Meu companheiro há uma semana me
disse que fora convidado para um passeio de escuna no dia primeiro: gosto do
mar, mas confesso que não fiquei radiante com a comunicação, cheguei mesmo a
sugerir que ele fosse sozinho, mas não gostei da expressão que ele fez. Decidi
que iria, muito mais pelo fato de que ele me disse qual era a finalidade do
passeio de escuna: um oferecimento de um presente ao “MARUJO”.
De qualquer maneira estava meio apreensiva:
no mar, em um barco em que não conhecia ninguém, mas lá me fui. Fui muito bem recebida e vi o dono do barco,
que é um advogado, dizer ao meu companheiro da felicidade por ele estar ali
naquele momento.
Tinha algumas pessoas no barco, fixei-me
em um senhor branco alto, magrinho, com uma cara tão boa, tão amável e amiga,
que me chamou atenção. Havia uma mesa com muita comida e, no centro dela, uma
gamela vazia; deduzi que aquela estava destinada ao presente para o MARUJO.
Chegaram mais um casal e um rapaz
baixinho e engraçado, e após isto ouvi o dono do barco mandar que a embarcação fosse
desamarrada. Fiquei um pouco nervosa
quando vi que era ele mesmo que dirigia o barco, aliás, devo dizer que o leme
era lindo: gosto daquele velho leme que aparece nos filmes de mar. Bom, mas
saímos da marina, aquela do mercado modelo e seguimos em direção à Barra,
sempre acompanhando a procissão de Nosso Senhor dos Navegantes, mas sem
participarmos dela, afinal não era este o objetivo; neste trajeto ouvi quando o
dono do barco disse que ia começar a preparar o presente e percebi uma movimentação
no interior do barco, para onde me dirigi ao ver que meu companheiro estava lá
falando com um senhor. Lá dentro estavam: o dono do barco, este senhor que
chegou depois, o rapaz de cara engraçado, o magrinho todo de branco.
Rapaz! Só quem estava lá podia
sentir a emoção: quando cheguei lá embaixo percebi que o rapaz de cara
engraçada não era mais o rapaz de cara engraçada, e sim o MARUJO. Sim Felipe,
se você ler isto vai saber da minha emoção mesmo, você pode avaliar a minha
sensação. Recebi um abraço enorme, uma coisa muito forte percorreu todo o meu
corpo: senti-me tonta e fui amparada por ele, senti que estava desfalecendo,
pois não conseguia me manter em pé corretamente, meu corpo balançou algumas
vezes, dei passos cambaleantes para o lado e para trás, sempre amparada pelo MARUJO e pelo rapaz todo de branco. Via as
pessoas sorrirem me olhando, e também vi a expressão do meu companheiro, penso
que de preocupação. O fato é que tive várias emoções e sensações em um momento
único e aí sim, começou o meu dia com os MARUJOS.
Não nego não, estava entre
surpresa e atônita. Eu podia imaginar tudo para o primeiro dia do ano, mas
jamais me passou pela cabeça o que me aconteceu. Comecei a agradecer ao meu
MARUJO, sim porque tenho um, que fica lá em casa em minha companhia durante
todos os dias e todas as horas. Sim é
uma pintura, uma simples simbologia, mas sei qual o motivo dela estar ali;
porque entre tantas outras entidades é ele que esta ali, guardando a minha casa
e a todos que entram nela.
Lembrei-me muito de você Felipe,
muito mesmo. Lembro-me de quando me disse que antes de entrar na casa nova eu
deveria oferecer um presente ao MARUJO. Fiz a oferenda, tudo como você me
recomendou. Lembro-me do recado que recebi, através de você, de que a oferta
fora recebida e que ele, o MARUJO, estava muito agradecido. Também me recordo,
perfeitamente, de você me ter dito que onde quer que eu esteja ele estaria
junto de mim e que eu poderia contar com ele em todos os momentos. Chorei
muito, um choro contido, mas um choro que vinha da alma, que estava
efetivamente radiante e transbordava emoção por todo o meu ser.
Tudo era emoção, eu estava ali com vários
orixás que iam e vinham, mas os MARUJOS estavam ali sempre, deram passes em
todos, beberam muita cerveja, mas muita mesmo. Ofereceram cervejas a todos, e
eu entendi que a cerveja que eles tomam e oferecem a todos é uma forma de
purificação, de cura: um bálsamo.
mais sério deve ser algum comandante de barco
o outro, o mais brincalhão, um grumete, um marinheiro mais novo. Não sei se
existe esta divisão, mas eu imaginei isto.
Conversei muito com o mais brincalhão, que me deu um banho de água do
mar, pois me fez descer até uma parte do barco onde você pode se molhar, e, com
o seu chapéu de marinheiro, pegava água do mar e me jogava, fiquei molhada e
emocionada, realmente não dá para dizer da emoção. Ele mandou que eu cuidasse mais do “meu
marujo” e da minha Iemanjá. “Se você não quiser cuidar, pelo menos leia, naquele
seu negócio preto onde você trabalha, sobre o MARUJO”. Realmente não sei bem o que senti nesse
momento, mas confesso que foi muito forte.
Voltei para cima do barco e
fiquei lá; um preto velho, Pai Joaquim das Cachoeiras, acho eu que este era o
nome da entidade, me disse tantas coisas que eu só tinha mesmo que ouvir,
entender e chorar, como o fiz. Depois de passar uns dez minutos com as mãos
entrelaçadas com a do preto velho, que apertei com muita força, porque era o
que o corpo pedia naquele momento levantei e dei espaço a outrem, mas ouvi o
dono do barco perguntar, se eu tinha consultado o velho e se tinha recebido as
respostas. ”Não, não fiz qualquer pergunta, mas com certeza tive muitas
respostas”. Acho que a minha fé aumentou
a partir daquele momento, pois, aquele homem magrinho que me tinha chamado
atenção quando entrei no barco, era o cavalo daquela entidade. Nunca vi aquele
senhor em nenhum lugar, mas aquele homem me disse coisas que sou eu e ele
entendemos e que não dizem respeito a ninguém,
solamente a mim. Mais uma vez chorei, a emoção estava à flor da pele.
O MARUJO mais sério voltou, outra
vez, para junto de mim e me perguntou: “Você tem medo de mim?” respondi que
não. “Você não vai me cumprimentar como deve?” Respondi que não sabia como
cumprimentá-lo e ele me disse: “Você sabe sim, você é que não quer”. Não sei bem do que ele estava falando,
sinceramente, mas não pude, mais uma vez, deixar de sentir sensações fortes em
todo o meu corpo. Tive de segurar as mãos de um senhor que estava ao meu lado
para não cair, era como se eu estivesse saindo do meu próprio corpo sem
conseguir mais controlá-lo. Não gosto destes
momentos, mas parece que devo passar por eles, penso que já estou ficando
acostumada, sem me acostumar, entretanto, mas isto está ficando rotineiro
sempre que estou próxima às entidades, principalmente ao “SEU MARUJO”.
Muitas outras coisas estavam
ainda por vir. Rezamos antes de a oferenda ser colocada. Um peixe enorme,
vermelho, lindo, arrodeado de alfaces, tomates, cebolas, que foi colocado no
mar pelos MARUJOS.
Orixás se revezavam, oxuns,
pretos velhos, Oxóssi. De perto, bem juntinho deles ouvi os seus cantos;
É
emocionante ouvir o canto de Oxum, parece um lamento, mas é um lamento lindo.
Ouvi um som, que não sei de onde veio e nem de que orixá era, um som forte, um
canto forte. Alguém disse que era o
canto da sereia quando comentei. Espero bem que sim! Se assim foi, tive este privilegio.
Aliás, eu e meu companheiro tivemos mesmo o privilégio de, no primeiro dia do ano,
estarmos juntos de tão importantes entidades. Fomos agraciados mesmo. Eu, talvez um pouco mais de que ele, tenho mesmo de agradecer, pois não é todos os dias
que, um dia qualquer, como seria o meu primeiro dia do ano, virasse um dia de
extrema felicidade, de tantas emoções, de tantas purificações e de tantas
revelações, pois eu ouvi, em alto e bom som, por umas seis vezes seguidas, o
MARUJO me dizer: EU GOSTO DE VOCÊ, EU GOSTO DE VOCÊ, EU GOSTO DE VOCÊ... Não é todo o dia que se recebe declaração de amor de um MARUJO.
Pois é Felipe, eu estive com eles
e lembrei-me de você, a quem agradeço por me ter permitido conhecer melhor esta entidade que me
acompanha há muito, pois o meu companheiro sempre foi muito ligado, desde que estamos juntos, vamos ao mar na
virada do ano levar a cerveja do Senhor MARUJO”.
Enfim, agradeço ao amigo do meu
companheiro por me ter proporcionado um dia de tantas emoções, agradecimento e
esperança. Agradeço ao meu companheiro
por me ter levado a este espaço de amor, luz, esperança, sem ele eu não poderia estar lá. Agradeço a DEUS por permitir que tudo isto tenha
acontecido e aos MARUJOS pelos motivos que eles próprios sabem.
Um bom começo de 2016 para todos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário