domingo, 21 de junho de 2015

Clorofilando


É domingo, mais um deles, iguais na nomenclatura, diferente por todos os outros motivos. Cheguei da caminhada bem a tempo de não pegar uma chuva, que, sem qualquer aviso, cai forte. Resisto por um momento, mas a chuva cai tão forte ganhando mais força nos beirais por força da água que escorre do telhado, que eu venho deitar na rede. Gosto de ver a chuva cair, sempre tive um sonho de ter uma casa toda de vidro exatamente para ver a chuva cair. Em Portugal achava o máximo olhar o teto do Vasco da Gama e ver a água escorrendo por ele.
O cano do esgoto faz um som estranho, deve ter sapo dentro dele o que impede a água de ter o seu curso normal, olho para o   cano e não dou muita atenção. De onde estou vejo o tanque azul da casa do vizinho. O tanque resiste ao tempo, deve ser por isso mesmo que o seu fabricante tem o nome de FORTLEV, uma junção ótima, penso eu, pois ser forte e leve ao mesmo tempo deve ser estupendo.
A chuva molhou toda a varanda, a mesma que eu tinha acabado de limpar, não me importo, pois se não tivesse chovido eu não teria deitado na rede para apreciar esta coisa mais bela da natureza que é o céu chorar. As lágrimas de hoje parecem ser de felicidade, porque mesmo com pingos fortes, com uma grande intensidade, ela não impede que o sol brilhe um pouco entre as nuvens; ele quer sair e procura esgueirar-se entre as nuvens, criando espaço para expandir os seus raios amarelos.
A chuva parou, tudo está muito verde, os pássaros voltam a cantar, inúmeros deles, não os identifico. Em cima do carro um pássaro enorme com um bico marrom e uma penugem amarela no papo insiste em picar o vidro do para brisa. Por que será que ele faz isto? Não nota que o negócio é muito duro, que não é comida. Ele insiste.
A palmeira está ali verdinha, palmas novas aparecem, ela está ficando linda. Ouço um miado insistente, espero que o fdp do gato do vizinho não esteja na minha casa, ontem tirei um de dentro do quarto, imaginem vocês, que raiva. Depois que os meus cachorros morreram, meus belos cães um rottweiler e um enorme de uma raça que não lembro agora, penso que um fila, não quero mais criar bicho, além do mais detesto gatos.
Não, não há nenhum aqui no momento, mas eles, no decorrer do dia, certamente aparecerão. As pombas ainda não chegaram, outras que abomino, as paredes ficam todas sujas.
Dois belos cachos de cocos esperam que uma alma os retirem do coqueiro, eu não consigo, mas alguém vai ter de fazê-lo. Não tem qualquer lógica eles estarem ali, pois já estão no ponto de cumprirem a sua missão na vida, dar de beber a quem tem sede deste líquido maravilhoso, desta dádiva da natureza.
O bouganville já se encheu de folhas outra vez, cortamos ele bem no talo; é impressionante seu poder de regeneração, aliás, os vegetais são recordistas neste particular, lembro das videiras em Portugal, um período você passa por elas todas estão podadas, no talo, de repente, as folhas e os frutos retornam com toda a força. É mesmo impressionante. Coisas de Deus, com certeza.
Lembro dos meus netos, agora são cinco, é a supremacia da irresponsabilidade do pai de três deles, mas fazer o que, eles estão aí, e vejo-os crescendo. O primeiro deles já está com quinze anos, ficando homem, os dois gêmeos estão com seis anos, observadores e críticos;  a outra, que nasceu há um ano e pouco atrás, já mostra a que veio, é uma participadora, anda na escola, e participa de todas as festas, gosta de carro e de rua. A última, que só tem apenas vinte e poucos dias, já demonstra o quão vai dar trabalho, se vira no berço em todas as direções, consegue ficar com um olho aberto e outro fechado, acho isto engraçadíssimo, ri muito e me pergunto: ela ri de que? Será que pensa esta coisinha?  O que se passa por ali para ela sorrir. Minha mãe dizia que eram os pagãos cutucando os bebês quando eles sorriam assim, prefiro não areditar nisto, mas sei lá se não são mesmo os ibejis, brincando com elas mesmo? Tudo pode acontecer!
O sol agora  se firma, dando mais cores às cores. O verde; ah o verde! Quantas nuances em um só lugar. O coqueiro com palmas bem verdes, um verde escuro. Os cocos, com um verde menos escuro, as folhas do boungaville com um verde mais claro ainda, quase um verde da cor do abacate quando aberto. As palmeiras pequenas com um verde parecido com o das palmas do coqueiro. Os pés de couve com um verde bem escuro mesmo. A grama, esmeralda, valida o nome, o beribéri em um tom de verde especial, meio transparente. As folhas da pitanga, do hortelã, do manjericão, tudo verde. É fantástico.
Rezo, agradeço a Deus, inclusive pela minha solidão, pois se não estivesse sozinha neste momento, não teria a oportunidade de ver toda esta beleza, e de compartilhá-la com vocês.
Tenho de levantar, vou fazer a comida, que por incrível que pareça, tem o predomínio do verde, pois vou fazer quiabada. Vou ao sanitário, dou risada sozinha, pois não é que a cortina e as toalhas do banheiro são verdes? 
Tenham um bom domingo, com muita luz e muito verde, esta que é mesmo a cor da esperança, a cor da vida, a clorofila da alma.

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