sábado, 5 de dezembro de 2020

A ESPERA DO INTERROGATÓRIO - LINDLEY IV

 Estou aqui assistindo a livre do Presidente da República, em todas as quintas feiras isto acontece. Nessa oportunidade nós podemos saber, sem grandes complicações, quais as medidas que estão sendo tomadas pelos governos em todas as áreas do país. Hoje, especialmente hoje, estamos com o Ministro da Justiça e O Superintendente da Polícia Federal e ao mote da “live” é, exatamente, o contrabando de nossas madeiras.

Gente do céu, automaticamente me lembrei e LINDLEY e do pau Brasil! É impressionante, parece que estamos no mesmo há 520 anos, nada mudou, a diferença é a tecnologia e os meios como se desvia a madeira do Brasil para outros países. E engraçado, a gente não pensa em muitas coisas, até que alguém ou algo nos faz raciocinar sobre determinado aspecto: Por exemplo:  nessa “ live” fiquei sabendo que o maior comerciante de café do mundo é a Alemanha, pasmem os senhores! A Alemanha que não produz café algum e a maior comerciante dessas comodities.   Também, nessa mesma “live”, soube que na Alemanha existe om grande número de ararinhas azuis: puta que pariu! Raciocinei: porra como é que a Alemanha pode ter tantas ararinhas azuis se tal pássaro não é original de lá. Como essas ararinhas foram parar na Alemanha?  O que aconteceu?  Será que elas migraram sozinhas, saíram   daqui do Brasil, cruzaram o Oceano, entraram no continente Europeu e conseguiram alcançar a Alemanha?  Que diabos é isso!

Vi ainda, nessa mesma “live”, a tecnologia que só agora foi implementada no Brasil para identificar a origem do produto, seja madeira, seja do reino animal, mineral enfim, essa tecnologia já existe há muito tempo na Europa, e lá há muito que eles já podiam identificar 

Tudo isso estou comentando, porque eu vou continuar falando de Lindley, que era inglês, esteve aqui e tentou contrabandear   pau brasil.

A onda da vez é o nosso ipê

Acho muito engraçado que países que recebem essa nossa madeira, muitas vezes extraídas ilegalmente, se deem ao luxo de criticar e exigir do nosso governo proteções ambientais, que eles mesmo ajudam a minar. É muito interessante mesmo, eles quererem impedir que a nossa floresta seja desmatada, alegam que estamos destruindo o meio ambiente, entretanto, permitem que os seus nacionais comprem madeira extraída da própria Amazônia, muitas vezes, ilegalmente. Compram abaixo do preço real, mas isto nem sequer é levado em conta, e esses sete países (Unocracia) querem? Se unir mais e destruir os demais? Nos fazer de escravos, retornar a uma colonização em que eu colonizo e mando e vocês obedecem para me favorecer. Que é isso? Então vocês mesmo pregaram   tantas doutrinas de liberdade e agora querem este retorno medíocre.

Bom, mas vamos ao Lindley, Ele estava desesperado com a situação em que se encontrava, preso em um local insalubre, vendo a sua esposa passando vexames por estar presa junto com muitos homens, num ambiente nocivo, sofrendo “de modo diverso do meu, queixando-se de dores violentas e de inchações por todas as partes do corpo” (LINDLEY 1805;38)

Ao inglês foi tirado tudo, nem lhe deixaram levar lápis e papel, e ele precisava escrever para pedir explicações, para pedir auxílio, segundo ele:

Tinham sido baixadas ordens terminantes para que não me fornecessem pena e tinta: mas consegui frustrá-las ocultando um lápis e parte de um caderno de papel que achei meios de comprar. O primeiro uso eu fiz deles foi solicitar uma pequena caixa de medicamentos que tinha a bordo: houve humanidade bastante para atender-me, mas até mesmo com esta ajuda sinto-me bem doente dia a dia mais fraco(...) LINDLEY 1805; 37-38).

Lindley procurou escrever ao Desembargador Claudio, o que presidia a tal comissão que foi enviada a Porto Seguro para averiguar o contrabando de madeira, solicitou uma audiência, mas, segundo ele, o Desembargador, grosseiramente, mandou dizer-lhe que quando ele precisasse ser ouvido seria chamado.

Os dias foram passando e o inglês permanecia preso no subterrâneo da Casa da Câmara e Cadeia, cada dia mais fraco. Comia a comida que conseguisse comprar através de algum carcereiro, isto porque “o alimento era passado pelo mesmo orifício, mas obtê-lo ficava aos meus próprios cuidados e expensas”, e bebia água de um “jarro grande colocado do lado de fora da janela, e por uma abertura nela existente nós o tomávamos para dele nos servimos” LINDLEY 1805;37)   

Não é brinquedo não, dias terríveis o inglês passou na cadeia.  Dá para imaginar mesmo o mau cheiro que devia reinar no ambiente. Não bastasse mesmo o estado lastimável do local, não se vê o inglês, nos seus comentários, falar em banho, higiene pessoal, enfim.

Entretanto, após o inglês tomar conhecimento que os seus homens estavam sendo levados para inquirição, animou-se um pouco, pois sabia que logo deveria ser ele, e foi o que sucedeu “no dia 24 “tive a satisfação de ver a escada mais uma vez arriada. Intimado a subir e fui conduzido, sob escolta, à sede da Comissão. (LINDLEY:1895;38)

Foi o inglês, mais uma vez inquerido  sobre o contrabando do pau brasil, isto durou  5 horas, mas voltou ao lúgubre lugar, onde encontrou a esposa aflita em função da demora, entretanto  diz ele que  o ar puro lhe fizera bem e ele sentia-se um pouco revigorado o que lhe ajudou a pacientemente esperar até o dia 27, quando novamente foi interrogado, oportunidade em que “ fiz ver em termos vigorosos, qual a nossa horrível situação, o obtive a promessa  de sermos transferidos de masmorra” (LINDLEY 1805: 38).

A transferência ocorreu no mesmo dia, e o inglês e a sua esposa foram transferidos para “cima, a um pequeno aposento   com tabiques de madeira, sendo-nos concedida a liberdade de passarmos a outro maior, contíguo. Cada qual possuía uma janela, sem grades, havendo livre circulação, dessa inestimável benção, o ar puro. Uma sentinela armada foi posta diante de nós.” LINDELY 1805;38).

Mas as expectativas de melhoras do inglês demoraram pouco, pois ali, apesar de menos nocivo à saúde, tendo o ar circulando, o vento os deixava (ele a  mulher) desconfortáveis, além do local ser uma morada de morcegos, que ficavam sobrevoando os aposentados. Também o inglês se queixava da grande zoada que os guardas faziam, porque eles costumavam jogar à noite. Além de tudo isto, ficava muito chateado com as visitas inoportunas do Capitão -Mor, residia nos aposentos acima do seu, e adentrava aos dele a hora que lhe conviesse. LINDLEY 1805;38-39)

Enfim, o inglês continuava a sua saga, o que poderia ser uma melhora, e apesar das queixas dele, para ele não funcionava, pois ele andava injuriado com tanta falta de privacidade, com tanta sujeira, com o mal estar da sua esposa.

Entretanto, ele continuava sendo solicitado a tratar doentes, até mesmo o Capitão lhe pedia favores. A Comissão continuava trabalhando na investigação e Lindley preocupado com a demora nas decisões, mal sabendo ele que aquilo era só o começo.

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