
Contar estórias e histórias; ficção e realidade se misturando para fazer rir, chorar, viver.
terça-feira, 28 de novembro de 2017
quinta-feira, 23 de novembro de 2017
A Casa da Torre II - Continuação
Confesso que sai do
Castelo de Garcia D´Ávila ainda sem perceber direito o que tivera acontecido,
no caminho vinha dirigindo o carro e querendo acreditar que tudo não passara de
um sonho. Sonho! Tá doida! Você está dirigindo o seu carro, está indo para
casa, e acha que foi sonho, se tivesse sonhado, neste momento estavas mortinha,
estão já se viu dirigir dormindo, ainda mais em uma estrada.
O racional me dizia que
fora real, que existiu mesmo aquela conversa, mas eu, por mais real que tivesse
sido tudo aquilo, continuava incrédula.
segunda-feira, 13 de novembro de 2017
Um rio na minha vida
Da minha cama, exatamente dela,
vejo o Tejo, não preciso fazer qualquer esforço. O Tejo está acabando, quero dizer, de onde o
vejo neste momento, ele está encontrando o oceano para se mostrar mais e mais.
sexta-feira, 10 de novembro de 2017
quarta-feira, 8 de novembro de 2017
Diga, simplesmente, Não
“Eu lhe disse que era melhor
ficar calada, mas você, como sempre, nunca segue os meus conselhos, tampouco
faz caso das minhas ponderações.”
Estava evidente que isto ia
acontecer, tantos anos se passaram, mas parece que nada mudou, embora ela
saiba, mudou e muito, mas no relacionamento deles é como se o tempo tivesse
parado.
As mesmas rusgas, as mesmas
queixas, os mesmos problemas, tudo igual. Neste final de semana, entretanto, o
que ela mais temia aconteceu. Um ponto de divergência enorme. Aquilo não era
para ser lembrado, nem discutido, nada enfim. Para ela estava pacificado aquele
entendimento, mas depois de tantos anos, o filme passou e ela não gostou do
enredo, nem antes e nem agora. Um enredo
traumático, ruim de se ver. Sem a lógica necessária para um bom entendimento.
Parecia um filme sem roteirista, continuista, etc., etc., até mesmo sem
figurinista.
Estava espantada ao ver a reação
dos espectadores, bem como dos próprios personagens. No fim do filme só o desgaste
emocional da espera de um final, que já sabe, não virá tão cedo, há muita
divergência entre os personagens principais, eles não se entendem em relação
aos coadjuvantes, ao seu ver, um mar de pessoas
completamente desnecessárias, que nada lhe acrescem, pelo contrário, já lhe
sugaram demais, arrancaram muitos ais de seu peito, já lhe deixaram sem chão,
sem voz, sem alma até, por um grande período, aquele período em que os atos que
lhe decepcionavam costumavam atolar a
sua alma de tal maneira, que era difícil sair. Era preciso, ou melhor: foi
preciso muita coragem, tempo, e uma boa dose de auto estima.
Sim, ela passara tudo isto e saíra
daquela morbidez que se impusera, embora coativamente, pois nunca desejou
isto. Fizeram tudo para que ela assim
ficasse, uma imposição mesmo. Ela, desnorteada até, deixou que as coisas, os
acontecimentos, a dor entrasse em si.
Demorou muito tempo, chorou, sofreu, enfim, mas conseguiu sair daquele desespero,
no entanto ficou, como sempre, marcada e as marcas deixam mesmo feridas
cicatrizadas, quase incuráveis, que podem, com um só gesto, uma só palavra,
serem reabertas e, de novo, não com a intensidade de antes, pois o tempo faz
isto, diminui a intensidade de tudo, seja do amor, seja do ódio, mas não apaga
nada por completo.
Por que será que as pessoas não
entendem a dor do outro? Não sou adepta
da “a dor é minha e não é de mais ninguém”. Sim, sei perfeitamente que a dor é
nossa, pessoal, ninguém sofre a nossa dor e nem a sente, mas ela precisa ser
respeitada. Você pode não compartilhar a dor, mas quem estar por perto de você,
precisa entender a sua dor e evitar que ela se renove.
Quão mórbido é o prazer de alguém
que renova a dor do alheio. Será que nunca sentiu nenhuma dor? Não falo aqui,
por óbvio da dor física, embora ela possa ser consequência de uma dor interior
mesmo, que fragiliza tanto o eu, que
o corpo pode reagir a isto; falo da
dor da alma, esta que machuca tanto,
tanto que faz você esquecer de si
próprio, porque ela é que passa a ser você, entra em todos os seus poros,
circula em toda a sua teia sanguínea,
lhe consome por dentro.
Já passou diversas situações
assim, de ficar tão debilitada interiormente que não tinha qualquer reação durante
algum tempo. Não sabe se ama tanto
algumas pessoas que, quando a decepção
vem delas, é maior do que pode
assimilar! O fato é que por elas e por causa delas, tem tentado mudar, mas é
difícil: quando pensa que esta curada de tudo, vem uma palavrinha, uma
lembrança e tudo perdido: e o peito retoma uma frequência anterior.
É difícil, mas não é impossível. Não se deixem
pegar por qualquer dor, não sofram, não chorem. Afastem da sua vida aquilo que
lhes causa qualquer dor, até mesmo um pequeno desconforto, porque ele evoluiu e
pode lhe causar grandes sofrimentos, que podem ser evitados apenas com uma
decisão: “Não quero.
terça-feira, 7 de novembro de 2017
A casa da Torre
Saí de Arembepe e fui até praia
do Forte, com o objetivo de visitar o Castelo Garcia D´Avila – Castelo da
Torre. Já fiz isto outras vezes, no entanto, hoje estou indo com os meus olhos
de ver, porque li muito sobre o clã, embora com leituras que trazem, apenas as
glorias e conquistas desta família.
Me assusto, parece-me que estou num
túnel o tempo, estou em um período distante do atual, os calafrios
me deixam gelada, os pelos estão eriçados, vejo, perplexa, um homem caminhando em minha
direção.
Fixo meu olhar na figura que cada
vez mais se aproxima, percebo que não é uma pessoa do nosso tempo, suas vestes,
a barba, as armas, enfim, ninguém que estava por perto quando adentrei ao local
estava assim trajado, e não poderia ser diferente, ninguém mais se vestia
daquela maneira, parecia uma pessoa saída dos meus livros de história.
Olho para as pessoas que estão
por perto, elas não parecem assustadas, continuam percorrendo as ruinas da casa
da Torre como se nada estivesse acontecendo de diferente. A figura vem se
chegando mais e mais, para diante de mim: quase tenho um ataque do coração
quando com um português bem diferente e com as mãos para trás ouço: Que fazes
aqui? Quem és? Como adentrastes a esta
casa? Susto após susto, congelada, não tenho como responder, até tento, mas a
voz não sai e vejo as mãos do homem em minha direção, tento correr e não saio
do lugar, tento gritar, mas nada, não sai som algum, as pessoas passam por detrás
de mim, por trás do homem, e parecem não ver nada, vou dando de ré, até me encostar
na parede de pedra, que ferve, pois o castelo em ruínas não tem teto e o
sol esquenta as pedras que chegam mesmo
a queimar minhas costas. O homem continua a vim em minha direção. Lembro-me então: É o Senhor Garcia D`Ávila, o
homem mais rico da Bahia? O Sr. Da casa
da Torre?
“ Me conheces?”
Tomo as rédeas; parece que tenho
uma iluminação divina e digo: Quem nesta terra Brasil não vos conhece
senhor? O Senhor dos sertões
nordestinos, o criador de gado que alcançou terras longínquas, do curral de
Itapoã às terras dos quatro cantos do
Brasil? O homem que criou um feudo por estas terras brazilis.
“Onde vives? Que fazes aqui? És
muito diferente das mulheres e outras pessoas que tem acesso à minha propriedade? És acaso
filha de algum dos escravos? Não pareces, tens a pele clara, vestes-te de uma
maneira muito diferente.
Senhor D´Avila: se eu explicasse
o senhor não entenderia, mas conheço a si e a vossa família, posso contar a sua
história e se tiver erros o senhor pode corrigir, tenhas a certeza que muito me
ajudará.
O Sr. veio de Portugal em
companhia de Tomé de Souza, aliás, dizem
as más línguas que o Sr é filho bastardo dele. É verdade?
Eu, filho Bastardo? Quem inventou
uma história desta? Rapariga, queres a morte? Estas a brincar com fogo.
Não, longe de mim, mas o Sr sabe
como são as futricas, pois o vulgo diz que o Sr é filho bastardo dele, e por
isso mesmo é que veio junto com ele para estas terras, e que nunca se
posicionou como filho porque, se assim fizesse, não poderia receber doações,
sesmarias ou exercer cargos públicos, por ser isto proibido por lei. Os
governadores não podiam colocar parentes em cargos e nem fazer doações de
terras.
É isto mesmo a língua do povo é
assim, apenas somos da mesma região do reino, uma terrinha perto de Póvoa do
Varzim, chamada São Pedro de Rates, no norte de Portugal.
-Bom se o senhor está dizendo,
devo acreditar, quem sou eu para duvidar das palavras do Senhor da Torre? Sim,
mas como foi que o sr. Conseguiu vim para o Brasil com Tomé de Souza? E como
conseguiu ficar tão rico e ter tantas terras?
Sim, conheço, aliás moro bem
perto delas
-Como? Com autorização de quem
moras nas minhas terras?
Começo outra vez a ficar com medo
do homem, ficou possesso com esta resposta.
-Calma Sr. D´Avila, posso
explicar. Mas como eu ia explicar isto, o homem estava enfurecido.
Tive um insight e perguntei sobre
a sua mulher, onde ela estava neste momento>
Senhor, onde está a senhora Francisca Rodrigues? E como está a sua filha
Isabel D´Avila?
- Ah Senhor, sei muita coisa a
vosso respeito, não só de si, como de toda a vossa família.
-Famíia, que família, sou só eu
aqui, só tenho a a minha mulher e filha, a que família te referes?
-A toda a sua descendência, seus
netos, bisnetos, genros, enfim, conheço tudo.
-Se sabes de tudo isto, és uma
bruxa, vou te mandar para a fogueira.
-Por favor Sr. Garcia, deixe-me
falar, o senhor vai gostar do que vai ouvir.
O homem se acalma, olha para mim
num misto de curiosidade e incerteza, e pede para acompanha-lo, convidando-me a
entrar na casa.
Sigo-o quieta, doida para que ele
vá embora, para que desapareça, mas ele vai falando e me mostrando a casa. Eu
não vejo nada do que ele me apresenta, mas sinto que ele tem um imenso orgulho
de dizer como fez isto e aquilo, por que fez a capela? Como construiu aquilo
ali, por que escolheu aquele lugar?
Ele tem toda razão, onde planejou
a construção da casa forte, o fez estrategicamente, de onde ele estava podia
avistar qualquer embarcação que se aproximasse, que navegasse seja em direção,
a Salvador, seja em direção ao norte, mais ainda, o gado podia pastar a
vontade, terras não faltavam, índios a aprisionar também não, o porto lá
embaixo era seguro. Realmente o Sr D´Avila era um estrategista de primeira, um
comerciante maior ainda, tudo contribuía para o seu sucesso.
A mulher com quem o Garcia D ávila
teve uma filha era uma índia, a quem ele tirou da casa paterna para com ele
conviver, dando-lhe o nome cristão de Francisca Rodrigues, ou seja, a sua filha
Isabel era uma “mameluca”, filha de português com índio.
Bom, estava quase chegando a hora
de ir embora, a tarde já ia finda, mas o homem parecia não querer se ausentar
da casa, falava e falava, reclamava com um, ajeitava uma outra coisa, gritava a
mulher, enfim, mostrava todo o seu poder.
Eu precisava sair, tentava me
despedir, mas ele nada, agora estava interessado no que eu falava sobre a sua
família, sobre as suas posses, enfim, estava entusiasmado ouvindo alguém falar
das suas glorias e do seu poder, todavia eu tinha de ir embora, e foi
exatamente o que aconteceu, porque os funcionários da fundação me pediram para
retirar-me, não antes de eu prometer ao Sr. Garcia D Ávila que voltaria um
outro dia para falar mais sobre ele e sua descendência.
Bem, como o deixei interessado,
com a pulga trás da orelha e morrendo de curiosidade, deixo também
vocês, esta história é longa, envolve muitos nomes e fatos históricos, é uma
história viva, que passarei a contar por etapas. Aguardem..
[1] De
acordo com os jesuítas, segundo Pedro Calmon, (1983: 23) “Criado de Tomé de
Sousa, escreveram os jesuítas, ou seja pessoa de sua criação, que é ser como de
sua família”
[2]
CALMON, Pedro. História da Casa da Torre – Uma Dinastia de Pioneiros, 3ª, ed.
Salvador, Fundação Cultural do Estado da Bahia, 1983, pg23.
terça-feira, 31 de outubro de 2017
segunda-feira, 30 de outubro de 2017
quarta-feira, 25 de outubro de 2017
Podia ser bem diferente
O relógio da sala badalava. Ela,
acordada, ouvia do quarto,: duas, três, quatro horas da manhã. Inútil tentar
dormir, melhor levantar e ir fazer alguma coisa; ler por exemplo. Pegou o
livro, mas não tinha qualquer concentração para a leitura. Uma leve dor no
peito que ela não entendia. Da última vez que falou com um médico sobre isto,
após ter feito exames de sangue, eletro e outras coisas mais, ele lhe disse que
isto era angústia.
Angústia! Que tipo de angústia é
esta que doe tanto, que é dor física mesmo? É como se dentro do seu peito
tivesse uma madeira que quer entrar em algum lugar e encontra resistência,
então ela aumenta a pressão. É assim que dói. Dor passageira? Sim, mas
frequente.
Por que esta angústia? Agora que tudo já deveria estar completamente
apaziguado, controlado até, aparece esta angústia? Por que e para que? Sexagenários não deveriam sentir mais nada,
principalmente dor no peito. Não é bom para saúde nem física e nem mental.
O tempo inexorável passou. Alguns
sonhos vão ficar no caminho, não serão mais realizados, não há tempo e nem mesmo
força física para eles. Então você, beirando os setenta, vai sair do seu país e
morar em outro? Evidentemente que não, mui principalmente quem ganha em reais.
Vai para onde?
As limitações começam, as enfermidades
também, por mais que se faça exercícios, tente a alimentação saudável (kkkkkkkkk
esta é boa), o tempo é inexorável e não dá para esconder os seus efeitos, mesmo
com as plásticas rejuvenescedoras. Triste, até porque ela está pensando nisto
de madrugada. Evidente que sabe que muitas pessoas, como ela, estão curtindo
uma insônia, mas, puta merda: precisa ser assim!
Nunca teve problemas para dormir,
agora parece que tem um reloginho biológico que gosta das três horas da manhã,
ou será para lembrá-la que tem de rezar! Sim rezar, porque a porcaria do
relógio, um deles, porque ela não satisfeita com um, tem dois, a cada um quarto
de hora, toca um quarto da Ave Maria. Acreditem, é verdade.
Bom, se era para lembrar que tem
de rezar, continua a oração onde o relógio deixou, mas de nada adianta, a sua
angústia continua, parece até crescente.
Pega o computador e tenta
escrever. Sim, ela adora escrever da vida e sobre ela, mas não da sua, e agora
tem de colocar no papel o que sente, porque não tem amigos, não pode falar com
ninguém das suas dores; pior ainda, se falar as pessoa vão fazer comentários tais como: Com uma casa
desta! Com a vida que você tem! Você está procurando problemas onde não
tem. Sim, ´problemas onde não tem: esta
expressão sempre é utilizada pelo seu companheiro. Problemas onde não tem! Ah
se eles soubessem quantos: a vida de um complicada: a casa de alguém que está
caindo, é uma tia doente que precisa de alguém para tomar conta de si, é uma
amiga com câncer de mama, é um sonho de alguém que não se realiza, é a sua
própria sorte indefinida no momento, definida só na idade, mas indefinida em
tudo mais.
Ninguém venha para cá dizer que
todos tem a sua vida e que você tem de viver a sua sem se preocupar com a do
outro. Engano! Não pode ser assim, não há como a pessoa afastar o outro desta
maneira, mui principalmente quando o outro, se não tem afinidade sanguínea, tem
a do coração. Como alguém pode estar bem se não pode, nem mesmo, ajudar o outro
seja materialmente seja espiritualmente. Não, não se pode ficar bem. E não é a
história de tentar ser “espiritualista” que vai resolver. Não, não é isto! O
outro precisa é de coisas materiais, coisas físicas e não de conforto espiritual.
Alguns até precisam dele, mas, antes dele, você tem de resolver o problema
material, porque ele é premente.
É, parece que ela vai viver
angustiada ainda durante muito tempo. Não se conforma de não poder ajudar, não
entende porque as pessoas tem de passar por determinadas coisas. Não pode ser
feliz com tantas coisas acontecendo com pessoas de quem gosta. Ninguém pode ser feliz assim.
Chora muito, aliás tem chorado muito por toda a sua vida, pois sempre se
preocupou em demasia com os outros: irmãos, amigos, até mesmo desconhecidos.
Uma vez, uma pessoa que se diz
muito espiritualizada, lhe disse que cada pessoa tem seu carma, tem de passar
por isto e por aquilo, e que a gente não deve nem mesmo tentar interferir. Não
acredita que seja assim, que porra de destino miserável é este, que traz ao
mundo alguns que, desde o momento do nascimento sofrem, passam necessidades,
alguns nunca alcançam seus sonhos? Não é
correto isto, não pode ser assim.
Depressão!, Não isto não é
depressão. Angústia! Sim, ´pode ser. Vai passar? Não, não vai, porque ela vai
morrer assim, está envelhecendo assim, pensando, tentando entender, querendo uma
igualdade que sabe não é possível.
sábado, 16 de setembro de 2017
Quem encontrar, não deixe escapar
Cada encontro uma festa, cada olhar uma
emoção, cada toque um verdadeiro calafrio.
Sim, era assim que vivia aquele
imenso amor. Não tinham vergonha de nada, nem mesmo de demonstrar o amor que
sentiam um pelo outro. Bem verdade que ela não gostava de agarramentos em
público, mas também nem precisava, todos que os olhavam sabiam que ali existia
amor, cumplicidade, paixão.
A cada dia uma nova descoberta do
outro, a cada momento um conhecer, seja de defeito seja de qualidades.
Qualidades! Sim, ambos as tinham:
ele muito mais que ela, pois tinha uma virtude imensa, que era a paciência. Ela
muito menos paciente, dir-se-ia até mesmo nervosa, mas ele classificava o
nervosismo dela como ansiedade.
Brigavam, sim, brigavam, ou
melhor, tinham desentendimentos, a maioria deles provocados por ela, mas nada que um pedido de desculpa
não resolvesse, as vezes nem necessitava a desculpa, um simples olhar e já
estava tudo mais de que esquecido.
Nunca viveram juntos, é verdade,
e talvez por isso mesmo é que as coisas funcionassem tão bem. Ambos ficavam
saltitantes quando marcavam alguma coisa, uma festa, um show, um passeio, um
café, enfim, só a perspectiva de estarem juntos já era suficiente para que a
emoção estivesse á flor da pele
Ela se arrumava para encontra-lo,
embora ele a achasse linda de qualquer maneira, aliás ele tinha verdadeira
tesão pela calça jeans, camisa, um cinto largo e as velhas botas de cano alto,
complementados pelo casaco e cachecol.
Ele sempre dizia que ela ficava maravilhosa de saltos altos, parecia uma
artista. Sim, ela bem o sabia, este tipo de roupa lhe caia bem, mas quando ela
estava de saia, vestido, era a mesma coisa, o olhar dele brilhava do mesmo
jeito.
Sabia quando ela estava com uma
peça nova. Percebia quando ela aparava,
minimamente, os cabelos. Se mudava o tom da pintura dos cabelos ele não deixava
passar desapercebido. Quando não gostava do que ela vestia, simplesmente nada
dizia, tempos depois, comentava que aquela roupa não lhe favorecia muito.
Ela estava encantada, um homem
como aquele nunca passara pela sua vida, parecia que ele adivinhava os seus
pensamentos, aflições, tudo.
Se gripava, lá vinha um chazinho
de limão quentinho. Dor de estomago, um chazinho de erva doce, uma dor de
cabeça uma grande preocupação. Se estava deitada com algum problema, lá estava
ele, juntinho dela, alisando a sua cabeça, ou apenas segurando a sua mão.
Adorava quando ele sabia que ela
estava preocupada, chorosa por algum motivo, ele deitava e fazia com que ela
deitasse e repousasse a cabeça sobre o seu peito e ficava ali lhe fazendo
carinho horas a fio.
Sabia respeitar tudo, cansou de
deixa-la sozinha porque ela precisava estar só naquele momento, ele percebia e
não lhe questionava, pois entendia que era o melhor para ela fazer a sua
introspecção.
Adoravam visitar lugarejos, lugares
pequeninos, onde a vida parecia ter estacionado no século XVIII. Ruínas,
muralhas, aquedutos, igrejas: quantas visitadas, ele até perguntava-lhe quando
estavam chegando em algum lugarejo pela
primeira vez: Primeiro a Igreja não
é? Sim, primeiro sempre a Igreja.
Gostavam de sentar em mesas das tendas que eram armadas nos dias de feira
destes pequenos lugarejos. Como se divertiam.
Qualquer programa estava bom para
eles, de feiras aos domingos pela manhã, a discotecas. O que gostassem é que
seria o programa do dia.
Divertiam-se muito, muito mesmo,
mas tudo tem de ter um começo, um meio e um fim. E chegou o dia do fim deles.
Tristes, chorosos, uma despedida que parecia tão remota, mas que tinha de
acontecer. Ele teria que arrumar algo para fazer em outro lugar, pois onde
residia as coisas estavam complicadas, e ele iria procurar novos horizontes.
Ela, por sua vez, acabara tudo o que fora fazer naquelas paragens, não havia
mais como continuar vivendo ali. Forçados a uma separação que não queriam, num
triste dia de outono, cada um para o seu lado, e pronto, tudo acabado, Resta, de tudo isto, ao
menos para ela, uma lembrança boa: conheceu um homem com alma feminina, um
homem que sabia dos sentimentos de uma mulher e da importância de um carinho,
de uma palavra, de um gesto, de um olhar. Um homem que respeitou tudo, até
mesmo os seus calundus.
Ela só pode agradecer e pedir
que, onde ele estiver, esteja bem e distribuindo, se não amor, mas o seu olhar,
o seu carinho, a sua atenção, seja para uma mulher, seja para quem precisar de
um amigo, de um companheiro.
Saudades.
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