Ontem, dia 22.08, eu e
meus irmãos e mais alguns da família, fomos espalhar as cinzas da nossa
mãe. Ela estava aqui em casa comigo
desde o mês de fevereiro ou março, acho eu. Coloquei a urna no espaço onde
costuro, talvez para receber os fluidos de Dona Yvone, porque ela sabia
costurar. Minha mãe foi sempre um faz tudo, mas faz tudo mesmo: era uma super
mulher. Educadora, parteira, cozinheira, doceira, catequista, costureira. Ela
metia as caras e ia fazendo as coisas. Não sei como se tornou parteira, mas
penso que foi quando morávamos em Camaçari, pois ela acompanhava a velha
parteira da cidade em diversos partos. Aprendeu a manha mesmo, porque fez
muitos. Eu não teria coragem, sinceramente, mas dou Graças a Deus por ela ser
tirada e meter as caras, porque com esta coragem ela ajudou muitos a virem ao
mundo.
Bom, o certo é que minha
mãe ficou aqui em casa dentro da urna, na verdade não era para demorar tanto,
mas a pandemia chegou e a gente não podia se reunir para fazer esta
distribuição das cinzas.
Acontece que tive que
tomar uma atitude, com pandemia ou não, porque ela me deu pressa para fazê-lo.
Pois não é que a danada me apareceu em sonho e me disse que queria mudar de
casa, que não estava gostando daquela casa onde estava. Logicamente no sonho
tratava-se mesmo de uma casa, ela morava em uma casa que ela dizia ser feia e
queria sair dali, e, como sempre, eu tinha de me virar para fazer as vontades
dela. Acordei sabendo o que devia ser
feito, tinha mesmo é de jogar as suas cinzas em algum lugar onde ela se
sentisse, como sempre foi e quis, livre.
Falei com os irmãos que
tínhamos de organizar isto. Em princípio pensei em colocar as cinzas no mar,
entretanto, meu irmão Luciano me alertou: “Dona Yvone gostava era de matas,
rios, plantas, portanto deveríamos colocar suas cinzas num lugar de muitas
arvores.”. Concordei de imediato: Minha mãe era uma pessoa bem espiritualizada;
Ela recebia entidades, dentre elas caboclos a exemplo de “boiadeiro”. Também
tinha muita ligação com São Lazaro, Nana, Cosme e Damião.
Era de distribuir
“flores” como ela chamava as pipocas do velho. Se bem me lembro, na segunda
feira era o dia de fazer isto. Acompanhei muitas vezes minha mãe para as sessões
da umbanda que ela frequentava. Presenciei muitas e muitas vezes as
manifestações das entidades. Ficava preocupada e meio descrente, mas deixava
que ela passasse pipoca em todo o meu corpo, que era o que sempre fazia quando
o “velho”, (São Lázaro) chegava. A preocupação era por conta do corpo de Mainha,
é que ela tinha problema nas articulações e as entidades velhas se contorcem
muito quando se manifestam. Felizmente ela não tinha nenhum caboclo que
bebesse: se tivesse aí a merda estava feita, porque minha mãe não bebia álcool
no dia a dia, aliás ela não bebia nem no dia a dia, nem noite a noite, talvez a
noite, quando meu pai era vivo, ela se embriagasse por osmose, porque o velho
bebia para cacete, por ele e por ela.
Bom, Luciano sugeriu a
reserva Sapiranga. É um belo lugar, com riachos, vegetação densa, trilhas,
enfim, uma pequena floresta. Um lugar ideal para a finalidade que tínhamos em
mente. E lá fomos nós. A urna foi comigo, no meu colo. Mentalmente eu ia
falando com minha mãe, e tenho certeza de que ela estava me ouvindo. Não deixei
de sacanear com ela, pois achei que ela não queria ficar comigo, mas eu bem
sabia da vontade dela sempre. Ela nunca quis ser enterrada em gavetas, sempre me
pedia isto: que era para enterrá-la em cova cavada na terra, Não consegui atendê-la
num primeiro momento, mas agora não teria
desculpa, eu tinha de fazer o que ela queria que era voltar a natureza,
ser uma parte dela, então fomos lá na
Sapiranga e cada um lançou um punhado das cinzas(cremamos os ossos).
Eu fiquei com a maior
parte. Distribui as cinzas em todas as direções, inclusive na água. Foi um
momento muito bonito. Um dos meus irmãos conseguiu captar alguns flashes. As
cinzas formaram nuvens e se espalharam por entre as árvores, parecia uma coisa
de contos de fadas, uma claridade imensa, por entre as copas das árvores o sol
adentrava e as cinzas ali flutuando
entre aqueles espaços, a luz do sol fazendo o mais fantástico efeito.
Cumprimos o desejo de
Dona Yvone, ela agora está no seu meio, com os seus caboclos, com os seus
meninos, com os seus adorados e respeitados espíritos. Com certeza está muito
feliz e nós também estamos.

De lá da reserva voltamos
para a casa de Tininho, onde comemoramos juntos o momento, aliás comemoramos
duas coisas, a volta de minha mãe à natureza e a formatura de Mariana. Falamos
muito dela e de tantas coisas que aconteceram na nossa família. Vimos as fotos
que foram tiradas dos momentos em que lançávamos as cinzas no ar. Lindas fotos,
grandes flashes. Em casa, analisando as fotos, pude ver em uma delas,
paralisando um dos vídeos, o rosto de minha mãe, acreditem, identifiquei o
rosto dela em paz, muito tranquila, com a expressão de felicidade. Não me
importa se ninguém conseguir ver, ou que não acreditem que consigo ver. Sei é
que ela se fez presente fisicamente para nos agradecer. Agora ela é ar, terra, água
e estará sempre conosco, mais uma vez se dividindo para dar um pouco a tantos
quantos dela precisem.
Beijos mãe.
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