Resenha -Boca do Inferno
Ana Miranda
São Paulo -Cia das Letras, 3a.ed, 1989
Acabo de ler o romance histórico
de Ana Miranda – Boca do Inferno. A referência ao Boca do Inferno é realmente à
Gregório de Matos, o nosso poeta do período colonial, que com os seus versos satirizava
a sociedade baiana.
A autora insere o Poeta Gregório
de Matos numa trama que desenvolve com maestria, e esta trama começa no momento
em que o alcaide mór da Bahia, Francisco Teles de Menezes no período do governo
de Antonio de Souza de Menezes – O Braço de Prata é assassinado e o crime tem
uma conotação política (rivalidade no poder), atribuindo o governador o homicídio
ao grupo liderado pela família Ravasco, cujo membro maior, o Padre Antonio
Vieira, estava envolvido juntamente com seu irmão Bernardo e os sobrinhos
Gonçalo e Antonio, todos amigos do Gregório de Matos.
Através dos diálogos dos
personagens, entremeados das sátiras “reais” de Gregório de Matos e dos próprios
diálogos do poeta com os demais personagens, inclusive das suas amantes, a
autora nos traz o modus vivendi da sociedade na Bahia, na sua grande parte, em
Salvador. Reconstituindo a Salvador de outrora, incluindo aí o uso de um
vocabulário próprio da época, sensacionalmente explorado pelos personagens, mui
principalmente, o Gregório de Matos.
Com ela, o leitor desce e sobe as
ladeiras, vai até o Paço Municipal, visita as Igrejas, anda a cavalo pelas ruas
de pedra, pelos becos e pelas “alcovias”, para quem não sabe os prostíbulos tão
frequentados pelo Gregório de Matos.
A disputa do poder entre o clero
e o governo é latente, o embate entre o governador Braço de Prata e o Padre
Antonio Vieira permeia a totalidade da trama, em que a ficção aparece para dar
mais vida e brilho aos personagens, que se imbricam na estória sem se afastar
da história.
A vida desregrada do poeta Gregório
de Matos é explorada pela autora, para demonstrar o lado mundano da capital da
colônia, em que de fio a pavio (de clero a homens bons), freqüentavam não só os
prostibulos, como tinham as suas barregãs particulares, no entanto, e apesar disto,
estão na missa e frequentam a igreja, embora armados, para cumprir o ritual determinado
pela Igreja.
A leitura é fácil, envolvente, e
o mais importante, como acontece com todo romance histórico bem escrito e
fundamentado, cria no leitor a curiosidade de verificar a veracidade do que ali
se contém.
O conhecimento histórico necessita
de mais escritores deste gênero literário, porque eles despertam no autor a
vontade de conhecer e saber a nossa história, contada como uma cronológica
sucessão de fatos nos livros escolares.
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