Monsarraz - Alentejo Pt. |
Era muito
estranho, desde a última vez em que o Núncio do senhor Garcia esteve aqui em
casa, não mais tive qualquer notícia dele. Ficava me perguntando: Será que ele
morreu de uma vez? Sim, porque ele no
tempo certo, e segundo a historia oficial, o senhor Garcia falecera no mês de
maio; assim, como o Núncio aqui esteve em maio, me dizendo que o senhor Garcia queria
falar comigo lá no hospital da Santa Casa,
penso eu definitivamente ele se foi e que não mais vai aparecer.
Também, se
apareceu não conseguiu me encontrar, estive viajando por quase um mês inteiro, e
ele com exceção de só uma vez no trem em Lisboa indo para Cascais, ele só me
aparecia lá m casa em Arembepe.
Em Portugal
pensei muitas vezes nele, mas nada aconteceu. Um dia indo para a casa da Vera
lá em Oeiras, vi uma loja com um anuncio de leitura de TARÔ. Me interessei e
entrei na loja, e marquei a consulta com a taralóga para o dia seguinte; No
dia da consulta cheguei e lá havia uma
senhora bem bonita, não sei porque, não entendo bem, estava ela toda de
preto, vestia uma roupa que eu não
conseguia definir muito bem, parecia uma dama antiga vestindo preto, um odelo de roupa de pessoas
de outro século, no de saraus, de castelos, enfim, a mulher era bem diferente.
Pediu-me que dissesse
a minha data de nascimento e a hora do meu nascimento, disse-lhe, daí ela já me
falou uma série de coisas, inclusive que eu tinha uma mediunidade
extraordinária e que eu tinha capacidade de cura pelas mãos. Como é a quarta ou quinta vez que ouço isto,
penso que daqui para frente vou tentar desenvolver isto. Entretanto, isto não
foi o interessante da minha consulta. Ela
continuou e acabou de me dizer algumas coisas que via nas cartas, umas boas e
outras más, e perguntou-me se eu queria saber alguma coisa especifica: falei-lhe
que queria publicar um livro, e seu eu conseguir isto.
Antes de abrir o
baralho ela me perguntou sobre o que seria o livro que eu queria publicar. Falei que era sobre a história da Bahia no período
colonial, bem lá nos primórdios do descobrimento e colonização. Também falei mais ou menos como seria a
metodologia que iria aplicar. Dito isto
ela jogou as cartas e me disse claramente: “sim você vai publicar o livro, mas quem
será o autor?” Obviamente que serei eu,
respondi. Aí ela argumentou: “Você!!!!!
E o espirito que lhe informa os fatos,
os acontecimentos?” Fiquei olhando para
a mulher, devo ter feito uma cara completamente idiota, porque ela falou: “Se
estás a psicografar O autor do livro é o espirito e não você”.
Minha cara deve
ter piorado mais ainda: “Que espirito o que?
Ninguém me aparece não, eu criei este personagem(espiritual) embora ele
realmente tivesse existido e sido tão importante na história da Bahia, mas nunca
o vi, e os fatos que narro são frutos de pesquisa minuciosa, leituras, etc.”.
E ela insiste: “Estás
enganada, este homem sobre o qual
escreve, é que lhe conta a sua própria história,
e portanto você é somente um conduto, um elo de ligação dele, entre o mundo dos
espíritos e a terra.”
Não pude deixar
de rir, estava achando aquilo bem engraçado. Então eu faço força e o Senhor
Garcia acha bonito. Imaginei a cara dele rindo de mim, e me provando que ele
era o poderoso mesmo, mas eu tinha a certeza absoluta que a taróloga entrou numa wiber que eu
não entendia, ou não queria entender, até porque aquilo não era mesmo
verdade. O Senhor Garcia, apesar de um
personagem que eu não posso dizer fictício, tivesse existido mesmo, eu não me vejo vendo-o em sua forma etérea e a
ouvir ele descrevendo os fatos.
Com a afirmação
de que conseguiria publicar o livro, com grandes novidades que provocariam
polemicas, pois eu falaria de coisas que
o Senhor Garcia sabia, e só ele sabia, e nada disso poderia ser comprovado
através de documentos, o que significaria uma série de questionamentos e poucas
respostas para eles, deixei o local e
saí ladeira acima, voltando para casa da Vera e pensando em tudo aquilo que ouvira.
A esta altura eu
já estava mesmo querendo que, o que a mulher falou, se tornasse realidade. Já pensou eu falar diretamente com o senhor Garcia
e ter informações de, minimamente, sessenta e poucos anos de história da Bahia,
e não só dela? Saber de fatos e acontecimentos que somente eu, euzinha, saberia, contados pelo
próprio senhor da Torre. Ah! Seria bom demais!
Voltei de
Portugal e estou aqui, mas nada acontece, o Senhor Garcia não aparece, e acho
que não vai mais aparecer, MORREU, literalmente morreu e levou o seu espirito
que vagava por suas terras e invadindo o que ele achava ser ainda
seu, a exemplo da minha casa, onde ele chegava sem qualquer cerimônia.
Estava realmente
com saudade de exercitar a minha imaginação e conversar mais com o Senhor da Torre,
mas parece que não vai ser ainda hoje, vou ter de aguardar às ordens do dito
senhor, ou então, ir em alguma sessão espírita para ver se o trago de volta.
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