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terça-feira, 26 de novembro de 2019

O TEMPO NÃO PARA



Acabo de perder o começo do texto que estava escrevendo, certamente não será reproduzido, não vou lembrar dele todo como estava, mas o fato é que estava falando que acordei muito cedo e que, ao desligar o ar condicionado, ouvia o barulho de água caindo, ao puxar  a cortina  da janela via a chuva caindo forte mesmo, o que me impedia de dar a minha caminhada matinal, foi onde parei e agora tentar continuar com o que comecei.
Não sei se estou alegre ou triste. Se, por um lado, tenho a alegria de olhar através da janela e ver a rede, as minhas plantas, a minha pequena pimenteira, que mais parece uma árvore de natal em miniatura, porque ela está salpicada de frutinhas vermelhas e verdes, tão pequenina e já produzindo tanto. Gosto efetivamente disto, de olhar pela janela a vida acontecendo, por outro lado, entretanto, fico triste, porque, ao contrário do que dizem da velhice, que ela traz muita paz e muita compreensão, resignação, sei lá mais o que, eu não  consigo alcançar este nirvana, aliás, penso que tudo isto é muito falso. Agora tenho mais pressa de que antes, quero fazer muita coisa que ainda estão por fazer, e que tenho receio de que o tempo seja muito curto para executar os meus planos.    
O tempo passa depressa, ele só não acaba com a minhas dívidas kkkkk, que parecem se reproduzir com o passar do tempo, até por causa disto tenho pressa, se nada acontecer daqui para frente não sei bem o que fazer. A chuva engrossa lá fora, a pimenteirazinha balança, a chuva forte faz com que as folhas e os frutos balancem. O balançar dos frutos faz um reflexo que efetivamente me lembra as bolas natalinas nas árvores de natal.
Volto ao meu raciocínio, entretanto, não quero me dispersar. ‘Quero acabar a série de Garcia D´Ávila, quero publicar ao menos um livro desta série. Acho que vou escrever história conversando com o Senhor da Torre até o dia da minha morte, e enquanto a artrose não tomar conta dos meus dedos. Vejo que, apesar de estar muito próxima do desfecho do senhor Garcia, pois estava fazendo um texto que se reportava a 1609, ano da morte dele, ele jamais irá desaparecer, porque ele agora é eterno. Espíritos são imortais, daí posso   falar com ele até a minha morte física, porque ainda tenho a possibilidade de, na eternidade encontra-lo e, quem sabe, reencarnada em alguma escritora-historiadora, eternize a mim e a ele. Pretensão da porra! Entretanto, a tenho.
Sim, tenho pressa: quero aprender a usar a overlock, presente de Carlos, possivelmente para me deixar ocupada 24 horas,e fazer inúmeras roupas, mesmo que seja para não usá-las, porque não terei tempo, mas posso doa-las a alguém  além de me exibir,kkkkkkkkkkk, pois recebo muitos elogios, acho que gosto disto, embora 50 por cento do sucesso seja de Dora, a minha pró e dos estampados das roupas.   
Acreditem se quiserem, queria muito, ou melhor quero, fazer com que as pessoas gostem de história e adorem o conhecimento. Como é fantástico conhecer, saber! Apesar de saber que nada sei, como disse Sócrates, o conhecer nunca é demais, e, ainda que  alguns achem que é bobagem o que faço  com relação a História da Bahia, vou continuar  escrevendo e tentando que as pessoas  saibam  do que  possivelmente aconteceu na nossa Bahia colonial, tão esquecida pelos livros de história(os da escola- didáticos)  É uma história que não se aprende na escola, nem mesmo quem, como eu, fez a licenciatura em história toma conhecimento de alguns fatos, personagens relevantes para o conhecimento e entendimento do nosso passado.  Não dá tempo, no curso, aprender tantos detalhes que passam desapercebidos.
Preciso, pois de tempo, e ele passa rápido. Quero ajudar, fazer o bem.  Sou bem materialista e sempre  a estar dando alguma coisa a alguém(dinheiro) bens materiais, mas já descobri que não é só isto, aliás, descobri não: sei, entretanto, para poder fazer este tipo de bem, o espiritual,  tenho de me preparar mais, tenho de me conhecer mais para poder conhecer o outro. Por enquanto fico  triste, porque vejo a necessidade material do outro e nada posso fazer, já fiz tanto que entrei numa barafunda financeira da porra, mas continuo  me afundando mais, porque as vezes uma casa pode cair, uma pessoa pode morrer de fome, outra pode ter um infarto, por falta de bem material que eu, podendo ou não, tenho mais condições de arrumar, ainda que me endividando; e, quando penso nisto, aí é que vejo que preciso de correr mais, de arrumar alguma maneira  de aumentar a minha renda. Se é para dividir mais, não tem problema, o que não quero é deixar nada para ninguém pagar. (Fábio),kkkkkk, se eu deixar sei que ele vai ficar muito puto.
A chuva continua, não posso fazer a minha caminhada matinal. A falta desta caminhada, com certeza, vai me fazer mal, o meu corpo está tão acostumado que ele passará todo o dia me cobrando este exercício. Penso: hoje não vou ver as minhas amigas domésticas: ah como é bom dar um bom dia para elas e vê-las sorrir. Sim, é muito bom. Será que isto é ajudar alguém?  Deve ser, porque elas realmente abrem um belo sorriso ao responder o bom dia. Acreditem, passei alguns dias viajando e uma delas, a que mais demonstra o prazer de falar comigo, me   disse: “estava sentindo a sua falta, o que aconteceu?   Descobri que faço falta, que aquele meu bom dia é importante para elas.
Há também o lixeiro, acho ele muito preguiçoso, pois sempre está sentado com a picaretinha na mão, certamente sempre avaliando o trabalho que vai ter durante todo o dia. Olho para ele todos os dias da mesma  maneira, mas não posso deixar de pensar na preguiça, que eu também teria para executar aquela tarefa, pois quando vejo a quantidade de folhas no chão, a quantidade de mato que enraíza pelos paralelepípedos da rua e que tem de ser retirados, ah sim: teria mesmo preguiça!
A chuva aumenta mais, a pimenteirinha continua a balançar, mas ela é forte e não vai acontecer nada, quando a chuva passar ela vai estar mais bonita, mais viçosa, o que adoraria que acontecesse comigo, mas o tempo é impiedoso, se ele serve para permitir as nossas realizações, também serve para cobrar  um pedágio alto pela sua passagem e como parece que não paguei em dia  tal pedágio, impiedosamente ele se mostra, nos olhos, nos dentes, nas juntas, mas eu sigo tentando  aprender a fazer o bem, a dividir conhecimento, a tentar ajudar as pessoas, conservando sempre a minha autenticidade e ouvindo Cazuza para perceber e aceitar que o TEMPO NÃO PARA.                    

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

FOGUEIRA DAS VAIDADES

Há alguns anos atrás, não me lembro bem quando, minha mãe me deu um livro - A FOGUEIRA DAS VAIDADES, Tom Wolf. Ela lia muito, e, como sabia que eu tinha herdado esta sua qualidade de grande leitora, sempre me obsequiou com livros. Não me lembro bem da história, mas sei que a personagem principal, um homem de negócios, muito bem sucedido, se vê envolvido em um acidente em alguma Rua do Bronx e daí para frente sua vida muda completamente, é preso em uma cela, e enquanto aguarda uma possível soltura, afinal ele era milionário, em que ele está sentado no chão frio, penso que molhado,  ele  sente a pressão dos gases e queria que eles lhe deixassem em paz, mas não o fazia por vergonha, humilhação, enfim, uma situação triste para quem sempre fora o sinônimo do poder, da vaidade, da riqueza.A partir disto a história retrata a vida deste cidadão e toda a trajetória da sua  queda e todos os conflitos disto resultantes

sábado, 8 de setembro de 2012

Enganados! Será?


Acho interessante ver as pessoas acharem que estão enganando as outras; penso que elas pensam que são inteligentes e que todas as demais, pobres mortais, são burras.
Quando as pessoas enganam as outras, lógico que estou falando daquelas pessoas que conhecemos razoavelmente bem, chega mesmo a ser engraçado, hilário até, porque a gente percebe mesmo que está sendo enganado e deixa que o idiota, que nos esta enganando, pense que esta conseguindo este grande feito.
A pessoa tem “tiques ou tics” não sei bem, que denunciam tanto as suas inseguranças em relação ao que está falando, ou à mentira deslavada que esta sendo contada, só que elas não se apercebem disto.
Por exemplo, conheço uma pessoa que tem um “tic”: quando está mentindo, contando algo que não foi real: começa a falar e a boquinha horrorosa tende para o lado esquerdo, resultado:  um espectro! A pessoa já é feia por natureza e ainda arruma um “tic” deste que lhe torna muito mais feia;  feia  em vários sentidos: exterior por não ser mesmo privilegiada pela natureza, e  interior pelo fato da mentira deslavada, cínica, imbecil, sem a menor necessidade, que está contando.  É bom que aqui fique claro que não sou das pessoas que dizem que “quem ama ao feio, bonito lhe parece” e nem “que a beleza é interior”. Não sou não: para mim feio é feio e pronto.  Se você olha para alguém e a pessoa é feia, não tem belos traços, tem boca torta, nariz enorme, olhos enviesados, infelizmente, a pessoa é feia mesmo. Acho, como Vinícius, que “beleza é fundamental”.
Falando em “tics” conheci uma outra que adorava falar de Freud, Jung, enfim, de psicologia. Achava engraçadíssimo quando ela começava a “descrever”, “narrar”, “falar sobre”, nunca soube entender muito bem o que se passava ali, e os dois dedos, o polegar e o vizinho do mindinho alcançavam os dois pontos entre os olhos e eram ali esfregados: algum tipo de massagem para ativar os neurônios, quem vai saber! Eu só achava engraçado e interessante, era como se fosse um sinal de que, naquele momento, o “saber” ia ser compartilhado; que éramos privilegiados por isto. Para mim, apenas uma demonstração da total insegurança daquele que sabe que o seu saber não é o saber, mas vai se fazer o que?
Pois é, penso que vivo uma legião de mentirosos.  Uma das grandes e esfarrapadas desculpas que ouço é quando alguém diz que não atendeu ao telefone porque estava no banheiro, puta que pariu! Pensam que eu sou idiota ou o que? Façam como eu, passo todo o tempo com o telefone no silencioso, tive de me acostumar a isto, primeiro por causa do trabalho; segundo por causa das aulas; terceiro por causa das pesquisas em arquivos e bibliotecas, em que não podia ser incomodada e nem incomodar os meus pares. Me acostumei tanto que esqueço, literalmente, de tirar o silencioso, resultado: não ouço nenhuma chamada, é bem melhor de que mentir. Aliás, quem me conhece mesmo sabe que odeio celular, que não gosto de falar ao telefone, enfim, muitos nem ligam porque já sabem que não vou atender por todos os motivos já expostos; agora inventar desculpas para justificar o não atendimento é uma merda. Não justifique nada, simplesmente não atenda e não diga por que não atendeu, é melhor.
Pior que tudo isto é você estar com alguém e ouvir o telefone da pessoa tocar e ela não atender. Bem verdade que, às vezes, faço isto, porque tem momentos de uma total inconveniência, mas ver a pessoa não atender ao telefone porque realmente não quer é um pouco demais. Pergunto-me: para que dar o número se já sabe que não vai atender. Melhor não dar.  Outro dia alguém me pediu o meu telefone, eu disse que não sabia o número.  A pessoa me olhou com uma cara incrédula: então eu não sabia o número do meu telefone!  O diabo é que eu não sabia mesmo, aliás, continuo sem saber, tanto que coloquei na lista dos contatos o telefone de “eu”, mas, na verdade, no caso a que me refiro, ainda que eu soubesse, não o diria a quem mo pediu; pois imaginem só: foi um garçom brasileiro num restaurante de Lisboa. Tudo bem que a gente tem de tratar bem a todos, mas isto não significa que viva dando o seu número de telefone a qualquer um.
De outra feita dei o número errado; simplesmente troquei o último número, felizmente que o “cara” não ligou na hora, senão o caso tava perdido e eu passava por sacana. Entretanto, o melhor mesmo é não mentir, mas naquele momento foi o melhor que pude fazer para não magoar o rapaz que estava tão interessado na minha pessoa e que eu não queria, de maneira alguma, demonstrar qualquer descaso, foi outro garçom. Penso que ando a agradar a classe!  Não confundam, entretanto, mentira com omissão. A omissão em alguns momentos é louvável, evita-se muitas coisas, mas a mentira, como diria minha mãe, tem pernas curtas, e a gente um dia descobre que um companheiro de longa data, destes que acorda e dorme com você, que as pessoas até os confundem como marido e mulher, que até tem momentos de prazer (sexo) e dividem contas, tem um caso e um filho com outra pessoa. Olhe que eles passaram muito tempo juntos, pensando um deles que era companheiro mesmo do outro. Já notaram que não eram não é?  Esta omissão não valeu a pena, porque isto não é omissão: é, e foi, uma grande e enorme traição!!!!!
Pois é, outra coisa que detesto é a curiosidade das pessoas em relação à vida do alheio. Lá quero eu saber onde as pessoas foram, estão ou vão. Não me interessa; pior ainda, quanto gastaram:  pouco me importa, a não ser quando alguém esta gastando o que é meu; aí sim, fico “piursa”  deve ser assim que se escreve, uma mistura de raiva com ursa, porque se a porra é minha, quem tem de gastar sou eu sem dar satisfação às outras pessoas. Aquelas que gastam o dinheiro que não é seu é que tem obrigação de prestar contas. Ultimamente, quanto pior, na minha velhice, quando pensava que, até por força da própria idade, da maturidade, da “sapiência”; não se esqueçam de que velhice, para alguns, é quase um sinônimo de “saber”, penso que é “experiência”, mas cada um dá o nome que quer ao passar dos anos e ao acumulo dos cabelos brancos que, infelizmente, se aboletam em todas as partes do corpo, o que é horrível; percebam que se olhar no espelho e ver os grisalhos revoltados, porque eles são revoltados mesmo, são mais grossos, inconvenientes, teimosos, se colocam em espaços indevidos, me deixa para lá de irritada, mas fazer o que não é? Eles estão aí e pronto, mas, voltando ao assunto e  a minha velhice, conheço pessoas que tem curiosidade mórbida a respeito da minha vida: gente que quer saber onde fui; com quem fui até mesmo o que comi. Se compro uma coisa, tem a desfaçatez de me perguntar quanto foi. Não gosto disto, mas a vida me proporcionou isto na velhice, e eu, por força de circunstâncias outras, que no momento não vêm ao caso, estou me sujeitando. Bem verdade que tenho uma válvula de escape: a mudez. Fico muda simplesmente. Acreditem que não respondo nada e fico somente olhando para a cara do “questionador”. É como se eu quisesse, com o silêncio, demonstrar toda a minha insatisfação com tanta curiosidade.   
E aquelas pessoas que além de questionarem querem dar palpites! Ah estas, são mesmo o fim da picada, ainda tem algumas que se fazem acompanhar de outras, que nem sabem quem você é direito, e se julgam no direito de, também, dar palpites, comentar; e a gente descobre que a droga desta pessoa, que você nunca viu, não sabe de onde veio, sabe muito da nossa vida, logicamente, porque alguém, que não é só curioso, é também fofoqueiro e gosta de falar da vida do alheio, lhe contou. Um comentário: tem gente que sabe mais da nossa vida de que nós mesmos, porque quem fala dela o faz de uma maneira que, de repente, o fato é outro, as pessoas são outras, os resultados são outros e a gente se descobre outra pessoa, outro momento, numa outra vida. Tem  momentos  que ficamos na dúvida se estão falando de nós mesmos ou se, no meu caso, por força da velhice, me esqueci daquilo.
É, mas vou ficar por aqui, só de recordar estas passagens já estou ficando irritada, porque, efetivamente, não há nada que irrite mais uma pessoa de que a mentira e esta mania que as pessoas têm de, sem ser convidadas, entrar no espaço dos outros. Se você tiver alguém na sua vida que seja assim, mentiroso e ou curioso, se afaste: é o melhor que você faz.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Tentando...

A sorte está lançada. Acabo de entregar a tese completa às orientadoras. Depois de longos três anos dou por finalizado um trabalho sistemático, cansativo, metódico.
Tejo-Lisboa
Para realizá-lo viajei para terras distantes, Lisboa, Moçambique. Tive em dois continentes, atravessei oceanos, descobri lugares e pessoas.
Alguns lugares me fizeram sonhar, a exemplo de Maputo, pois se dinheiro tivesse voltaria ali para passar, ao menos, seis meses. Não pela cidade, bem verdade, mas pelo saber. Ah como queria entrar naquele arquivo! Quantas descobertas faria manuseando aqueles documentos, quanta informação, quanto aprendizado! Quantas explicações!Quanta contribuição para o conhecimento!
Grelhados-Cacilhas-Pt
Lisboa! Meu Deus: ah se tivesse tempo e dinheiro não sei o que iria acontecer! Talvez procurasse um meio de dormir na Sociedade de Geografia, ou quiçá, no Arquivo Histórico do Ultramar. Iria estudar tudo o quanto possível. Tiraria dos documentos todas as informações que eles pudessem dar. E na faculdade de direito da Universidade de Lisboa? Nem quero pensar: ficaria ali deambulando pelas suas estantes, corredores, andares, manusearia livros que nunca pensei existir, encontraria obras que jamais pensaria ver de perto. Efetivamente seria a glória.
Camarão do Índico-Maputo
Sem dúvida que aproveitaria um pouco da beleza e das características de cada uma das cidades visitadas, afinal nem só de “conhecimento” vive o homem, mas, essencialmente, o que faria era exatamente isto, partilharia a solidão com os documentos, com os livros, com o saber, para depois partilhar com o universo tudo o que esta solidão voluntaria me deixou acumular. Não me importaria se ninguém lesse o que escrevi, ou o que vá escrever, que é o que acontece quase sempre com os trabalhos acadêmicos, mas a minha certeza de que estou contribuindo para o conhecimento já me faz mais de que feliz.
Se o saber tem de ser compartilhado, no momento da sua apreensão, entretanto, ele é completamente individualista. Antes de o compartilhamos precisamos, senão da certeza, mas da consciência de que não estamos dizendo disparates, todavia, e para chegarmos às conclusões, ainda que possam gerar polêmicas e sempre não definitivas, é necessária muita solidão e, por causa dela mesmo, muito querer, muita determinação.
Ìndico-Maputo
Alguns perguntarão: Para que acumular tanto se nada é divulgado? Para que se esforçar tanto se isto não vai trazer qualquer beneficio financeiro? Eu responderia: Não fiz o que fiz até o momento pensando em dinheiro. Claro que se isto der algum resultado financeiro vou achar sensacional, afinal investi muito dinheiro nisto, dinheiro dos meus pobres proventos que é dividido com muitos, que sem qualquer interesse no saber, gastam sem saber o sacrifício que faço para mantê-los, para lhes proporcionar o mínimo necessário, mas que para mim é muito.
Entretanto, com estes gastos todos desplanejados, posso me envaidecer de conhecer um pouco do utilitarismo de Bentham, Stuart Mill, Rawls. Posso falar do imperialismo, da Convenção de Berlim, da distribuição da África. Posso com firmeza assegurar que as potências colonizadoras criaram um status para o “africano”, que o faria diferente, e, como diferente, sujeito a leis outras que asseguravam o poder de gerir esta diferença. Posso, agora, recomendar leituras, aliás, o que faço neste momento, leiam:  Hannah Arendt –  As Origens do Totalitarismo, Imperialismo e Expansão do Poder;  Edward W Said – Orientalismo. Representações Ocidentais do Oriente; John Rawls - Uma Teoria da Justiça, O direito dos Povos; Justiça como Equidade Uma Reformulação; Amartya Sen - A Idéia de Justiça; Martin Channock – Law, Custom and Social Order. Antonio Hespanha – Cultura Jurídica EuropéiaSíntese de um Milênio; Os juristas como Couteiros, O Caleidoscópio do Direito, O Direito e a Justiça no mundo de hoje , Silvère Ngounds Idourah – Colonisation et confiscation de la Justice en Afrique. L´Administration de la justice au Gabon, Moyen-Congo, Oubngui-Chari et Tachad. Há muito mais, isto é só uma amostra.
Arquivo Histórico de Moçambique
 Em relação à África especificamente, não deixem de ter em suas bibliotecas os dois volumes de Elikia M`Bokolo- Afrique Noire Histoire et Civilisations Vol I e II, já há tradução dos dois para o português.  Isabel Castro Henriques – Percursos da Modernidade em Angola; Os Pilares da Diferença; Tomem conhecimento do que significa etnicidade, xenofobia, minorias. Procurem entender porque o estudo da etnicidade é tão importante para a sociedade, para evitar os guetos, para valorizar o indivíduo enquanto membro de um grupo. Reveja os seus conceitos de cidadania, de responsabilidade social.
Fiquei surpresa, não nego, em perceber e ficar decepcionada por percebê-lo, que literalmente o ocidente dividiu o mundo em duas cores; branco e preto e convencionou que o branco era lindo, significava paz, beleza, educação, cultura, eugenia; o negro, ao contrário, a insensatez, a selvageria, a incapacidade, a feiúra. No dia em que li Hegel, já com uma nova visão das coisas, me deparei com o racismo despudorado, quase desanimo, pois é complicado ver um filosofo estudado como quase um “Deus”, se referir aos negros como “selvagens”."[...] a principal caracteristica dos negros é que a sua consciência ainda não atingiu a intuição de qualquer objetividade fixa, como Deus, como leis, pelas quais o homem se encontraria com a propria vontade, e onde teria uma ideia geral da sua essência [...] O negro representa, como já foi dito o homem natural selvagem e indomável. Devemos nos livrar de toda reverência, de toda moralidade e de tudo o que chamamos sentimento, para realmente compreendê-lo. Neles nada evoca a idéia de caráter humano".(HEGEL, 1999-83-86. Pior ainda é ler KANT,1993:75-76"[...] "Os negros não possuem, por natureza, nenhum sentimento que se eleve acima do rídiculo." Ver o tipo lombrosiano estampado na descrição das feições do “africano” feita pelos colonizadores me deixou completamente atordoada. Ver o olhar antropológico segregar pessoas foi mesmo, e continua sendo, deprimente; justificar o injustificável foi, e é, imperdoável.
Todavia e apesar de tudo, estaria eu mais tranqüila se tudo isto fosse mesmo um passado,e que ele não tivesse deixado seqüelas e nem que pudéssemos, em algum momento presente, revivê-lo com tanta intensidade. Presenciamos a todo o instante um imperialismo cruel, diferente do de outrora, bem verdade, mas com a mesma finalidade, a hegemonia, o enriquecimento, o individualismo, a exploração do mais fraco. Nações civilizadíssimas “mandam” em uma boa parte do mundo, explorando outras; lhes tirando a soberania, diminuindo os seus cidadãos, fazendo crescer a fome, a vergonha, o flagelo, descumprindo o contrato social apregoado pelo utilitarismo,guardando a felicidade apenas para os mesmos, aqueles que já a possuem e que não estão interessados em dividi-la com ninguém.
Bom, enfim, não vou massacrar vocês com coisas que ainda não percebo direito, afinal, como Sócrates, “só sei que nada sei” e que tal qual ele, não queria ser nem “brasileira e nem espanhola, e sim uma cidadã do mundo”. Não viverei o suficiente para tanto, mas quem sabe, se Alan Kardec estiver certo, reencarnarei muitas vezes, a cada uma delas procurando conhecer mais um pouco de fatos e de pessoas e se possível, ajudar com este conhecimento, ao menos, uma pessoa que seja.
Posso até mesmo não ser aprovada no doutorado, posso receber muitas críticas desfavoráveis, mas seguirei tranqüila, com a consciência daqueles que se determinam e alcançam as suas metas e que UMA JUSTIÇA ESPECIAL PARA AS COLÔNIAS – APLICAÇÃO DA JUSTIÇA EM MOÇAMBIQUE (1894-1930) traga algum contributo para o conhecimento de uma pequena parte do continente africano, este tão ilustre desconhecido.