Conheci o Lindley em plena pandemia.
Tenho aqui em casa um livro cujo título é “Na
Bahia de Dom João VI. [1]
e ., tardiamente, pois já o tenho aqui há algum tempo e o fui deixando-o de
lado por força da obrigação de outras leituras, comecei a lê-lo. Bom, todavia, o
fato é que peguei o livro achando que
ele seria uma descrição da Bahia
no tempo de Dom João VI.
Só para lembrar, Dom João VI[2]
é aquele rei que todos aqui conhecem de uma maneira caricata, por ser muito
porco, lembrem do seriado da Rede Globo, lembrem de Dona Carlota Joaquina e, do
mais importante, Dom Pedro I. Eu
prefiro lembrar de Dom João VI como o Rei de Portugal que, fugindo de Napoleão
Bonaparte, veio com a sua corte para o Brasil em 1808, estabelecendo-se no Rio de Janeiro, promovendo um desenvolvimento nunca antes visto;
logo de inicio abriu os portos às nações amigas, lembram disto nas aulas
de história no primário? Isto não nos
esqueceram de dizer! autorizou a
instalação de manufaturas no pais, autorizou a construção de faculdades de
medicina, bibliotecas, museus, tipografias e o banco do Brasil, dentre outras coisas.
Bom, mas não estou aqui para falar de
Dom João VI, até gostaria muito, porque um Rei que fez tanta coisa pelo Brasil
e ainda conseguiu enganar o Napoleão Bonaparte, que é o que dizem os seus
historiadores, tem mesmo muto ainda que dar em termos de conhecimento da nossa história e da
história mais imbricada à nossa, que é a Portuguesa, [3]
então vamos ao nosso personagem: LINDLEY
Era um “comerciante com idade de 30
anos, casado, homem de boas letras e suas tinturas de sciencias e medicina”
TAUNAY;1926:5) Seu nome completo era Thomas LIndley
Mas por que diabos este senhor veio
parar no Brasil? Segundo TAUNAY: No ano
de 1795 a Inglaterra tomou o Ceilão e a Colônia do Cabo à Holanda, que passava
por dificuldades decorrentes da revolução francesa. Para o Cabo então, segundo
o mesmo autor, afluíram muitos comerciantes britânicos, dentre eles estava o
nosso personagem, entretanto, em 1801 começaram os boatos de que haveria paz
entre a França e a Inglaterra, o que levaria à devolução da praça aos antigos
donos, ou seja, à Holanda. O medo tomou conta dos comerciantes e eles passaram
a procurar por novos mercados, e foi aí então que começa a nossa aventura com o
nosso Lindley.
Lindley escreveu em seu diário: “
Em consequência disto procuraram-se
outros mercados sendo logo despachados navios para as Ilhas Mauricias, bem como
para o Rio da prata e várias outras praças, em todos os quadrantes
Foi por esse tempo que participei, entre
os amantes da aventura, do financiamento de um brigue[4]
com destino a Santa Helena e outro mercado e assumi o encargo de dirigir
pessoalmente a viagem. Velejamos do Cabo no dia 25 de fevereiro de 1802,
aportando em Santa Helena em princípios de março. Nossa estada foi aí de três
semanas, aproximadamente, alguns dias após a partida, enfrentamos forte
vendaval, que avariou consideravelmente o brigue, obrigando-nos a arribar no
porto mais próximo do Brasil. Chegamos à Bahia (ou São Salvador) pelos meados
de abril. [5]
Pronto, eis como o Lindley veio parar
aqui, vejam só, coincidentemente, como Cabral, por culpa de tormentas
marítimas.
Segundo ele, nenhum navio estrangeiro
podia comerciar neste porto, e é verdade, lembrem-se que só com a chegada de
Dom João VI ao Brasil é que os portos foram abertos às nações amigas, o que não
impedia o forte contrabando, mesmo com
todo o rigor da fiscalização que só permitia a entrada no porto de embarcações
estrangeiras que tivessem avarias, observando-se todo o aparato que ele mesmo
descreve no seu diário. Apesar de toda a fiscalização ele diz:
Não obstante todo este rigor
aparente, era costume haver apreciável contrabando frequentemente praticado
pelo próprio tenente e pelos demais funcionários nomeados para impedi-lo, ou
por indivíduos com eles acumpliciados. Agora, porém, dá-se o contrário, as leis
que só existiam, até então, pró-forma tem sido rigorosamente aplicadas,
foram infligidas severas punições.... (. LINDLEY, 1805:24)
Terminado o serviço no brique, isto
após 1 mês de estada, Lindley saiu do
Porto da Baía de Todos os Santos, isto
já em maio, pretendendo rumar para o Rio de Janeiro, onde ele iria vender as
suas mercadorias, entretanto, e mais uma vez, o vento trabalhou contra
ele, o que aconteceu durante 5 dias,
quando foi avistado um barco de pescador e Lindely descobriu que estava em Porto Seguro, e guiado pelo mestre do pesqueiro resolveu
que iria parar e esperar o tempo
melhorar, todavia o que não estava nos planos aconteceu:” na entrada do porto o
brique foi de encontro a uns recifes que lhe arrancaram o leme.”(
LINDELY, 1805: 25)
Segundo o então ainda comerciante,
ele e a sua tripulação tiveram uma boa acolhida: O “Governador da Província, ou
Juiz e o capitão -mor, ou capitão
militar, receberam-nos aparentemente com
a maior hospitalidade, dando-me permissão para comerciar, encomendando para
mim um novo leme e dispensando-me todo o
conforto que o lugar podia oferecer” LINDLEY, 1808;25
Assim quedou-se Lindley em Porto
Seguro, vindo a conhecer a família Dantas Coelho, família à recém chegada de
Lisboa, ou seja, o Juiz estava em Porto Seguro há dois anos. “Um dos filhos
desse senhor, Sr. Gaspar despachava os negócios oficiais imediatos do pai, ao
passo que outro, Antônio tinha sido
enviado ao Rio Grande, lugar situado nos confins da Capitania, a fim de
superintender a arrecadação proveniente do corte de madeira nas proximidades do
rio. (LINDLEY; 1808:26)
Conta-nos Lindley que, logo no dia seguinte
à sua chegada que em conversa com o Sr Dantas Coelho e o seu filho Gaspar sobre
os produtos da terra, foi informado da grande quantidade de madeira – pau brasil
– existente e do alto valor desta mercadoria na Europa e do interesse
demonstrado pelo Senhor Gaspar, notem bem, o filho do Juiz, em trocar uma
partida dessa madeira com as minhas
mercadorias. Lindley, de cara aceitou,
embora não tivesse a certeza de que era permitida esta negociação, mas, segundo
ele, como a proposta partiu do filho do governador na presença do próprio,
aceitou[6].
A partir daí o inglês começou uma saga,
que certamente não estava nos seus planos, mas todas as consequências desta
relação com o Governador, seus filhos, o pau brasil, virá numa próxima publicação,
para que os senhores leitores não se enfadonhem, porque a história é longa.
[1]
TAUNAY, Afonso de E. Na Bahia de Dom
João VI, Imprensa Oficial do Estado da Bahia, Bahia, 1928, Edição fac- smile2012
[2] O
nome de Dom João VI era João Maria José Francisco Xavier de Paula Luís Antônio
Domingos Rafael de Bragança. (penso que a Vera é descendente dele, pois não é
que a danada também tem o apelido Rafael, penso que herdou o gosto pelo frango
no churrasco.
[3]
Ler Ronaldo Vainfas, Jorge Pedreira, Oliveira Lima, Laurentino Gomes, Pedro Calmon,
Evaldo Cabral de Melo Neto dentre tantos outros.
[4] Brigue
– tipo de embarcação à vela, com dois mastros com velas quadradas transversais,
embarcação de menor porte, por essa razão, mais veloz (Wikipedia)
[5] LINDLEY,
Thomas. Narrativa de uma viagem ao Brasil, Londres, 1805. Brasiliana, Vol. 343,
Direção de Américo Jacobina Lacombe, trad. Thomaz Newlands Neto, São Paulo, Cia
Editora Nacional 1969 pág. 24
[6]
LINDLEY, Thomas, ob cit, pg.25
Adorei!!!!!! Esperando o próximo capítulo!!!! bjs
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