever nada, ao que parece
aquele desencontro foi mesmo terrível para ambos. Não desconectavam, mas não
diziam nada, e esta espera estava sendo angustiante para ela, que, sem qualquer
aviso, desligou o computador e foi dormir.
Deitada, quase chorando, se
perguntava: Por que isto aconteceu?
Então aquele homem que, da tela fez-se real, de uma maneira que ela quase
idealizou, escapuliu assim das suas mãos!
Ela custava a crer que tudo isto tivesse
acontecido. E agora, pensava ela. O que vai acontecer? Será que ele não vai
mais dizer nada? Por que ficou tão calado?
Será que ele não gostou do que viu?
Será que esperava mais ação da minha parte? Será que não agradei em nada? Agora ele já sabia como ela era, portanto,
podia dizer algo, comentar alguma coisa. E ele resolvia adotar o silêncio.
Custou mesmo a dormir, mas foi
vencida pelo sono e pelo cansaço.
Dia seguinte e nada, chamou por
ele diversas vezes, mas ele não apareceu. Dois, três, quatro, cinco seis dias,
um mês e nada. Ela não sabia o telefone, o endereço, nada, apenas um apelido, e
mais nada. Que bobeira, pensava ela: por que, depois de tanto tempo, eles nem
sabiam o próprio nome e nem um telefone? E se tivesse acontecido alguma coisa,
como ela ia saber? Bom, mas não há nada
que o tempo não cure, e ela já estava aceitando o fato de que não mais se
encontrariam, seja virtual ou realmente, mas aí, um dia, sem qualquer esperança,
só ela mesmo que assim pensava, ele apareceu no local de sempre. Ela quase teve
um troço, suas pernas tremiam, as mãos trêmulas quase não conseguem
responder ao cumprimento.
Maputo |
-Olá, peço desculpas, mas estive
fora durante todo o mês, fui fazer um trabalho na África, na Ilha de
Moçambique, e fiquei quase todo o tempo
sem acesso à net. Cheguei hoje pela manhã e aguardava ansioso que aparecesses.
Ela quase desconecta, pois não
acreditava naquilo, mas diz Oi e começa a falar como se nada tivesse
acontecido, inclusive aquele interregno.
- Olá, então fostes a
Moçambique? Eu já estive lá, mas só fui a
Maputo, gostava muito de ter conhecido a Ilha de Moçambique, mas não tive
tempo.
- Tu fostes a Moçambique?
- Sim fui, fui fazer a pesquisa
do doutorado.
- Doutorado.
- Sim, doutorado. Fiz o doutorado em História, na especialidade
História da África.
- Não acredito! É mesmo verdade?
- Sim, tão real quanto a tua
viagem à Ilha de Moçambique.
- Podíamos ter ido à mesma época,
ao menos arriscaríamos a nos encontrar no avião ou até mesmo em Maputo, pois
passei uns cinco dias por lá, antes de voltar para Lisboa.
- Fostes à Feira Popular e ao
Mercado do Peixe?
Igreja de Sto Antonio-Maputo |
-Claro que fui; então eu ia a
Maputo e ia deixar de ir nesses sítios. Lá ia eu perder aqueles camarões daquele
tamanho. Claro que não. Fui ao outro
lado também e comi uns camarões num restaurante na praia que agora me
fugiu o nome, sei que era de um cidadão que esteve
algum tempo em Lisboa, embora fosse indiano de Goa
- É mesmo, eu também fui lá, e
sem gostar muito de camarão, comi também.
Apesar dele já ter dado a chance
da conversa sobre o desencontro de quase dois meses atrás, ela não se arriscava
a falar nada, perguntar nada, e continuava naquela conversa de Maputo, de
comida, da cerveja Laurentina, da pobreza da cidade, enfim.
Mas aí o inevitável acontece.- Tu és uma mulher interessantíssima!
Fiquei encantado ao saber que aquela mulher com quem partilhei uma mesa, ao
menos por dez minutos, eras tu. Não sabes quanto me maldisse naquele dia.
Fiquei tão aborrecido com a minha idiotice, pois eu deveria ter perguntado se eras
tu, que não tive coragem de conversar contigo naquela noite, quanto pior,
quando decidi já estava na hora de pegar o vôo para Moçambique. Naquele dia eu ia falar-te sobre tudo isto, da minha viagem, do meu
trabalho, do tempo, enfim, ia dizer-te tudo que estava acontecendo. Marquei naquele
dia exatamente por este motivo, pois não queria ir embora sem ver –te, conhecer-te
pessoalmente, saber como eras, e deu naquilo e eu não conseguia me perdoar.
Passei todo o tempo pensando como deixei-te escapar de mim..
- Ela sorriu, afinal ambos tiveram o mesmo pensamento e disse: pois
é, quando aquele homem pediu para sentar na minha mesa, fiquei torcendo para
que fosses tu, acredite, era bem assim que eu te idealizava. Quis tanto perguntar, mas tu estavas tão
sério, tão preocupado, que eu desisti, até porque pensei: se fosse ele, ele diria
alguma coisa, daria alguma pista, enfim.
- Ficamos esperando um pelo outro
não foi?
- Sim, foi. Mas depois da tua ausência, de tanto ver a
tela branca quando te chamava, achei mesmo que tua decepção tinha sido grande e
que tu não querias mesmo mais falar comigo.
-Tás doida ou o que? Então achas
que eu desistiria assim tão facilmente. Eu fiquei piurso comigo mesmo e com a
viagem, com o avião, com o computador, com tudo que me impediu de dizer -te que
eu não ia desistir de nós.
Ela já estava ficando emocionada, “Não ia
desistir de nós”. Isto lhe pareceu uma coisa de querer bem, de vontade de estar
com outro, mas ela não disse nada, tinha receio de demonstrar sua emoção, e a
sua vontade de dizer: que tal amanhã, ou ainda hoje mesmo? afinal só eram 10h30min
da noite, e a noite em Lisboa mal começara, podiam marcar algo e ir dançar,
tomar um drink, sabe-se lá mais o que.
- Tenho que entregar o relatório de
viagem amanhã pela manha, lá pelas dez, e depois tenho várias reuniões durante
todo o dia, caso contrário ia chamar-te para uns copos agora, se concordasses claro.
Ela já estava explodindo! Queria
mesmo ver aquele homem, queria olhar mais para ele, ver direito a cor dos seus
olhos, as suas mãos, a sua boca, ela tinha ficado muito impressionada, e tinha
aquela droga daquele relatório. Fazer o que? Guardar a ansiedade e foi o que
fez e já estava quase dando boa noite e tchau quando ele:
Ei, ainda estás ai?
-Claro que estou.
- Amanhã, lá pelas sete, estás
livre? Podemos nos ver?
- Claro que sim, não perderia
isto por nada.
Rua de Lisboa |
-Então fica marcado, amanhã as
sete e um quarto, lá mesmo naquele bar no Caes do Sodré.
- Tens certeza que queres lá
mesmo? Aquilo já não nos deu muita sorte uma vez.
-Sim lá, porque quero apagar este
mês que passou, vamos fazer de conta que nada aconteceu e que, este vai ser o
nosso primeiro encontro marcado.
- Ok, estarei lá, até
amanhã.
Foi deitar-se, não antes de
pensar na sua imbecilidade. Por que não pedi um telefone? Por que não perguntei
seu nome real? E se acontecer algo amanhã, como farei, vou ter que esperar as
10:30 da noite. Bom mais amanhã será outro dia, ou melhor
O DIA
terça-feira, 5 de agosto de 2014
RABUGENTO
Quando ele está na porta da casa, assim
que abrimos o portão, ele entra correndo para os fundos, parece que vai
procurar algo ou alguém; me disseram que ele não gosta de gatos, e, portanto,
assim que entra vai verificar se tem algum no quintal.
Feito isso, ele sobe correndo as escadas
onde a aula vai começar. Ele é bem
educado, embora tenha dias que esteja sem pachorra alguma para mostrar esta boa
educação. Nesses dias deve acordar irritado e, não tem nenhuma vergonha de
demonstrar o seu mau humor, seja para nós, seja para os seus pares.
Quando está bem, faz questão absoluta
de cumprimentar a todos. Sempre estica a mãozinha e espera que a pessoa pegue
nela, ou o cumprimente de outra maneira, mas ele faz questão de demonstrar que
gosta, e muito de carinho, embora na rua não se comporte bem assim.
Na rua ele é um pouco diferente, diríamos
até que ele é agressivo. Não de todo do mal, mas ele é daqueles que não leva
desaforo para casa. Anda pelo centro da cidade todo, todos o conhecem. Ele está
sempre limpo, os cabelos negros brilhando. Tem um apelido engraçadíssimo, e só
depois de muito tempo é que vim entender o motivo- RABUGENTO, embora os mais
íntimos o chamem de Rabu.
Todos conhecem o Rabu e sabem
onde é sua casa. Ele vive no meio de atletas, e, por isso mesmo, faz IOGA. Ele é
perfeito no alongamento, aliás, penso que é a hora que ele mais gosta da aula,
ele se estica primeiro para frente, coloca as mãos para frente e joga todo o
corpo para trás, fica perfeito, todo alongado, penso que nunca terá problemas
de coluna. A mesma coisa ele faz com as
pernas, fica de quatro e estica todas as duas pernas bem para trás, e o corpo
fica quase numa paralela ao chão. È muito interessante vê-lo se esticar todo.
Passa todo o tempo da aula bem
junto a mestre, que é italiana e fala com ele em italiano. Quando ele tá muito inconveniente,
querendo incomodar a todos na aula, ela ralha com ele em italiano, às vezes ele
para, mas, outras vezes, penso que ele não quer que ela ralhe com ele em
italiano, e insiste em fazer as mesmas baboseiras, vai mexe com um, deita-se nos
pés de outro, impedindo que a pessoa possa fazer corretamente o exercício, no
que parece que ele se diverte; quando isto acontece, a mestre tem de levantar e
puxar ele para o seu lugar, que é, quase sempre, no canto da sala.
Ele não se concentra; se ouve algum
som diferente, seja na rua, seja na própria casa, ele sai disparado para saber
o que é: não interessa que altura da aula esteja, ele parece querer proteger a
casa e a sua mestra. Penso que ele acha
que é uma espécie de segurança.
Dizem que ele é muito
conquistador, não participo da sua intimidade para afirmá-lo, mas comenta-se que
tem muitos filhos espalhados pela cidade. Eu pessoalmente acho que ele é um “vagabundo”,
“moleque”, e que não sabe escolher direito as suas parceiras e faz filho em
quase todas elas, resultado: qualquer hora vai substituir os “santos” em
matéria de paternidade.
Pois é! Eu e Rabu temos encontro
marcado dois dias na semana. Bem verdade que eu não sou muito amante da sua
companhia, suporto-o, mas não tenho grande afinidade, mas ele parece não
perceber isto e, muitas vezes não só fica me esperando na porta, como vem ficar
ao meu lado quando sento no meu tapetinho para me preparar para a aula. Para me
livrar dele logo, cumprimento-o, pego a sua mão, ou, como ele é baixinho, aliso
a sua cabeça, mas ele é insistente, e a mestre tem que chamá-lo para que ele se
afaste, aí ele vai futucar outro, ou o Tristão, ou os outros alunos.
Quando a aula começa, depois que
ele se alonga, fica por ali, relaxando sempre, não faz toda a aula, deita-se e
fica ali relaxando, até que resolve, outra vez, cumprimentar a todos, porque
percebe que está finalizando a aula.
Pois é, eu penso que sou uma das
únicas pessoas privilegiadas que tem um cachorro como colega de IOGA, pois o
Rabugento é um vira lata brasileiro, baiano, arembepeiro, de pelo completamente
negro,que foi adotado pela professora de IOGA e que, pasmem! É poliglota, e
como tal, qualquer dia destes, vou ouvi-lo latir em alemão, ou italiano. Quem
faz alongamento na IOGA e atende à sua dona em italiano, penso que pode fazer
tudo, até latir em outro idioma. Será?
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