Talvez tenha recebido um presente pelo dia da
mulher, só podia ser isto., ou quem sabe um coelho da páscoa antecipado. Todavia, não podia desembrulhar o presente,
muito menos usá-lo, gozá-lo então, impossível. Mas, o presente estava ali, todo
embrulhadinho, num belo papel em que predominava o azul. O presente era vivo,
vivinho, se movia diante de si, procurava lhe envolver, parecia ter braços
pernas, um corpo inteiro. Tinha uma boca, e que boca, tudo isto ali, mas ela
não podia, ao menos não devia, deixar que o presente se desembrulhasse. Era
melhor ficar dentro do pacote. O que seria aquilo? Parecia gente, mas uma
pessoa não poderia vim embrulhada, sufocaria de certeza. Custou a crer que tinha recebido mesmo um
presente. Quem se lembrara dela assim no dia da mulher ao ponto de lhe mandar
um tão lindo pacote?
Qual seria a intenção de quem mandara o presente? Sabendo a pessoa que ela era, com certeza, deveria estar procurando uma brincadeira, queria lhe testar só pode. Então alguém lhe manda um presente tão embrulhadinho sem ter alguma intenção?
Qual seria a intenção de quem mandara o presente? Sabendo a pessoa que ela era, com certeza, deveria estar procurando uma brincadeira, queria lhe testar só pode. Então alguém lhe manda um presente tão embrulhadinho sem ter alguma intenção?
Ficou mesmo tentada a abri-lo e usá-lo até não
agüentar. Sim porque um presente tão vivo assim devia ser uma coisa boa, de uso
prolongado, talvez perene por algum tempo. E se ela se acostumasse com o presente?
Se ela gostasse mesmo e quisesse passar a usá-lo diariamente? O que aconteceria
com quem lhe mandou este presente ao saber que realmente ela fazia uso do
presente todos os dias? Será que ficaria com ciúmes, inveja? Sim, porque ela
certamente passaria a dar muito mais valor ao presente do que ao presenteador.
Quando bateram na porta para fazer a entrega,
ela estava tomando banho, saiu do banheiro para atender a porta de toalha,
pensou que era alguém que tinha estado na casa, que tinha voltado por ter
esquecido alguma coisa. Para sua
surpresa estava ali apenas o presente, o azul logo lhe chamou a atenção. Susto duplo, primeiro por causa do próprio pacote,
segundo porque o presente foi entrando,
lhe empurrado para dentro de casa, era como se estivesse desejoso de ser aberto
o mais rápido possível.
À sua frente o presente se movia, parecia um
boneco com braços, pernas, boca tudo parecia se mexer, e ela quase que
estática, não acreditava no que estava acontecendo. A toalha caiu e ela ficou
nuinha em frente ao presente, que avançou para si, como se fosse devorá-la,"Ah
meu Deus! Ajude-me, eu quero ou não este presente? Tenho de agradecer ou não por ele?
Desembrulho ou não este negócio?'
Não, a voz do racional dizia-lhe que era
melhor não prosseguir. Deixar o embrulho fechado era o que ela devia fazer. O
emocional, entretanto, rebatia e mandava que ela abrisse logo aquele pacote.
Ele era vivo, parecia um boneco com vida própria e estava programado para algo
bom, ao menos era o que parecia, pois os seus braços queriam enlaçá-la de
qualquer maneira, a boca procurava a sua. Quando a toalha caiu ela bem viu a
reação do embrulho, que de imediato fez um grande volume na parte inferior.
Ela resistiu era melhor, tentava procurar
pegar a toalha que tinha caído, mas o embrulho não permitia, estava encurralada
entre ele e a parede, pensou ter ouvido algo e então descobriu, atônita, que o
som era do embrulho. “vamos lá, não me deixe assim, não tem problema algum”.
Conseguiu empurrar o embrulho, argumentar
alguma coisa. “to ficando louca, ouvindo coisas e falando com um pacote”.
Bom, precisava fazer alguma coisa, aquele
pacote ali seria um problema, tinha de fazer a opção rapidamente: Mandar o
presente embora ou então abri-lo e fosse lá o que Deus quisesse!
Decidiu-se: mandou o presente embora, foi
levando-lhe até a porta e pediu que ele se fosse, voltasse para a casa de quem
o mandou, com os seus agradecimentos.
Não muito satisfeito, o presente saiu andando e ela, ainda segurando a
toalha, voltou para dentro de casa. Estava lisonjeada, ah isto estava, alguém se
lembrara dela e das suas necessidades. Agradeceu embora sem saber para quem
deveria enviar este agradecimento. Neste exato
momento o seu telefone tocou, e ela acordou assustada e percebeu que
aquilo fora tudo um sonho, bem real, mas apenas mais um dos seus estranhos sonhos.
De qualquer maneira, seja pelo dia da mulher,
seja uma antecipação da páscoa e ainda que tudo não tenha passado de um
sonho, agradece.
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