quarta-feira, 28 de julho de 2010

Resenha da vida alheia


Estavam num restaurante de nome ESCORPIÃO na Feira Popular de Maputo. O nome do restaurante já não recomenda bem, pois lembrem que escorpião, além de ser venenoso, mata com o rabo, aliás, era o que parecia não faltar naquela mulher.

O homem nem sequer olhava para ela. Olhava para tudo, para a televisão, para quem passava, para frente, para o lado contrário, mas nunca para o lado direito onde ela estava.

Ela era uma negra, parecia usar peruca, o que é bem normal em Moçambique, era feia e tinha uma testa enorme. A peruca estava colocada quase no meio da cabeça, fazendo com que a testa parecesse maior. As unhas enormes, “a La Du Carmo”, com esmalte bem vermelho, um contraste da porra com a cor da sua pele. Usava um casaco preto, que não dava para ver a roupa que estava vestindo. Não dava para saber do corpo porque estava sentada, mas parecia ser gorda, e a calcular pela aparência e por tudo já visto em Maputo, devia ter uma bunda característica da maioria das mulheres daqui, enorme e cheia de culote e celulite.

O homem era magro e parecia ter um corpo másculo e bem feito, entretanto não dá para garantir, porque não levantou.

Ela usava uma aliança na mão esquerda, que realçava ainda mais, tanto a cor própria quanto as das unhas à “La Du Carmo”.

Estava há umas quatro mesas da deles e tentava captar a conversa pelos lábios da mulher.

Ela falava de uma maneira que, pela intuição feminina que temos, nós as mulheres, parecia querer saber algo do senhor, uma resposta, uma justificativa para alguma coisa que fazia parte da relação deles.

O olhar dela era incisivo! Ela não desviava o olhar da face do homem enquanto falava, mas o cidadão nem mesmo levantava a cabeça.

Por um momento a leitura dos lábios dá a impressão que ela diz:

- Quero uma explicação, sei que nos damos bem na cama!

Portanto, não era este o motivo do problema para ela, e ela queria saber qual. Parecia estar tentando se segurar, controlar a situação sem perder a classe.

As mãos se juntam e batem na mesa em um gesto nervoso.

O homem nem se abala, quando muito sorri cinicamente, é o que parece, pois não da para ver todo o seu rosto de onde estava.

A mulher continua a falar, a gesticular, a olhar para ele fixamente.

Ele na mesma postura

De novo, um novo gesto e as pontas dos dedos agora batem repetidas vezes na mesa, era como se a mulher quisesse acompanhar com os dedos o seu raciocínio verbalizado.

Os dedos fazem um desenho na mesma, não é um desenho premeditado, é apenas um caminho para ela poder aliviar a tensão, é como se os dedos e a forma que eles desenhavam lhe ajudassem a dizer o que lhe ia na alma naquele momento.

A comida chega. Agora o homem se mexe porque vai comer, nada além disso. A mulher continua a falar. Questiona-o; o seu rosto é uma interrogação só. Pergunta e quer resposta, olha-o, como sempre, fixamente.

O sacana, olha já o julgamento feminino, não tá nem aí, continua a comer na dele.

Ela dá um sorriso irônico, como se quisesse dizer que não acredita em nada que ele possa dizer.

Os olhos abrem-se mais e ela fala com alguma ironia mesmo. Não dá para perceber o que. A mulher quase não mastiga, porque não para de falar um minuto sequer, é sempre falando, argumentando. Nem mesmo se o cara quisesse dizer alguma coisa poderia, ela não dava tempo.

A conta chegou, tem de ser paga, mas não se quer perder nenhum lance. Fica-se e, num guardanapo, começa-se a descrever a cena.

Não há mais dúvidas: Tá pagando a conta e vê o cara mostrar o visor do telefone para a mulher. Ela coloca um pouco a cabeça para trás para olhar o tele móvel: Quem é? Não se vê e nem se ouve a resposta, mas o cara faz um gesto com a mão, como se quisesse indicar que era a mesma pessoa que tinha ligado antes. Ela olha o visor outra vez e não diz nada. Apenas sorri ironicamente balançando a cabeça. Era como se disse em boa gíria “não tô comendo nada disso”.

A expressão dela muda, a fala fica mais incisiva, o olhar procura o dele incessantemente, mas o cara não se arrisca, sabe perfeitamente que o seu olhar pode demonstrar a realidade cruel que ela, apesar de tudo, de tantos questionamentos não queria saber, ou melhor, ter a certeza.

O rosto contrai-se, agora expressa aborrecimento, entretanto, ela não para de comer.

Tinha mesmo que ir embora, precisava sair dali; não só porque já pagara a conta, como também, porque o homem que está sentado na mesa junta à dela, começa a chupar os dentes, e isto, nem mesmo a resenha da vida dos outros, levar-lhe-ia a suportar.

Levanta-se e pensa: vou passar bem junto a mesa deles para ver se capto alguma coisa. Neste momento o homem faz um gesto e vê-se a aliança na mão esquerda, aliás, impossível não ver, o dourado faz mesmo contraste com a pele negra e aparece muito, aliado ao fato de que a grossura dela jamais deixaria que ela passasse despercebida. No entanto, parece que de nada adiantou, ou adianta, tanto brilho: as outras não se importam com isso, tampouco ele, com certeza.

Passa pela mesa deles, mas não ouve nada, ela parece ser uma pessoa educada, fala baixo, mas não dá para ter dúvidas: ali estava uma relação a terminar, e a terminar como muitas outras, por causa de alguma outra, MÁ-PUTA.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Maputa da vida!

Maputo acumula decepções. Hoje tive várias. A primeira delas foi chegar ao local onde funciona o Arquivo Histórico de Moçambique e ter a noticia de que as fontes primárias não se encontram ali, e sim em um depósito no campus da Universidade.

Isto não seria qualquer problema, se eu não tivesse ligado n vezes para o arquivo, enviado mensagens dizendo o que queria, enfim, tivesse tentando saber tudo antes da chegada, a fim de não perder tempo.

domingo, 25 de julho de 2010

Chegada em Maputo

Ela chega cansada, mas ainda tem que esperar as autoridades do país permitirem a sua entrada, embora já tivesse o visto fornecido pelo Consulado em Portugal.

Não tem jeito, pega a fila para estrangeiros. Tudo é manual, não ha qualquer meio eletrônico para concessão do visto ou confirmação dele. Tem de esperar na fila imensa que se formou. Somente três funcionários em dois guichês, que mais parecem barracas de feira armadas em local coberto.
Passam pessoas na sua frente; a funcionaria levanta para atender um seu conhecido, ou melhor, para facilitar-lhe as coisas. O homem passa na frente de todo mundo e sem qualquer protocolo. É impressionante!

Passada a primeira etapa, uma segunda. O controle da bagagem. No aeroporto uma só esteira. A sua mala foi uma das últimas a chegar, passou, mais ou menos, 2 horas a esperar que, num processo completamente manual, as malas fossem tiradas do avião e chegassem até o desembarque.
Não encontrou carrinho de bagagem. AH! Detalhe: O carro de bagagem parece um grande carro de transporte de cargas em supermercados. Somente conseguiu um depois que quase todos os passageiros do vôo pegaram as suas bagagens.

Assim que pegou o carrinho um senhor se aproxima e, sem pedir nada e sem a sua licença, começa a empurrar o carro. Ela tenta tomar o carro da sua mão, mas ele insiste e diz que vai ajudá-la a passar no controle de bagagem, caso contrário ela vai pagar algum dinheiro ao pessoal. Ela diz: Não vou pagar nada porque não tenho nada de errado na minha bagagem, portanto podem abrir e fazer o que quiserem. O homem insiste e a bagagem é retirada do carro e colocada na única máquina do raios-X. Quando a bagagem sai do outro lado alguém lhe diz que ela foi selecionada, o homem lhe puxa e diz que o acompanhe, ela diz não. O homem continua a empurrar o carro e ela tentando tomar-lhe das mãos. A funcionária diz: O que é isto, então a mala foi selecionada e vão levando-a embora. Ela para e pergunta a funcionária, é para colocar a mala onde? O homem fala alguma coisa com a funcionária em uma língua que não entende, e a funcionária diz que podem ir.

Ela continua a tentar tomar o carro da mão do homem que fala, mais uma vez, que se ele não estivesse ali ela ia pagar muito dinheiro. Ele segue em direção à fila de taxis. Quando coloca a mala no bagageiro diz que quer cinco euros, ela dá risada e diz que não tem e que, ainda que tivesse não pagaria porque era muito caro. Tira uma moeda de dois euros e dá ao homem que se aborrece. Ela nem liga e entra no taxi e diz o nome do hotel.

O taxi não tem taxímetro ou tabela de preços, ela pergunta o homem o preço e ele diz trezentos meticais. Não acha caro e nem barato, porque não consegue entender muito bem o valor da moeda do país, mas ainda que fosse bem caro, ela pagaria qualquer coisa, pois estava muito cansada, a viagem tinha sido péssima. Não conseguira dormir nada, a companheira de viagem era uma mulher que resolvera atualizar o seu trabalho no avião, alguma coisa relativa a um projeto de produção de “sunflower”. Para quem não sabe: Girassol. A luz ficou acesa durante quase todo o percurso

Passou por muitas ruas feias, sujas, sem calçamento. Muita pobreza e a surpresa da mão inglesa. Sentiu uma sensação terrível, estranha. O motorista do lado contrário, no lugar do carona. Passar marcha com a mão esquerda! Ela acha que nunca conseguiria. Pior que isso, foi atravessar a rua sem saber para que lado olhar, muito estranho mesmo.

Enfim, chega ao hotel. Há um indiano que é o “manager”, and as a manager, He doesn`t speak portuguese. Ela acha graça: Como é que num país de língua oficial portuguesa há um gerente que não fala tal língua. Bom, tenta se comunicar e descobre que os funcionários outros são moçambicanos e falam português, claro, como bons lusófonos que são, embora todos continuem, entre si, a falarem os seus dialetos.
Chega ao quarto, nada de especial, mas nada de estranho, um quarto normal. Dá-se por feliz pelo ar condicionado.

Toma banho e dorme até uma hora da tarde. É hora de levantar e ir ver a cidade e onde estava localizada em relação ao Arquivo Histórico, para onde terá de ir muitas vezes. Pede informação e segue em frente. Acha estranha a informação, porque pelo mapa ela esta indo em direção completamente contrária.

Para e vê um rapaz parado na rua, pede licença e pergunta-lhe se ele sabe onde é a Rua Araújo. O rapaz lhe olha e cai na risada, mas ele ri muito mesmo e nem consegue responder. Ela já sabia o motivo de tanta risada: É que a Rua Araujo, como era chamada antigamente a Rua do Bagamoio, para onde ela se dirige, era um local de prostituição. Ela explica-lhe entre risos que quer ir para o Arquivo Histórico, que, infelizmente, funciona naquele local. Ele chama uma senhora que está dentro de uma loja e lhe diz que ela está procurando a Rua Araujo. A senhora sorri e lhe explica que ela vá direito: quando chegar a Vladimir Lenine, desça à esquerda e vai chegar até a baixa; lá ela entra na Timor Leste e vai dar numa praça da fortaleza e lá vai encontrar a Rua do Bagamoio.

Ela agradece e vai seguir quando a senhora diz: Nós vamos para aquele lado, venha que nos lhe levamos até um local mais próximo. Ela entra no carro, e novamente a mesma sensação estranha, o volante no outro lado. O rapaz dirige e se chama Jorge, a senhora diz que se chama Biba. Perguntam-lhe o que esta a fazer em Moçambique e ela diz, eles acham interessante e a mulher lhe diz que ela vai encontrar o que procura no arquivo. Descem a rua e deixam-na na Marginal, em frente ao mar, na Baía de Maputo. Antes, porém, a senhora lhe dá o número do telefone para que ela entre em contato, porque eles têm uma moto, uma espécie de taxi de três rodas e se ela precisar dar uma volta na cidade é um bom meio.

Ela caminha um pouco pela praia, mas não se arrisca muito, vai até um prédio que fica na orla e que impede de passar para o outro lado, para tal ela teria de contorná-lo. Não se arrisca e volta. Encontra uma faixa dizendo que ali existe uma feira do Egito. Para, entra e fica fascinada com as coisas, mas tudo que gosta é muito caro. Pergunta por um conjunto de esfinges douradas e alguém lhe diz: Three thousands. Toma um susto, aquilo não poderia ser tão caro, ou então entendera errado. Pergunta de novo. O homem diz: three thousand in... and one hundred. Continua sem entender, até que cai a ficha. Três mil em meticais e cem dólares em dólares. Acha caro do mesmo jeito e não compra, embora as três esfinges sejam lindas. Vê vestidos de mangas, alguns muito bonitos, outros inusáveis. Há perfumes, essenciais egípcias, tudo aromas falsificados de perfumes bastante conhecidos. Cloé, azarro, Calvin Klein. Dá risada e sai do local, o homem queria que ela experimentasse todos. Fica enjoada.

Segue olhando a feira, que é bem pequena. Muitos móveis egípcios, todos com muito dourado. Algumas peças lindas, outras de extremo mau gosto. Encontra uma brasileira do Pará, que vê o seu sotaque e lhe pergunta se é brasileira. A mulher lhe deseja uma boa estada em Maputo.
Compra um chaveiro com uma esfinge, uma pintura em papiro, um vidro todo desenhado em dourado e vai embora dali pelo mesmo caminho.

Já tem muitos carros parados no lado da praia, fica impressionada com a quantidade de jeeps. Música alta e muitos jovens. Vendem-se cervejas e refrigerantes, ela não se arrisca, Parece tudo muito sujo.
Cansada, ainda, resolve ir embora, mas primeiro tenta comprar crédito para o telemóvel. Compra, mas o tel. não fala, continua sem chamar. Dá uma volta no shopping “Centre”, não entende porque se escreve assim, vai ao mercado tentar comprar frutas. Não percebe, mas não encontra frutas boas, também não vê alface e nem qualquer outra folha.

Compra pão, queijo e mortadela. Não vê presunto. Uma lata de palmito, milho, feijão frade e atum, leva para o hotel, é o que vai comer à noite, com certeza.

Quando sai do “shopping centre” vê á área de alimentação que fica ao lado, na área externa, senta-se, toma uma cerveja que tem o nome de “florentina”, cerveja autenticamente moçambicana, não é mal, toma duas e pede um prato no restaurante em frente. Uma mistura de legumes e vegetais: cogumelo- carne-alface-cenoura-pimentões. Não gosta e deixa metade. Paga e sai, vai para o hotel. Toma um taxi e se assusta, ela podia ter ido caminhando, é muito perto, mas ainda assim o taxi lhe custa 150 meticais, o que é muito pela distância. O motorista é simpático e ela lhe pede um cartão. O nome dele é Tony, ela agradece e entra no hotel. Encontra o “manager” e pergunta-lhe como acessar a internet do quarto. Ele pede a funcionaria para dizer-lhe para ela trazer o PC para que ele possa fazer configuração. Ela sobe e traz o PC, ele tenta lhe explicar em inglês, ela diz que não está entendendo nada, mas enfim, conseguem. Depois de tudo certo, internet funcionando, ela pergunta: Every time I want to access net I have to came here in the receptcion? O Manager morre de rir e diz que não. Que agora ela pode acessar a qualquer hora que é só colocar a senha que ele lhe dá.

Sobe para o quarto com a net funcionando. Entra no quarto e vai dormir.

As oito alguém bate na porta. Quando ela abre, ainda sonolenta e assustada, pois não conhece ninguém e nem tampouco tinha pedido nada na recepção, alguém lhe pergunta: Tem roupa para lavar? ...

É mole ou quer mais?

sábado, 17 de julho de 2010

Madrinha X 3

Nasceu em setembro, segunda filha de um casal transatlântico: pai espanhol de Galícia, mãe baiana de Cachoeira.

O primeiro filho deles fora uma mulher, bem vinda, claro, como todos os primeiros filhos. O pai queria um homem, como todos os pais, mas veio uma mulher e, como primeiro filho, esperado, curtido, desejado, ficou tudo bem. Deram-lhe o nome da avó paterna, uma espanhola que viu os seus filhos deixarem a terra, um a um, a fugir de uma guerra civil, que acabava com a juventude masculina da Espanha.

Três anos depois, uma nova gravidez. Aí sim, imperdoável, tinha de ser um rapaz, para receber o nome do pai, ser macho, tornar o genitor orgulhoso.

Àquela época o sexo do bebê era mesmo uma surpresa, ficava por conta, tão somente, das adivinhações e das crendices. Se a barriga era pontuda, era homem, se a barriga era arrendondada, seria mulher. Se a mulher, durante a gravidez, tivesse muita azia, o bêbê seria cabeludo. Muitos outros “ses” davam a indicação do sexo da criatura que estava sendo formada.

Nove meses de espera e incertezas. As roupas, se para homens, azuis; se para mulheres, rosa. Na dúvida, branco e verde resolviam, quem sabe nascia um bissexual.

O certo é que, num dia de setembro, após três idas diferentes ao hospital espanhol, que ainda existe e fica num dos mais aprazíveis lugares de Salvador, na Barra, entre o Porto e o Farol, numa localização espetacular e uma visão dos deuses, nasce o segundo filho do casal.

Ansiedade dos pais! Qual o sexo do bebê? Á enfermeira anuncia: É UMA MENINA!

Que decepção para o genitor, que nem mesmo tinha se preocupado com o nome que iria dar ao rebento se mulher fosse, porque o desejo do filho homem era tamanho e a perpertualidade de um nome espanhol horroso, talvez único em toda a Espanha e no Brasil, neste último então é que seria mesmo único, pois ninguém normal teria a idéia de colocar aquele nome em uma criança, que não se preocupara com isso.

Nasceu a criatura em um parto difícil, pois veio de bunda. Por isso, talvez, a sua estrela tenha apagado naquele momento. Pense aí: alguém nascer já de bunda para o mundo. Pois, desde ali, já se fizera notar e indicar que seria um pouco diferente dos demais.

Bom, feliz ou infelizmente, a criatura nasceu sadia, mas tinha de ser registrada para passar a existir oficialmente, e aí? Qual seria o nome daquele troço que ali estava frustrando os sonhos dos pais de terem um filho homem?

A mãe, porque a primeira filha tinha o nome da avó paterna, decidiu colocar, agora, o nome da sua própria mãe. Felizmente que o pai não concordou, porque com aquele nome, se já a consideram “uma mulher de verdade”, aí é que seria mesmo, de fato e de direito. A música popular por Ataulfo Alves que o diga, pior ainda a versão do pessoal do sambão da faculdade de direito: Ficaria sendo a mulher de verdade, a que não fazia exigência, a que seria a subserviente, e que sempre estaria disposta a agradar o seu homem em todos os sentidos.

O genitor não concordou, não queria esse nome, sugeriu outro; um bem espanhol e que também a faria única e iluminada: O nome seria “LUZ”, mas não uma luz qualquer, a luz seria “DIVINA”. Pense aí gente: Uma pessoa ser chamada de “LUZ DIVINA”.

Genitora não concorda. Não se chega a um bom termo.

A notícia do nascimento já havia se espalhado e a madrinha já estava arranjada, mas isto era independente do rebento ser homem ou mulher, tinha sido escolhida há muito. Seria uma tia-mãe do genitor, aquela que o trouxe da Espanha e com quem ele e os irmãos conviveram durante muito tempo. Uma espanhola galega, pequenina, que vivia para o lar e para o seu marido e sobrinhos, e sobrinhos netos, mas que não saia de casa para nada.

As visitas começaram a chegar, e a discussão pelo nome não acabava. De repente chega uma prima do genitor, uma que tinha um nome de uma pedra preciosa de muito valor e que já era madrinha da primeira filha do casal. Uma mulher forte, grande, bonita. A discussão acaba: escolheram o nome da criaturinha, seria aquele, o nome daquela prima. Uma pedra verde. A prima, feliz, fica emocionada, o seu nome naquele ser pequenino, que atenção dos pais. Descobriu que era importante para eles e fica muita agradecida pelo gesto dos primos, sente-se meio protetora da criança, uma madrinha, talvez.

Dia do batizado. Igreja da Conceição da Praia. La estava a criança, já oficialmente registrada com o seu belo nome de uma pedra preciosa, aliás, preciosissíma.

A madrinha escolhida, por não sair de casa, mandou a sua representante, uma tia solteirona que pensava ser a poderosa, aliás, faleceu querendo controlar a vida de todos, o que fez, inclusive com os padrinhos do rebento, eles que o digam e que a perdoem onde estiverem.

A representante tomou ares de titular, carregou a menina durante a cerimônia e fez a sua representação da melhor maneira possível. Resultado desta representação solene: Ela tomou ares de madrinha mesmo e se comportou como tal, ali e alhures e por todo o tempo, durante e depois.

Assim, aquela pedra preciosa, que já nascera de bunda, e, portanto, já marcara a sua diferença, passa a ter três madrinhas: A oficial que, por não sair de casa, era de direito, mas não de fato; a representante, que era de fato, mas não de direito, e uma que nem era de fato e nem de direito, mas se elegeu como tal por causa do nome que colocaram na criança, sua xará.

Esta particularidade lhe gerou, no seio familiar, muitas brigas e invejas, todos os primos tinham inveja dela, porque ela ganhava presente, nas datas em que estes eram obrigatórios, de três madrinhas: Páscoa, Natal, aniversário, tudo sempre multiplicado por três.

Talvez por isso, tenha crescido com tanta responsabilidade, tudo na sua vida multiplicado por três. A única coisa que ainda não foi multiplicado por três, isto em termos de entrada, porque em termos de saída o multiplicador conseguiu crescer muito mais, foi o dinheiro. Ah! Também uma outra coisa ainda não se multiplicou por três: Os maridos! Mas ela ainda tem tempo de colocar isto em ordem...

terça-feira, 6 de julho de 2010

Uma visita quente


Estava, como sempre, sozinha em casa. Lia um livro deitada na rede e levantou-se para beber água. Quando chegou à cozinha, um susto daqueles: Um homem alto, quase 1,90, todo vestido de branco, roupas finas, parecia calça de linho tipo pijama e camisa de cambraia de linho, uma roupa solta e bem estilosa. Os cabelos grisalhos muito bem cortados, mas com muito estilo, caiam-lhe no rosto, uma sandália tipo pescador, aquelas usadas pelos apóstolos de Cristo lembram? Os olhos de um azul tão denso, que nem chegavam a ser bonitos, com um grande e assustador detalhe: não tinham pupilas. Tudo era azul.

Ela assustou-se e deu um grito. Ele lhe fez sinal com o dedo na boca para que ela se calasse, e foi entrando na cozinha, ela, dando de costas, terminou por se bater na geladeira, ficara ali, encurralada, e o homem se aproximando mais e mais.

Quase colado com ela ele parou e a olhou com aqueles olhos despupilados, horríveis

Ela balbuciou: - Quem é você? E o que quer na minha casa? Como você entrou aqui? Cadê o cachorro?

Ele deu risada e disse: - Minha querida, uma pergunta de cada vez. Não se apresse, porque temos muito a conversar. Já já você vai saber quem sou, o que quero, e por que estou aqui.

Falava manso e ela começou, apesar de tremendo e temendo, ficar um pouco menos assustada.

- Vamos, sente-se. Você estava lendo na rede, portanto, pode voltar para lá que eu fico ali conversando com você.

-Não quero! Você é um homem, eu estou na minha casa, sou casada e os vizinhos podem nos ver.

-Bobagem, os vizinhos não conseguem me ver, não se preocupe

-Como não podem lhe ver, ali é a varanda que dá para a rua, para o muro da casa ao lado, enfim, qualquer movimentação das pessoas e eles vêem o que se passa aqui em casa.

-Pois é! Um defeito que você tem de jogar para o alto. Não se preocupe com os que as pessoas acham ou dizem: Você não tem que dar satisfações a ninguém. Já tá bem grandinha para isto.

- Quem é você para me dizer estas coisas? Quem disse que dou satisfação da minha vida aos outros?

-Ora, você às vezes se passa como agora, não é uma mulher tão inteligente como pensa a ser. Você acabou de demonstrar que liga, e muito, para a opinião dos outros, mas isto não interessa agora e nem vem ao caso, vamos conversar. Se não quiser sentar na rede, sente em outro lugar, eu vou tá aqui mesmo, pois hoje você não me escapa.

Começou a se preocupar novamente: " O que ele queria dizer com de hoje você não escapa. Quem era aquela porra Meu Deus?"

Logo que teve este pensamento o homem vira-se para ela, e os olhos já não estavam azuis, pareciam duas bolas de fogo. – Para que você esta pensando nele? Neste momento sou eu e você e ele não vai se meter. Não pense e nem fale o nome dele enquanto eu estiver aqui.

- Ela não entendeu nada, não havia falado em nome de pessoa nenhuma. Assustou-se com aquele olhar de fogo e com as palavras ditas entre dentes e com muita raiva.

- Falar em nome de quem?Eu não disse nada!

-Não disse mais pensou, a sua voz já tinha voltado ao normal, e olhe que era uma voz quente, macia, gostosa de ouvir. – Esta pessoa não merece o seu pensamento nem qualquer suplica, porque não gosta de você. Olhe a sua vida como está. Você tem quase sessenta anos, está marcada pelo tempo, está só, não conta com ninguém, está sem dinheiro, tem dificuldades financeiras, continua ajudando muitos e sem nada receber em troca. Por que então pensar nele ou questionar alguma coisa com ele?

Cada hora que passava ela entendia menos aquela situação.

O homem, já agora bem sentado na varanda, olhava para ela sorridente e dizia- A sua casa é linda! Mas você vai perdê-la pela sua idiotice. Você é muita boba, deixa-se enganar facilmente, e por isso vai perder o que tem e ainda o que conseguir, porque as pessoas te usam e você vai permitindo. Falo de todos que passaram por sua vida. Não vou citar nomes porque você bem sabe do que estou falando. Você idiota, e o outro, a quem você chama, deixando que tudo isto aconteça com você, sem fazer porra nenhuma. Até quando você vai esperar que “ele” resolva os seus problemas?

- Quem é você? Por que esta a me dizer tudo isto? Como sabe tanto de mim?

-Eu te acompanho querida, aliás, acompanho todos. Tenho disputado por toda a minha vida um espaço com “aquele” a que você chama, ou melhor, todos chamam. Tenho boas chances com alguns, com outros perco, mas não desisto, neste aspecto, sou como você, que toma tanta cacetada, mas não desiste desta mania idiota de ser “boazinha”. Para que ser boazinha? Para ter reconhecimento de todos? Para ser apontada como exemplo? Para que todos digam que você é uma pessoa com um grande coração? Idiotice mesmo, você deixou a vida passar preocupando-se com os outros. Deixou se endividar para saldar compromissos alheios. Você, para compensar uns de perdas irrecuperáveis, transformou pessoas de sua intimidade em verdadeiros parasitas. Você bem sabe do que estou falando, não vou citar nomes para que você não fique, com esta sua sensibilidade exagerada, melindrada, aliás, coisa que você adora. Ficar melindrada. É mais uma satisfação para os outros? Ou é algum tipo de jogo que você joga para enganar as pessoas? Ou é uma coisa atávica?

-Eu, enganar as pessoas?

-Sim minha querida! Você engana bem as pessoas, porque você não queria ser nada disto. Você bem queria ser uma pessoa completamente fria, insensível, egoísta, materialista, arrogante, prepotente, vingativa, aliás, como deveria, até mesmo pela profissão que escolheu e é por isso que estou aqui, para te ajudar a conseguir todas estas qualidades que lhe faltam.

-Qualidades! Você esta me propondo ajudar-me a ser um “não ser”?

-Lá vem você com idiotices! Não se cansa? Com tanta porrada que a vida já lhe deu, que aquele “outro” permitiu que você tomasse, e ainda vem me falar em “não ser”? Olhe á sua volta, tirando as pessoas que não tem mesmo para onde ir por completa falta de tudo, olhe bem as outras a quem você ajudou e que estão se dando bem: O que eles fazem por você? Nada. Quantas vezes você precisou de algum favor que envolvesse dinheiro, não que você não pudesse pagar, mas sim porque no momento você não estava presente. Quem te ajudou? Salvo uns poucos, muitos poucos, aqueles que têm nomes de Apóstolos, e um santo que não é tão santo assim, ninguém lhe dá nada. Se pudessem, até lhe tiravam mais.

-Não lhe dou o direito de falar assim das pessoas que me rodeiam!

-Quem está lhe pedindo autorização para nada. Eu posso dizer tudo, também acompanho a vida deles e sei os pensamentos: Alguns chegam até a dizer, “Vamos pedir a doutora porque ela tem.” Ela pode. Já viu o salário dela? Não é só isto “otária”, há uma multidão atrás destas pessoas que pensam da mesma maneira. Você é uma sacana que não faz o que poderia fazer, porque não se preocupa com os seus.

-Como é. Você tá louco, aliás, saia da minha casa, ninguém te autorizou a entrar e, muito menos, me dizer tanta merda.

-Merda o que? Você sabe que é verdade. Você tem ao seu redor muitas pessoas que, também como você, se julgam boas; boas da maneira que eles acham que é ser bom, ou seja: tudo para mim e para os meus, e se possível tirar um pouco do outro vou fazê-lo, porque o outro pode. Quantas pessoas já lhe traíram? Quer que eu enumere? Eu sei de tudo, seja de traição de homem, de amigos, de conhecidos, vizinhos. Eu to te dizendo, eu sei de tudo e vejo tudo, ganho algumas batalhas contra “aquele”, mas você já notou que posso sair mesmo vencedor em muitos casos, mui principalmente com pessoas que lhe rodeiam. Você não sabe, nunca soube escolher bem amigos, conhecidos, companheiros. Deixou que muitas pessoas entrassem na sua vida para te magoarem muito. Deixou que tanta coisa acontecesse com você que até eu, que adoro uma sacanagem, uma miséria, erros, falsidades, estou saindo em sua defesa. Cansei de ver você explorada, infeliz, sacaneada, traída. Acho mesmo que você não merece. Por isso vim te ajudar. Se seguir os meus conselhos vais ter uma vida maravilhosa. As pessoas vão te dar o merecido valor.

-Não quero sua ajuda, não sei quem você é, mas parece que você é aparentado com o “Satanás”!

-Kakakakakakakakakakaka! Até que enfim hein! Pensei que você nunca ia matar a charada! Sou eu mesmo querida! Viu que posso estar em muitos lugares e influenciando todas as pessoas? Viu como é fácil me infiltrar na vida deles. Você não, você eu tive que vim e me apresentar a você da maneira que você gosta, para que me desse ouvidos. Você sempre me tirou de letra do seu espaço, até mesmo quando dava algumas decisões medíocres. Vibrei quando você, tão boazinha, tão humaninha, teve a coragem de dizer que aquele povo que virou churrasco não tinha quaisquer direitos, pelos menos na sua área. Vibrei, mas depois me aborreci seriamente com você, porque, afinal, você tinha razão, não estava fazendo qualquer sacanagem, eles é que queriam fazer. Vibrei quando você falou do velho surdo, mas, olhando de novo tudo o que fez, fiquei, mais uma vez frustrado, porque você tinha razão, aquele era um velho chato e inconveniente, o que eu achava ótimo, pois, agia de acordo com os meus padrões. Você não me dava motivos de orgulho, não se apresentava como uma boa filha, uma merda. Mas,mesmo assim, mesmo com tantas futucadas, você não se fazia revelar como eu queria, me criando todo o tipo de dificuldades.

-Tá maluco? Saia daqui, não quero mais ouvir você falar, não quero mesmo.

- Não to maluco nada. Deixe eu te lembrar mais coisas, para que você perceba bem o quanto foi idiota.

-Não quero ouvir mais nada, me deixa em paz? Já que você quer me ajudar, o melhor a fazer é sair daqui.

-Nem pensar querida. Se eu sair daqui agora o muito que você vai fazer, idiotamente como sempre, é ficar chorando ai pelos cantos maldizendo a sua “sorte”. Não, vou ficar aqui e lhe dizer mais coisas. Tenha certeza que para o seu próprio bem. Já lhe disse, cansei de ver você só tomando na cabeça, nem eu, Diabo, agüento ver isto mais. Quer saber: você, toda “boazinha”, deu, ou melhor, deixou que pessoas entrassem na sua casa. Sabe o que elas fizeram? Trouxeram-me para dentro dela, e eu fiquei aqui, não sai mais, gostei do ambiente. Enquanto eles estiveram nela, isto aqui era mesmo o meu espaço, um inferno. Todos querendo tirar de um só, todos explorando o outro, todos querendo tirar vantagens. Enterraram coisas, plantaram coisas, e depois, você, de bobeira, entra nela, de peito aberto, sem quaisquer precauções. O que aconteceu? Quer que eu fale? Quando foi que a sua vida começou a mudar literalmente em relação ao “amor”? Pense um pouco? O outro que andava com você, mais esperto, mais íntimo meu, não gostava dos desafetos, mas...

-Vá à porra, me deixa em paz!

-Oh querida, este seu palavreado não lhe ajuda em nada, é apenas criticado pelas pessoas, nada mais, você que dá tanto valor a opinião alheia, devia parar com isto, dar-lhes menos um motivo para falarem de você. Ninguém acha engraçado, lhe fazem criticas. Pensa que isto e coisa minha? Qual nada, com você eu não tenho chance mesmo. Isto é apenas mais uma das suas idiotices, talvez para parecer o que não é, como se você precisasse de alguma coisa para ser notada, respeitada, etc. Você não precisa de nada, você “é” porque nasceu já sendo, não precisou ser fabricada, não se esqueça disto. Você nunca será um “não ser”, porque você realmente “É”. Até as pessoas que não gostam de você, não se engane, não porque, infelizmente, você fez nada para lhes tirar alguma coisa, ou alguma sacanagem, mas porque você “E” o que eles jamais serão. Eles sabem disto e, por isso mesmo, não gostam e tem os sentimentos que eu gostaria que você tivesse para fazer parte da minha turma: Inveja, mesquinhez, miserabilidade, ciúme.

-Acho bom você parar, to ficando muito cansada desta sua conversa.

-Mais uma só. Quando você viu seu”amado” com uma pessoa no fusca: lembra disto? Olhe que isto tem muito tempo. Você andou até o meio da rua. Eu atrás de você vibrando, ela vai fazer uma merda, vai quebrar o carro, vai bater no cara, enfim, fazer tudo que uma pessoa normal, que nem precisava estar de mim acompanhada faria. O que você fez e me aborreceu bastante: Voltou e ficou em pé, parecendo um poste, olhando aquilo tudo, chorando, bem verdade, mas quieta. Depois ficou orgulhosa a dizer que quem saiu foi ele. Porra nenhuma, ele fez o que quis fazer: te humilhou, te sacaneou, e você quieta, sem reação e eu, mais uma vez, vencido. Você tinha de ter arrebentado tudo. Pelo menos ia sair no jornal.

-Por favor, vá embora. Não quero mais esta conversa, já chega o que passei, não vou sofrer duas vezes.

-Sofrer! Pois é: eu é que não agüento mais ver você se martirizar, sofrer, se acabar. Gosto de pessoas bonitas, “gostosas”, pelo menos que assim se acham, mas você me decepciona a todo o momento, pois não adianta ser “boazinha” por dentro, esta marmelada que ensinam: “que as pessoas são feias por fora e bonitas por dentro”. Não é assim, e você bem sabe disto, o que interessa é o que aparece, e você não esta se cuidando. Seja fútil: vá para as academias pela manhã, pela tarde e, se possível, à noite. Vista roupas caras, as pessoas gostam de marcas, lhe dão o valor pelo que você usa, vá à restaurantes finos, freqüente as barracas de praia da moda, faça uma semana de spar, mas comente com todos isto, não se esqueça de falar muito sobre isto, compre óculos da Prada, Armani, Kalvin Klein. Vá morar em um flat, tenha carro bonito, se possível com um motorista a sua disposição, faça cruzeiros. Porra de estudar mais, estudar para que? De que adianta um título de doutor se você não tem nem com quem partilhar esta emoção? Para que este saber se as pessoas, nem sabem o que você sabe e nem querem saber por que não interessa falar “de pretos”. Larga esta porra toda. Vá se endividar mais, agora, com você, para que ao menos, depois da morte, quando você for encontrar comigo, justifique a sua chegada lá pelas minhas bandas. Deixe dívidas para que, aqueles que lhe tiraram tudo, inclusive a sua dignidade, paguem por elas e não tenham direito a nada do que você conseguiu com o seu suor, que infelizmente, não foi resultado da minha companhia quentinha. Faça tudo o que lhe der na telha. Seja cruel, diga às pessoas o que você gostaria que elas ouvissem. Deixe de dar dinheiro a familiares, eles que se virem; você já fez demais. Fico puto com todas estas boas ações suas, boas ações que me afastam de você, mas não me deixam tão distante que não perceba o mal que isto sempre lhe fez. Olhe! agora quem cansou fui eu. Você parece não querer entender que eu, somente eu, posso te ajudar. Veja se agora, depois de mais de meio século pedindo ajuda “àquele”, você pode me dar uma chance. Tenho certeza que você vai ser feliz, porque eu posso lhe dar isto, Você merece!

Desapareu. E ela ficou na sua rede a pensar. O que foi isto? Um sonho? Minha consciência? Será mesmo que vale a pena, ao menos, repensar tudo isto?

O cachorro chegou junto dela, estava todo arrepiado. Da porta da cozinha ele, agora já com a sua veste peculiar, gargalhava. Te fisguei! Agora você é minha, não ha mais como separar-nos e, descaradamente, mostrando todo o corpo nu, disse: Voltarei á noite, pode me esperar, queira você ou não,vou mesmo lhe ensinar o que é ser feliz.



quinta-feira, 1 de julho de 2010

EISBEIN MIT SAUERKRAUT


Em dezembro de 2008 foi a Berlim, Alemanha. Estava eufórica, afinal, depois de mais de 25 anos ia comer, outra vez, um autêntico e saboroso EISBEIN. Não sabem o que é isso? Digo-vos: É uma típica comida alemã feita com joelho de porco cozido acompanhado com o legitimo chucrute, aqueles repolho cortado bem fininho e bem avinagrado, delicioso e com um condimento chamado “zimbro”.
No avião já ia imaginando como seria aquele encontro com o prato que comeu pela primeira vez em um restaurante típico alemão, mas no Brasil, em uma estrada que liga Santa Catarina ao Rio Grande do Sul. Achou uma maravilha, mas nunca mais encontrou tal prato em lugar nenhum por onde passou, também, morando na Bahia, se encontrasse qualquer coisa parecida, certamente, estaria temperado com azeite de dendê, àquela época.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

As casas de minha avó

Meus avós tiveram diversas casas, lembro-me de algumas, não de todas, aliás, melhor seria esquecer de muitas, mas em cada uma delas vivi uma fase da minha vida, tanto eu como os meus irmãos, embora a ligação maior de todos da minha família com tios e tias maternos, quem a teve fui eu, por uma série de circunstâncias.

A primeira casa que eu me lembro ficava no Pau Miúdo. Olhem só o nome do bairro: há quem diga que “quem mora na curva grande não casa com homem do Pau Miúdo”, embora tenha eu morado na Curva Grande, não tive nenhum envolvimento com homem do Pau Miúdo. Nessa época nenhum dos meus tios era casado. A casa, salvo engano, eu ainda era muito pequena mesmo, tinha uma sala grande logo na entrada. A fachada tinha duas janelas, que davam diretamente para a rua. A casa ficava na rua direta, isto é; na rua principal onde os ônibus passavam. Um dos meus tios, o mais velho, que era uma pessoa enorme, tanto na altura quanto na largura, tinha inclusive sido boxer, era motorista de ônibus e estava de olho numa vizinha que morava em frente à casa de minha avó. A senhorita que despertava o interesse desse meu tio, penso que se chamava Cléo, ficava na janela da casa dela esperando o ônibus passar e meu tio chegar a casa. Era interessante ver aquele namoro de janela, pois, mesmo quando o meu tio ia conversar com ela, tinha de ficar do lado de fora da casa, e a moça ficava na janela, só que pelo lado de dentro, contato físico do baixo ventre, nem pensar!

Não me lembro dos quartos dessa casa, mas lembro que ela tinha um pátio no fundo, que tinha dois níveis: em um deles, ficava a célebre bacia de minha vó lavar roupa. Na verdade uma banheira, pois não se pode chamar de bacia uma zorra daquele tamanho. A bacia era enorme e pesada, acho que era de cobre. Era uma espécie de tina, bem funda, tenho impressão que, se ela estivesse cheia de água, uma criança era capaz de se afogar. Era nela que minha avó lavava toda a roupa da casa. Não sei como a pobre agüentava! Pense em roupa de cinco filhos, a do marido, de toda a casa, dela própria e dos agregados, que nunca foram poucos. Gostava do cheiro da água de barrela, era assim que se chamava aquela água meio esbranquiçada que ganhava esta tonalidade devido ao sabão massa que era utilizado.

Fui muitas vezes a essa casa. Muitas vezes esperava meu avô chegar à tarde com as bananas secas, que eu adorava, continuo gostando até hoje, como também amava o café da manhã que ele fazia. Nessa casa aprendi a apreciar o lombo que minha avó fazia, até hoje ninguém faz igual. Minha tia Glória até que tenta, mas aquela graxa que minha avó Tonieta deixava na panela para a gente fazer a farofa, não vai mais se repetir, fica só a lembrança, aliás, para o bem geral da saúde de todos que agora já estão bem passadinhos, e eu estou me incluindo aí. Também não dá para esquecer do torresmo, que minha avó fazia para tirar a banha. Nunca mais fiquei mordendo aquele couro do toucinho disputadíssimo por todos

Daquela casa me vem a lembrança do protocolo para Tia Tercinha comer feijão. Coisas do meu avô, que cansou de fazer isto para todos nós: o feijão tinha de ser amassado no prato, só depois de amassado, e isto envolvia todos os caroços, é que ela botava a carne e o arroz e a grande aliada das famílias numerosas, a farinha. Ficava, na verdade, extraordinário. Ainda bem que meu avó fazia isto para todos, só era a gente querer. Ninguém pode esquecer, também, dos bolinhos de feijão: “o capitão”! Tenho certeza que todos da minha família, tios e sobrinhos lembram.

Uma segunda casa, também no Pau Miúdo, acho eu, já não tão boa quanto essa, tinha um quarto cuja porta de vidro ficava dando para a sala, cansei de dormir ali no chão com minha tia Gloria e Elisa, minha irmã. A casa ficava numa ladeira, já não era na rua direta, penso que as coisas estavam ficando difíceis para o meu avô.

Lembro-me, ainda, de outra casa, essa ficava na Fazenda Grande: miséria de casa! Aquela era de amargar mesmo. A essa época eu estava já interna no São Raimundo ou no Salette, não me lembro, só sei que minha tia Natércia ia me buscar para o final de semana em casa de minha vó. Essa casa tinha uma sala mínima, onde foram colocados os guarda-roupas e a cômoda. Dois quartos mínimos que davam para um corredor mais mínimo ainda. Um dos quartos, onde dormiam as minhas duas tias mais velhas, tinha duas camas, mais a gente tinha de passar para a do canto por cima da primeira, porque não havia espaço para circulação. Gloria, a quem me avó chamava de “Maria”, dormia na sala, numa cama armada quase embaixo da mesa, era aí que eu também dormia quando lá estava. O melhor de tudo é que a casa não tinha sanitário. Tinha um buraco no fundo da casa, onde as nossas necessidades eram jogadas, após dormirem em penicos que ficavam em baixo das camas. O banheiro também era ai e o cubículo era fechado por palhas. Uma merda total, em todos os sentidos.

Foi nessa casa que conheci umas vizinhas da minha avó, cujos nomes não lembro, que me ensinaram a fazer chapéus, bolsas e outras coisas com palha de coqueiro e acho que, com folhas de bananeiras, hoje já não me recordo o trançado, mas fiz muitas.

Dessa casa não me lembro para onde minha avó foi, mas sei que passamos por Luiz Anselmo, numa casa que ficava pendurada em um morro, pela casa da Barros Reis, essa última adorava água, todas as vezes que dava chuva forte ela se deixava alagar, não tinha maneira de evitar essa atração da casa pela água barrenta das muitas enchentes. Não gostava dessa casa, era feia, úmida, parecia estar sempre suja por fora. Cidade Nova, Cruz da Redenção e outros bairros serviram de endereço para minha avó.

Por uns tempos fomos muito felizes, já tinha mais de 15 anos, quando minha avó foi morar em Praia Grande, sei que morou em dois lugares, uma das casas eu não me recordo, mas a segunda era mesmo maravilhosa: foi uma grande e boa fase. Primeiro porque a casa ficava perto da praia e, segundo, porque já agora tínhamos o Marcos Oliva fazendo parte da família, era o namorado da Glória, que tinha muitos outros amigos. A casa vivia sempre cheia. Conhecemos pessoas, aliás, isto é uma facilidade da família de minha avó, de ser bem quista por onde passava, que até hoje são amigos: Solange, Jandira, Ieda, Nilzete e companhia. Lola e o marido (Alziro) acho que era este o nome. Nem eu nem o meu irmão nos incomodávamos dos gritos estridentes das chamadas na porta (Tiniiiiinho). Tive namorados ali, a exemplo do Helio, do Roberto Berro Grosso, que cantava para mim com uma voz que só ele tinha, lembro-me que ele cantava no Madrigal da Universidade, “Sua estupidez”, acho que até hoje ainda sou meio estúpida quando a estória é gostar da pessoa certa.

Bebíamos muito e nos divertíamos mais ainda. Freqüentávamos o Periperi Esporte Clube, que era tão importante, que os shows de Roberto Carlos, quando este vinha à Bahia, eram ali. Foi nesse clube que tivemos uma porrada feia envolvendo todos nós, eu, meu irmão, meus tios, uma grande e tremenda confusão.Lembro-me que a minha tia Aércia deu um murro na cara do presidente do Clube, isto porque ele agarrou o marido dela- Lula. A porra deu pano para manga, mas entre mortos e feridos, todos salvaram-se.

Também foi em Praia Grande que aprendi como se falava bem o francês, pois o boteco vendia “chateau du valier” pronunciava-se como estava escrito, pense ai: cha te au du vali.

Não sei se estou fazendo confusão, mas penso que depois daí a minha avó morou um tempo na Faísca,na casa de Dona Rosidete ou Rosineide,não sei ao certo o nome, que era sogra de uma senhora que era irmã de um cantor na Bahia, “Vevé Calazans”,que veraneava em Gameleira. Passei alguns dos melhores momentos da minha vida, até porque na época de carnaval eu estava dentro dele, literalmente, sem qualquer esforço. A copa de 70 foi comemorada aí. Tinha eu 17 anos.

Depois dessa casa, não lembro para onde minha avó mudou-se, mas acho que ela foi morar num apartamento que Tercinha comprou no Engenho Velho de Brotas. Até aí ainda lembro da presença de meu avô Regis.

Dali, penso que eles foram para a Saúde, época em que só estavam em casa minha avó e Natércia, não sei se Marcos e Gloria moraram ali, sei é que também fizemos muitas festas e mais vizinhos, Lúcia, a irmã e o marido, a mãe. Eu já tinha casado e descasado e já estava formada em direito.

Minha vó morou em outros lugares, em casas de frente, em casas de fundo, em casas boas, em casas ruins, quando ela faleceu estava morando no apartamento de minha tia Natércia em Brotas. Nunca vi minha vó chorar, se algum dia o fez não me deixou perceber. Pela dureza da sua vida, a que pude acompanhar, nunca presenciei lamúrias, críticas. Se não recebi carinhos daquelas mãos gigantes, que não tinham tempo para afagos, recebi a delicadeza que elas puderam conceber em uma colcha de fuxico, que guardo com o maior apreço, colcha que foi feita na última morada que a minha vó teve, a de Brotas, quando ela não mais podia se locomover e ficava sentada naquela cadeira de diretor de cinema, e que se transformou no objeto de desejo de tantos quantos a conhecem, desejo e inveja, porque somente eu fui agraciada. A colcha tem a barra verde, só podia ser desta cor e daquela tonalidade, afinal era para a Esmeraldinha, a neta a quem ela dedicou tanta atenção e da qual, tenho certeza, tinha um orgulho imenso.

Minha avó deixou uma herdeira, no que se refere a mudanças de casa: Maria da Gloria – a Maria, como ela orgulhosamente chamava a minha tia, a caçula das filhas. Mas as diversas casas e moquifos dessa minha tia ficam para outra oportunidade.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

As mil e uma faces da Virgem Maria



Mais uma vez estive em Fátima. Aquilo é um lugar literalmente místico. Aliás, Portugal tem muitos lugares místicos, lugares de fé, nos quais, de uma maneira ou de outra, você pensa que também tem fé e que os santos te ajudam mesmo.

O Santuário de Fátima é uma enormidade, não gosto da exploração que a Igreja católica faz da fé, mas não posso deixar de admitir que a fé pode mover, literalmente, montanhas. Pessoas ela move porque vi muitas, muitas mesmo, de joelhos se movendo vagarosamente em direção a capela de Fátima, além de uma quantidade imensa de peregrinos que caminhavam em direção à cidade de Fátima, uns com grande dificuldade, mas movidos pela fé seguiam a sua trajetória com o objetivo de fazer, pessoalmente, os seus agradecimentos à Virgem. Sei que as pessoas que vão à Fátima ali se encaminham por força da fé, mas a Igreja não precisava explorar tanto esta fé que ela propaga.

Pois é, mas mesmo não tendo esta grande fé, a apregoada pela Igreja, estive em Fátima e rezei, pedi a Nossa Senhora por todos, até por você, que está lendo isto agora. Sim, porque quase todas as pessoas que lêem os meus escritos são meus amigos, os inimigos jamais se dariam o luxo de entrar no meu blog para me ajudar de alguma maneira. Tenho inimigos ocultos, que não tem coragem de declararem-se como tal, mas são pessoas capazes de denunciarem até o blog e fazer com que a Google exclua-o, como já o fez. Todavia, de nada adiantam as denúncias, não faço nada errado, não ofendo ninguém, a não ser as pessoas que já são ofendidas pela sua própria natureza, aquelas que, por si só, fizeram a opção de sempre achar que estão sendo ofendidas, pessoas inseguras, covardes, não pessoas, mas que se envolvem com pessoas de quem gostamos e que gostam de nós, e que, por isso mesmo, porque não conseguem, por mais que se esforcem, nos afastar, usam de meios não muito recomendáveis para tentar nos agredir. Pronto! Mas até estas pessoas são lembradas nas orações, porque pedimos para que elas se afastem o mais que possam da nossa vida.

  Portanto, pedi isto em Fátima, mas, não satisfeita, estive em outro local de peregrinação aqui de Portugal. Viana do Castelo, no Santuário de Santa Luzia, pedi também por todos, ali também acendi velas, logicamente que mais modernamente que em Fátima, pois ali as velas ainda são de cera e há um queimador de velas, pense aí, você compra a vela, joga dentro do fogareiro, que é imenso, um braseiro da porra, deve ser para queimar os pecados de quem joga ali as velas, embora iludidos de que ali estão jogando os seus pedidos e agradecimentos. O fato é que em Santa Luzia as velas são eletrônicas, acho que e este o termo, você coloca a moeda no local e a luz acende. É porreta. A Igreja de Santa Luzia é linda, uma pena que o dia estava nublado e eu não pude ver a cidade do alto, alto mesmo, você passa quase trinta minutos subindo para chegar à Igreja.

   Não satisfeita com Santa Luzia, que parece não ter gostado muito da minha visita, porque peguei uma conjuntivite que tá aqui me sacaneando, fazendo com que os meus olhos ardam e marejem ou lacrimejem sempre, fui parar em outro local de peregrinos, desta feita já no Minho, em Braga. Ali conheci uma santa que nunca tinha ouvido falar, Nossa Senhora do Sameiro. Rapaz a fé faz cada coisa, pense em você fazer peregrinação para uma Nossa Senhora do Sameiro. Subi, mais uma vez. Primeiro de ônibus até uma determinada altura, depois, você pega um bondinho, daqueles inclinados, e sobe até o Bom Jesus, dali você vai subindo, subindo, subindo e chega até o Sameiro, que tava todo encoberta, pois o dia nublado e chuvoso não permitia que a gente visse um palmo adiante do nariz. Você só descobria os monumentos quando já estava em cima dele, quase batendo a cara na parede; e que paredes! Fico mesmo intrigada ao constatar como se faziam construções desse tipo e nesses locais. Uma coisa maravilhosa, que deve ser vista por tantos quantos tenham a oportunidade de ir ao Norte de Portugal. Mais uma vez pedi à Santa que ajudasse a todos. O problema é que eu não sei se ela ouve mesmo, porque já é difícil para a Nossa Senhora ouvir as súplicas quando lhe são dirigidas diretamente, pior deve ser quando estas lhe chegam através das suas “sósias”, quero dizer das usurpadoras da sua benevolência, Candeias, Conceição, Sameiro, Nazaré etc. Etc.. Bom, mas o fato é que pedi e acendi as velas modernas, aliás, com as quais gastei uma grana, pois quase acendi todo o quadrado que deve comportar umas cem lâmpadas.

   Braga, segundo as informações oficiais, tem 300 igrejas, pois não é que eu encontrei uma igreja de São Victor! Que felicidade meu Deus, saber que o meu neto tem um santo com o seu nome e que eu pude chegar à Igreja construída em sua homenagem e, exclusivamente, por acaso, procurando o Bom Jesus encontrei o São Victor

A Igreja do Bom Jesus estava fechada e a minha máquina acabou a bateria, fiquei sem o registro desta visita, mas acreditem vale a pena ir a Braga e subir até o Santuário.

Depois de ver tantos e tantos santos e santas, achando que já estava no limite da minha peregrinação eucarística, quase virei uma papisa nesta viagem, vá ver Igreja assim na casa da porra, fui até Nazaré, uma cidade praiana já perto de Lisboa. Que surpresa meu Deus! Não dá nem para acreditar em tanta beleza. A cidade tem dois planos: um que fica exatamente no nível do mar e o outra bem no alto. É como se fosse Salvador. Subi o plano inclinado de lá e fiquei mesmo extasiada, quanto pior é que descobri, também por mero acaso, que ali estava a conhecida senhora da Nazaré, olhem bem: A nossa Senhora da Nazaré, não é Nossa Senhora de Nazaré.

Entrei no Santuário e vi de perto a imagem da Virgem, que é de origem espanhola e remonta a 760 d.C. Acreditem que é verdade, e fechei com chave de ouro esta visitação ecumênica não encomendada, e talvez por isso mesmo, tão extraordinária. Agora vou ficar a aguardar que os pedidos se realizem, inclusive o de ter uma máquina digital de melhor qualidade e que eu saiba manusear.

Queria ter feito um relato mais fiel do que estes lugares representam em termos de fé, mas acho que não sou a pessoa indicada para tal, mas você que é um crente deve vir a todos este espaços de fé e, se possível, peçam também por mim, quem sabe estas sósias todas de nossa senhora vos ouçam e resolvam me ajudar de uma vez por todas, realizando todos os desejos que tenho em relação a mim própria e em relação a todos que me cercam e que são importantes para mim. Ave Maria!

sábado, 12 de junho de 2010

Venha a Salvador

Forte São Marcelo
 Você conhece Salvador? Não! Não dá para acreditar que alguém que tenha mais de 18 anos não conheça Salvador: a minha terra!

Pode acreditar, não é nenhuma apologia desta terra, é a pura realidade. Quem aqui vier vai mesmo se encantar.

Você pode vir por qualquer meio de transporte, você vai chegar a todos os lugares que eu vou falar aqui, mas se tiver o privilégio de chegar de avião ou de navio, sem dúvida, o impacto é muito maior.

Aeroporto de Salvador
Se você chegar de avião vai ver uma coisa única, não há mesmo em nenhum lugar do mundo uma entrada/saída de aeroporto igual à nossa. Para entrar ou sair do Aeroporto Dois de Julho, este é o nome dele, não adianta o nome que colocaram nele, você tem de passar por um túnel. Não se assuste, é um túnel feito de bambu. O Bambuzal que cresceu dos lados da pista formou um túnel natural que é mesmo inacreditável. De dia é lindo, de noite mágico! Tente imaginar um bambuzal todo iluminado, com aquelas luzes que iluminam de baixo para cima, é mesmo maravilhoso, a impressão é que estamos no meio de um belo e grande sonho.

Bahia de Todos os Santos
Antes de o avião aterrar, olhe pela janelinha e veja que coisa mais extraordinária, seja pela noite ou pelo dia, belezas diversas igualmente encantadoras. Se você vier do sul, você vai passar por cima da ilha de Itaparica e vai entrar em Salvador, exatamente, pela Baia de Todos os Santos. Olhe para a esquerda e o Santo Mor da Bahia vai estar lá na sua casa, mas olhando por você, você verá a Igreja do Senhor do Bonfim, é visível, fica no alto e em frente a ela você vai avistar muitas palmeiras imperiais, é inconfundível. Também poderá se deslumbrar com a Igreja do Monte Serrat, e muitas outras coisas, não se avexe com a rapidez com que o avião passa: você vai conhecer de perto tudo isto. Se faça acompanhar de um baiano nas suas caminhadas e, com certeza, ele não deixará que você perca nada destes encantos.

Elevador Lacerda
Chegando de navio, outro deslumbramento, você não vai avistar a Baía de Todos os Santos, você vai estar dentro dela. Você passará a uma distância razoável de muitos e muitos lugares aprazíveis até o seu navio ancorar no Porto de Salvador. O Porto da Barra, O Forte, o Iate, as encostas e prédios da Vitória, a Avenida Contorno com os seus contornos, o Solar do Unhão, a Marina, o Forte de São Marcelo, o Elevador Lacerda, o Mercado Modelo. Tá tudo ali ao alcance da vista e do seu coração, que, certamente, se emocionará.

De carro, ônibus, moto, você pode chegar pelo litoral, Estrada do Coco, dependendo de onde venha, ou pela BR 324, ou ainda, pela Ilha de Itaparica, recomendo, se possível, esta última maneira, pois você vai ter de atravessar da Ilha para Salvador pelo Ferry Boat. Tenho certeza que jamais esquecerá esta travessia, se o dia estiver lindo, como de costume em Salvador, você vai visualizar tudo o que descrevi acima em chegando de navio.

Bom, se você chegou de avião e for pegar um taxi, ou mesmo alguém for te buscar no aeroporto, peça para ir pela orla. Meu irmão, peça ajuda a Deus, pois você vai se emocionar, e muito. Tem que ter mesmo um coração de pedra para suportar a visão que terá à saída da Avenida Dorival Caymmi sem se emocionar. Quando você deslumbrar o mar de Salvador e a vista que terá de uma boa parte da cidade, tenho certeza que vai chorar, porque é mesmo extraordinário. Eu não me canso de apreciar isto e cada dia agradecer a Deus ter tudo isto a minha disposição.

Você vai passar por Itapua, Plaka Ford, Piatã, Patamares, Boca do Rio, Armação, Stiep, Pituba, Amaralina, Rio Vermelho, Ondina, Barra, dependendo do hotel que vai ficar; e ainda tem mais vistas deslumbrantes.

Chegue ao hotel e deixe as malas, e, dependendo da hora, não tome nem banho, vá logo para a rua. Hoje é o primeiro dia, você deve estar querendo conhecer o Pelourinho, todos que aqui vem vão fazer isto. Veja bem: é ótimo conhecer os lugares históricos dos locais onde passamos, mas eu até dispensaria, a não ser pelo fato de que você vai encontrar a Igreja de São Francisco, bem como outros monumentos, eu sugeriria uma passagem rápida pela Igreja e pelo Largo do Terreiro e me apressaria em descer a ladeira do Pelourinho. Vá por qualquer das suas ruas e chegue no sopé da ladeira, quando ali chegar, comece a subir de novo, agora em direção ao Carmo.

Sto Antonio
Quando acabar de subir a Ladeira você vai dar de cara com o Convento do Carmo, hoje um Hotel cinco estrelas em pleno coração do centro histórico. É lindo, mas eu também não daria muita atenção a isto. Você tem poucos dias na terra e precisa ver mesmo o que ela tem de melhor, a não ser que você seja historiador e isto lhe interesse muito.

Entre em algum bar do outro lado da rua. Entrou? Agüenta coração! Vá até alguma janela de fundos. Debruce-se! Olhe! Isto existe, é a minha adorada Salvador que se mostra para você. Em baixo é a cidade baixa, ex centro financeiro da cidade, que ainda preserva alguma dignidade, mas o maravilhoso mesmo é você ver a Baía de Todos os Santos no seu esplendor. Tenho certeza que você vai ficar encantado, mas saia daí! Você tem muitos outros ângulos para ver este mar e tudo o que ele proporciona.

Se o bar do amigo Carlinhos ainda existisse, mandaria você comer um feijão verde com carne de sertão, mesmo que não fosse o horário de almoço, e tomar conhaque com limão e mel, já tomei muitas vezes.

Sto Antonio-Carmo
Veja se consegue ir até o Forte Santo Antonio. Olhe de novo para a Baía de Todos os Santos. O que você avista do outro lado, um pouco ao longe, é a Ilha de Itaparica, e o que você vê mais perto é a Boa Viagem, Monte Serrat, Ribeira. Guarde estes nomes, você vai ter que ir nestes lugares, não há como dispensar. Espero mesmo que você se faça acompanhar de um baiano, que não seja guia turístico, estes não vão aos lugares que você poderá ir em outra companhia.

Volte pelo mesmo caminho e suba o Pelourinho. Quando chegar à Catedral Basílica, se ainda estiver dia claro, ou se for mesmo cedo porque você chegou cedo a Salvador, dobre a direita, depois, de novo à direita e encontre o Plano Inclinado. Pague a passagem e entre nele. Vá sem medo, o que você vai ver é melhor do que qualquer um pode imaginar ou descrever. Viu que coisa mais linda? Chegue lá embaixo, não se preocupe com os odores e nem com as ruas sujas, tudo isto faz parte. Logo na segunda rua, após sair do Plano Inclinado, dobre, mais uma vez, à direita e alcance o bar do “Espanhol”, não sei nome real, nunca me preocupei com isto, mas você o acha: não se preocupe! Peça um pernil e um refresco de qualquer coisa. Não se importe com a sujeira, não vai te fazer mal nenhum. Coma um, dois, quanto agüentar, só vai achar aquele pernil ali, portanto, não faça cerimônia. Conheço o bar e continuo freqüentando todas às vezes a que posso, principalmente no dia da lavagem do lavagem do Bonfim.

Saia dali e vá para a esquerda, vá andando pelas ruas e chegue até o Mercado Modelo, dê uma olhada no Mercado, tem coisas interessantes, mas não se demore, muita coisa cara e muita gente querendo que você compre coisas que não lhe dizem nada. Não gosto do assedio dos vendedores, nem aqui e nem em lugar nenhum.

Saia do Mercado, pelas portas do fundo. Veja o Elevador Lacerda, suba para a cidade alta novamente. Quando sair do elevador de uma espiadela pelos vidros. Lindo não é? Não tem uma vez sequer que eu resista, paro e olho mesmo, me emociono sempre com tanta beleza. Saia e, mais uma vez, olhe de novo! Agora da Praça Municipal. Se conseguir tirar a vista do Forte de São Marcelo, do mar, da Baía de todos os Santos, dê uma colher de chá ao antigo palácio do Governo, é um prédio lindo: vale à pena!

Praça Castro Alves
Sei que tá cansado, mas vá andando para a direta. Que porra não é? Eu só mando ir para a direita, parece coisa de política, mas a verdade é que tem de ser mesma pela direita, a mais festiva de todas. Você vai alcançar a Praça Castro Alves, aquela onde o carnaval pega fogo, onde, antigamente, tinha encontro de trio, desfile de “bichas” no carnaval. A praça que foi imortalizada por Caetano Veloso na letra que dizia “a praça castro Alves é do povo”, e era mesmo. Tenho saudades, mas a nostalgia não é para agora.

Olhe a direita. Existe! Isto existe mesmo: é mais um ângulo da mesma Baia de Todos os Santos, nesta parte vigiada pelo olhar atento do poeta, que não a cansa de saudar. Olhe a estátua, acho que não preciso dizer o nome dele não é?

Mini Cacique
Balcão do Mini Cacique
Se você estiver com fome, se o pernil não foi suficiente ou já se desgastou, recomendo o restaurante “Mini Cacique”, não é de nenhum índio, é de um espanhol, o Luis. Você atravessa a rua, entra na outra rua, a de Ruy Barbosa e vai seguindo, primeiro você vai ver muitas livrarias- sebos -, você deve saber o que é isto: verdadeiras relíquias de livros usados, mas não dá para parar, para isso é preciso ter calma e muito tempo, você poderá achar coisas maravilhosas. Quando chegar ao prédio do INSS, que fica do lado direito, você vai ver o restaurante. Entre, sente e peça, sem susto, o prato do dia. Se for na quinta é cozido, na sexta feijoada, os outros dias eu não me recordo, mas você vai comer bem. Se você estiver acompanhado de um freqüentador do restaurante, você vai ver o tratamento que pode ter um desses abençoados: eu tenho: tortillas, camarões, agulhinha. “Son tapas” cortesia da casa. Peça a D. Calina, mulher do Luiz, que lhe faça uma batida de limão e mel. Não deixe de tomar.

Se você não quiser ir neste restaurante, siga andando pela Rua Carlos Gomes e chegue à praça onde vende flores, onde você entra para o Largo Dois de Julho. Procure o restaurante “Moreira”. Não tema nada, não se deixe levar pela aparência. Sente-se numa mesa, tomara que seja uma segunda feira, você vai correr o risco de encontrar uma nata da cultura jurídica baiana ali: desembargador, conselheiro, delegado, advogados, até eu posso estar ali. Pode pedir o prato do dia também, mas se gostar de omelete... não deixe de comer. Não vai esquecer este sabor nunca mais, e também não vai comer nada igual em lugar nenhum. Esta omelete é exclusiva do Moreira, ninguém iguala aquela massa, ninguém mesmo, não adianta, sequer, tentar. Se você estiver sozinho, infelizmente, só vai poder comer a omelete, mas se tiver com mais pessoas peça outras coisas, por exemplo: a feijoada, a galinha de molho pardo, o lombo, olhe rapaz! Peça qualquer coisa, eu garanto.

Olhe os freqüentadores! Você é privilegiado: poucas são as pessoas, não “natas” é que têm oportunidade de viver um pouco desta nossa vida de baiano não metido a besta e, se metido a besta, faz o gênero não metido para ser “in”. Você vai saber bem diferenciar. É uma pena que não possa participar das brincadeiras, porque elas são muitas nossas, são as nossas vidas que são, debochadamente, gozadas.

Se você é mulher e bonita, pode ser que a turma fique muito animada: não se engane! A grande maioria dos freqüentadores já não está livre, e quem estiver, é boêmio inveterado. Não dê trela: sorria, agradeça os galanteios e siga.

Se não estiver muito cansado (a) siga até o largo dos Aflitos. Pare: olhe de novo para o mar. Continuo a dizer a você que é real. Não é uma pintura.

Neste local tem um restaurante maravilhoso, mas você já comeu e bem, fica para uma próxima.

Vista da Ladeira da Barra
Agora, para não se cansar mais, pegue um ônibus e vá até a Barra, qualquer ônibus que passar pelos Aflitos, no ponto de ônibus que fica ali no muro da lateral do quartel, que esteja escrito: “Via Barra” pode entrar, o via barra vai estar numa plaqueta no para- brisa. O dia já vai estar cansado, tanto quanto você, mas não desanime, pois ele, que quer se esconder, ainda vai te proporcionar muita coisa antes de se recolher.

Desça do ônibus no Porto. Debruce-se na balaustrada da praia. Fique ali sem nada fazer, apenas olhando um pouco do tudo que é aquilo ali.

Forte Santa Maria - Barra
Vá andando vagarosamente em direção ao forte. Pare! Dê uma olhada do forte para a direita, oi ela de novo! Mas não tem jeito, tem de ser para a direita mesmo. Viu? Gostou?

Notou que o sol tá caindo? Se apresse, pois você tem de vê-lo desaparecer de um lugar imperdível. Continue andando margeando o mar, passe pelo farol e siga em frente, vá olhando as coisas todas, mas acelere o passo. Encontre o Barlavento. Pronto! Entre e procure se sentar em uma das mesas da lateral direta, puta merda! Lá vem de novo, vire a cadeira também para a direita. Peça um chopp ou qualquer outra bebida e aguarde. O sol já baixou muito mesmo, você já pode ver agora uma bola de fogo que quer se refrescar no mar. Ele quer tomar banho para dormir e se preparar para mais um dia, todavia, ele jamais faria uma desfeita a você, visitante e apreciador do belo. Aí meu amigo ele se desbunda todo para lhe dar o máximo de si! Vai desaparecendo vagarosamente, mas continua iluminando tudo, fica mais fraco, mas não menos belo, ele agora esta com muitas cores, amarelo, vermelho, laranja, e reflete na água a sua resplandecência. É um momento de pura poesia, mágico e você poderá dizer a todos. “Eu vi o por do sol no Barravento”. O Senhor me deu esta chance. Tire foto para que todos acreditem que isto existe, que é no plano material que funciona.

Agora vá descansar, você merece: se preferir, entretanto, se embriague um pouco aí neste mesmo lugar. Se tiver com sorte e for noite de lua, acabe de ver o sol se por e vire-se para o outro lado, desta vez para a esquerda, acho que vai precisar mudar de lugar, agora penso que o melhor é estar nas mesas do fundo. Fique aí e a veja saindo do seu esconderijo, lentamente; é exatamente assim: um se vai imergindo e a outra vai emergindo deslumbrante, fagueira, se mostrando, como as damas da noite.

Não nego não: uma companhia faria um bem danado! Mas se tiver só, não se importe: você não vai precisar de ninguém, ela lhe fará companhia até as tantas, mas não abuse do álcool, pois ela pode achar que deve achar uma companhia para você, e aí a coisa pega.

Por hoje é só. Vá para o hotel e descanse. Amanhã te encontro. Outras surpresas te aguardam!

segunda-feira, 7 de junho de 2010

CONSORTE!


E ainda há quem diga que a gente encontra um consorte. Certamente o sem sorte que acha que encontrou a consorte, ou o consorte, é mesmo um atabalhoado.
Todos sabem o que é consorte não é? Consorte é aquele (a) que escolhemos para partilhar a nossa vida, a nossa intimidade, e que, algumas vezes, não com muita sorte, vivemos até a morte, obcecados pela idéia cristã de que o que Deus uniu o homem não separa e que, quando casamos, o fazemos para a vida toda, obedientes que somos ao "até que a morte os separe"

terça-feira, 1 de junho de 2010

Não se pode dizer tudo!

Se pudéssemos falar tudo que nos vem à alma seria tão bom. Seria mesmo? Acho que não, porque não temos só pensamentos bons e bonitos. Quem disser que só pensa em coisas boas e que só quer o bem das pessoas, mente descaradamente, afaste-se!

Somos normais, temos raiva, ódio, sentimentos mesquinhos. Quando nos decepcionamos com alguém, o que queremos mesmo é o mal da pessoa, queremos que ela morra, que ela sofra. Isto é muito normal, portanto, nada de piegas.

Ah! Queria mesmo poder dizer tudo, desde aqueles sentimentos mais mesquinhos em relação às pessoas, como os sentimentos maiores, aqueles que nos fazem mesmo crescer e demonstram o nosso amor pelos outros, embora todos saibamos que estes últimos sentimentos, muitas vezes, não necessitam palavras para serem expressados.

Mas seria muito bom mesmo dizer algumas coisas a algumas pessoas: Por exemplo: Dizer àquela mulher de um seu amigo, que se julga "a gostosona", que ela é "uma merda"; dizer a um juiz que ele é "incompetente" seria a glória; dizer a um "feio", que se acha "bonito", que ele é feio, glorioso; Dizer ao marido de uma amiga que queria "comer ele"; sensacional! Melhor ainda se ele aceitasse...

E que diriam vocês de poder dizer ao namorado (a), companheiro (a), marido (a) amante, este última palavra carrega uma coisa tão forte no seu significado que não tem feminino nem masculino, é comum de dois, ou seria, aos dois gêneros, lembram-se disto? Aliás, amante pode ser qualquer um mesmo, até um comum de dois gêneros, hoje em dia isto é vulgar. Sim, mas voltemos ao que seria bom dizer: Você é corno, foi corno, será corno! Já pensou? Naquela hora mais íntima você dá aquela risadinha bem safada e diz: "Tá pensando que é só você que come"?  Seria o máximo ver a cara do, ou da (corno). Na realidade penso que, em pensamento, muita gente já fez isto, podendo ter sido tanto sujeito ou objeto do pensamento.

Mas em relação a corno tenho que tirar o chapéu para aquele que sabe mesmo que é e continua como se nada tivesse acontecendo: é como bem diz um filósofo árabe que tive o prazer de conhecer: "Corno não é: corno se sente".  Como é coisa de filósofo, continuo sem entender o que ele quis dizer com "sente". Fico na dúvida se o sente é o de sentir que se é corno no plano do "eu", ou se é naquele plano em que você, figuradamente, passaria a mão pela cabeça e sentiria, literalmente, a testa crescer, ou ainda: não sentir nada com a revelação do fato de ser corno, porque se está num plano tão filosoficamente alto, tão evoluído, que não ha qualquer preocupação com o corno. Penso que é esta última hipótese a que condiz com o filósofo.  Bom o certo é que, mesmo este corno da filosofia fauazeana, deveria ter um prazer enorme em dizer para quem o, ou a, estivesse corneado: Tá pensando que sou otário (a), que não sei que sou corno? Mais corno é você, que nem percebe que é. Porra velho: Hilariante!  

Se falo de "corno" é porque como diz o ditado: "este é o último a saber", aliás, ditado mas correto, e na grande maioria dos casos de uma realidade cruel. Todo mundo sabe, mas o corneado (a) não. Quando chega a saber, já tomou tanto corno que não tem mais graça alguma a revelação e já não se pode nem mesmo ter uma vingança à altura. Porque vingar-se de um corno só se pagando na mesma moeda, e dependendo das moedas da relação, isto poderia ser um espetáculo, um show com bilheteria esgotada.  Aí seria em grande: O corneando e o corneado trocando de posição a cada dia. Todavia aqui há um particular: em princípio o primeiro corneando teria de ficar na absoluta ignorância de que estaria, ou está, sendo corneado; depois de algum tempo, quando esquecesse de que foi um corneando, quando estivesse pensando numa "remissão dos pecados", aí sim: o atual corneando começava a deixar transparecer o ato/fato. Uma falha aqui, uma indiscrição ali, colocava uma dúvida aqui outra acolá, deixando o corneando louco. Já não se preocupava muito com as línguas oficiais, afinal elas também seriam um instrumento para que a informação chegasse a quem de direito, até o dia em que, corajosamente, o corneando atual diria: Você é corno (a). Que maravilha! Acho que até a alma ia gozar: um gozo prolongado, quase etéreo, se não fosse tudo tão fugaz: o gozo e o corno.

Entretanto, não é só o dizer ao corno que ele é corno que dá prazer. Você pode experimentá-lo em muitas outras situações: já pensou em poder chegar para um político e dizer: Você é um bunda mole! Que coisa mais boa hein! Só correríamos um risco de andar por cima de muitas bundas, que de tão moles iriam formar um grande tapete, fedorento claro! Mas um enorme e multicolorido tapete.   

E para um seu colega de trabalho que você não gosta, mas é seu superior e pode pedir a sua demissão: Você é um embuste! É melhor arrumar outra palavra, para que a pessoa possa entender mesmo, porque não adianta falar coisas que não sejam captadas pelas pessoas, afinal a comunicação exige um emissor e um receptor. Na dúvida, arranje logo uma boa palavra, porque você seria despedido mesmo, então mande ver.

Pense em você chegar para a sua sogra (o) e dizer literalmente: Não gosto de você!

Dizer para um professor que se julga o mais retado do mundo e que se vangloria de ter dado muitos e muitos alunos para o mundo, de ter implantado um curso de mestrado em uma faculdade, que ele é uma "porcaria" como educador.

Olhe! Isto aqui são só alguns exemplos do que eu, e acredito que muita gente, gostaria de dizer. Mas as regras do social, da convivência, da "mentira" não nos permitem isto. Mas como Deus é onipresente, ele bem sabe o quanto a gente poderia dizer de tantos quantos passaram pela nossa vida, seja coisa boa, seja coisa ruim. Também ele, por esta qualidade imensa de bisbilhoteiro que tem, sabe o quanto já rimos, sozinhos, daqueles que não são nem "onipresentes", nem "onipotentes", nem "oniscientes"..., mas se acham!  

 

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