quinta-feira, 12 de novembro de 2020

PRISÃO DO INGLÊS -THOMAS LINDLEY - Capitulo II

 

Agora, em plena eleição “democrática”, tão democrática que temos a chance de ver “espíritos a votar”, volto ao Thomas Lindley e ao ano de 1802.

O Governador geral, naquela altura   Vice Rey, era o Fernando José de Portugal e Castro o Marquês de Aguiar – Vice rei e Capitao general de mar e terra do Brasil.

Lindley em Porto Seguro entra em contato direto com o Capitão Mor – Governador da Província, assim que ele chama, embora na verdade o homem fosse Ouvidor, Jose Dantas Coelho e com os seus filhos, aceita a proposta que lhe foi feita por Gaspar para trocar as suas mercadorias  por pau brasil. Ele aceita esclarecendo:

“à proposta pareceu-me tão vantajosa que não hesitei, exceto quanto à incerteza da permissão para exportar-se aquele produto. Mas como a oferta partia do próprio governador, considerei meramente nominal qualquer proibição que pudesse existir: assim, dissipadas todas as dúvidas concordei com a troca” LINDLEY 1805: 26)

Tudo acertado, artigos do brigue selecionados pelo filho do  Ouvidor em valor equivalente à carga de pau brasil que seria entregue ao nosso inglês, era só esperar o momento de seguir para pegar a mercadoria no Rio Grande.  Acontece que, uma semana após este acerto, é comunicado que o acordo não poderia ser cumprido porque Gaspar, talvez  por ter caído a ficha  declarou que :  “eles, os guardiões do  comércio, iriam  emprenhar-se em negócio ilícito”. LINDLEY  1805;26), caso o negocio fosse realizado.

Bom, mas o jeitinho brasileiro funcionou, àquela altura, o jeitinho português, e o Ouvidor e seu filho disseram ao inglês, que ele poderia arrumar esta mercadoria por outros meios,” e que não haveria qualquer embaraço ou posição da parte deles”, LINDLEY: 1805:26.

Vejam bem queridos leitores, olhe bem o que as autoridades, responsáveis pelo cumprimento da lei, disseram ao inglês: Não lhe vou criar qualquer embaraço.”   Ora, esta afirmação veio a calhar para as pretensões do inglês, que, na verdade, queria mesmo era obter lucro  e não hesitou em entrar de cabeça na empreitada, mesmo sabendo  da ilicitude do negócio.

Assim, o ainda comerciante inglês, já fez um negócio  ali mesmo em Porto Seguro, uma pequena quantidade a ser entregue em dez dias. Com o que ele não contava era com uma doença que lho infectou, pois “foi acometido de uma grave febre, que quase me vitimou” (LINDLEY;1805:26)

A doença do inglês não impediu que uma parte da madeira  estivesse pronta para ser entregue, e ele  deu esta informação ao Gaspar, o filho do Ouvidor, este, mais uma vez, sabendo  na merda que estaria se metendo,  falou com Lindley para que não recebesse tal mercadoria pois ele tinha” motivos secretos e  da mais imperiosa natureza para dar os seus conselhos”,( LINDLEY  18055:27.)

Este conselho fez LINDLEY desistir definitivamente do negócio, e fazer com que ele decidisse partir, assim  que o leme  da embarcação estivesse pronto, o que foi feito, embora, segundo ele, outros defeitos se apresentassem no brigue, o que levou a  deitar ferros[1] no Rio Caravelas logo  depois da sua partida, que ocorreu em  25 de junho  logo alcançado o Rio Caravela, porque  descobriu que a avaria era muito mais delicada do que ele  tinha pensando, e ali procurou  quem lhe  reparasse completamente a popa.

Grande azar o de Lindley, quando o brigue já estava quase reparado,  ele foi surpreendido, no dia 02 de julho, “com a visita de um oficial, acompanhado de alguns soldados que subiu a bordo munido de uma ordem de apreensão  do brigue, o qual deveria conduzir a Pôrto Seguro, sendo a tripulação enviada por terra ao mesmo lugar” (LINDLEY 1805:27.)

Não houve resistência por parte do inglês, e assim que o brigue ficou completamente pronto foi levado para Porto Seguro, onde  chegou a 11 de julho, onde já estava uma Comissão, que fora enviada pelo Governador da Bahia, para realizar a prisão do inglês, bem como de todas as pessoas com ele relacionadas.

De acordo com LINDLEY, foi a partir deste dia que ele resolveu fazer o diário.

Por que o inglês foi preso, se ele desistiu do negócio?

Diria eu: o inglês foi preso por força da inveja, do desejo de vingança, por querelas entre um particular e as autoridades locais:   O  Ouvidor , que parece ter sido um mal pagador, devia  a algum comerciante  em Porto Seguro, e  este  credor  foi  até a capital da província, ou seja, em Salvador

Deveu-se minha prisão a informações prestadas por um morador de Pôrto Seguro, que fora à Bahia com este propósito, vingando-se da falta de pagamento de uma dívida do governador civil, a quem acusava de comerciar  em pau-brasil, declarando, ainda, que o brigue estava carregado desse artigo. Acusou também os dois filhos do governador bem como o capitão mor, de haverem realizado uma expedição que subira o Rio Grande, acompanhados de empregados, índios e outros homens, a fim de explorarem certa mina de diamantes que existia às suas margens, e terem regressado  com  apreciável quantidade de pedras preciosas. E, finalmente, acusou o governador de extorsão e de ser opressor de todas as pessoas a ele imediatamente subordinadas”( LINDLEY 1805;28)

Com esta denúncia Lindley e sua pobre mulher foram jogados às enxovias[2], juntamente com a sua tripulação, sendo encarcerados, também, os dois filhos do ouvidor (Gaspar José e Antônio Luís Dantas Coelho, o Capitão- Mor Mariano Conceição, Antônio José Maranhão dono de um armazém e funcionários subalternos.

Imaginem em que merda o inglês se meteu, levando junto a sua mulher, pobre coitada!

UM ano depois dessas prisões, também o Ouvidor Jose Dantas Coelho foi preso juntamente com outros envolvidos no caso que o Príncipe Regente, Dom João VI denominou “escandaloso contrabando praticado em Porto Seguro” ( Carta Régia enviada ao Governador da Bahia  em 1803.[3]

Bom foi assim que o LIndley e a sua esposa foram parar na cadeia, e vocês não queiram saber que tipo de cadeia era a da época.

A saga do inglês e da sua família, prosseguirá num próximo capítulo, lembrando que o inglês não comprou a madeira, não havia nenhum pau brasil na embarcação, mas, ainda assim foi preso e jogado na prisão juntamente com a sua esposa e sua tripulação.



[1] Deitar ferros – ancorar, jogar a âncora  

[2] Enxovias – parte subterrânea das prisões. Geralmente úmida e escura, que, outrora abrigava os presos por crimes graves ou de alta periculosidade.

[3] Carta Règia – documento com o qíliaal  o rei dirigia-se aos administradores contendo determinações gerais e permanentes. A correspondência é diretamente do rei aos administradores.

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