O dia está lindo, há sol, o céu
azul, o verde das árvores. Sentada na cama observa tudo isto pela janela do
quarto “da Gatucha” é assim que a amiga trata este cômodo da casa. É engraçado
como personaliza-se algo: seja um espaço, seja uma coisa, seja até mesmo uma
pessoa, pois quando personaliza-se também dá-se, ou toma-se posse, seja atribuindo-a
a si próprio seja a outrem, por exemplo: o quarto da Gatucha; o quarto é dela,
não é de Maria e nem de João, é dela e ela é que tem a posse dele, no caso do
quarto em questão, ela tem apenas uma posse temporária, completamente justa, exerce-a de vez em quando,
mas tem uma posse.
Quando se fala “meu marido”, se está tratando da "posse" que se tem sobre outra pessoa, que certamente, na maioria das vezes, não quer ser possuído, muito pelo contrário, luta avidamente pela sua liberdade, foge desta posse como o diabo na cruz, mas, incansavelmente, diz-se “o meu marido”, como eles, os maridos, não se cansam de dizer “minha mulher”, seja para elogiar ou para ofender, ou criticar, falam da sua "propriedade" “minha mulher”; aliás, a posse dos maridos é, na maioria das vezes, muito maior de que das mulheres, pois eles tem mesmo a propriedade, ou seja, o domínio e todos os demais direitos (que eles pensam que tem) inclusive o de sequela, e a posse das “esposas”: tenho visto vários exemplos disto, porque se a “minha esposa” ou a “minha mulher” me trai, ela vira uma “piranha”, uma “cabra”, qualquer destas coisas que se diz quando uma mulher, por vários motivos, inclusive o maior deles, que é deixar de “ser a mulher de alguém” , deixar de receber atenção, carinho, ser humilhada, maltratada, enfim, deixar de ser tratada como “a mulher”. Quando isto acontece, quando a posse foi perdida pelo abandono, que é a maneira quase natural de perda da posse, resolve procurar atenção em outros braços que ainda não são tão possessivos assim, e desta maneira que a mulher é destratada, entretanto, em sendo o caso inverso, se for o “meu marido” que trai, que procura outros caminhos, ele não deve estar sendo feliz em casa, a mulher já não lhe complementa, tanto que ele tem de buscar outras aventuras, etc, adquirir outras propriedades, e com ela a posse, que se exterioriza pelo seu exercício sem qualquer escrúpulo, sem qualquer respeito pela posse anterior, que não se quer perder,mas também não se exerce na sua plenitude , É bem engraçado isto, mas este texto não foi começado para falar disto, talvez por não ser mais posse de ninguém, ou possuída por alguém, ou ainda, por não ter “posse” de ninguém,que isto tenha vindo à tona no momento que começou a falar do “meu quarto” na casa da amiga.
Quando se fala “meu marido”, se está tratando da "posse" que se tem sobre outra pessoa, que certamente, na maioria das vezes, não quer ser possuído, muito pelo contrário, luta avidamente pela sua liberdade, foge desta posse como o diabo na cruz, mas, incansavelmente, diz-se “o meu marido”, como eles, os maridos, não se cansam de dizer “minha mulher”, seja para elogiar ou para ofender, ou criticar, falam da sua "propriedade" “minha mulher”; aliás, a posse dos maridos é, na maioria das vezes, muito maior de que das mulheres, pois eles tem mesmo a propriedade, ou seja, o domínio e todos os demais direitos (que eles pensam que tem) inclusive o de sequela, e a posse das “esposas”: tenho visto vários exemplos disto, porque se a “minha esposa” ou a “minha mulher” me trai, ela vira uma “piranha”, uma “cabra”, qualquer destas coisas que se diz quando uma mulher, por vários motivos, inclusive o maior deles, que é deixar de “ser a mulher de alguém” , deixar de receber atenção, carinho, ser humilhada, maltratada, enfim, deixar de ser tratada como “a mulher”. Quando isto acontece, quando a posse foi perdida pelo abandono, que é a maneira quase natural de perda da posse, resolve procurar atenção em outros braços que ainda não são tão possessivos assim, e desta maneira que a mulher é destratada, entretanto, em sendo o caso inverso, se for o “meu marido” que trai, que procura outros caminhos, ele não deve estar sendo feliz em casa, a mulher já não lhe complementa, tanto que ele tem de buscar outras aventuras, etc, adquirir outras propriedades, e com ela a posse, que se exterioriza pelo seu exercício sem qualquer escrúpulo, sem qualquer respeito pela posse anterior, que não se quer perder,mas também não se exerce na sua plenitude , É bem engraçado isto, mas este texto não foi começado para falar disto, talvez por não ser mais posse de ninguém, ou possuída por alguém, ou ainda, por não ter “posse” de ninguém,que isto tenha vindo à tona no momento que começou a falar do “meu quarto” na casa da amiga.
Pois é, está aqui, ainda na cama,
porque se o dia está lindo lá fora, lá dentro, contrastando com tudo o que a janela
demonstra, tá um frio danado. Tá tão frio que o aquecimento está ligado, coisa
que normalmente não acontece. Está toda vestida, calça comprida, um blusão de
lã, embaixo das cobertas, e continua achando que está frio, mesmo assim, olha
para fora e tem vontade de sair, de andar pelas ruas de Carnaxide, subir o monte
atrás da casa da amiga; não o fará, está arrumando as malas para ir
embora, o que vai acontecer depois de amanhã. As malas a olham como se lhe
dissessem, “não estamos querendo ir agora, demore mais um pouco, vamos ver o
que ocorre”. Não as ouve, não pode ouvi-las, tem de ir embora, não há como aqui
ficar. Queria fazer uma pesquisa sobre os governadores do Brasil e suas
respectivas residências (prestação de contas), mas o tempo é curto e ela nem
começara, não ia começar algo para parar, mas um dia o fará, se é que ainda lhe
cabe sonhar.
Com o frio, aproveita para ler
Saramago em Memorial do Convento, a estória da construção de um “megalômano”
Convento, prometido que foi pelo rei de Portugal para que a sua esposa desse
frutos, imbricada na estória de uma vida amorosa de duas pessoas do povo, que
não eram tão normais quanto isto: a mulher tinha visões e o homem era um maneta
igual a Deus, que segundo o padre Bartolomeu que tinha o sonho de voar e o voou
na sua “passarola” construído com a ajuda dos dois (Blimunda e Baltasar) e impulsionado
pelas “verdades” colhidas pela magia da Blimunda, era maneta, pois só usava uma
das mãos. Está na pagina 293, tentando
ler o mais rápido que possa para finalizar o livro antes de ir embora, sabe que
vai conseguir, mas não podia deixar de escrever hoje, precisava escrever,
precisava desgastar um pouco a dorzinha que insiste em doer no peito exatamente
pelo fato que tem de voltar. Já dissera um dia que só queria ir, nunca voltar,
mas a minha vida parece dar somente voltas, vive dando voltas em tudo, na própria
vida, nas dividas, nas pessoas, voltas que não quer mais, pois elas a levam ao
mesmo lugar: das sombras, das incertezas, das dúvidas, mas não tem o que fazer,
tem de voltar para a rotina sem sal da sua vida, a espera que algo
aconteça. Parece que perdeu a vontade do
“fazer”, pensa que agora quer tudo “feito”. “Será que perdeu a vontade ou perdeu
a coragem?” Questiona-se. Acha que ambas se foram juntas, pensa:. “quando se para de sonhar tudo está acabado” e
efetivamente é isto, parece que não tem mais para onde ir, porque os seus já
não existem, já não sonha mais com nada, talvez porque não tenha mesmo vontade
de realizar nada. A pessoa precisa de incentivos na vida para tudo, até mesmo
para sonhar, perdera-os todos, está árida e seca.
Todavia, em meio a tudo isto,
ainda tem a coragem de ler Saramago, leitura densa, cansativa, mas que, por incrível
coincidência lhe demonstra que, apesar da ficção, sonhos se realizam, pois o
padre Bartolomeu de Gusmão conseguiu voar na sua passarola, e, por outro lado,
há pessoas que tem a capacidade de ver, e não só de olhar, e vendo as verdades
podem transmiti-las aos demais como o faz o autor à pg.257, mostrando que a
ficção pode mostrar a realidade e que a “história efetivamente se repete” , que
o tempo não foi e nem é capaz de mudar os “poderosos” que continuam agindo como
donos do mundo e deixando que o povo, pobres mortais, apenas façam a figuração,
mas com a obrigação de dar cumprimento a todos os desejos deles (poderosos) com
a sua força de trabalho, com o suor do rosto, com a contribuição dos seus
impostos.
“e tudo por causa de uma pedra
que não precisaria ser tão grande, com três ou dez mais pequenas se faria do
mesmo modo a varanda, apenas não teríamos o orgulho do poder dizer a sua
majestade, É só uma pedra, e aos visitantes, antes de passarem à outra sala, è
uma pedra só, por via destes e outros todos orgulhos é que se vai disseminando
o ludíbrio geral com suas formas nacionais e particulares, como esta de afirmar
nos compêndios e histórias, Deve-se a construção do convento de Mafra ao Rei
D.João V, por um voto que fez se lhe nascesse um filho, vão aqui seiscentos
homens que não fizeram filho nenhum à rainha e eles é que pagam o voto, que se
lixam, com perdão da anacrônica voz” José Saramago, Memorial do Convento, 2ª. Lisboa, Editora Caminho, pg. 257.
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