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segunda-feira, 2 de maio de 2022

A morte da barata

 A noite já vinha alta, a casa em silêncio, o casal dormia no quarto principal, que fica no andar de cima: o quarto  amplo, muito grande, com closet, casa de banho. O quarto é tão grande que a cama de casal, uma king size, fica solta,  não esta encostada em qualquer parede, entretanto, e até hoje ninguém entende o motivo, não se colocou um frigobar no espaço, o que tinha como consequência, levar todas as noites um copo de agua  para o quarto. Se este hábito fosse quebrado, o resultado era descer no meio da noite para beber água.

Isso ocorrera naquele dia: esqueceram de levar o vasilhame d’água. A mulher acorda na madrugada sedenta, passou a mão no criado mudo onde sempre colocava o copo e descobriu que ele não estava lá. Tentou driblar a sede, mas ela persistia, e não teve outra alternativa que levantar e descer para beber água.

Levantou, acedeu a luz da escada e dirigiu-se a cozinha.

“Socorro”!

O marido acordou apavorado com o grito e, aos tropeções, desceu correndo a escada para ver o que tinha acontecido.

Encontrou a mulher na cozinha, de olhos fechados continuava gritando, o cachorro desceu atrás do dono latindo e, tão apavorado quanto o homem, ficava de um lado para outro.  O inferno era total.

O marido olha para a esposa tentando entender o que tinha acontecido.  Será que tinha alguém aqui? Será que ela viu um fantasma? A mulher realmente estava transtornada, tremendo, mas gritava de olhos fechados, foi preciso o homem dar uns sacolejos nela para ela parar de gritar.

A mulher parou de gritar, ficou estática, mas não conseguia falar, apenas apontava para baixo da mesa. O homem olhou para o local para onde a ela apontava, mas não conseguia ver nada, não havia nada ali, puxou as cadeiras, olhou tudo ali, nada, não havia nada.

De repente a mulher consegue falar:  “ A barata! Tem uma barata ali, ela veio voando e caiu em cima de mim, consegui tirá-la, nem sei como, aí ela caiu no chão e correu para debaixo da mesa.

O marido incrédulo olhou para ela e falou: Porra, esse inferno todo por causa de uma barata?  Vc criou um risco efetivo de eu ter um enfarto, cair da escada, enfim, causar uma tragédia, por causa de uma barata?

- Eu não posso acreditar, “cala boca cachorro”, o cão não parava de latir, o homem agora estava muito brabo mesmo, “cala boca cachorro, vou te dar uma porrada”! Agora a mulher já chorava, e gritava: “você tem de achar a barata caso contrário não vou conseguir dormir”.

O marido retado, xingando, começa a olhar embaixo dos armários, puxa geladeira, cadeira, mesa, mas nada, a barata não deixou vestígios. A mulher insiste aos gritos, ela está aqui e com ela aqui não vou conseguir dormir.

-Porra mulher, a merda desta barata não vai subir escada, vamos dormir. A mulher histérica: “Não, você tem de achar esta miserável.

O cachorro continuava alvoroçado, até porque as vozes alteradas dos donos o fazia ficar nervoso também,

De repente, mais um grito: “Olhe ela ali”,

- Ali onde?

-Ali andando na bancada do fogão.

O marido armado com a havaiana na mão, parte vociferando  para cima da barata.

A sacana, esperta, acuada, vai se enfiando aqui e ali, finalmente acha uma brecha entre a bancada e o fogão, uma fresta mínima, mas ela insiste e fica a meio pau, ou seja, uma parte dentro do buraco e a outra aparente. O homem mete a sandália, consegue simplesmente tirar uma perna da barata. Outra porrada mais violenta, e um pedaço da asa se solta, mas a barata dá sinais visíveis que está viva, a mulher continua berrando, “Mata ela, mata ela”.

A essa altura  as luzes da casa vizinha se ascendem . Uma voz é ouvida: “Vizinho o que esta havendo? Precisam de ajuda?  Eles não respondem nada, estão concentrados em trucidar a barata.

O homem agora pega uma faca, uma peixeira, ele vai enfiar a faca ali naquela fresta onde a bicha se encontra.

O cachorro late olhando para a porta, os vizinhos estão batendo no portão aflitos e gritando para eles abrirem a porta,

O cachorro late demais, o homem está vociferando mesmo, grita com a mulher; “ viu o que a sua presepada causou? Olhe o escândalo! Vamos dizer o que aos vizinhos? Que este escândalo todo foi por causa de uma barata, enquanto fala vai enfiando a faca na fresta onde a barata está. O fogão cede um pouco, dando espaço para a barata cair.

- Suba mulher, suba.  Não, não subo, só saio daqui quando vir o cadáver da barata.

A bicha debilitada, já não tinha habilidade para se safar das chineladas, e em uma delas:  xeque mate, a filha da mãe morre, espalhando uma massa branca pelo chão,  final do caos,

O homem grita para a vizinhança que estava tudo bem, que foi uma cobra que entrou na casa, A vizinhança se acalma e vai embora, o cachorro para de latir, a mulher joga agua no chão, detergente, sabão,  álcool, assepsia total,   e depois, sem beber a água, a causa de todo aquele alvoroço, sobe para o quarto.

O homem está ainda possesso deitado na cama:

O que, você deitado na cama sujo de barata! Pode levantar e tomar banho,

 Ai era demais! O cara olha para a mulher com cara de poucos amigos, e vocês podem bem imaginar o que ele mandou ela fazer!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

 

terça-feira, 5 de agosto de 2014

RABUGENTO

Quando ele está na porta da casa, assim que abrimos o portão, ele entra correndo para os fundos, parece que vai procurar algo ou alguém; me disseram que ele não gosta de gatos, e, portanto, assim que entra vai verificar se tem algum no quintal.
Feito isso, ele sobe correndo as escadas onde a aula vai começar.  Ele é bem educado, embora tenha dias que esteja sem pachorra alguma para mostrar esta boa educação. Nesses dias deve acordar irritado e, não tem nenhuma vergonha de demonstrar o seu mau humor, seja para nós, seja para os seus pares.
Quando está bem, faz questão absoluta de cumprimentar a todos. Sempre estica a mãozinha e espera que a pessoa pegue nela, ou o cumprimente de outra maneira, mas ele faz questão de demonstrar que gosta, e muito de carinho, embora na rua não se comporte bem assim.
Na rua ele é um pouco diferente, diríamos até que ele é agressivo. Não de todo do mal, mas ele é daqueles que não leva desaforo para casa. Anda pelo centro da cidade todo, todos o conhecem. Ele está sempre limpo, os cabelos negros brilhando. Tem um apelido engraçadíssimo, e só depois de muito tempo é que vim entender o motivo- RABUGENTO, embora os mais íntimos o chamem de Rabu.
Todos conhecem o Rabu e sabem onde é sua casa. Ele vive no meio de atletas, e, por isso mesmo, faz IOGA. Ele é perfeito no alongamento, aliás, penso que é a hora que ele mais gosta da aula, ele se estica primeiro para frente, coloca as mãos para frente e joga todo o corpo para trás, fica perfeito, todo alongado, penso que nunca terá problemas de coluna.  A mesma coisa ele faz com as pernas, fica de quatro e estica todas as duas pernas bem para trás, e o corpo fica quase numa paralela ao chão. È muito interessante vê-lo se esticar todo.
Passa todo o tempo da aula bem junto a mestre, que é italiana e fala com ele em italiano. Quando ele tá muito inconveniente, querendo incomodar a todos na aula, ela ralha com ele em italiano, às vezes ele para, mas, outras vezes, penso que ele não quer que ela ralhe com ele em italiano, e insiste em fazer as mesmas baboseiras, vai mexe com um, deita-se nos pés de outro, impedindo que a pessoa possa fazer corretamente o exercício, no que parece que ele se diverte; quando isto acontece, a mestre tem de levantar e puxar ele para o seu lugar, que é, quase sempre, no canto da sala.
Ele não se concentra; se ouve algum som diferente, seja na rua, seja na própria casa, ele sai disparado para saber o que é: não interessa que altura da aula esteja, ele parece querer proteger a casa e a sua mestra.  Penso que ele acha que é uma espécie de segurança.
Dizem que ele é muito conquistador, não participo da sua intimidade para afirmá-lo, mas comenta-se que tem muitos filhos espalhados pela cidade. Eu pessoalmente acho que ele é um “vagabundo”, “moleque”, e que não sabe escolher direito as suas parceiras e faz filho em quase todas elas, resultado: qualquer hora vai substituir os “santos” em matéria de paternidade.
Pois é! Eu e Rabu temos encontro marcado dois dias na semana. Bem verdade que eu não sou muito amante da sua companhia, suporto-o, mas não tenho grande afinidade, mas ele parece não perceber isto e, muitas vezes não só fica me esperando na porta, como vem ficar ao meu lado quando sento no meu tapetinho para me preparar para a aula. Para me livrar dele logo, cumprimento-o, pego a sua mão, ou, como ele é baixinho, aliso a sua cabeça, mas ele é insistente, e a mestre tem que chamá-lo para que ele se afaste, aí ele vai futucar outro, ou o Tristão, ou os outros alunos.
Quando a aula começa, depois que ele se alonga, fica por ali, relaxando sempre, não faz toda a aula, deita-se e fica ali relaxando, até que resolve, outra vez, cumprimentar a todos, porque percebe que está finalizando a aula.

Pois é, eu penso que sou uma das únicas pessoas privilegiadas que tem um cachorro como colega de IOGA, pois o Rabugento é um vira lata brasileiro, baiano, arembepeiro, de pelo completamente negro,que foi adotado pela professora de IOGA e que, pasmem! É poliglota, e como tal, qualquer dia destes, vou ouvi-lo latir em alemão, ou italiano. Quem faz  alongamento na IOGA e atende à  sua dona em italiano, penso que pode fazer tudo, até latir em outro idioma. Será?

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Ressaca canina

A festa estava preparada, tudo arrumado, cerveja gelada, mesas com toalhas e arranjos no centro, garçons, barman, músicos. Os convidados começam a chegar, procuram mesas que tenham pessoas conhecidas, alguns ficam em pé encostados na parede, os mais jovens, claro, que nesta estratégica posição ficam de olho nas donzelas, que já começam a mostrar as suas qualidades: shorts curtos, blusas soltas bem decotadas nas costas, sandálias altas, quase nem conseguem andar direito, mas fazem charme e andam para lá e para cá, oferecendo a mercadoria. Quase todas mostram o resultado da “malhação” quase diária, pois as pernas musculadas se amostram, os cabelos, invariavelmente lisos e louros, estão sempre soltos e alcançam o meio das costas, virou uma epidemia este tipo. Quase sempre estão fazendo bicos, e enrolam os cabelos uma das mãos, para, um segundo depois, soltá-los. Um leve movimento para os lados para os cabelos caírem e, num gesto teatral, voltarem ao “status quo ante” com uma técnica dos dois dedos colocados em arcos pegando dois lados. O sorriso parece constante, mas tem de ter técnica para sorrir e tirar fotos sorrindo. Não se deve sorrir com a cabeça dura, ela tem de pender para um lado e os dentes tem de aparecer até quase os caninos. 

A voz, ah a voz! Esta sim um padrão “idiota”, um misto de sotaque carioca com uma vontade de não se fazer mesmo entender: um som horrível, mas que, para elas, parece ser sexy. Terrível.


Ela estava só naquela confusão e, por isso mesmo, podia observar tudo isto.  Todos já tinham começado a beber. O som já se fazia ouvir, aliás, impossível disputar com ele alguma conversa com outrem, ele reinava soberano. Para ela aquilo era horrível, mas parece que todos que ali estavam, em sua grande maioria jovens, curtiam o som, pois ficavam se embalançando todo o tempo, embora alguns parecessem que estavam tendo algum espasmo. A variedade ficava por conta do “DJ”- arrocha, funk, tecno, a garantia era mesmo da altura.


Não tivera saída para descartar o convite, era amiga dos pais do aniversariante, fora convidada para o niver, e jamais faria uma desfeita destas, mesmo sabendo tudo o que iria rolar.

Começa a perceber que todos nunca bebem toda a cerveja que está na latinha, ao primeiro sinal de que ela esta esquentando, o que está na lata vai para o chão, ou fica na própria lata em cima da mesa ou nos cantos das paredes, ou ainda em lugares menos adequados, mesmo com a recolha que os garçons fazem a todo o momento e ela pensa: “Estes filhos da mãe não tem pena do dinheiro dos outros, pois se tivessem, ao menos, dividiam a cerveja com outras pessoas, e não jogariam fora a lata quase cheia.” 

De repente observa o cachorro da casa, vê que ele, como é bem manso e lindo, circula pela casa, é mais um convidado da festa. Acompanha o passeio do bicho por entre as pessoas e mesas e nota que ele lambe muito a grama, acha estranho e fica observando.

Mata a charada quando nota um rapaz despejando um resto de cerveja no chão, e vê que o cachorro vai direito para o lugar em que o líquido foi despejado e começa a lamber, vigorosamente, a grama que ficou molhada de cerveja. Acha muito estranho mesmo, mas não faz nada.

A festa decorre tranquilamente, em princípio todos estão muito educados e contidos, afinal a bebida ainda não tinha feito o efeito.

O cachorro grande, lindo, todo branco,(quase albino) continua circulando e lambendo toda a cerveja que cai no chão, o que aconteceu durante toda a festa. Em dado momento ela vê o cachorro andando e cambaleando, não acredita no que vê, o cachorro parecia não conseguir andar em linha reta. De repente vê o animal olhar para cima e para os lados, como se estivesse achando estranho o que ali se passava, ato continuo o cachorro cai e fica deitado sem condição de levantar; quando consegue, dá dois passos cambaleantes e cai de novo. Olha para os olhos do cachorro e vê que eles não estão normais, estão vermelhos.

Fica ali analisando o cachorro e de repente: KKKKKkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk o cachorro ficou bêbado! Nunca vira isto antes, bicho bêbado só no Natal.quando o peru  do jantar natalino é embriagado antes de morrer, isto é: antes de ser assassinado. O peru fica embriagado no último dia de sua vida, parece coisa de realizar o último desejo.

O cachorro ébrio, depois de muito rodar, e muito lamber a grama encharcada de cerveja, visivelmente embriagado, some.

A festa continua, mas tinha hora certa para acabar, o que aconteceria as 10h00min da noite, pois era uma festa em uma casa dentro de um condomínio e tinha começado ao meio dia.

Acabada a festa, todos, bêbados ou não, tem de ir embora. Ela não, ela ficaria para dormir na casa dos amigos, e foi que fez. Como tem hábito de acordar cedo; logo cedo, no dia seguinte, desceu e foi ficar à beira da piscina. De onde estava via o canil do cachorro e vê que ele está lá deitado, largado, “escornado” seria a palavra certa. De repente vê ele levantar-se e  tentar dar uma volta, mas não consegue, parece estar enjoado, bebe água e volta a deitar-se, para, pouco tempo depois, tornar a levantar e sair do canil para vomitar. Isto aconteceu durante todo o dia, pelo menos, até o horário em que ela deixou a casa dos amigos para ir para a sua.

Pela primeira vez na vida ela presenciou um pileque de cachorro e a ressaca fenomenal do animal. Pois é: assim como são os homens, são as criaturas! Se beber demais, vai ter ressaca na certa.