Acordou no meio da noite, ou
melhor, no meio da madrugada. Já acorda irritada, porque sabe que, nos próximos
cinco dias, irá acordar neste horário até que o organismo volte a se acostumar
a acordar em outro horário, é sempre assim.
Mas aí ela se pergunta: “por que
diabos acordei 1.30 da manhã?" Está preocupada com o que? Não teve nenhum pesadelo;
não está com vontade de fazer xixi; não se lembra de ter feito nada errado
durante o dia; não machucou ninguém, então por que isto? Liga a televisão e vê
uma reportagem sobre o Rio Tietê e a sua nascente. Acreditem se quiserem: o
Tiete nasce limpo, como é óbvio. Onde ele nasce, num interior de São Paulo, a água
pode ser bebida sem qualquer problema, aliás, é o que faz o repórter, que
continuou fazendo a reportagem sem ter qualquer reação. Há uma comparação entre o Rio Tietê e o Rio
Reno que nasce na Suíça, que segue limpo por todo o seu curso, e que, de acordo
com a reportagem, é que abastece o país, e os suíços bebem cozinham, enfim
utilizam a água do Reno sem qualquer problema.
Ela imagina se alguém cai no Rio Tietê, e bebe, sem querer, um pouco
daquela água, bem ali naquele lugar onde os guindastes estavam tirando sujeira.
Ela pensa: “Eu morreria só de pavor de cair ali”, odeia águas sujas.
Muda de canal, o guindaste
tirando sujeira do Tietê não lhe agrada nem um pouco; para no Jô Soares e vê um
ator falando da sua vida, informando que ele foi interno num colégio em Minas.
Só pode ser isto! Internato, religião,
Deus, mandamentos. A associação só pode
ser esta, todavia a ficha cai e ela lembra que, pela tarde, ao chegar ao
Aeroporto de Guarulhos para uma conexão para sua terra, passou uma mulher com
um homem do lado e ela se viu cobiçando o cidadão.
Sim, o homem era lindo, um dos
espécimes que jamais será esquecido. Aquilo era uma visão extraordinária, mas
além deste sentido, muitas outras coisas foram despertadas. O sexo era uma delas, e ela ficou imaginando
como seria aquele cara na cama. Será que ele era delicado? Será que ele era
safado? Será que ele era bom de cama mesmo? Será que ele fazia sexo oral? De
que será que ele gostava em relação a sexo? Pense aí, alguém acorda no meio da
madrugada e fica se questionando se foi certo ou errado pensar no homem do
próximo na sua mais íntima “intimidade”. Deve tá louca. Não, não tá louca nada,
o homem era lindo, gostosão, como diriam todas as mulheres que o olhassem, aliás,
que o olharam naquele momento, e em todos os outros momentos em que ele aparecia
e podia ser apreciado tanto por homens quanto por mulheres. Aquele belo espécime
era de tirar fôlego, causar invejas, cobiça, desejos, pensamentos libidinosos.
Sim cobiça, e aí ela faz a
ligação com a entrevista do ator. Não tem certeza que o colégio interno do rapaz
era um colégio religioso, comandado por padres, possivelmente era, e aí é que
ela se lembra dos mandamentos da lei de Deus, hoje quase em completo desuso,
porque logo o primeiro deles já vem sendo desrespeitado há muito tempo: AMAR A
DEUS SOBRE TODAS AS COISAS. Muitos
poucos amam Deus sobre todas as coisas, hoje, o que vemos é a prioridade do
material, muito poucos estão preocupados em amar a Deus, pode ser que o papa
Francisco consiga reavivar este mandamento, mas não acredita, Já não lembra
qual o segundo, nem terceiro, enfim, não sabe nem todos e nem a ordem deles,
mas sabe que existe um que diz: NÃO COBIÇAR AS COISAS ALHEIAS e nem a mulher do
próximo. Cai na risada. Por que não cobiçar só a mulher do próximo? Então se pode cobiçar o homem do próximo ou
da próxima? "Kkkkkkkkkkkk discriminação da zorra." Não consegue parar
de rir, pois nunca tinha pensado nisto até o momento. Então ela não pecou, porque estava cobiçando
o homem da próxima, quer dizer, em principio homem, porque aquele Deus do Olímpio
poderia ser gay, e aí, a sua cobiça não teria qualquer motivo, porque pensa que
cobiça tem que ter um mínimo de possibilidade de ser possível, ou seja, o alvo
dela deve ser alcançado. Então você vai querer uma coisa que jamais alcançará:
o seu pensamento, início de qualquer ação, mesmo aquelas que a gente diz que
fez sem pensar (esta é uma das maiores mentiras do mundo), porque você pensa; você
não pondera este pensamento, mas você pensa e age, sem qualquer intervalo entre
pensamento e ação, mas pensar, pensa sim: é o primeiro ato de tudo. Então você começa uma idealização que nunca passará
disto? Ou seja, se o homem não fosse homem, de que adiantaria a sua cobiça? Ele
jamais olharia para ela, aliás, como não o fez. Bom mais ela poderia provocar que
ela fosse notada por ele: podia jogar sua mala discretamente na hora que ele
estivesse passando; podia levantar e se esbarrar nele e pedir desculpa
cretinamente; podia seguir o casal e ver qual a possibilidade de ser vista por
aquele cidadão, enfim, podia forçar uma situação; mas se fosse ele gay, no
máximo receberia um olhar de reprovação e de desprezo que só “gay” sabe dar
para uma mulher, ou para qualquer outro ser humano digno da sua reprovação.
Bom, mas se ela não estava pecando
porque não estava cobiçando a mulher do próximo, o que não tinha nenhuma intenção
ou tendência sexual para tanto, por que estava preocupada em ter cobiçado o
homem da próxima? Isto não estava na lei de Deus, que certamente não enquadrou
o ser humano no “NÃO COBIÇAR AS COISAS ALHEIAS, afinal o ser humano não pode
ser tomado como coisa, a não ser que aquele rapaz seja um escravo, pois os
escravos eram considerados coisas, faziam mesmo parte do patrimônio do seu
dono, eram vendidos em praça publica, eram leiloados, mudavam de dono, enfim,
eram mercadorias. Bom, aparentemente aquele cidadão maravilhoso não era nenhum
escravo, mas vá lá saber. E se ele fosse uma espécie de escravo por ser um
aproveitador, um gigolô, vivendo à custa da mulher que não era nenhuma menina,
era uma loura bem interessante, muito bem vestida, muito perua, mas nada que merecesse
aquele Deus do Olímpio como companheiro.
Pensa consigo mesma: “puta merda,
olhe quantas vezes você, em pensamento, já infringiu a lei de Deus e agora você
está julgando o próximo, ou a próxima, sem saber quem é a pessoa. Não sabe dos
seus costumes, dos seus problemas. E se aquela mulher fosse a mãe daquele rapaz?
Se ela fosse a irmã? Se ela fosse apenas a sua agente?” Sim, porque aquele belo
espécime poderia ser um modelo.
Nesse momento lembra que o
mandamento correto é “NÃO DESEJAR A MULHER DO PRÓXIMO”; ri outra
vez e diz: “Realmente não pequei, pois eu não desejei porcaria de mulher do
próximo nenhuma, aliás, não tem qualquer vocação ou tendência para isto, o que desejei
e ainda desejo, é o HOMEM da próxima”.
Ri muito, e pensa “Pois não é que eu sigo, ainda que sem querer, os mandamentos
da lei de Deus”.
Lembra, então de mais um
mandamento: "AMAR O PRÓXIMO COMO A TI MESMO", e traduz: “Bom, continuo a não infringir
qualquer mandamento, pois Deus, ou melhor, quem elaborou a Tábua dos Dez Mandamentos,
só colocou tudo no masculino, e se é assim, ela entende que ela devia amar
aquele próximo, o rapaz, como se ela fosse”. Não gosta desta interpretação, pois
o amor por si devia ser maior do que o amor por qualquer outro, pois sempre
achou que se não se amasse muito não poderia amar ninguém, então, em primeiro
lugar ela, depois “o próximo” poderia ser muito amado, mas não tanto assim; kkkkkkkkkkk
se pega gargalhando, pois vê o ridículo da sua situação:” Então porra, alguém
acorda no meio da madrugada para ficar fazendo elucubrações a respeito das leis
de Deus, tá mesmo maluca. Isto não pode ser coisa de alguém normal; talvez, até
seja mesmo uma coisa para gente normal, para gente que pensa, que deseja, que
aprecia o belo e que tem a coragem de admiti-lo”. Será que existe mesmo este mandamento?
E então não há como não voltar aos
Mandamentos, que ela vai lembrando aos poucos, afinal estudou em colégio
interno e tem formação, ao menos por este particular, católica, embora sem o
seguimento peculiar; pois não é nem apostólica e nem romana, NÃO MENTIR. Sim,
ao admitir todas estas cobiças, todas estas invejas, todos estes desejos, todos
estes pensamentos ela não mente nem para si e nem para o próximo, portanto ela
é uma pessoa transparente, real, com todos os defeitos e virtudes inerentes ao
ser humano que sabe apreciar o belo e, por isso mesmo, querê-lo para si, aliás,
as 03h27min, no friozinho que está fazendo, o que ela queria mesmo era o homem da
próxima. Assim, com certeza, estas horas que passou acordada e escrevendo podiam
ter sido muito bem aproveitadas, e quem sabe ela pecaria, mais uma vez, ao
chamar o santo nome de Deus, não em vão, embora para alguns isto seja mesmo um
grande pecado, mas, para ela, seria sim o auge do agradecimento ao dizer, num
grande momento de emoção e prazer: AH MEU DEUS!
04:11, Arembepe 08.08.2014.
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