Está em casa, há convidados, não
era bem uma festa, mas havia pessoas em sua casa. Um jantar? Não, aquilo não
parecia um jantar, apenas uma reunião de amigos com canapés, drinks e uma boa
conversa. Todos pareciam felizes. A
conversa se desenrolava sobre muitos assuntos, inclusive o preferido de muitos
deles, a critica aos discursos pronunciados no Congresso Nacional (Câmara dos
Deputados e Senado). Gostavam de criticar e sorrir das bobagens,
embora nem todos os congressistas sejam tão despreparados. Há um que engole todos os “s” das palavras, parece que onde ele estudou não lhe foi ensinado plural, mas há de se lhe dar o devido valor, porque ele defende causas muito sociais, inclusive dos trabalhadores e aposentados, dentre os do partido da “posição”, é um dos mais atuantes, dá-se o devido desconto aos “s”, ele parece ter a língua pegada. Um outro, que parece “pai de santo” quer, e somente assim pode ser: “espiritualmente” convencer a todos que o seu partido é o melhor, que ele é que defende os trabalhadores, que todos os demais estão errados e que a presidente é a melhor que o país já teve e que todos os acontecimentos atuais são originários de uma perseguição política. Acreditem se quiserem! Ele é o líder do PT na Câmara. É somente pelo fato de que ele está ligado às forças ocultas pode justificar as barbaridades que pensa e verbaliza! Há muitos outros, os prepotentes presidentes das duas mesas, terríveis. Há monstros vestidos de paletó e gravata, que somente quem não tem mesmo o que fazer, talvez como ela, perdem tempo vendo as baboseiras, e as feiuras e ignorância de alguns. Há ainda os que eram carecas e, quem sabe, com dinheiro público, estão virando rapunzéis, ficando, inclusive, obnubilados pelo peso das madeixas. Há cínicos que se defendem de acusações para lá de provadas, insistindo em defesas inconsistentes. Alguns, moralistas e defensores de valores éticos, esquecem um passado, ou mesmo um presente, que não explicam enriquecimento, envolvimento com embranquecimento de dinheiro, homens que não passam de serrotes.
embora nem todos os congressistas sejam tão despreparados. Há um que engole todos os “s” das palavras, parece que onde ele estudou não lhe foi ensinado plural, mas há de se lhe dar o devido valor, porque ele defende causas muito sociais, inclusive dos trabalhadores e aposentados, dentre os do partido da “posição”, é um dos mais atuantes, dá-se o devido desconto aos “s”, ele parece ter a língua pegada. Um outro, que parece “pai de santo” quer, e somente assim pode ser: “espiritualmente” convencer a todos que o seu partido é o melhor, que ele é que defende os trabalhadores, que todos os demais estão errados e que a presidente é a melhor que o país já teve e que todos os acontecimentos atuais são originários de uma perseguição política. Acreditem se quiserem! Ele é o líder do PT na Câmara. É somente pelo fato de que ele está ligado às forças ocultas pode justificar as barbaridades que pensa e verbaliza! Há muitos outros, os prepotentes presidentes das duas mesas, terríveis. Há monstros vestidos de paletó e gravata, que somente quem não tem mesmo o que fazer, talvez como ela, perdem tempo vendo as baboseiras, e as feiuras e ignorância de alguns. Há ainda os que eram carecas e, quem sabe, com dinheiro público, estão virando rapunzéis, ficando, inclusive, obnubilados pelo peso das madeixas. Há cínicos que se defendem de acusações para lá de provadas, insistindo em defesas inconsistentes. Alguns, moralistas e defensores de valores éticos, esquecem um passado, ou mesmo um presente, que não explicam enriquecimento, envolvimento com embranquecimento de dinheiro, homens que não passam de serrotes.
Bom, mas o fato é que alguém bate
à porta. Não poderia ser mais um convidado, porque todos chamados já estavam
ali, além do mais, o adiantado da hora já não permitia que nenhum conviva
estivesse chegando. O certo é que tinha alguém à porta, e ela, como dona da
casa, é que tinha de abri-la, até porque, talvez pela intimidade com a sua
porta, com a sua casa, com os seus ruídos, só ela ouviu o toque.
Não tinha outro jeito e foi
abrir. Surpresa! Dois olhos imensos e azuis estavam ali
fixados ao seus. Ela não conseguia desviar o olhar daqueles olhos fixos em si.
Por um momento pareceu hipnotizada, não conseguia se mexer. Parado no limiar da porta o dono daquele par
de olhos, sem desviar o olhar, segurou as suas mãos e perguntou: “Não vai me
convidar para entrar”?
Saiu do torpor em que se
encontrava e respondeu: “Não, não o conheço, penso que o senhor bateu à porta
errada” embora soubesse que aqueles olhos já tinham sido vistos em algum lugar
e ela não os esqueceria
-“Não minha querida, bati à porta
certa: há tempos que venho tomando coragem de fazer isto, mas só hoje consegui
ultrapassar todos os meus limites. Vejo que estás dando uma festa! Assim é
melhor, porque você pode mesmo me fazer entrar sem qualquer medo, há muitas
pessoas aí, e você pode se despreocupar.”
“-Não, não o conheço e não vou
deixar; além do mais, o senhor iria ficar deslocado, porque ninguém aqui o
conhece”.
-"Engano seu minha cara, deixe-me
entrar e verás quantas pessoas que estão aí me conhece, e quantos sabem, perfeitamente,
qual o motivo de estar aqui".
Dizendo isto o dono do par de
olhos azuis aproxima-se dela e delicadamente fecha a porta atrás de si e segurando
em sua mão, a conduz até a sala onde os amigos estavam.
-"Olá Onur, como você demorou, achávamos
que não vinhas mais!"
Ela olha atônita para quem falou;
então alguém ali conhecia mesmo aquele cidadão.
Os demais, ao ouvirem o seu nome,
também a ele se dirigiam e o cumprimentavam efusivamente. Sim, ele era conhecido de todos, e ela ficou
se perguntando como, se ela era conhecida e amiga de quase todos que ali
estavam, por que não conhecia aquele belo par de olhos azuis, que jamais
passariam pela sua vida sem serem percebidos?
Bom, agora o jeito era tratar bem
aquele senhor, e tentando soltar a sua mão, que ele prendia cada vez com mais
força, procurava com os olhos uma pessoa para servir algo ao visitante.
Finalmente ele lhe liberou e ela
pergunta-lhe se quer alguma bebida e com a resposta seguiu até á mesa onde os
drinks eram servidos. Estava sem graça, sabia que estava sendo observada, ou
melhor, literalmente comida com os olhos. Aquele homem tinha um olhar
desconcertante, com ele podia dizer tudo, e dizia mesmo.
Quando trouxe o whisky que ele
pedira já o encontrou numa roda com uns cinco amigos, falando animadamente,
como se realmente fosse muito íntimo deles. Ao se aproximar com o copo ele o
pegou com uma das mãos, e logo enlaçou a sua cintura com o outro braço. A
pegada era poderosa, ela sentia a firmeza do braço, a força da mão na sua
cintura, não podia nem se mexer, até porque não queria que as pessoas
percebessem que aquele cidadão, tão íntimo de todos, e que estava em sua casa
agarrando-a daquela maneira, ela um ilustre desconhecido.
A reunião continuava, falaram de
tudo, e ela procurando uma brecha para saber quem era aquele homem; finalmente
alguém pergunta-lhe: "E aí Onur, como está a holding? Esta conseguindo muitas obras? Tome cuidado com estas contratações, você bem
está vendo como estão as nossas maiores empreiteiras, todas envolvidas em altos
esquemas".
A ficha cai, e ela olha fixamente
para o homem que aperta a sua cintura com movimentos ritmados, que lhe induz a
pensar em sexo, em amor, em momentos deliciosos, pois quem tinha uma pegada
daquela com certeza saberia fazer amor com uma mulher. Por Alá! É o empresário
de origem turca que está entrando no país com a sua grande construtora, na
brecha deixada pelas envolvidas com as diversas operações realizadas pela policia.
Mas que Diabos este homem estava fazendo em sua casa e lhe tratando com tanta
intimidade?
Ele, parecendo adivinhar os seus
pensamentos, começa a responder os questionamentos dos amigos. E então ela
percebe que aquele par de olhos ela tinha visto mesmo em Istambul, quando fora designada
pela sua empresa para fazer uma pequena investigação sobre a que seria contratada
para a obra de reconstrução do centro histórico da sua cidade.
Ela fora a Istambul, mas nem
sequer passara pela empresa, afinal estava fazendo uma investigação sigilosa e
não seria nada recomendável ir exatamente até a toca do investigado, mas o
inevitável acontecera, ela fora a uma festa em um clube privado em Istambul, e
aquele par de olhos estava lá, e alguém lhe dissera que o dono deles era o
maior acionista da empresa que investigava, e por isso mesmo não quis qualquer aproximação, mas não deixou de perceber o olhar
daquele homem.
Pois é, o homem participara da
concorrência e a sua empresa ganhara a licitação, e ele, que tinha vindo muitas
vezes ao Brasil, por força disto, conhecia a todos porque todos que ali
estavam, ou trabalhavam para ele, através de outras empresas aqui contratadas,
ou eram advogados que já tinham tido contatos com ele. Ela, porque tinha tido
somente a missão de investigar e apresentar o resultado desta investigação a
quem de direito, se desligou, porque a sua vida era esta, viajava muito fazendo
estas investigações a respeito de empresas que queriam entrar no mercado da
construção, ou em outro qualquer ramo, no Brasil. De uma maneira, ou de outra, ela
podia decidir, pois de suas informações, eles poderiam ter, ou não, a chance de
entrar no pais.
Recordou-se de tudo, só não podia
era imaginar que aqueles olhos azuis iriam, mais uma vez, cruzar com os seus, e
de que maneira. Bom, os olhos eram uma coisa, mas as mãos, as alisadas nas suas
costas, a pegada do cidadão, aquilo não estava nos seus planos, embora qualquer
mulher que fosse olhada por aqueles olhos não poderia ser condenada pelos
pensamentos que fluíssem.
As pessoas foram saindo e ele
ficando, ela, entre surpresa e intranqüila, ia aceitando os apertos nas suas costas,
nos seus braços, o leve roçar da face nos seus cabelos, os suspiros bem próximos
aos seus ouvidos, já não estava conseguindo esconder o seu mal estar (bem
estar), e, por dentro, embora soubesse que não resistiria muito tempo, pedia
para que o homem fosse embora dali logo, mas ele não parecia comungar deste
pensamento. Parecia disposto a ser o
último a sair, ou melhor, não sair.
Ela pede licença do grupo e ele
teve de largá-la um pouco e ela vai até uma amiga e pede para que ela fique e
durma em sua casa. A amiga, com um olhar matreiro e com um sorriso de canto,
diz que não, ela já tinha se comprometido com o parceiro e iria dormir em casa
dele. Vai até outra e faz a mesma
proposta. Recebe como resposta um não e mais um sorriso maroto. Desiste, olha
para os que ainda lá estão e sente que ali há um complô, mas tira este
pensamento rápido, mas fica martelando por que eles estão agindo assim.
Somente três pessoas ainda
continuam tomando drinks e conversando: ele e um casal bem intimo dela, seus
amigos há uns dez anos, pessoas de sua inteira confiança. Ela se aproxima e diz
que já é tarde: eles, entendendo, levantam-se e cumprimentam o Onur,que os acompanha até a porta, ela que vinha seguindo os três despede-se
do casal e, quando vai falar com ele, este simplesmente, e ao que parece em
combinação com os dois, fecha a porta atrás de si, fixa o seu olhar no dela e
diz: - "Será que você não percebeu que a minha vinda aqui não foi casual? Será que
você nunca percebeu quanto tempo venho lhe seguindo? Será que você não consegue
ver nestes meus olhos o amor que sinto por você? Será que você conseguiu esquecer o primeiro
dia que te olhei em Istambul?" Ela para e
o olha seriamente, queria resistir, mas era impossível, não responde nada,
apenas deixa que olhos, mãos, corpo inteiro, aproxime-se do seu, deixa-se levar,
entrega-se, os olhos bem abertos porque não quer perder um momento sequer do
que aquele olhar traduzia; vê, a um só tempo, prazer, volúpia, amor, carinho,
desejo, tudo o que aquele homem lhe transmitia pelo corpo e por aquele olhar,
que, certamente, nunca vai esquecer. Amanhece o dia e os dois estão ali
entrelaçados, suados, extenuados. O
telefone toca e lhe tira do torpor em que se encontrava, e ela olha para o
quarto com roupas pelo chão, toalhas jogadas na cama, lençóis amassados. Procura
alguém ao seu lado, procura pelo par de olhos azuis. Não há nada; não há ninguém, tudo não passou,
como sempre, de um belo e lindo sonho. Vai deixar de ver as Mil e Uma noites, a
novela que trouxe para os seus sonhos o Onur,o personagem turco de olhos azuis, que tanta
libido despertou em si, aliás, em muitas mulheres com certeza. Se não assistem,
assistam e tenham, ao menos, uma noite das mil e uma noites que ele pode
oferecer.
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