Rio Jacuipe Ba |
A
observadora fora olhar o rio, diferente do que estava acostumada a olhar,
diferente em tudo, mas as águas correntes tinham um dom de apaziguar sua alma
e foi o que fora fazer independente do nome que o rio tomasse.
Um
cheiro forte de mato tirou a sua atenção do casal que se preparava
para ir-se embora. Conhecia aquele cheiro, demorou alguns segundos para
identificá-lo, mas finalmente – Marijuana - sim alguém, muito
próximo estava fumando um charo, com certeza; aquele
cheiro era inconfundível. Olhou para os lados, para baixo do local onde
estava, mas não conseguiu localizar de onde vinha o cheiro, mas
estava muito próximo.
Na
casa ao lado, um espanhol galego, o “x” na pronúncia denunciava a região
de onde vinha, falava muito e alto, por isso mesmo, apesar da distância onde se encontrava, percebeu
que o homem queria comprar um imóvel nas proximidades e discutia os tramites com um
brasileiro, possivelmente quem se encarregaria da compra aqui no Brasil. Olhou
para o lado, o espanhol estava deitado numa rede, curtindo a preguiça à
brasileira, para eles, com certeza, a “siesta” necessária
para o físico. Sorriu do pensamento que teve: se fosse um
brasileiro, baiano então, que ali estivesse naquele horário,
fazendo nada, deitado na rede e pitando um cigarrinho, que poderia ser de
maconha até, era simplesmente um “preguiçoso”, mas tratava-se de um
estrangeiro, provavelmente em férias, que, no seu país,
àquele horário, estaria, não numa rede, mas numa
poltrona, num sofá, ou até mesmo em uma cama, tirando uma “siesta”. O
mundo é mesmo engraçado, sorriu e voltou a concentrar-se no rio.
O
casal já está de pé e ela pode ver a mulher por inteiro, ao vivo e a cores. O biquíni minúsculo
para aquele avantajado corpo deixava a mostra as duas bandas da bunda, porque
era do tipo fio dental, também, ainda que não fosse com todo aquele
volume ele iria recolher-se de qualquer maneira, até mesmo por pura vergonha; não
se pode mostrar tanta coisa feia, e ele talvez não quisesse ser parte
daquilo. A mulher coloca um ridículo chapéu e uma saída de praia, um daqueles
vestidinhos brancos que estão bem na moda, pelo menos para alguns, vende-se em
todos os lugares praianos pendurados em portas de loja de baixa categoria em
cabides desbotados pelo sol. Pensando
ela que estava bem, segue junto ao seu “macho”, que “orgulhosamente” lhe segura
a sua mão, demonstrando que aquele monte de carne lhe
pertence e que, agora ia devorar pedaço por pedaço daquilo que, para a
observadora, poderia causar a maior indigestão possível,
mas gosto é gosto, vai se fazer o que!
O outro lado rio Jacuipe |
Pensa,
vê peixes que querem voar, saltando até onde conseguem para fora d’água,
um cardume grande encrespa a água calma, que denuncia, apesar disto, correntezas.
Em alguns lugares do rio há
redemoinhos, olha aquilo e pensa em
furacão, associa o
cone que o furacão forma com aquilo, e fica imaginando o que
aconteceria de realmente fosse assim,
se um redemoinho daquele tivesse a
mesma força do furacão sugando alguém para as profundezas. Que droga, pensa! Por que este pensamento?
Quero apenas curtir esta paz. De repente, entretanto, um som de um motor afasta
tudo, até os peixes correm para se esconder. Um “Jet Ski” (deve ser assim que escreve) potente se
aproxima. O homem que está
pilotando é careca, gordo, de cabeça achatada. Está
sem colete, passa muito rápido e faz piruetas. Quer se amostrar. Vai até a
foz do rio que é bem próxima do lugar onde ela se encontra, e desaparece. Outro
“Jet” se aproxima, este é todo pretão, enorme, novamente a paz é
quebrada, e o veículo vai juntar-se ao que passara antes.
Rio Jacuipe |
Ficam
ali parados, o som que vem da lancha é horrível, um daqueles arrochas
que falam em “vou comer você todinha” coisas assim. As moças se remexem dentro
do barco, o homem de cor clara pega uma delas pela cintura, traz o seu corpo
para o dele, que já está na posição certa, ele enfia-se atrás
dela, ela parece não se importar. Os outros dois que desceram da
lancha retornam, levam mais cerveja para o barco. Felizmente, para a
observadora, a lancha se afasta e vai para o mesmo lugar onde os “jets” estão
parados. Ancora ali e ela vê uma das
moças sair do barco e saltar para um dos "jets", o primeiro que passou. Evidente
que o condutor tinha de se amostrar e com a mulher agarrada á
sua cintura, passa pela frente da observadora a todo vapor para demonstrar a
sua habilidade
Fica
imaginando qual será o comentário que aquelas “moças” farão
quando chegarem a casa, se é que têm casa; esnobarão
os vizinhos, dirão que passearam de lancha e andaram de "Jet", alguns
acreditarão, outros, com certeza, não;
uns expressarão o que pensam das moças: “piranhas”, aliás
nome apropriado: estavam no rio pois não?
Igreja Sto. Antonio Jacuipe |
Chega
a casa: livrou-se do barulho da lancha e dos "jets", mas não
do arrocha, ao menos hoje aliviado, porque é Silvano Sales, acha ela, que canta "Este cara sou eu".
Pensa:
Melhor é voltar para o lugar de onde veio, há alguns dias atrás,
lá, ao menos, consegue, mesmo numa solidão
compartilhada com muitos, olhar o rio e, muitas vezes, mesmo chorando,
encontrar paz. Lá ela tem a cumplicidade da distância, que lhe faz,
ao menos, alienar-se de muitas coisas e a do seu querido amigo Tejo.
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