domingo, 25 de julho de 2010

Chegada em Maputo

Ela chega cansada, mas ainda tem que esperar as autoridades do país permitirem a sua entrada, embora já tivesse o visto fornecido pelo Consulado em Portugal.

Não tem jeito, pega a fila para estrangeiros. Tudo é manual, não ha qualquer meio eletrônico para concessão do visto ou confirmação dele. Tem de esperar na fila imensa que se formou. Somente três funcionários em dois guichês, que mais parecem barracas de feira armadas em local coberto.
Passam pessoas na sua frente; a funcionaria levanta para atender um seu conhecido, ou melhor, para facilitar-lhe as coisas. O homem passa na frente de todo mundo e sem qualquer protocolo. É impressionante!

Passada a primeira etapa, uma segunda. O controle da bagagem. No aeroporto uma só esteira. A sua mala foi uma das últimas a chegar, passou, mais ou menos, 2 horas a esperar que, num processo completamente manual, as malas fossem tiradas do avião e chegassem até o desembarque.
Não encontrou carrinho de bagagem. AH! Detalhe: O carro de bagagem parece um grande carro de transporte de cargas em supermercados. Somente conseguiu um depois que quase todos os passageiros do vôo pegaram as suas bagagens.

Assim que pegou o carrinho um senhor se aproxima e, sem pedir nada e sem a sua licença, começa a empurrar o carro. Ela tenta tomar o carro da sua mão, mas ele insiste e diz que vai ajudá-la a passar no controle de bagagem, caso contrário ela vai pagar algum dinheiro ao pessoal. Ela diz: Não vou pagar nada porque não tenho nada de errado na minha bagagem, portanto podem abrir e fazer o que quiserem. O homem insiste e a bagagem é retirada do carro e colocada na única máquina do raios-X. Quando a bagagem sai do outro lado alguém lhe diz que ela foi selecionada, o homem lhe puxa e diz que o acompanhe, ela diz não. O homem continua a empurrar o carro e ela tentando tomar-lhe das mãos. A funcionária diz: O que é isto, então a mala foi selecionada e vão levando-a embora. Ela para e pergunta a funcionária, é para colocar a mala onde? O homem fala alguma coisa com a funcionária em uma língua que não entende, e a funcionária diz que podem ir.

Ela continua a tentar tomar o carro da mão do homem que fala, mais uma vez, que se ele não estivesse ali ela ia pagar muito dinheiro. Ele segue em direção à fila de taxis. Quando coloca a mala no bagageiro diz que quer cinco euros, ela dá risada e diz que não tem e que, ainda que tivesse não pagaria porque era muito caro. Tira uma moeda de dois euros e dá ao homem que se aborrece. Ela nem liga e entra no taxi e diz o nome do hotel.

O taxi não tem taxímetro ou tabela de preços, ela pergunta o homem o preço e ele diz trezentos meticais. Não acha caro e nem barato, porque não consegue entender muito bem o valor da moeda do país, mas ainda que fosse bem caro, ela pagaria qualquer coisa, pois estava muito cansada, a viagem tinha sido péssima. Não conseguira dormir nada, a companheira de viagem era uma mulher que resolvera atualizar o seu trabalho no avião, alguma coisa relativa a um projeto de produção de “sunflower”. Para quem não sabe: Girassol. A luz ficou acesa durante quase todo o percurso

Passou por muitas ruas feias, sujas, sem calçamento. Muita pobreza e a surpresa da mão inglesa. Sentiu uma sensação terrível, estranha. O motorista do lado contrário, no lugar do carona. Passar marcha com a mão esquerda! Ela acha que nunca conseguiria. Pior que isso, foi atravessar a rua sem saber para que lado olhar, muito estranho mesmo.

Enfim, chega ao hotel. Há um indiano que é o “manager”, and as a manager, He doesn`t speak portuguese. Ela acha graça: Como é que num país de língua oficial portuguesa há um gerente que não fala tal língua. Bom, tenta se comunicar e descobre que os funcionários outros são moçambicanos e falam português, claro, como bons lusófonos que são, embora todos continuem, entre si, a falarem os seus dialetos.
Chega ao quarto, nada de especial, mas nada de estranho, um quarto normal. Dá-se por feliz pelo ar condicionado.

Toma banho e dorme até uma hora da tarde. É hora de levantar e ir ver a cidade e onde estava localizada em relação ao Arquivo Histórico, para onde terá de ir muitas vezes. Pede informação e segue em frente. Acha estranha a informação, porque pelo mapa ela esta indo em direção completamente contrária.

Para e vê um rapaz parado na rua, pede licença e pergunta-lhe se ele sabe onde é a Rua Araújo. O rapaz lhe olha e cai na risada, mas ele ri muito mesmo e nem consegue responder. Ela já sabia o motivo de tanta risada: É que a Rua Araujo, como era chamada antigamente a Rua do Bagamoio, para onde ela se dirige, era um local de prostituição. Ela explica-lhe entre risos que quer ir para o Arquivo Histórico, que, infelizmente, funciona naquele local. Ele chama uma senhora que está dentro de uma loja e lhe diz que ela está procurando a Rua Araujo. A senhora sorri e lhe explica que ela vá direito: quando chegar a Vladimir Lenine, desça à esquerda e vai chegar até a baixa; lá ela entra na Timor Leste e vai dar numa praça da fortaleza e lá vai encontrar a Rua do Bagamoio.

Ela agradece e vai seguir quando a senhora diz: Nós vamos para aquele lado, venha que nos lhe levamos até um local mais próximo. Ela entra no carro, e novamente a mesma sensação estranha, o volante no outro lado. O rapaz dirige e se chama Jorge, a senhora diz que se chama Biba. Perguntam-lhe o que esta a fazer em Moçambique e ela diz, eles acham interessante e a mulher lhe diz que ela vai encontrar o que procura no arquivo. Descem a rua e deixam-na na Marginal, em frente ao mar, na Baía de Maputo. Antes, porém, a senhora lhe dá o número do telefone para que ela entre em contato, porque eles têm uma moto, uma espécie de taxi de três rodas e se ela precisar dar uma volta na cidade é um bom meio.

Ela caminha um pouco pela praia, mas não se arrisca muito, vai até um prédio que fica na orla e que impede de passar para o outro lado, para tal ela teria de contorná-lo. Não se arrisca e volta. Encontra uma faixa dizendo que ali existe uma feira do Egito. Para, entra e fica fascinada com as coisas, mas tudo que gosta é muito caro. Pergunta por um conjunto de esfinges douradas e alguém lhe diz: Three thousands. Toma um susto, aquilo não poderia ser tão caro, ou então entendera errado. Pergunta de novo. O homem diz: three thousand in... and one hundred. Continua sem entender, até que cai a ficha. Três mil em meticais e cem dólares em dólares. Acha caro do mesmo jeito e não compra, embora as três esfinges sejam lindas. Vê vestidos de mangas, alguns muito bonitos, outros inusáveis. Há perfumes, essenciais egípcias, tudo aromas falsificados de perfumes bastante conhecidos. Cloé, azarro, Calvin Klein. Dá risada e sai do local, o homem queria que ela experimentasse todos. Fica enjoada.

Segue olhando a feira, que é bem pequena. Muitos móveis egípcios, todos com muito dourado. Algumas peças lindas, outras de extremo mau gosto. Encontra uma brasileira do Pará, que vê o seu sotaque e lhe pergunta se é brasileira. A mulher lhe deseja uma boa estada em Maputo.
Compra um chaveiro com uma esfinge, uma pintura em papiro, um vidro todo desenhado em dourado e vai embora dali pelo mesmo caminho.

Já tem muitos carros parados no lado da praia, fica impressionada com a quantidade de jeeps. Música alta e muitos jovens. Vendem-se cervejas e refrigerantes, ela não se arrisca, Parece tudo muito sujo.
Cansada, ainda, resolve ir embora, mas primeiro tenta comprar crédito para o telemóvel. Compra, mas o tel. não fala, continua sem chamar. Dá uma volta no shopping “Centre”, não entende porque se escreve assim, vai ao mercado tentar comprar frutas. Não percebe, mas não encontra frutas boas, também não vê alface e nem qualquer outra folha.

Compra pão, queijo e mortadela. Não vê presunto. Uma lata de palmito, milho, feijão frade e atum, leva para o hotel, é o que vai comer à noite, com certeza.

Quando sai do “shopping centre” vê á área de alimentação que fica ao lado, na área externa, senta-se, toma uma cerveja que tem o nome de “florentina”, cerveja autenticamente moçambicana, não é mal, toma duas e pede um prato no restaurante em frente. Uma mistura de legumes e vegetais: cogumelo- carne-alface-cenoura-pimentões. Não gosta e deixa metade. Paga e sai, vai para o hotel. Toma um taxi e se assusta, ela podia ter ido caminhando, é muito perto, mas ainda assim o taxi lhe custa 150 meticais, o que é muito pela distância. O motorista é simpático e ela lhe pede um cartão. O nome dele é Tony, ela agradece e entra no hotel. Encontra o “manager” e pergunta-lhe como acessar a internet do quarto. Ele pede a funcionaria para dizer-lhe para ela trazer o PC para que ele possa fazer configuração. Ela sobe e traz o PC, ele tenta lhe explicar em inglês, ela diz que não está entendendo nada, mas enfim, conseguem. Depois de tudo certo, internet funcionando, ela pergunta: Every time I want to access net I have to came here in the receptcion? O Manager morre de rir e diz que não. Que agora ela pode acessar a qualquer hora que é só colocar a senha que ele lhe dá.

Sobe para o quarto com a net funcionando. Entra no quarto e vai dormir.

As oito alguém bate na porta. Quando ela abre, ainda sonolenta e assustada, pois não conhece ninguém e nem tampouco tinha pedido nada na recepção, alguém lhe pergunta: Tem roupa para lavar? ...

É mole ou quer mais?

2 comentários:

  1. Passei por aqui tdos os dias dessa semana para ver se tinha novidades...
    E aí? Foi ao Arquivo Nacional? Estou torcendo para que vc encontre ainda mais do que imagina. Beijos!
    Obs: este post não me deu uma boa impressão de Maputo. Espero que o tempo mude isso e eu leia aqui grandes maravilhas dessa estada.

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  2. Interessante... nao sei se queria estar num lugar desses, com tantas diferenças e sozinha.
    Emfim, tudo pela cultura.
    Boa sorte em Maputo!!!
    Bjos
    Lau

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