quinta-feira, 24 de setembro de 2020

ESCREVER É BOM


 Muitas, mas muitas mesmo,  pessoas me perguntam como tenho tanta facilidade para escrever. Alguns chegam a me dizer que tremem em frente a uma folha de papel em branco. Reconheço que tenho mesmo facilidade, mas esta facilidade qualquer pessoa pode ter. Li muito quando era jovem, afinal um dos meus piores trabalhos no internato era limpar a biblioteca da escola, esta atividade me deu a oportunidade de  manusear muitos livros, próprios da minha idade e também os impróprios, mas, li alguns. Logicamente que a leitura era escondida, até porque para ler tinha de parar de limpar. O fato é que isto me ajudou bastante. Durante algum tempo, quando tinha oportunidade de estar com a minha família, minha mãe nos obrigava, a mim e aos meus irmãos, a interpretar textos, tais textos estavam nas contra capas de alguns cadernos. Era um exercício interessante. Bom, mas o fato é que escrevo mais facilmente que alguns.

Por ser só no internato, escrevi muito sobre a minha vida e estória, bem como das colegas. Este também é um bom exercício, fazia uma espécie de diário, o que recomendo a todos. 

Veio a escolha da profissão e eu escolhi Direito; quer profissão para escrever mais de que esta? Claro que não: ela bate record, e olhe que quando advoguei não tinha computador e a facilidade de copiar passagens de textos anteriores para um novo, enfim, não tive esta facilidade, mas escrevi e pronto. Depois disto fui para o Judiciário, e puta que pariu!  Vá  escrever assim no inferno. Entretanto, a lateri da minha profissão, eu  continuava a escrever sobre a minha vida nos meus diários: casos da vida, passagens das audiências, enfim, escrevi. Gosto disto. E aí e que acho que está a diferença entre mim e os que me questionam: Eles não gostam de escrever e de ler; e isto dificulta imenso esta habilidade.

Bom, mas este bolodório  (peguei você) todo é para que eu peça vênia para dar algumas dicas para quem quer escrever algo. 

Se você está querendo escrever sobre uma matéria técnica, quando falo técnica estou falando de textos ligados a uma profissão, que vai ter de fazer: primeiramente você vai escolher o tema. Escolhido o tema, você vai procurar saber se alguém já escreveu sobre ele e quais os aspectos analisados, isto serve para que você conheça mais da matéria, saiba quais as posições que mais se coadunam com o seu pensamento, quais as que são contrárias e por que o  são.  Depois de analisar, se não todos, ao menos uma boa parte de autores que discutiram a matéria, você começa a dialogar  com estes autores, questionar o texto deles, perceber se você consegue responder as questões postas. Se você não conseguir responder as questões, não comece ainda a escrever, porque você não vai conseguir um bom texto.  Não pense em criticar A B ou C, discordar é uma coisa, criticar, tentar destruir o outro, é outra   A grandiosidade do autor está exatamente em colocar o seu ponto de vista sem sacanear ninguém. O mesmo trabalho que você teve ou está tendo para escrever seu artigo, seu ensaio, sua dissertação, eles também tiveram.  Lógico que algumas pessoas são brilhantes, outras medíocres, mas ainda assim, eles tiveram de ler, estudar, analisar, enfim, tiveram o trabalho da criação.

Arrume as ideais com muita clareza, veja a melodia da escrita. Quando falo em melodia da escrita, é porque a escrita é como uma ópera, uma valsa.  A coisa vai crescendo, o ritmo aumentando, em dado momento você está tão dentro da melodia, que você tem de chegar ao auge e parar, não se arrisque a escrever coisas infindáveis, tudo tem começo, meio e fim.

Você tem de fazer com que cada leitor entre na melodia também, dance com a sua música, queira chegar ao fim, ao êxtase. 

Nunca esqueça que você não é o único que escreve sobre determinado tema, alguém antes de você já fez, o isto,  e se não o fez, o seu tema te remete a um tempo anterior, então  há que se fazer esta ligação entre o passado e o presente, isto é essencial para uma boa escrita.

Este caminho entre o passado e o presente é o que, em metodologia, chamam de estado da arte. Eu, na verdade, não sabia deste nome, ou melhor desta expressão, mas quando se escreve uma tese de doutorado ou uma dissertação de mestrado você tem, por instinto, de fazer tal digressão.

Sim, mas textos mais simples, como fazê-los? Textos mais simples você escolhe o tema, o caso que vai contar, a estória.  Se você, por exemplo, quer falar de uma determinada história que aconteceu em 1920 em alguma cidade da Itália. Procure logo saber como estava a Europa nesta época, o que aconteceu na Itália naquele ano e qual o resultado específico dos acontecimentos no local que você escolheu, daí comece a trabalhar com os personagens dentro deste contexto. 

Os fatos históricos são encadeados, eles não aparecem soltos, uma causa remota dá consequências diversas em diversos lugares diferentes e é preciso fazer estes elos. Não é pormenorizar as coisas, mas há de se fazer um link (para ser mais moderno).  Quando Dom João VI veio para o Brasil com toda a família real, isto foi a consequência do que estava acontecendo na Europa, quando Napoleão iria invadir Portugal.  Ora, se você quer escrever sobre isto, você vai ter de falar um pouco das coisas que Napoleão fez e como estava a Europa naquele momento e, só depois disto, é que você vai trazer o Don João para cá. Não comece dizendo que Dom João veio embora para o Brasil e pronto.

Você quer falar da Inquisição Portuguesa no período colonial aqui no Brasil(Bahia). Você há de falar minimamente o que era a Inquisição, fazer a ligação da Igreja com os reinados, como eles agiam na Europa (Portugal e Espanha) para ser mais exato, e depois chegar ao Brasil em 1591. Você há de falar quem era o Rei da época, que eram os reis da Espanha, e outros detalhes até chegar aqui com o governador Francisco das Manhas. Kkkkkkkkk, é isto mesmo, o homem passou a ser conhecido como Francisco das Manhas mesmo.  Ele  veio ser  governador geral e trouxe, na sua caravela, os  membros da Inquisição. Enfim, você tem de fazer o elo para poder adentrar literalmente ao assunto.

Vai escrever um romance?  Comece pensando exatamente o tema deste romance:  Suspense!  Amor!  Espiritualidade, sei lá mais o que.  Depois do tema você  vai pensar nos seus personagens principais, porque no romance você vai fazer a trama entre muitas pessoas, muitos personagens, mas não se preocupe de início em criar todos os personagens, muitas vezes eles vão aparecendo no desenrolar da sua estória, vão se criando, ganhando força, podendo até modificar  a própria estória que você pensou, mas não deixe que um personagem secundário tome o lugar do seu protagonista. Não confunda o leitor.

Quando escrever, tente não rebuscar tanto a linguagem, o leitor não gosta de coisas difíceis e complicadas.  Não faça rodeios, seja claro e objetivo.

Se você quer escrever uma crônica ou um conto, observe bem a diferença entre um e outro. Sempre fico confusa, mas foque em uma coisa: cotidiano – o cotidiano é a vida do dia a dia, são as situações que ocorrem e da qual ou você participa ou toma conhecimento. Se você for escrever sobre um fato deste (seja um fato político, uma conversa que ouviu, uma cena que presenciou, você vai escrever uma crônica. Na crônica você  pode dar sua opinião, discutir o que alguém disse,  fazer comentários, enfim, você está livre   para  dizer  da sua impressão, mas preste atenção, se você vai escrever sobre um acontecimento real, você não pode  alterar a realidade deste fato, porque você se arrisca a fazer um fake News, e o Careca lá de cima  não vai te perdoar.

Um conto: um conto é uma pequena estória  que você cria do começo  ao fim, você não tem a obrigação de  se preocupar  com a verdade  real, você simplesmente escreve um conto: conta alguma coisa, arruma um tema, um personagem, ou mais de um, mas em número limitado e você faz um conto, assim, como não quer nada.

Não tenho pretensão de   ser aqui nenhuma técnica, tampouco ensinar ninguém a escrever, quero apenas ajudar a quem acha que não tem esta habilidade, por isto mesmo não vou aqui falar em artigo, ensaio, resenha etc. etc.  isto fica com os livros e mestres de metodologia. 

Espero que aproveitem alguma coisa deste texto e passem a escrever.  Estejam sempre atentos ao português, porque  escrever não combina muito bem com “ a gente vai” falar de tal assunto, há que se observar o mínimo das  regras gramaticais, ortografia, concordância, enfim, tem de saber o mínimo da sua língua, isto, entretanto, não significa que você tenha de modificar a fala do seu personagem, se for o caso, se ele não sabe falar corretamente o português, ou qualquer outra língua. Isto é permitido, afinal você está escrevendo para que o seu leitor entenda, perfeitamente, o que o seu personagem é, o que a sua escrita descreve.

Recordo-me que, em algum momento da minha vida, soube que em um vestibular o tema da redação foi “a vida vem em ondas como o  mar”.  Como você começaria a escrever sobre isto? Em primeiro lugar você deveria fechar os olhos e lembrar o mar em um belo dia de sol, ficar imaginando a união, lá no infinito, na linha do horizonte, dos azuis, o do céu e o domar, depois você teria de imaginar o movimento das ondas, o seu vai e vem, ali na beirada, na área, e por aí vai, até perceber que este movimento de vai e vem é exatamente o que tem a ligação com o tema da redação  que é exatamente a vida e o seu vai vem, os seus problemas, as suas alegrias e as suas tristezas, a superação, enfim.

Por outro lado, leia bastante. Quando ouvir algo que seja diferente, estranho aos seus ouvidos, dê uma paradinha e leia sobre o assunto.  Uma palavra nova deve ser entendida perfeitamente para ser bem aplicada. Não se acanhe de colocar uma “porra” em uma escrita. A porra pode significar   coisas muito boas:  Veja por exemplo: “aquele cara é um cara da porra”. O que significa isto? Que você conhece uma pessoa que é boa, interessante, amigo, inteligente: e tudo isto está exatamente definido no “da porra”. É só saber colocar a expressão na hora correta e no lugar correto. É fantástico!

Um grande exercício que vai te ajudar muito é escrever os seus sonhos. Aqueles sonhados mesmo quando você está dormindo; quando você os descreve você está exercitando a escrita, o pensamento, a concatenação dos fatos sonhados, você vai ter uma sequência, você vai estar criando um texto.

Um outro bom exercício é você, quando pensar em alguma coisa, colocar a ideia num papel e ir  colocando ali tudo o que você pensa sobe aquele assunto, não necessariamente ordenado, correto, apenas coloque  os seus pensamentos; é o tal do “brain storm”; kkkkkk, eu também sei falar disto. Aí, depois deste exercício, você vai rever tudo aquilo e tirar o storm do brain. A palavra storm significa tempestade em inglês: olhe só a modéstia e o brain é a mente, o cérebro. Uiuiui!

Bom, tudo isto foi para lhe ajudar, lhe dizer que todos nós somos capazes de escrever, que não se deve ter medo do papel em branco. Desculpem se fui m muito pretensiosa, mas o intuito era, e é, de ajudar.    

  


Nenhum comentário:

Postar um comentário