quinta-feira, 19 de março de 2015

Resenha livro BOCA DO INFERNO - Ana Miranda

Resenha   -Boca do Inferno
Ana Miranda
São Paulo -Cia das Letras, 3a.ed,  1989

Acabo de ler o romance histórico de Ana Miranda – Boca do Inferno. A referência ao Boca do Inferno é realmente à Gregório de Matos, o nosso poeta do período colonial, que com os seus versos satirizava a sociedade baiana.
A autora insere o Poeta Gregório de Matos numa trama que desenvolve com maestria, e esta trama começa no momento em que o alcaide mór da Bahia, Francisco Teles de Menezes no período do governo de Antonio de Souza de Menezes – O Braço de Prata é assassinado e o crime tem uma conotação política (rivalidade no poder), atribuindo o governador o homicídio ao grupo liderado pela família Ravasco, cujo membro maior, o Padre Antonio Vieira, estava envolvido juntamente com seu irmão Bernardo e os sobrinhos Gonçalo e Antonio, todos amigos do Gregório de Matos.
Através dos diálogos dos personagens, entremeados das sátiras “reais” de Gregório de Matos e dos próprios diálogos do poeta com os demais personagens, inclusive das suas amantes, a autora nos traz o modus vivendi da sociedade na Bahia, na sua grande parte, em Salvador. Reconstituindo a Salvador de outrora, incluindo aí o uso de um vocabulário próprio da época, sensacionalmente explorado pelos personagens, mui principalmente, o Gregório de Matos.
Com ela, o leitor desce e sobe as ladeiras, vai até o Paço Municipal, visita as Igrejas, anda a cavalo pelas ruas de pedra, pelos becos e pelas “alcovias”, para quem não sabe os prostíbulos tão frequentados pelo Gregório de Matos.
A disputa do poder entre o clero e o governo é latente, o embate entre o governador Braço de Prata e o Padre Antonio Vieira permeia a totalidade da trama, em que a ficção aparece para dar mais vida e brilho aos personagens, que se imbricam na estória sem se afastar da história.
A vida desregrada do poeta Gregório de Matos é explorada pela autora, para demonstrar o lado mundano da capital da colônia, em que de fio a pavio (de clero a homens bons), freqüentavam não só os prostibulos, como tinham as suas barregãs particulares, no entanto, e apesar disto, estão na missa e frequentam a igreja, embora armados, para cumprir o ritual determinado pela Igreja.
A leitura é fácil, envolvente, e o mais importante, como acontece com todo romance histórico bem escrito e fundamentado, cria no leitor a curiosidade de verificar a veracidade do que ali se contém.

O conhecimento histórico necessita de mais escritores deste gênero literário, porque eles despertam no autor a vontade de conhecer e saber a nossa história, contada como uma cronológica sucessão de fatos nos livros escolares.

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