Aquilo estava
incomodando muito, tinha que tomar uma atitude, procurar um médico
especializado para dar um jeito na estória, por fim aquele incomodo que há anos
lhe tirava o humor.
Não havia mais
como adiar e o jeito foi perguntar aos amigos se conheciam algum proctologista.
Uma amiga conhecia um, afirmava que ele era o bom, talvez o melhor e tinha o
nome de Sebastião.
Bom com este
nome eu já pensei que ele deveria ser muito bom, tratar as pessoas com muito
cuidado e paciência, afinal o santo que morreu todo espetado tinha este nome e
não deixaria que um seu xará maltratasse ninguém.
Marquei a
consulta e, cabreira, afinal ia mostrar a alguém que nunca tinha visto antes,
uma parte intima do meu corpo, talvez a mais intima de todas, a mais escondida,
não muito cheirosa, que inibe as pessoas, embora alguns sejam adeptos dela,
tendo verdadeira adoração, o que, efetivamente não é o meu caso. Lembro-me,
até, que alguém já teria dito que era a maior prova de “amor” que alguém
poderia dar a outrem. Por todos os motivos do mundo, seja recalque,
preconceito, e especialmente, não gostar de sofrer e sentir dor, não sou
adepta, embora não tenha nada contra.
Bom, o fato é
que estava no consultório do Dr. Sebá na hora mercada. Não estranhem a
intimidade, mas uma pessoa que eu nunca vi e que ia examinar parte tão intima
do meu corpo tinha de ter uma maior aproximação, uma maior intimidade comigo, e
logo resolvi chama-lo de Sebá, claro que neste primeiro contato, no meu
pensamento.
Estava
nervosa, não nego: primeiro porque estava mesmo muito incomodada e precisa de
um alivio rápido para aquilo, segundo porque efetivamente estava envergonhada.
Ficava ali sentada analisando as pessoas que estavam, no meu juízo, com o mesmo
problema que eu, caras carrancudas, cabisbaixas. Ninguém olhava para ninguém,
parecia que todos estavam envergonhados mesmo. Também não era para menos, todos
ali sabiam que iam mostrar suas partes intimas ao doutor e cada um sabia o que
ia fazer e o que os outros iam fazer também. Uma indignidade! Ah era mesmo: achava
eu e queria crer que todos achassem isto também, como se todos pensassem da
mesma maneira que eu.
Como será este
exame? Em que posição vou ficar? Será que vou ficar na posição ginecológica? As
perguntas fervilhavam. Procurava ler alguma coisa, pensar em algo diferente,
mas era um tormento, que piorava mais e mais quando a hora da consulta se
aproximava.
Finalmente
entro na sala do médico e encontro um rosto sorridente e simpático; pensei
comigo mesma: este miserável deve se divertir com a situação. Então ver homem,
mulher, criança, velho, jovem, enfim, todos ali se humilhando diante dele,
mostrando o “u” numa posição não muito confortável.
- Sim, mas o
que lhe trouxe aqui? A pergunta me tirou do torpor em que estava olhando para
aquele miserável, que ia me futucar, com certeza. Eu já estava om ódio do
desgraçado, sem ao menos ele ter aberto a boca.
E agora me sai com esta pergunta: O que lhe trouxe aqui? Então ele não
sabia que eu estava ali por causa do “u”.
Como responder
a esta pergunta, para a qual eu já devia estar preparada? Não, eu não estava,
aquilo foi como se me metessem uma faca. E agora, como dizer a ele que estava com problemas no “u”. Acreditem se
quiserem, eu não me lembrava de “reto”, de “anus”, nada, eu só lembrava do
vulgar, aliás, era onde doía mesmo, o meu velho e cansado “u”, que ultimamente,
da pior maneira possível, vinha dando o ar da sua “desgraça”.
- Tenho sentido
muito incômodo, passo muito tempo sentada e tenho a impressão que estou com
hemorroida.
- O que a
senhora faz?
Sou funcionária
pública e passo quase dez horas, ou mais do dia, sentada.
- Sim, mas a
senhora trabalha mesmo onde?
Sabia que
teria de responder, e despachei: sou Juíza, faço audiências durante mais da
metade do dia e, depois, fico sentada durante muito tempo porque tenho de
analisar processos, sentenciar, etc.
- Trabalho
desgastante.
Sentia que o
Sebá estava tentando quebrar o gelo, procurando me deixar mais à vontade, mas
confesso que ele não estava conseguindo não, eu estava travada, e não só eu, o
corpo inteiro, e aí já comecei a vislumbrar mais um problema: se continuasse
naquela rigidez aquele exame ia ser catastrófico.
- Bom vamos
lá: entre nesta sala, tire a roupa, vista o camisão, aquela droga branca ou
verde que em todos os consultórios médicos tem, com a abertura para trás e
deite-se de lado com as pernas encolhidas; quando estiver pronta me chame.
Levantei e fui
para a sala onde tinha uma maca como se aquele caminho fosse o corredor da
morte. Fiz tudo o que o homem mandou, tendo o cuidado de, antes de sair do
banheiro onde fui tirar a roupa, passar um lenço perfumado nas partes; sei lá,
já ia mostrar uma coisa feia, porque acho que do jeito que doía, a miséria
devia estar com uma aparência da zorra, e ainda fedendo, não ia ser nada bom,
quis aliviar mesmo, não só a minha vergonha, como para o médico, esquecendo-me
que ele apenas estava olhando mais um “u” e que para ele pouca diferença fazia.
Virei a cara
para a parede, fechei os olhos e chamei o homem; ele veio, sentou-se no seu banquinho,
afastou as duas partes da capa que eu vestia. Um frio correu na minha espinha, pois
eu, que estava com as pernas encolhidas, deitada de lado, deixava, à mostra,
todo a minha traseira.
Ouvi o som
característico das luvas sendo colocadas. Estava tensa, e me fechei inteira
quando senti a mão, mais especificamente, os dedos do Sebá naquela parte, que
já estava dolorida e, agora, mais ainda, pois contrai todos os músculos
tentando evitar o inevitável, afinal eu estava ali para ser examinada.
- Vamos lá
doutora, relaxe.
-Não sei se
respondi alguma coisa naquele momento, não conseguia nem raciocinar, imagine
relaxar e responder algo.
Sebá ia
conversando, tentando dizer algo que me deixasse a vontade, mas era muito
difícil mesmo, eu não conseguia o que ele queria que era relaxar; bom mas o
exame tinha de ser feito, e eu senti primeiro uma coisa úmida, depois uma coisa fria, depois uma coisa, que penso
ter sido o dedo do médico se enfiando em mim. Meu Deus, que coisa
constrangedora. E o pior de tudo, além do constrangimento, agora ainda tinha
outra preocupação, se eu contraísse os músculos, o que o homem poderia penar?
Será que ele ia achar que eu estava gostando? Penso que neste momento foi que
relaxei, porque não senti mais nada, sinceramente,
- É a doutora está
mesmo com uma pequena hemorroida, e me deu uma aula do que eu não estava
interessada. O que eu queria era resultado, não a causa, pois ela já estava
instalada, o que me interessava era a solução, o alivio, que eu pensava que
poderia ser imediato.
- Vamos tentar
as borrachinhas. É um processo mais demorada, mas menos agressivo.
- Borrachinhas?
-Sim,
borrachinhas! Vamos tentar estrangular, acho que o fim era este, ele não deve
ter dito esta palavra com certeza, mas esta era a ideia.
-E isto vai
demorar quanto tempo?
- Uns três
quatro meses, tem de mudar as borrachinhas de quinze em quinze dias eu acho,
- De quinze em
quinze? Moço, eu trabalho no interior
-Não tem outro
jeito. Vamos arrumar uma maneira de adequar nossos horários.
Pensei comigo
mesma: este sacana quer mesmo ficar íntimo do meu “u”, mas que jeito.
Da segunda
consulta em diante eu é já estava ficando íntima do Sebá, já o chamava de
Doutor Sebá mesmo, conversávamos muito durante a sessão, enfim, já não tinha
tanta vergonha, e falávamos de tudo, menos do desgraçado do “u”, a não ser para
saber se o tratamento estava ou não resultando.
Sebá, que já
não era mais o doutor Sebá, afinal tinha mais intimidade com o meu “orifício”
de que eu mesma, ficou mesmo um amigo, chegamos até a almoçar juntos aqui em
Arembepe, falávamos da vida, da esposa dele, e eu lhe perguntava muitas coisas
a respeito da sua profissão, que eu dizia ser de futucador do rabo do alheio.
Sebá ria
bastante e as minhas consultas eram mesmo muito agradáveis, acreditem que
passei a ficar ansiosa pelo dia delas, lógico que não para mostrar o “u”, mas
pelo papo, pela conversa com o Sebá, ser mesmo muito agradável.
As
borrachinhas não deram certo, e eu tive mesmo de cair na faca, fiz a miséria da
cirurgia, que não recomento a ninguém. Cuidem bem dos seus respectivos “us”, deem
a eles todo o valor que eles têm, pois, a cirurgia não é nada agradável, nem
bem mesmo a cirurgia, mas o pós-operatório é uma verdadeira desgraça. Imagine você
operar o miserável e depois, com ele ainda em recuperação, ter de fazê-lo
cumprir as suas obrigações normais, fazê-lo funcionar como se nada tivesse
acontecido. Olhe, uma novela, que merece outro capitulo, um dia lhes conto.
Passado o
tempo, tinha de voltar ao consultório para revisão, etc. Chego lá, como sempre em um final de tarde. O
consultório não estava tão cheio, umas quatro pessoas, mas havia uma senhora
que me chamou atenção. Ela estava hipernervosa, não ficava sentada de maneira
alguma, levantava, andava pela sala, andava pelo corredor, enxugava a testa com
um lenço, enfim, ela estava visivelmente transtornada.
Pensei comigo.
Esta coitada deve estar da mesma maneira que eu quando aqui estive a primeira
vez, com uma agravante: ela devia ter uns setenta anos. Era magrinha, cabelo
grisalho, estava muito bem arrumada, mostrando inclusive, com as suas veste o
seu tradicionalismo. Fiquei muito preocupada e disse para mim mesmo: Acho que
vou conversar com esta senhora para acalmá-la.
Pensei,
pensei, e me decidi, tendo em vista a aflição da senhora.
-Boa tarde! Não
pude deixar de notar que a senhora esta muito nervosa. A mulher nem me deu
trela, nem me olhou, mas eu, idiota e querendo deixa-la menos tensa,
continuava.
-Olhe senhora
não se preocupe, o Dr. Sebastião é um médico muito gentil e atencioso, não
fique constrangida não, ele vai lhe deixar a vontade, muito cuidadoso, um
grande profissional, não se preocupe mesmo, a senhora vai ver; quando estive
aqui, a primeira vez, também estava tensa, mas depois que vi o Doutor
Sebastião, sua técnica, seu profissionalismo, ficou tudo bem, estou no final do
tratamento e me sentindo outra pessoa.
A mulher é
chamada e entra no consultório.
Eu fico de
fora esperando a minha vez, que seria logo depois dela.
A mulher
sai e nem me olha, e a atendente manda
que eu entre.
Entro no
consultório e Sebá esta vermelho de dar risada, chegava a segurar na barriga de
gargalhar.
- O que foi
Sebá, qual a piada. E ele aos soluços de rir;
-Eu sabia que
era você, só você mesmo para fazer uma destas: O que foi que você disse àquela
senhora?
-Nada demais,
falei de você, porque eu achei que ela estava muito nervosa, queria que ela
ficasse mais relaxada, afinal todos que vem aqui ficam tensos pois vão mostrar
o “u” para você, e, naquela idade, o constrangimento deve ser muito maior.
Sebastião não
parava de rir, olhe que tive medo dele cair da cadeira de tanto dar risada, e
eu olhando para ele com cara de besta sem entender nada.
- A mulher me
disse que tinha uma louca aí fora, que falou com ela coisas que ela não
entendeu, que era para ela não ficar constrangida, que eu ia ser cuidadoso, que
ficasse a vontade, etc. etc. etc.
- Sim Sebá,
falei isto mesmo e não entendo onde está a loucura e a graça disto.
-
KKKKKKKKKKKKK mulher, aquela senhora faz tratamento do estomago, ela tem problemas
gástricos!
-O que? Problemas
gástricos? Eu nunca soube que você também fazia este tipo de tratamento.
-Pois é, faço
sim, e a mulher ficou indignada, pois você só falou com ela de “u”
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