segunda-feira, 24 de maio de 2010

A BOA MORTE CELEBRAÇÃO DA LIBERDADE


Dia 15 de Agosto, Cachoeira- Cidade do Recôncavo  Bahiano,de muitas ligações com a história da independência da Bahia, bem como da escravidão e da resistência a esta própria escravidão.
A cidade está em festa. Pessoas de branco circulam na cidade, sobem e descem as suas ladeiras, tudo está tomado, não há espaços vazios. A ponte de ligação a Saõ Felix está em movimento, pessoas vem de lá para cá, neste momento só há uma direção: Cachoeira.
As cores se juntam num espetáculo multicor e multicultural. È o próprio sentido da festa que se mostra em sons, em cores, em integração. Um arco íris de "raças" e de línguas, que experimentam palavras diversas da de origem para, cada vez mais, ficarem em uníssono.

A multiculturalidade de branco não questiona o por que do branco, apenas usam o branco, como se todos entendessem que o branco é uma maneira de respeitar e ratificar a resistência que esta festa simboliza.
De repente um silêncio, elas aparecem, vestidas a rigor com as suas becas de festa. Saia plissada preta, blusa branca, xale vermelho. São 30 ou mais mulheres que se revezam carregando a imagem de nossa senhora da sede da irmandade até a Igreja.
Os olhos marejam, todos silenciosamente entendem e choram aquele momento, que é mágico, como mágica é a continuidade desta tradição secular.
A s Irmãs  da Boa Morte conseguiram, mais uma vez, arrecadar dinheiro para  realizarem a sua festa, a sua celebração, que culmina com a procissão. Ali estão elas, rainhas negras no arco íris de tantas cores, ratificando a sua religiosidade e reverenciando nossa senhora e a própria liberdade.
Sim, há motivos para chorar, estamos diante de um movimento de resistência, um  movimento de mulheres negras que se reuniram em uma sociedade, "irmandade", com o fim de angariar fundos para alforriar escravos e dar guarida aos escravos fugitivos.  
As estrelas remanescentes deste movimento seguem avante, a juíza perpetua, que ocupa a posição de maior destaque da irmandade é uma velha senhora negra que anda vagarosamente, está velha, mas está ali, com as suas vestes, com a sua fé, com a sua certeza e com os seus segredos, guardados a sete chaves, que será transmitido aos membros novos da irmandade, que para assim serem consideradas deverão passar por um estágio de 3 anos, antes do estágio, porém, deverão provar que pertencem á alguma casa de candomblé.
As outras irmãs tem cada uma a sua posição, há eleições para os cargos de tesoureira, escrivã, procuradora  geral, provedora.
A festa é, como tantas outras na Bahia, o misto do ritos afros e da religião católica e esta demonstração cultural não pode acabar, primeiro porque como é uma irmandade composta só de mulheres negras e mestiças, pode ser considerada como uma das primeiras pratica feminista na Bahia; segundo porque  a festa demonstra como os negros tinham como estratégia de resistência a aceitação da religiosidade dos dominadores, sem, contudo deixarem de cultivar a sua própria religiosidade, ratificando a sua própria identidade a cada celebração; terceiro porque é uma demonstração da cultura afro-brasileira, que se renova a cada ano que a festa é realizada e que ratifica a importância da cultura africana na nossa própria cultura. A festa já faz parte da cultura oficial, porque o Governo da Bahia apropriando-se desta demonstração da cultura do grupo da irmandade utiliza-a como forma de promover o turismo da Bahia  e não só, como também para demonstrar o caráter inter étnico da cultura desta terra, abençoada por Deus e pelos Orixás.    Aiyê- Orun!

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