Já faz muito
tempo, mas pelo pitoresco da história, não consigo esquecer. Passei por muitas
cidades do interior enquanto exercia a magistratura, cada uma com o seu
folclore, com as suas figuras e personagens. Gente boa, gente ruim, educados, mal-educadas,
prepotentes, enfim, consegui, na minha caminhada, ter contato com todo o tipo
de pessoa. Certamente, para eles, também, fui prepotente, orgulhosa, pedante,
enfim, tudo que se podia dizer de uma pessoa sozinha, que ocoupava um cargo importante, uma autoridade que tinha de se impor e com muitas responsabilidades. Minha aparência, segundo alguns, já era um grande problema, pois sempre usei "jeans" e meu cabelo era encaracolado, muito pouco recomendável para uma Excelência.
Realmente, durante
toda a minha vida profissional tentei
me manter distante de tudo e todos, não fiz muitos amigos, à exceção do Roberto
na cidade cujo nome tem uma rima rica, e em uma com o nome do santo
casamenteiro, onde passei dez longos anos, embora não possa catalogar muitos
nomes, mas nao posso deixar de citar o do Dr. Luciano.
O fato é que,
apesar do cargo e de querer sempre me manter distante e séria, tem coisas que
não podem passar despercebidas e que viram “causos”, a exemplo da galinha de molho pardo, em que, todos nós,
os que acompanhávamos um determinado juiz que estava em vias de ser Presidente do Tribunal, tivemos que comer galinha
de molho pardo durante três dias seguidos, apenas e simplesmente, porque, como
disse o dono do hotel onde estávamos hospedados, funcionário e amigo do
presidenciável, “a maioria gostava”, e tive a surpresa de saber que a
maioria era formada de uma só pessoa, “o
possível dono do poder”. Doutra feita, tive,
em um evento profissional, inauguração do prédio da Justiça em uma cidade do
interior, em que a “bebemoração” foi em um restaurante, a mim dedicada por
um dos presentes, uma música, com direito a ouvir meu nome no microfone, etc.,
e com a dedicatória do fulano. Nada disto seria problema, estranho sim, mas não
chegava a ser problema, se não fosse a música ofertada – CAVALGADA – de Roberto
Carlos. Imaginem vocês, uma Juíza, em um restaurante em que muitas pessoas que
sequer eram da justiça, sendo agraciada com uma página musical oferecida por um
“vaqueiro”, com o nome de Cavalgada. Fico imaginando o que se passou na cabeça
dos presentes. Tomei uma gozação daquelas de meus colegas mais chegados.
Tive sim, muitos
outros casos pitorescos: dia da audiência em que Vampeta, que jogava ainda no Paris
Saint Germain, na França, era o reclamado com o nome de Marcos, acho eu. Adiei
a audiência por motivo de relevância nacional, quando soube qual o motivo da
ausência do Sr. Marcos, que no momento estava convocado pela Seleção Brasileira
e defendia as nossas cores no Rio Grande do Sul.
Muitos outros casos,
travestis sentados na mesa da audiência, mulheres traídas sendo acionadas pelos
“traidores”, enfim, vi a natureza humana.
Todavia há um caso que me lembro muitas vezes e não nego que, até hoje,
fico ruborizada de vergonha pelo que fiz.
Havia um senhor
que era muito baixinho e que era advogado, era tão pequenininho que ficava com
os pés pendurados quando estava sentado na cadeira. Era estranho, mas nada que
eu não tirasse de letra, afinal, não poderia discriminar quem quer que fosse,
mui principalmente por uma coisa tão boba, ele só era pequeno. Bom, mas este
não é o grande “x” da questão; este apareceu em um dia em que estávamos na
sala de audiência e ele estava acompanhando uma das partes. Lembro-me que, como
sempre, a galeria estava cheia, ou seja, a sala estava com muitas pessoas,
afinal a audiência é pública, e os senhores advogados adoram ver as merdas
que os outros fazem ou que o próprio juiz faz, para ter munição para as críticas
e gozações. O certo é que a audiência estava
acontecendo, e, de repente, algo do dito advogado cai no chão, e ele se curva
na cadeira para pegar, o que era uma operação, diga-se de passagem, quase impossível,
o mais certo seria ele ter saído da cadeira e agachado para tentar pegar o que tinha
caído, que já não lembro o que foi. A opção foi a mais errada possível, o
doutor quase cai da cadeira mesmo, ao tentar, ainda sentado, quase pendurado, curvar-se para pegar o objeto, e, ao ao tentar retornar à posição
anterior, bater, violentamente, a cabeça n o tampo da mesa. Eu, automaticamente
e, é claro, por puro reflexo, disse: “Cuidado com o chifre”! Pense a situação: Como deixei isto escapar? Saiu e aquilo era irreversível. Fiz
de conta que nada aconteceu e continuei a audiência, sem deixar de notar,entretanto, que os advogados, e outras pessoas que estavam
na sala, dela saíram rapidamente, todos abafando o riso. Eu que já estava para
lá de passada, envergonhada, ruborizada, e isto parece que foi notado por
todos, achei estranho a saída, mas não ia questionar nada, embora soubesse que estava
na boca do povo, que todos iam comentar aquela “imbecilidade”.
Acabada a
audiência, os senhores advogados, ainda riam quando retornaram à sala para a próxima
audiência da pauta. Um deles, vira para mim e me pergunta: Doutora, como foi
que a senhora adivinhou? Sem muito
querer saber a resposta, pois a ficha caiu na hora, perguntei: Adivinhei o que?
Resposta automática: “Que o doutor era corno”!
Tentei não rir e
não respondi, mas depois fiquei sabendo que o cidadão era corno contumaz, que
tinha uma mulher que dava três dele, loura, bonita. Bom, é possível que a miserável para
compensar o tamanho do seu marido, dividia o seu próprio corpo, com quem pudesse
complementar o que faltava ao seu cônjuge, pois se tudo nele fosse proporcional
ao seu tamanho ela, realmente, tinha de procurar mais um pedacinho!!!!!!!!!!!!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário