sexta-feira, 22 de maio de 2015

Vaticinando

Já faz muito tempo, mas pelo pitoresco da história, não consigo esquecer. Passei por muitas cidades do interior enquanto exercia a magistratura, cada uma com o seu folclore, com as suas figuras e personagens. Gente boa, gente ruim, educados, mal-educadas, prepotentes, enfim, consegui, na minha caminhada, ter contato com todo o tipo de pessoa. Certamente, para eles, também, fui prepotente, orgulhosa, pedante, enfim, tudo que se podia dizer de uma pessoa sozinha, que ocoupava um cargo importante, uma autoridade que tinha de se impor e com muitas responsabilidades. Minha aparência, segundo alguns, já era um grande problema, pois sempre usei "jeans" e meu cabelo  era encaracolado, muito pouco recomendável para uma Excelência.
Realmente, durante toda a minha vida profissional   tentei me manter distante de tudo e todos, não fiz muitos amigos, à exceção do Roberto na cidade cujo nome tem uma rima rica, e em uma com o nome do santo casamenteiro, onde passei dez longos anos, embora não possa catalogar muitos nomes, mas nao posso deixar de citar o do Dr. Luciano.
O fato é que, apesar do cargo e de querer sempre me manter distante e séria, tem coisas que não podem passar despercebidas e que viram  “causos”, a exemplo  da galinha de molho pardo, em que, todos nós, os que acompanhávamos um determinado juiz que estava em vias de ser Presidente do Tribunal, tivemos que comer galinha de molho pardo durante três dias seguidos, apenas e simplesmente, porque, como disse o dono do hotel onde estávamos hospedados, funcionário e amigo do  presidenciável, “a maioria gostava”, e tive a surpresa de saber que a maioria era formada de uma só pessoa,  “o possível dono do poder”.  Doutra feita, tive, em um evento profissional, inauguração do prédio da Justiça em uma cidade do interior, em que a “bebemoração” foi em um restaurante, a mim dedicada por um dos presentes, uma música, com direito a ouvir meu nome no microfone, etc., e com a dedicatória do fulano. Nada disto seria problema, estranho sim, mas não chegava a ser problema, se não fosse a música ofertada – CAVALGADA – de Roberto Carlos. Imaginem vocês, uma Juíza, em um restaurante em que muitas pessoas que sequer eram da justiça, sendo agraciada com uma página musical oferecida por um “vaqueiro”, com o nome de Cavalgada. Fico imaginando o que se passou na cabeça dos presentes. Tomei uma gozação daquelas de meus colegas mais chegados.
Tive sim, muitos outros casos pitorescos: dia da audiência em que Vampeta, que jogava ainda no Paris Saint Germain, na França, era o reclamado com o nome de Marcos, acho eu. Adiei a audiência por motivo de relevância nacional, quando soube qual o motivo da ausência do Sr. Marcos, que no momento estava convocado pela Seleção Brasileira e defendia as nossas cores no Rio Grande do Sul.
Muitos outros casos, travestis sentados na mesa da audiência, mulheres traídas sendo acionadas pelos “traidores”, enfim, vi a natureza humana.  Todavia há um caso que me lembro muitas vezes e não nego que, até hoje, fico ruborizada de vergonha pelo que fiz.
Havia um senhor que era muito baixinho e que era advogado, era tão pequenininho que ficava com os pés pendurados quando estava sentado na cadeira. Era estranho, mas nada que eu não tirasse de letra, afinal, não poderia discriminar quem quer que fosse, mui principalmente por uma coisa tão boba, ele só era pequeno. Bom, mas este não é o grande “x” da questão; este apareceu em um dia em que estávamos na sala de audiência e ele estava acompanhando uma das partes. Lembro-me que, como sempre, a galeria estava cheia, ou seja, a sala estava com muitas pessoas, afinal a audiência é pública, e os senhores advogados adoram ver as merdas que os outros fazem ou que o próprio juiz faz, para ter munição para as críticas e gozações.  O certo é que a audiência estava acontecendo, e, de repente, algo do dito advogado cai no chão, e ele se curva na cadeira para pegar, o que era uma operação, diga-se de passagem, quase impossível, o mais certo seria ele ter saído da cadeira e agachado para tentar pegar o que tinha caído, que já não lembro o que foi. A opção foi a mais errada possível, o doutor quase cai da cadeira mesmo, ao tentar, ainda sentado, quase pendurado, curvar-se para pegar o objeto, e, ao ao tentar retornar à posição anterior, bater, violentamente, a cabeça n o tampo da mesa. Eu, automaticamente e, é claro, por puro reflexo, disse: “Cuidado com o chifre”!  Pense a situação: Como deixei isto escapar? Saiu e aquilo era irreversível.  Fiz de conta que nada aconteceu e continuei a audiência, sem deixar de notar,entretanto, que os advogados, e outras pessoas que estavam na sala, dela saíram rapidamente, todos abafando o riso. Eu que já estava para lá de passada, envergonhada, ruborizada, e isto parece que foi notado por todos, achei estranho a saída, mas não ia questionar nada, embora soubesse que estava na boca do povo, que todos iam comentar aquela “imbecilidade”.
Acabada a audiência, os senhores advogados, ainda riam quando retornaram à sala para a próxima audiência da pauta. Um deles, vira para mim e me pergunta: Doutora, como foi que a senhora adivinhou?   Sem muito querer saber a resposta, pois a ficha caiu na hora, perguntei: Adivinhei o que? Resposta automática: “Que o doutor era corno”!
Tentei não rir e não respondi, mas depois fiquei sabendo que o cidadão era corno contumaz, que tinha uma mulher que dava três dele, loura, bonita.  Bom, é possível que a miserável para compensar o tamanho do seu marido, dividia o seu próprio corpo, com quem pudesse complementar o que faltava ao seu cônjuge, pois se tudo nele fosse proporcional ao seu tamanho ela, realmente, tinha de procurar mais um pedacinho!!!!!!!!!!!!!

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