segunda-feira, 28 de julho de 2014

Poemas

Ah se tu  Soubesses

Ah se tu soubesses!
Se tu soubesses da minha agonia,
Das  minhas noites mal dormidas,
Das minhas horas de angústia,
Do sabor salgado das minhas lágrimas.
Ah Se tu soubesse!
Dos acordares sobressaltados
No meio das madrugadas frias,
Com pesadelos em que me deixas para sempre,
Ah! se tu soubesses!
Das inúmeras vezes que acordo na noite
Procurando-te a meu lado,
Ah se tu soubesses!
O que é andar na rua procurando te encontrar,
Entrando em restaurantes para te achar,
Indo a shopping para olhar vitrines  de lojas masculinas,
Na ilusaão de que a qualquer momento apareces.
Mas tu não sabes de nada,
Não notas nada
Egoisticamente,  não me deixas partir, criar asas e ir-me
Para procurar só a mim mesmo, e, quando me encontrar,
Nunca mais procurar-te, em lugar algum
Não queres isto, queres-me assim,
Insegura, doente, infeliz,
Não sabes amar o belo, sabes  fazê-lo feio,
Mas sobreviverei a tudo isto
E, como já disseram-me uma vez,
Ressurgirei nas mais belas e esplendorosas formas,
Porque aprenderei a amar-me
E serei eu vinte quatro horas do dia, se preciso, aumentarei as horas dele
Para ser sempre: eu, eu e eu.


 O que Perdestes

Pensas que  vou definhar,
Sucumbir, desaparecer?
Estás  muito enganado.
Ressurgirei das cinzas onde me lançastes
Aparecerei  explendorosa  em lugares inimagináveis
Alguém dar-se-á ao trabalho de dizer-te que me viu,
E dir-te-á da minha felicidade!
Da minha alegria, da minha exuberância.
Não acreditarás, em princíoio, é verdade,
Procurarás ver com os teus póprios olhos,
Chorarás, sim, chorarás!
Constatarás que perdestes uma grande mulher,
Uma grande amiga, uma grande companheira,
Que agora tem o seu olhar dirigido para outro
Que, talvez como tu, ainda não reconheça o que tem a seu lado
Mas eu saberei como fazer
Para não voltar a perder  o brilho do meu olhar, a sedução do meu corpo,
A minha entrega à felicidade, a minha procura pelo melhor de mim.
Chorarás sim, mas será tarde. Porque eu jamos voltarei a abdicar de mim 


Súplica


Sabes o que queria agora?
Sorrir, gargalhar até,
Sabes por que não estou fazendo isto?
Porque tu não me permites,
Incomodando da maneira que incomodas,
Sem um segundo sequer sair do meu pensamento.
Afastes-te de mim
Deixa-me seguir o meu caminho.
Não rondes a minha vida,
Não impeças a minha felicidade,
Ela não é contigo,
Com certeza,
Não queres me ver feliz,
Nunca o quisestes,
Fizestes  da minha vida um inferno,
Tirastes de mim o que de mais belo tinha
Que era o meu sorriso, a minha esperança, a minha alegria de viver.
Vai-te, deixe-me em paz,
Sobreviverei, tenho certeza,
Sou forte, meu sorriso voltará,
Mas tu,  nunca mais será o motivo dele,
Não te odeio, nunca  vou conseguir isto,
Até porque vou tirar-te definitivamente da minha vida
Vou ser eu, eu e eu, e sorrir outra vez, até  das minhas  dores,
Porque elas apenas serão lembradas como tal, sem qualquer identificação,
Vai-te, deixe-me, quero viver para  que vejas que não és mais nada para mim
Que sem ti minha vida é alegre, feliz, liberta, promissora, vivida.

 Arembepe, Julho de 2014

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Educação Virtuosa!

Estou lendo a tese de doutorado de minha professora de História na UNEB, Doutora Nancy Rita Sento Sé de Assis: Baianos do Honrado Império do Brasil: Honra, Virtude e Poder no Recôncavo 1808-1889[1].
Como o próprio título sugere, a doutora trabalha a honra, a moral, a virtuosidade e o poder no Recôncavo da Bahia, entre 1808-1889. No período analisado, o Brasil passou de colônia, a Reino, e de Reino a Império. A professora demonstra, no decorrer do trabalho, o que era considerado virtude e honra e como elas defendidas nas diversas esferas sociais. Em um momento discute a virtude feminina, como era trabalhada e como a honra era protegida e no caso de  sua ofensa,que crimes eram  praticados em nome da sua defesa, trazendo exemplos ocorridos nos período, todos eles comprovados através de documentos encontrados nos diversos arquivos da Bahia, mui principalmente o Arquivo Público do Estado. Todavia não é só a honra da mulher que deveria ser preservada e, se ofendida, vingada. Muitas outras situações ofensivas à honra seja  dos poderosos, seja de escravos e pobres são analisadas e no contexto jurídico, os crimes contra ela praticados(calúnia e difamação)  são estudados através de processos crimes, demonstrando como os crimes eram punidos. Por outro lado, a autora imbrica a educação como um elemento que  pode  modificar, ao longo do tempo, a sociedade e, com ela,  as próprias situações  que poderiam ser consideradas como ofensa à honra como a mesma educação influencia  comportamentos, mudanças de atitudes,enfim, os próprios conceitos trabalhados: virtude, honra, poder.  
O texto é mesmo muito interessante, no entanto, deixei-me levar em direção a um dos  pontos tratados, a honra e a educação das mulheres, e o fiz quando  deparei-me com este trecho:
“Trancá-las num convento para que se conservassem castas, ou quando não mais o fossem, ainda seria um expediente utilizado, mas... (Educá-las para a sociedade)parece ter sido a solução encontrada. Aquelas mudanças já eram então admitidas entre os que conduziam os projetos de uma educação feminina, mas naquelas propostas e modelos de mulheres, conservar-se-á o mais antigo, correspondendo àquele de virtuosa mãe [que] teve a rara felicidade de encontrar na sua pessoa os tesouros de Débora, as energias de Ruth e a ternura de Rachel (...), tipo de verdadeira mulher bíblica, filha extremada, mãe exemplar, mulher forte” (pg.48)
Voltei no tempo, e me surpreendi: Voltei aos anos 60, quando eu, com sete ou oito anos fui interna, já falei disto, mas com a leitura desta tese, tenho obrigação de retornar ao assunto, para demonstrar os resquícios de uma época colonial em que o que era perfeito era o que realmente vinha da província, no caso Portugal, que ditava tudo, as normas da educação, da etiqueta, do machismo, da inferioridade do gênero feminino. No decorrer do texto podemos observar que, no que se refere à moralidade, a honradez, as coisas não mudaram muito, desde àquela época, até a bem pouco tempo atrás, menos de 50 anos atrás, os mesmos casos pela autora apontados como de ofensa a honra das famílias, das mulheres, continuavam sendo tratados da mesma maneira.
Por que falo de resquícios? Porque me lembro perfeitamente como éramos educadas no colégio interno. Evidentemente que tivemos alguma evolução, já se formava professoras à época, já existia muitas professoras ensinando em diversos colégios, penso que também já tínhamos passado a barreira do gênero nas faculdades, mas ainda persistia a educação para o lar. Éramos educadas para sermos mães de família, para obedecer aos pais e, depois aos maridos. Aprendíamos, aliás, matéria do currículo normal, de prendas domésticas. (já nem sei se não eram prendas do lar) Pense aí, prendas domésticas.  Eu consegui sair do internato sem saber fazer porra nenhuma neste particular, aliás, o que aprendi a fazer foi limpeza, pois era obrigada a limpar dormitório, refeitório, banheiros, igreja, e tudo que fosse necessário, era assim que pagava a minha educação. Não a tive de graça.
Lembro-me que um dos meus trabalhos, porque tinham de me manter ocupada sempre, pois caso contrário eu sempre estava aprontando alguma, era limpar a biblioteca, arrumar os livros que eram retirados da estante dentre outros afazeres. Assim, aos onze ou doze anos, dei de cara com livros proibidos, que todas as maiores tinham curiosidade de ler, mas que as freiras não deixavam, querendo, com esta atitude, preservar as mulheres de conhecer qualquer coisa sobre sexo, política, poder. Sexo era mesmo um tabu, só se falava nisto em aula de ciência, e assim mesmo, para que soubéssemos a diferença entre uma mulher e um homem.  A única freira que nos falou de sexo um pouco mais profundamente, que nos falou prazer feminino no sexo, não para nos instruir mesmo, muito mais para evitar as masturbações que tinham lugar há todos os dias quando, algumas de nós despertávamos para o sexo e sentíamos a necessidade física de exercitar os músculos vaginais, pedido ardoroso do próprio corpo e impossível de ser controlado. A freira explicava que o prazer tinha de ser de dois, que o prazer de um só, decorrente da masturbação, na verdade, era pecado. Que nós devíamos nos livrar destes pensamentos, porque continuar com eles era pecar, e que não seríamos perdoadas por Deus. Puta merda, imaginem só. Por causa de uma esfregadinha ali ou aqui iríamos queimar no fogo dos infernos, que miséria.
“Naquele contexto, em que se convalida a idéia de valorização da infância, a virgindade casta é considerada como atributo de moças educadas para a inocência. Inocência que personificava a tutela da família, mães, pais, irmãos e maridos, aos quais competia vigiar o que as mulheres viam, ouviam e liam, os seus momentos de lazer e aprendizado” (pg. 59)
A virgindade tinha de ser preservada até o casamento, e olhe que eu já estava com 17 anos, fora do colégio interno, estudando no Colégio da Bahia – Central, no período da noite. Já trabalhava, mas a estória era a mesma, a virgindade tinha de ser preservada de qualquer maneira, falaram tanto que me dava um medo da porra ter relacionamento com homens. Meus namorados, dessa época, não podiam avançar qualquer sinal. Como me arrependo meu Deus. Perdi tanta oportunidade de estar e ser de alguém a quem muito quis: um homem que eu desejei tanto, que não tive e não posso ter, pois ele já foi chamado.
Pois é, tudo isto me veio numa realidade incrível, lendo os trechos transcritos e muitos outros da tese que todos deveriam ler, é um grande estudo sobre o que significava a honra àquela época, e quais as conseqüências da sua ofensa.
Através da leitura fiquei sabendo que as Irmãs de Caridade chegaram à Bahia em 1853, portanto cem anos antes do meu nascimento, (pg. 53) e elas eram responsáveis, não só elas, pela educação das jovens, responsáveis pela educação religiosa, moral, doméstica. Deviam ensinar as moças a falar francês, vigiar a sua virgindade e castidade, inclusive, como os pais, vigiar o que liam, o que escutavam. As moças deveriam sair dos conventos prontas para assumir a vida familiar, ou seja: ser mãe, esposa, dona de casa, obedecer e agradar aos maridos, e o mais importante, virtuosas, guardando para o leito marital a sua maior riqueza, a virgindade. [...] Ambas, obediência e castidade, porém antes garantidas através da reclusão e do medo, no contexto das transformações oitocentistas, não seriam introjetadas pelas mulheres, senão por meio de uma educação ancorada no princípio da auto-repressão sexual em favor da moral e da virtude. Essa educação pretendia que toda moça de “boa família” conhecesse e estivesse convencida do alto valor social da sua virgindade. (pg.52).
Torno a me lembrar do convento, onde li os livros proibidos: Eça de Queiroz não era acessível, só depois de muito tempo é que vim entender a proibição; então era possível ler um livro que falava de amor carnal entre irmãos, entre um padre e uma paroquiana, entre uma mãe e um filho?  Jamais: mas eu li os Maias, não como deveria, pois tinha que ser aos poucos e pulando páginas, sobressaltada.  Muito tempo depois li calmamente, não só os Maias, como o Crime do Padre Amaro, a Rua das Flores, dentre outros de Eça de Queiroz que tanto mostrou, e bem, a farsa da sociedade portuguesa de oitocentos.
Mesmo depois de ter deixado o convento, quantas pessoas vi repudiar uma jovem porque, como eles diziam na época, “se perdeu”. A criatura virava uma “vagabunda”. Os pais ficavam decepcionados, com a honra ofendida, os outros pais proibiam as suas filhas de andar com a “perdida”, e Isto eu já tinha para lá de 18 anos. Aliás, aos dezenove só não desonrei total minha família, porque tive a sorte, ou o azar, de ser pedida em casamento.
Bom, pelo parágrafo acima vocês já notaram que eu não levei muito a sério os ensinamentos das freiras: fiz faculdade, formei em Direito, casei, descasei, pari. Não posso afirmar que fui uma boa esposa, acho que não, perdi já dois maridos, portanto não aprendi como ser obediente, calada, passiva para ficar com alguém em nome da preservação da família. Não sei se fui, ou sou, boa mãe, nem boa avó agora, já com três netos. O que sei é que, a exemplo de antigamente, a minha honra e a da minha família foi salva com um casamento às pressas, que nem bem começou, com a mesma urgência acabou. Não sei se falaram ou deixaram de falar sobre este meu casamento relâmpago, mas soube de um comentário vindo do outro lado do Atlântico: “coitadinha da esmeraldinha, tão jovem e já assim, sozinha e com um filho para criar”. Não sei se o comentário foi mesmo de pena pela situação, ou se foi uma critica, mas deixa para lá. 




[1] Assis, Nancy Rita Sento Sé de. Baianos do Honrado Império do Brasil: Honra, Virtude e Poder no Recôncavo 1808-1889. Tese apresentada ao Curso de História da Universidade Federal Fluminense como requisito para obtenção do grau de Doutor. Área de Concentração: História Moderna e Contemporânea, 2006.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Quem não deve não teme!

Recebera um ofício da Corregedoria. Lê o que ali esta sendo solicitado e se indigna, e diz que não vai responder. Os dias passam e os funcionários da corregedoria insistem, inclusive, segundo os funcionários da vara, fazendo ameaças, de que eles, se não cumprirem o pedido da corregedoria, seriam punidos. Ela resolve explicar ao corregedor qual o motivo pelo qual não vai cumprir o solicitado, responde muito grosseiramente, chegando a dizer que, se a corregedoria queria saber o horário de entrada e de saída do Juiz, se a idéia era fazer controle de jornada, que se colocasse um relógio de ponto na porta da sala de audiência, assim seria muito mais fácil, sem esquecer que o trabalho do Juiz não acaba ali, depois das audiências.
Com esta resposta, recebe outro ofício da Corregedoria cobrando a solicitação, ameaçando com possíveis punições, desta feita, à própria magistrada, e terminando por dizer que; exatamente aqueles que demonstram tanta agressividade, tanta indignação são exatamente aqueles que, por não cumprirem as suas obrigações, se revoltam quando cobrados.
Aí ela se aborrece mesmo, e resolve responder, não com a agressividade habitual, mas querendo, na verdade, criticar a Corregedoria e a sua maneira de atuar, pois não entende a falta de coragem do responsável que, querendo cobrar de alguns, dirige sua ação contra todos, tantos os responsáveis quanto os que, a critério dele, eram irresponsáveis, ou melhor, não cumpriam as obrigações no prazo legal.
Sempre entendeu que se você sabe quem é o descumpridor de obrigações, das normas, dos deveres, é esta pessoa que deve ser cobrada, diretamente, sem quaisquer melindres.  O lema um por todos e todos por um, neste particular, não tem aplicação. A cobrança tem de ser individualizada, você não pode querer a coletividade pague por o erro de A, B, C, se o A, B e C são identificados, estes sim, é que devem ser alvo da ação dos responsáveis pelo controle.
Bom, mas devido a tantos atos errados, inclusive sob ameaças, solicitou à secretaria cópias de todos os seus relatórios mensais, cópia de todas as atas de correição, inclusive a última ata, que foi feita após a correição dirigida pelo então Corregedor, demonstrando o cumprimento de todas as obrigações, o que foi sempre atestado pelas Correições anuais, pelos boletins mensais, pelos relatórios mensais sempre enviados dentro do prazo e de todas as cópias, ao menos de seis meses, das informações que era feitas todos os dias, das audiências realizadas, dos acordos concluidos, dos adiamentos, enfim, uma verdadeira prestação de contas diária e encaminhou tudo com o ofício abaixo:
“Senhor Corregedor:
Com relação ao oficio nº tal, datado de, e recebido na terça feira, dia tal, temos a fazer as seguintes considerações:
Com o ofício supra mencionado restou claro quais os objetivos pretendidos pela Corregedoria com o expediente indicado na correspondência anterior, razão porque esta Juíza, embora discordando do meio empregado “CONTROLE DE JORNADA DE JUIZ,” louva a iniciativa, uma vez que concorda em número, gênero e grau com a premissa ali indicada, a de que o judiciário tem de ser transparente, célere e observar o principio da moralidade.
Em momento algum, esta Juíza pretendeu tirar a autoridade de Vossa Excelência, quanto pior, insinuar ou pretender que abra mão das suas prerrogativas, primeiro sabe ser isto perfeitamente impossível, e segundo porque são estas prerrogativas garantias de um Judiciário, sério, honesto, moral, e ético.
Por compactuar com todos os princípios e idéias tão bem explanadas no expediente nº tal, é que esta Juíza já autorizou a prestação das informações solicitadas e, complementando-as, para que não reste a menor dúvida a respeito da “transparência”, da responsabilidade no cumprimento das suas obrigações e da observância de todos os deveres inerentes ao exercício da magistratura, é que vem fornecer, documentalmente, todos os dados solicitados por esta Corregedoria e, mais que isto, por não ter nada a esconder, por ter uma conduta profissional irrepreensível, demonstrar que, nos sete anos em que vem exercendo a titularidade da Vara, sempre cumpriu as suas obrigações, o que foi sempre atestado pelas Correições anuais, pelos boletins mensais, pelos relatórios mensais sempre enviados dentro do prazo e com todas as informações exigidas, para que este Tribunal, através da sua Corregedoria, acompanhasse toda a movimentação de processos, a atuação do Juiz e o desempenho dos funcionários.
Esclarece, outrossim, que, como comprova a documentação acostada, esta Juíza, durante toda a semana permanece nesta cidade na qual tem casa alugada às suas expensas e onde freqüenta o curso de Licenciatura em História, tendo aulas de segunda a sexta no período noturno e no sábado pela manhã.
Informa, também, que as audiências da Vara começam, impreterivelmente, às 08h30min da manhã, sendo impossível declinar o horário de término, pelos motivos por demais conhecidos desta Corregedoria; no entanto, seguem as cópias de todas as atas de audiência realizadas nos últimos 15 (quinze) dias, conforme solicitação de Vossa Excelência, nas quais se pode notar, claramente, os horários, devendo ser observado que, após o término das audiências, ato contínuo, as sentenças passam a ser prolatadas.
Por oportuno, elucida que nos dias 12 e 13 do corrente, não foram designadas audiências por completa impossibilidade de ser observado o interstício legal, entre a data do ajuizamento e a data da audiência.
Caso Vossa Excelência entenda que as informações aqui prestadas são insuficientes para os objetivos mencionados no Oficio supra, solicite o que entender necessário e esta Magistrada, que tem a certeza de cumprir a sua obrigação e que, por isso mesmo, se dá ao direito de discordar e indignar-se diante dos meios empregados para o exercício da fiscalização inerente à Corregedoria, que se tivesse informado que a “fiscalização do Horário” tinha um simples objetivo e era passageira, não teria dado causa à indignação desta magistrada
Quem cumpre o dever, quem observa as normas inerentes ao exercício da magistratura, não só tem o direito de indignar-se, como, também, de expressar a sua indignação, aliás, ao contrário do que entende esta Corregedoria, somente estes, os que cumprem fielmente os seus deveres, é que podem indignar-se diante de qualquer medida que possa ferir a sua dignidade profissional, atestada e aperfeiçoada ao longo dos 11 anos de exercício do cargo.
Por se saber perfeitamente cumpridora de seus deveres e ainda, por exercer com independência o seu cargo, não estando sujeita a qualquer subordinação hierárquica, é que esta Juíza presta as presentes informações, a título de colaboração, para que esta Corregedoria possa bem cumprir o seu mister.
Com os costumeiros e formais protestos.
A  Juíza”

É assim que agem aqueles que não têm rabo preso.. 

sábado, 12 de julho de 2014

EKUNYA, EKASAKÓ;ENRURELIWA OTTULI - Justiça pelo Avesso

“Onira: «enenèle eyo va», orimòna yèttaka”:Aquele que diz «Essa formiga aí» É porque a viu andar.
Esse é um provérbio macua, catalogado pelo padre Alexandre Valente de Matos(1982)[1]
O que este provérbio quer dizer? Quer dizer o mesmo que “onde há fumo a fogo”, ou seja,  quando há algum comentário, alguma crítica, alguma conversa sobre determinado ato de alguém, é provável que  ele tenha acontecido mesmo, e este  provérbio era usado  pelos régulos  para  culpar alguém de determinado  ato. Segundo mesmo autor,  se uma mulher fosse se queixar do marido ao régulo, alegando que ele a maltratou,  e, após ouvido o marido, o régulo não estando confiante nas desculpas daquele, aplicava tal provérbio,e argumentava que ninguém viria  fazer uma queixa gratuitamente[2]

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Um nostálgico passeio no comércio

Estive ontem no comércio, tive que ir ao banco do Brasil para resolver problemas financeiros, mas foi muito bom ter esta oportunidade de ir até o comércio em um dia que não fosse o da festa do Bonfim, porque é, talvez, o único dia em que vou ao centro da cidade baixa a cada ano.
Fui sem carro, não há vagas disponíveis, portanto tive a chance de andar a pé e revisitar alguns lugares, embora tudo esteja muito decadente. Fiquei surpresa porque o bondinho do plano inclinado está funcionando, fizeram uma reforma e pintaram as cabines de azul, penso que quiseram fazê-los originais, mas preferia, sinceramente, a cor anterior. Adoro subir ou descer nestes bondinhos, a vista é impagável; todo mundo, ao menos uma vez na vida, deveria descer ou subir aqueles bondinhos. O pedaço da Baía de Todos os Santos que se vê é extraordinário. Vislumbrar, ao longe, a Igreja do Nosso Senhor do Bonfim é maravilhosos, ver a Ilha do outro lado, os navios ao largo, uma parte do porto, o velho casario desgastado pelo tempo é que é deprimente, mas não apaga a beleza da paisagem que se descortina. Não entendo como tem gente que viaja de costas.
Antes de chegar até o bondinho andei pelas acabadas ruas do comércio, ruas onde passei uma boa parte da minha vida. Trabalhei 12 anos em um escritório de advocacia que ficava na Rua Portugal. Não nego que não tenho grandes saudades do escritório, mas tenho uma saudade enorme de tudo que vivi nesses doze anos.
Lembro da penúria em que vivia por falta exclusiva de clientes, mas nada que me fizesse desistir de ser advogada, de pensar que, com o meu trabalho, poderiam ajudar muitos, aliás, o que fiz. Trabalhávamos eu, meu companheiro, meu irmão e, depois de algum tempo, Lauro, além de dar guarida a outras pessoas, colegas de profissão e também amigas da minha irmã menor que procuravam trabalho. Imaginem só: fudidos e ainda dividindo o que não tínhamos, além de, em muitos casos, substituirmos o Estado na prestação de assistência judiciária, mas o fato é que, com tudo isto, sobrevivemos.
O escritório foi arrumado, nos parâmetros da época, bem arrumado. Logo nos dois primeiros meses de funcionamento, um amigo nos levou uma causa de um fazendeiro, nada que não conseguíssemos resolver facilmente, e, para felicidade nossa, minha e do meu companheiro, e por influência deste último, tudo foi resolvido rápido e a contento dentro da Junta Comercial. O homem ficou para lá de satisfeito, e nos pagou muito bem, inacreditavelmente bem, tanto que pagamos os móveis do escritório e ainda compramos um “frigobar”, além de ficarmos com algum dinheiro na mão para os três ou quatro próximos aluguéis e, acreditem, ainda demos uma participação àquele que levou o cliente.
O fato é que aos trancos e barrancos fomos em frente. Fazíamos cobranças e, por força do trabalho extra escritório de meu companheiro, começamos a trabalhar com direito marítimo. Lógico que as causas eram poucas, mas o fato é que, quando surgiam sempre sobrava um dinheirinho bom.
Recordo-me que a hora do almoço era quase uma festa, porque tínhamos de dividir o que não tínhamos com uma porção de gente. Imaginem só, sem termos dinheiro comer e ainda dividir a comida com meu irmão, a amiga da minha irmã, Lauro e mais quem estivesse no escritório.  Nossa comida resumia-se, quase em todos os dias, a sanduiches de pernil ou de salame, este último era o preferido, não porque fosse melhor do que o do pernil, porque este é imbatível, mas porque ele realizava o milagre da multiplicação. Fico até hoje procurando saber como aquela espelunca do comércio sobreviveu por tanto tempo. Acreditem se quiserem: comprávamos apenas um sanduiche na espelunca, um pão francês recheado de salame cortado mais ou menos fininho, o salame ia saindo por todos os lados. Cosme, meu irmão, era o comprador oficial deste sanduiche. Na volta, e no caminho, ele comprava uns seis pães e aí o milagre acontecia, o salame de um só sanduiche da espelunca fazia o preenchimento dos outros pães, que eram divididos com todos, dependendo da quantidade de pessoas que estivessem no escritório podíamos comer um pão inteiro, um pão e meio, e até dois. Achávamos uma maravilha.
O de pernil (Rei do Pernil) era mais caro, mais gostoso, porém menor, mesmo assim, comprávamos dois e dividíamos o maravilhoso recheio para mais quatro pães, sempre tínhamos uma média de seis a oito pães para o almoço. Quando as coisas melhoravam e aparecia um dinheirinho, íamos todos felizes contentes ao restaurante. Acreditem se quiserem, melhoramos tanto que, em alguns natais, o pernil ia inteiro para casa, saliento que o meu companheiro somente poucas vezes participava destes almoços, porque ele tinha outro trabalho e podia comer em restaurantes com clientes.
Após o almoço, regado a refresco ou a refrigerante, jogávamos as cartas, era muito engraçado, todos esperando à hora de “bater as cartas”, tínhamos até um slogan para o horário. “joga as cartas, joga as cartas, joga as cartas”. Morríamos de rir, pois, às vezes, quase no final de uma partida, alguém batia na porta, e tínhamos que esconder as cartas correndo. Era mesmo uma farra.
Rua das Princezas
Entretanto, o melhor do escritório era o dia de sexta feira, com dinheiro ou sem dinheiro, íamos para o restaurante do espanhol,  APOLO, que ficava na Rua Portugal, na mesma rua do nosso escritório, logo após o meio dia entravamos de grupo, o espanhol já conhecia e devia dizer para si mesmo, que aquele bando de pobre não deveria freqüentar o seu estabelecimento, o fato é que éramos seus fregueses e pronto, ficamos íntimos. Depois de algum tempo ele até agradecia, porque a partir do meio dia, na lateral do bar onde ficava o balcão, pois o restaurante era fino e caro, ficava do outro lado, ficava repleto dos nossos amigos, pois todos passaram a freqüentá-lo. Era uma farra que só terminava no final da tarde com muitos ébrios. Bom demais e dá mesmo uma grande saudade. Também freqüentávamos o mercado modelo, mas eu não gostava muito por causa do “fedor” de marisco e da sujeira, mas íamos tomar batidas. Infelizmente o Apolo não mais existe. A rua Portugal(antiga rua das Princezas) imaginem só, agora está cheia de ruínas, dizem que tudo ali vai virar um hotel 5 estrelas, duvido muito, tem tanto tempo que se fala nisto. Fico deprimida quando olho o sobrado maravilhoso onde funcionava, no térreo, um supermercado. O prédio lindo de azulejos portugueses está deteriorado, caindo  aos pedaços.A Rua é um verdadeiro caos, suja, fedorenta, cheia de carros, entulhada de ambulantes, horrível. Só o que continua resistindo a tudo é o nosso baleiro,(vendedor de balas e guloseimas) sempre colocou a sua banca na porta do prédio, Edf. Status, e acreditem, permanece ali do mesmo jeitinho.
O tempo foi passando, Lauro saiu do escritório, Iraci foi para a Itália, só ficamos nós três: eu, Carlos e Cosme vivíamos daquilo ali, muitas vezes, eu e Carlos tomávamos café da manha (lanche) no Lisboa, que era de espanhóis, outras vezes, quando  ele ganhava algum dinheiro, ou entrava algum  no escritório,  comíamos no Colón, no Torremolinos, e até mesmo noLe Bistroquê, onde comia  “filet  a Poivre”, inesquecível. Fui algumas  sextas feiras ao Juarez, o melhor filet da Bahia, mas  as coisas não eram fáceis e eu resolvi estudar para fazer concursos, e foi o que fiz, no entanto, continuo, ao menos no dia da lavagem do Bonfim, a ir comer o pernil, não tem nenhum melhor na Bahia, quiçá no mundo, e foi que fiz para finalizar esta minha nostálgica ida ao Comércio, que ficou ainda mais nostálgica quando soube da passagem do querido Manolo, de quem nunca vou esquecer, até porque, gentilmente, para não me chamar de gorda, sempre que estive lá depois de Juíza e até mesmo depois que passei algum tempo em Portugal, ele me dizia: “a doutora está bonitona, forte”. Que você esteja bem Manolo, e que os seus filhos continuem a nos deliciar com o melhor pernil da Bahia. (pão francês e pernil de porco assado com gotas de limão). Recomendo. Ah!  Não se esqueçam de tomar o refresco: qualquer um deles. 
 



quinta-feira, 10 de julho de 2014

E eu vi Dio Come Ti amo

Ouve um cd de música italiana, no momento quem canta é Gigliola Cinquetti, a música é "Non ho L´eta". O pensamento voa, volta a um passado longínquo, quando a cantora era a protagonista do filme "Dio Come Ti Amo".

Lembra que assistiu,aproximadamente, umas 15 vezes ao filme, decorou todas as músicas, sem exceção. E se emocionou em todas as vezes que foi vê-lo, ainda hoje se emociona quando ouve as canções.

Logo do início do filme, que era em preto e branco, a protagonista está na beira da piscina e toca violão para as amigas cantando a música de abertura:  “ Non ho l ´eta.”

Sente uma tremenda nostalgia, mas nada que lhe retire o prazer de lembrar-se dos seus dezesseis, dezessete anos, quando era muito bonita, e por isso mesmo, tinha muitos pretendentes, tantos que, todas as vezes que viu o filme foi com uma pessoa diferente que lhe pagava a entrada, até porque, fosse ela a pagar, não teria visto o filme sequer uma vez. O dinheiro era curto e não gastava com supérfluos, como era o caso de cinema.

O filme passou no Cinema Tamoyo, ali na entrada Ruy Barbosa. Algumas vezes foi com a irmã mais velha, que também tinha os seus dotes, e, portanto, também lhe pagavam a entrada, mas ela já trabalhava e podia pagar ela própria.

O certo é que foi ver o filme muitas vezes. Os acompanhantes, quase todos aspirantes a padre, eram tímidos e respeitadores, e não avançavam sinal, o que era muito bom, porque ela podia ir tranqüila, no entanto fazia charme, muito charme mesmo, inclusive quando chorava com a estória tantas vezes vistas, como se fosse a primeira vez. Aquela fragilidade, aquele choro, embora não forçado, era uma senha para receber um carinho, um afago mais audacioso, uma palavra. Era deveras interessante!

Esteve mais próxima, entretanto, de um dos “seminaristas”, alma prometida a Deus, mas que não queria cumprir a promessa de outrem, “dos pais”, que lhe enfiaram num seminário, porquanto, àquela época, era um grande "status" ter um filho “padre”, pertencente a Deus, seguidor de Cristo. Não se perguntava ao prometido se era esta a sua vontade, que lhe era imposta, apenas isto, imposta e pronto, e lá se vai o pobre coitado aprender Teologia, canto gregoriano, orações, e o pior de tudo, para a idade em que eles entravam no seminário, conter os desejos do corpo, desejos que aos domingos, nos dias em que podiam sair do seminário, se mostravam de todas as maneiras. Um leve toque na mão de uma mulher era capaz de fazer um efeito que hoje o viagra faz nos velhos, que se utilizam dele para demonstração de virilidade.

Estava mesmo inclinada a dar umas agarradinhas no rapaz, que era alto, bem forte, e de uma família tradicional do interior do seu Estado. O rapaz já devia ter uns 20 anos, e já freqüentava o Seminário Maior, porquanto assim era dividida a casa de fazedores dos seguidores de Cristo: seminário menor e o seminário maior. Os mais jovens e que ainda estavam cursando o ensino secundário, quero dizer, o ginásio de antigamente, estavam lotados no seminário menor, os que estavam cursando o ensino clássico ou já estavam em alguma faculdade, preferencialmente, de filosofia, pertenciam ao seminário maior, estes  já com um pé na porta da casa do Senhor.

Foi ver o filme com ele. Não sabe como  aconteceu em dia fora do normal, que era o dia de domingo. Ele marcara numa quarta feira na sessão das 4 horas da tarde. Não passara na sua casa, como todos os demais o fizeram, parecia que não queria que ninguém soubesse que ia ao cinema com ela. Encontraram-se na porta do cinema, ele já com os bilhetes comprados. Entraram e foram sentar, por escolha dele, nas últimas cadeiras do cinema, na fileira que ficava quase embaixo do lugar onde era feita a projeção. Atrás deles só a parede. O safado tava nada bem intencionado, ou melhor, estava mesmo bem intencionado.

O filme começa, Gigliola conversa com a amiga na piscina, prepara-se para nadar, sobe no lugar de onde vai mergulhar para a competição. A música inicia e ela já se arrepia, já começa a se emocionar muito. Sente uma mão à procura da sua. Em princípio, tenta recusar, esconder a mão, mas é num movimento muito sutil, não quer assustar o rapaz, mas não pode deixar que logo na primeira investida as coisas aconteçam.

Ele se retrai, o filme continua mostrando paisagens lindas: Barcelona,(Espanha) Nápoles (Italia) aparece com toda a sua beleza, o mar, as pedras, as lambretas, a juventude, e a música –“ Nápoli, fortuna mia...”, ela sonha, sonha que irá naquele lugar um dia, quer voar, não fora feita para o “marasmo” da vida que tinha. Tinha sonhos grandes, não gostava do espaço em que estava, enfim, deixou-se levar pelo momento que era retratado na tela, tanto que a mão do parceiro avançara mesmo, estava apertando a sua perna. Um aperto bem gostoso é verdade, mas que não era permitido ainda, o sinal verde ainda não podia acender, faz um esforço e faz a mão retornar ao lugar de origem: o braço da cadeira. Tudo tinha de ser muito lento para não assustar.

Nem sequer olha para o rapaz, não quer perceber a sua aflição, o seu desejo. Tenta olhar de soslaio, percebe que ele não tá vendo o filme, olha para si insistentemente. Sente, na escuridão da sala do cinema, os olhos dele fixos nas suas pernas, ela estava usando, para variar, uma minissaia que lhe expunha toda a perna, quase mostrando a calcinha. O cara tava ficando doido mesmo. A sua respiração estava ofegante. Ela ficou com medo, afinal respiração ofegante podia ser resultado de uma grande, tremenda excitação, que ela tinha idéia de onde poderia acabar.

O filme continua, as músicas italianas se sucedem, ela não assiste direito ao filme porque esta preocupada com a mão do rapaz, que insiste em alcançar o sítio, naquele momento, proibido. Ficam naquele jogo, ele bota a mão, ela tira a mão. De repente ele para, ela fica esperando o que vai acontecer. Será que ele desistiu. Bem que ela tava gostando daquele tira, bota, aperta, afrouxa, enfim, fazia parte, agora Gigliola canta "Il primo bacio che daro", o que era uma sugestão que parece ter sido muito bem aceita  pelo rapaz.

Ele se ajeita na cadeira e ela percebe que ele esta tentando levantar o braço direito, o que consegue e coloca-o ao redor do seu ombro. Ele tem braços fortes e longos, portanto consegue quase alcançar os seus dois ombros. Ela permite, ajeita-se na cadeira para facilitar aquele abraço de um só braço. O rapaz, percebendo que ela parece ter gostado daquela atitude, tenta virar-lhe o rosto, quer lhe dar um beijo. Ela resiste, mas já tá na certeza que, antes do filme terminar, aquele beijo vai sair de qualquer maneira, nem mesmo ela vai conseguir resistir.

Já se perdeu no desenrolar do filme. Agora ta mais interessada no desenrolar do seu próprio filme. O rapaz continua tentando fazer com que o rosto dela vire em sua direção. O movimento é delicado, mas é intenso, ele quer mesmo demonstrar-lhe o que deseja. Ela continua resistindo, mas a resistência agora é só charme, só para não ser taxada de fácil. De repente ela sente os lábios de no seu rosto, ele lhe dá beijinhos macios no rosto, ela deixa, afinal o problema era o beijo de boca, se ele acontecesse, as coisas ficariam mais sérias. 

Ele agora já não olha mais para a tela mesmo. Está todo virado para ela, os seus dois braços lhe apertam num grande abraço. A sua respiração cada vez mais forte. Ela quer empurrá-lo, mas ele é forte, e ela não quer fazer escândalo, qualquer movimento brusco e as pessoas que estavam por perto saberiam o que estava se passando, e era capaz do lanterninha vim ver o que era. Isto era impensável, não passaria este vexame.

Os lábios do rapaz procuram loucamente, nervosamente a sua boca. Ela não tem saída, deixa que ela a beije. Como seria o beijo dele? O que ela tinha de fazer? Como se comportar? Se ela deixasse que ele lhe desse o beijo que ele tava pretendendo mesmo, ele perceberia que ela já tinha beijado outras bocas, portanto teria que ficar naquela estória de deixar que ele ensinasse como era. Não abre a boca, o primeiro beijo é um beijo de lábios, tão somente. Nada além disto. O beijo delicado da boca passa a percorrer todo o rosto, ele lhe beija os olhos, o nariz, as bochechas, a orelha. Ela nem se mexe, apenas permite.

Tenta de novo beijar a sua boca, ela agora, entreabre os lábios, mas ele não percebe, ou não sabe mesmo beijar. Mais aperto, mas abraços, mais beijos.

Ela o empurra delicadamente, diz que quer ver o resto do filme, quando olha para a tela vê que Gigliola chora, percebe que o filme está prestes a acabar. Porque ela já está com aquele vestido de baile e chorando, é o momento em que ela percebe que o seu amor vai embora mesmo, e que ela tem de tomar uma decisão.

Quer ver o fim que já conhece em demasia, mas o rapaz também percebe que o filme esta perto de acabar, e ele tem de apressar, se é que quer que daquele encontro saia mais de que um simples beijo. Puxa-a de novo para si. Procura sofregamente a sua boca, agora ele empurra a sua boca contra a dela, quase amassando os seus lábios. Ela deixa, mas já começa a perceber que ele não tem mesmo experiência, talvez nunca tenha beijado uma mulher como deve de ser. A sessão de beijos continua, mas as mãos se atrevem a deixar os ombros e vão descendo mais um pouco, alcançam os seios da moça, que, evidentemente, mostram, sem qualquer puder, o seu excitamento, os mamilos estão apontados para o céu. O simples roçar da mão e do braço dele lhe fazia arrepiar. Ela bem gostava desta excitação toda, mas sabe que aquilo deve parar. Lembra das recomendações da mãe, tias, avó. Tenta, mais uma vez, desvencilhar-se do rapaz. Na tentativa, empurra-o para a sua cadeira, com este gesto o seu braço passa pelo corpo do rapaz, e ela sente toda a potencialidade dele, toda a energia do momento. Retira rapidamente o braço de cima dele, mas não pode deixar de perceber a sua excitação.

Ouve o ronco do avião, quer ver o final do filme, quer ver a emoção do homem dentro do avião, e a aflição da amada fora dele, cantando "Dio Come Ti amo" na torre de comando, o avião saindo e sem que o seu amado apareça, mas o rapaz ao seu lado já não tem mais o controle sobre si e sobre o seu próprio corpo, parece estar tendo alguma convulsão, ela o olha aflita, e percebe algo “inesperado”, ele está, como o filme, finalizando um ato.

O avião volta, o homem corre ao encontro do seu amor." Dio come ti amo" agora é tocado até o encontro dos dois protagonistas. As luzes se acendem. Ele nem olha para ela, sequer pega na sua mão. Saem do cinema calados: ele muito vermelho e envergonhado, tentando mesmo não olhar para ela de maneira alguma. No hall do cinema ele diz que vai ao banheiro, ela entende, ele precisa se desfazer do resultado do “amor” que ele, sozinho, fizera.



Ela apenas sorri, ainda não tinha idade para acompanhá-lo naquele ato, que marcou o início de uma carreira de grandes sensações no escurinho do cinema e de “amor” pela música italiana.