Minha mãe aproveitava todas,
fossem elas pequenas, médias ou grandes. Antigamente não existia leite em
caixas; estou falando de leite líquido, era vendido em garrafas. Ainda sou da
época em que o leiteiro vendia de porta em porta, embora a nossa porta não
fosse muito visitada por este profissional, mesmo quando morávamos em Camaçari
e o leiteiro passava com as suas garrafas de leite em uma espécie de garrafa
gigante de metal, acho eu, que eram carregadas por um burro.
O leite em pó era vendido em
latas de metal, o que era distribuído pelo programa Aliança para o
Progresso, acho que era este o nome, para as instituições de
caridade, lembro-me que tomei muito deste leite, que precisava ser reidratado, vinha em caixa.
No colégio interno onde estive, este
leite chegava aos montes, era para ser distribuído para os
pobres, inclusive nós, do internato, e não me lembro dele ser reidratado. Era
uma caixa de papelão e, salvo engano, tinha as cores da bandeira dos Estados
Unidos, ou era a própria bandeira, a caixa era caque e as letras, se bem me
lembro, eram azuis. Dentro da caixa o
leite vinha em um saco, lembro-me do seu gosto ácido, tinha um gosto diferente,
a gente colocava uma colher dele na boca e o bicho grudava tanto no seu da boca
quanto nas laterais e tinha um gosto muito forte, quando a gente o colocava puro na
boca fazia muita saliva.
Bom mas eu não quero falar do
leite ruim, quero falar do melhor de todos os tempos, o querido LEITE NINHO
INTEGRAL, aquele da latinha amarela que era inconfundível. Havia, também, o leite Mococa (a vaquinha Mococa
está dizendo moooooom) lembram? A vaquinha que vinha no rótulo era preta com
manchas brancas, linda, mas nem assim conseguia desbancar o NINHO.
No tempo de fartura o leite
escolhido por minha mãe sempre foi este, o da latinha amarela. Ele podia,
dependendo da fase, entrar lá em casa na embalagem gigante, uma lata grande
que acho que tinha 5 Kg, ou a de 2 kg. e a mais comum, a de 1 kg. Ah como era
bom meu Deus! Parece que estou sentindo o leite colado no meu céu da boca. Uma
sensação inesquecível.
Como ele era integral, afinal ainda não tinha ninho instantâneo, nem tampouco enriquecido com tanta zorra, que fez com que ele perdesse o gosto e as bolinhas que se formavam no café, quando a mísera colher de sopa bem rasa era colocada, por minha mãe claro, porque se fosse a gente que colocasse o leite a latinha não durava sequer um dia. Ah estas bolinhas, elas ficavam boiando no líquido dentro da xícara, e a gente pescava cada uma com uma colher de chá, que coisa mais maravilhosa, fico retada hoje em dia porque o “integral” atual nada tem a ver com aquele de antigamente.
Como ele era integral, afinal ainda não tinha ninho instantâneo, nem tampouco enriquecido com tanta zorra, que fez com que ele perdesse o gosto e as bolinhas que se formavam no café, quando a mísera colher de sopa bem rasa era colocada, por minha mãe claro, porque se fosse a gente que colocasse o leite a latinha não durava sequer um dia. Ah estas bolinhas, elas ficavam boiando no líquido dentro da xícara, e a gente pescava cada uma com uma colher de chá, que coisa mais maravilhosa, fico retada hoje em dia porque o “integral” atual nada tem a ver com aquele de antigamente.
Quando passamos ao tempo das
vacas magras, ou melhor; inexistentes, o Ninho ficou mesmo raro lá em casa, até
os meus irmãos menores sofreram, porque tomaram muito mingau apenas de água e “arrozina”
ou “maisena”, coitados, e quando, por algum motivo, o leite aparecia, era um
total controle, minha mãe pegava uma colher (medidor) que vinha dentro da
própria lata e colocava duas delas dentro de um copo e mandava a gente
dissolver em um pouco de água, quando o mingau estava fervendo a gente
misturava o leite e pronto, estava apto a ser consumido. Confesso que
muitas vezes meus irmãos menores tiveram o gosto do leite bem diminuído, pois
eu me encarregava de tomar uma das colheres do leite. O grude ficava transparente e minha mãe descobria que eu tinha comido metade do leite e me batia muito, mas nada que me fizesse desistir da empreitada, aquele
castigo não conseguia retirar o gosto daquele manjar que era o leite ninho
coladinho no céu da boca, sendo, aos poucos, retirado pela língua, que, sofregamente, fazia o seu trabalho; era mesmo delicioso!
Depois que o conteúdo das latas
acabava, a embalagem virava muitas coisas: as maiores, quando entravam lá em
casa estavam destinadas a se tornarem vasos de plantas, ou quiça, tinham uma
melhor destinação, passavam a servir como recipientes para armazenagem de
feijão, arroz, farinhas, açúcar, bolachas, enfim, orgulhosamente, tornavam-se latas
de mantimentos.
Quando elas não se destinavam a
guardar alimentos serviam de baldes para tirar água de poço; era o tamanho
ideal, para mim claro, que era muito pequena e não tinha força para puxar um balde
grande; assim, apesar de ter que puxar muitas vezes a lata, transformada em
balde, para encher o recipiente que eu ia carregar na minha cabeça, que era
outra lata, de tinta, aquelas grandes e quadradas, ainda hoje continuam iguais, elas cumpriam bem a sua finalidade.
As médias e menores podiam ter
muitas finalidades: guardar coisas, servir de cuia para banho, caqueiros, fifós,
incensador. Mil e uma utilidades.
Minha mãe adorava guardar estas
latas. Quando viajamos para algum lugar ela enchia as latas com comidas
diversas, de sequilhos e pastéis à farofia, frango, arroz. Quando íamos para Alagoinhas de trem, uma
viagem demorada de mais de 4 horas, eu acho, não me lembro direito, ela levava
a comida pronta nas latas e distribuía com os filhos e com os demais
passageiros que assim quisesse, lembro-me de uma viagem em que havia um grupo
de rapazes com quem ela dividiu o nosso frango assado com farofia, resultado, o
nosso pedaço diminuiu bem, mas não tinha jeito mesmo, ela era assim, Ah! Lembro-me
que o nome de um destes caras era “La Barca”. Hoje entendo perfeitamente o
motivo de tal apelido.
Minha mãe continuou fiel às latas;
as marcas podiam mudar, mas as latas eram inseparáveis dela. Ela fazia
salgadinhos, doces, etc., para festas, aliás, a mulher fez tudo na vida:
costurou, deu aulas, foi parteira, catequista, doceira.
Quando um irmão meu casou em uma
cidade do interior, minha mãe e meus irmãos e mais alguns convidados foram de
ônibus, eu não pude ir com eles, ela arrumou-se toda para o evento. Observem que todos nós já éramos adultos, pois
não é que me disseram que, no meio da noite, dentro do ônibus, minha mãe pegou uma
lata de leite grande e abriu, distribuindo o seu conteúdo a tantos quanto
quiseram dentro do ônibus, até com o motorista. Cardápio – frango assado com farofia.
É mole ou quer mais?
As latas fizeram parte da minha
vida e da minha família, muitas marcas surgiram, mas fui sempre fiel ao NINHO,
embora hoje em dia me aborreça bastante, porque o leite, mesmo o integral, não
faz bolinhas que boiam no café e que, quando colocadas na boca, desmanchavam-se, e o pó do leite, vitoriosamente, fazia o seu trabalho: colar no céu da boca para a gente ficar passando a língua e sentindo aquele gostinho maravilhoso. Na Europa o nome é NIDO, mas, como aqui, também
não faz bolinhas e agora, tanto lá quanto aqui, já é vendido em sacos.
Não tomo mais leite, dificilmente
tomo um copo de leite, quando o faço, tenho de tomar o desnatado, uma merda,
mas não consigo deixar de pensar e torcer para encontrar um leite em pó que
faça bolinhas e fiquem boiando no café, como o velho e delicioso Leite NINHO que
conheci.
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