“Eu lhe disse que era melhor
ficar calada, mas você, como sempre, nunca segue os meus conselhos, tampouco
faz caso das minhas ponderações.”
Estava evidente que isto ia
acontecer, tantos anos se passaram, mas parece que nada mudou, embora ela
saiba, mudou e muito, mas no relacionamento deles é como se o tempo tivesse
parado.
As mesmas rusgas, as mesmas
queixas, os mesmos problemas, tudo igual. Neste final de semana, entretanto, o
que ela mais temia aconteceu. Um ponto de divergência enorme. Aquilo não era
para ser lembrado, nem discutido, nada enfim. Para ela estava pacificado aquele
entendimento, mas depois de tantos anos, o filme passou e ela não gostou do
enredo, nem antes e nem agora. Um enredo
traumático, ruim de se ver. Sem a lógica necessária para um bom entendimento.
Parecia um filme sem roteirista, continuista, etc., etc., até mesmo sem
figurinista.
Estava espantada ao ver a reação
dos espectadores, bem como dos próprios personagens. No fim do filme só o desgaste
emocional da espera de um final, que já sabe, não virá tão cedo, há muita
divergência entre os personagens principais, eles não se entendem em relação
aos coadjuvantes, ao seu ver, um mar de pessoas
completamente desnecessárias, que nada lhe acrescem, pelo contrário, já lhe
sugaram demais, arrancaram muitos ais de seu peito, já lhe deixaram sem chão,
sem voz, sem alma até, por um grande período, aquele período em que os atos que
lhe decepcionavam costumavam atolar a
sua alma de tal maneira, que era difícil sair. Era preciso, ou melhor: foi
preciso muita coragem, tempo, e uma boa dose de auto estima.
Sim, ela passara tudo isto e saíra
daquela morbidez que se impusera, embora coativamente, pois nunca desejou
isto. Fizeram tudo para que ela assim
ficasse, uma imposição mesmo. Ela, desnorteada até, deixou que as coisas, os
acontecimentos, a dor entrasse em si.
Demorou muito tempo, chorou, sofreu, enfim, mas conseguiu sair daquele desespero,
no entanto ficou, como sempre, marcada e as marcas deixam mesmo feridas
cicatrizadas, quase incuráveis, que podem, com um só gesto, uma só palavra,
serem reabertas e, de novo, não com a intensidade de antes, pois o tempo faz
isto, diminui a intensidade de tudo, seja do amor, seja do ódio, mas não apaga
nada por completo.
Por que será que as pessoas não
entendem a dor do outro? Não sou adepta
da “a dor é minha e não é de mais ninguém”. Sim, sei perfeitamente que a dor é
nossa, pessoal, ninguém sofre a nossa dor e nem a sente, mas ela precisa ser
respeitada. Você pode não compartilhar a dor, mas quem estar por perto de você,
precisa entender a sua dor e evitar que ela se renove.
Quão mórbido é o prazer de alguém
que renova a dor do alheio. Será que nunca sentiu nenhuma dor? Não falo aqui,
por óbvio da dor física, embora ela possa ser consequência de uma dor interior
mesmo, que fragiliza tanto o eu, que
o corpo pode reagir a isto; falo da
dor da alma, esta que machuca tanto,
tanto que faz você esquecer de si
próprio, porque ela é que passa a ser você, entra em todos os seus poros,
circula em toda a sua teia sanguínea,
lhe consome por dentro.
Já passou diversas situações
assim, de ficar tão debilitada interiormente que não tinha qualquer reação durante
algum tempo. Não sabe se ama tanto
algumas pessoas que, quando a decepção
vem delas, é maior do que pode
assimilar! O fato é que por elas e por causa delas, tem tentado mudar, mas é
difícil: quando pensa que esta curada de tudo, vem uma palavrinha, uma
lembrança e tudo perdido: e o peito retoma uma frequência anterior.
É difícil, mas não é impossível. Não se deixem
pegar por qualquer dor, não sofram, não chorem. Afastem da sua vida aquilo que
lhes causa qualquer dor, até mesmo um pequeno desconforto, porque ele evoluiu e
pode lhe causar grandes sofrimentos, que podem ser evitados apenas com uma
decisão: “Não quero.
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