quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Procurando Letras

Teve muitos namorados, dos 14 aos 19 anos namorou muito. Bom, mas não pensem que era namoro avançado não, a maioria era apenas aquele namoro de longe, quase platônico, ficava mesmo só na vontade, quando muito, no caso de uma aproximação, um rubor nas faces indicava que ali havia alguma coisa. Mas teve um primeiro namorado mesmo. Filho de um bicheiro que morava na sua rua, bicheiro mesmo, aquele homem que tem banca de jogo de bicho. O desgraçado do rapaz, que apesar de baixinho era bonitinho, tinha os olhos cor de mel, era moreno e filho do bicheiro, aliás, esta era a sua maior qualidade, porque assim agradava a ela e à sua família, porque ser filho de bicheiro significava ter um pouco mais de dinheiro e, portanto, uma possível vida melhor. Além disto, porque o bicheiro era amigo do seu pai, as coisas eram facilitadas. Mas este namoro, não deu em nada, porque o “linho” não era bom, nunca chegaria à diagonal, além de usar dente de ouro.

Depois namorou um marinheiro, bonito, alto, com um riso safado e realmente um homem. Ela tinha catorze e ele já tinha vinte e dois anos. O conheceu numa festa de “Santo Antonio”, no dia da novena dedicado aos jovens. O homem chegou e a mulherada toda endoidou. O miserável era bonito mesmo. Ela, que era uma mulher aos catorze anos, era de chamar atenção mesmo, sempre o foi, mas ainda não tinha as manhas da conquista, não saberia disputar, e ganhar, um homem. Não precisou de nada disto, ele veio a si. Resultado: entre idas, vindas, “cornos”, namoraram por uns 4 anos. Ele, já vivido, pois com este negócio de marinha já tinha morado até no Rio de Janeiro, à época, o símbolo do avanço, seja na cultura, seja na sacanagem e devassidão. Ela ainda usava calcinhas feitas de algodãozinho branco confeccionadas pela mãe e conga azul, aquela que tinha uma parte branca na ponta. Parece, entretanto, que ele gostava dela mesmo, não era só o desejo, este, antigamente, podia ser saciado com outras pessoas, era assim que funcionava. O namoro prolongou-se e a cada dia ficava mais quente. Agora ela já beijava na boca, já deixava que os seus peitos fossem tocados, já se sentia desfalecer quando os lábios dele lhe tocavam os mamilos, tudo muito furtivamente, claro, tinha só catorze anos e namorava, como se dizia, “na porta”, muitas vezes empatados pelos pigarros dos pais e pela irmã mais nova  que insistia em brincar com o rapaz.

Depois deste namorado, e enquanto ele, teve muitos, mas muitos mesmo, pensava em fazer um alfabeto completo deles. Não conseguiu é claro, mas bem que tentou. O seu grande problema foi a insistente repetição de “AA”,” JJ”, “FF”, mas conseguiu até um namorado que tinha o nome começado com a letra “B”. Este também foi contemporâneo do marinheiro, que passava, às vezes, 6 meses sem dar as caras, no mar, isto é o que ele dizia. Ela, terrena, e sem estar morta, fazia a sua parte, embora, quando o homem estava em terra, era ele o dono do pedaço. Com o “B”, a família fazia muito gosto, porque o cidadão era petroleiro. A esta altura, ela já tinha dezessete anos e estudava à noite no Colégio da Bahia. Ele também estudava ali, mas olhem bem a diferença: o cara era petroleiro, tinha uns 35 anos, tinha carro, e uma casa em um conjunto de petroleiros, no Stiep. O bicho tava doido pela mulher. Chegou a levar os pais para conhecerem a casa. Esses ficaram entusiasmados. A casa tinha até “suíte”. A filha ia ficar rica. A visita foi conversa de uma semana, ao menos, todos falavam do grande partido que a menina arrumara: petroleiro!... Pensem ai! Mas o petroleiro pisou na bola, quando disse à menina, que sempre sonhou em ser doutora, que assim que eles casassem ela ia deixar de estudar e não iria trabalhar mais. Pronto, o “B” foi para as cucuias, só serviu mesmo para que ela afastasse o sonho de completar o alfabeto.

Bom, Ari, Bernardo, Carlos e suas variações (Carlos José, Carlos Alberto, Carlos Augusto), Evandro, Fernado I, II, III, (Fernando com sobrenome árabe, lindo); Fernando de Conquista outro homem lindo e disputado; Fernando irmão de Auxiliadora, e por aí vai. Hélio, Ilmar,José( este variou muito pelo composto do nome) Jose Carlos, José Alberto, José Milton, José Luis, Joaquim, este último era seminarista, claro que deixou de sê-lo. Com este se envolveu um pouco, mas com razão, o rapaz era bonito, trabalhava na “Radio City” e ainda cantava, muitas vezes, nas reuniões do grupo de jovens do bairro, o ouvia músicas cujas letras diziam respeito a situações provocadas por ela, pelas suas escapadelas, a exemplo de “você deixou alguém a lhe esperar, você deixou mais um na solidão, quem me dera meu bem eu pudesse outra vez te abraçar...”; isto fazendo alusão a um encontro que marcaram para um cinema e ela não aparecera. Em outra oportunidade ouviu “Eu não sei mais quanto tempo eu, tenho ainda de esperar, a distância não vai impedir, meu amor de te encontrar”, quando foi fazer uma viagem com uma tia para o Rio de Janeiro, em muitas outras passagens, ele declarava o seu amor através das músicas.

Com a letra “I” também teve o primeiro homem da sua vida, aquele que, dentro de um fusca verde, lhe fez madura aos dezoito anos. O Homem tinha 39 anos e era pai de um filho de 11 e queria mesmo casar com ela, que não suportava esta idéia mesmo, pois todos que assim pensaram a queriam, tão somente, para dona de casa, este, com uma agravante, tomar conta do filho também. Resultado: dançou com todo o doce que podia proporcionar, pois era, à época, representante da Embaré, uma indústria de “guloseimas”. i

Linaldo, taí um caso de completo amor platônico da parte dele. Era um contador que era amigo das amigas da mãe dela, por aí vocês já podem sentir a diferença de idade. Se ela tinha dezesseis ou dezessete, ele já deviria ter uns 30-32 ou até mais. Este frequentava a sua casa e ela até que tentou dar-lhe uns beijinhos, mas não lhe enchia as vistas, além do fato de que tinha um medo danado de homens ciumento, o que este bem era.

No Colégio Central conheceu Oyama, olhe o nome. Tinha a proteção enquanto esperava o ônibus à noite para ir para casa, ali no ponto da Carlos Gomes. O bichão era faixa preta de tudo o quanto fosse ligado a artes marciais.

Pulou muitas letras, mas teve o P em profusão, Paulo, Pedro, passou uma fase em que estes nomes pareciam ser os únicos que eram colocados nos rapazes, mas nenhum namoro deste vingou e também eram aqueles romances de um, dois ou três dias, hoje seria um “ficar”-

Arranjava namorado na missa, no ônibus, na rua, no colégio. Com namorados diversos assistiu “Dio Come Te Amo” umas dezesseis vezes, embora nunca tenha se cansado de ver o filme, aprendeu todas as músicas cantadas por Gigliola Cinquetti.

Teve uma fase de Roberto, aliás, começada com um que era apelidado de “Berro Grosso”, pois tinha uns olhos azuis lindos e uma voz de barítono da porra, chegou mesmo a cantar no madrigal da Universidade, onde fazia medicina. O de sobrenome Farias, também estudante de medicina, e muitos outros Robertos, ainda surgiram, uns mais importantes que outros, mas que também não foram adiante.

Com o “U” teve, não um namorado, mas uma paixão, não por parte dela, e sim da do homem, que era o gerente da empresa em que começou a trabalhar aos dezessete anos. O homem endoidou e fez com que ela passasse alguns vexames. Tinha ele um "simca", já era um homem de uns 40 anos, casado, com uma filha linda e com um a mulher muito interessante lá das bandas do Santo Antonio além do Carmo. Teve problemas, porque a mulher, esperta e do tipo baixo astral, fez alguns escândalos na porta do trabalho, chegou a questionar até mesmo o cigarro que a moça fumava, dizendo que o marido mudou a marca do dele somente para dar cigarro aquela “vagabunda”, pense ai! Mas o caso não ficou só nisso, nesta fase ela estava linda, linda mesmo, tanto que no próprio balcão da empresa conseguiu um namorado, que não resistiu ao vê-la de costa arrumando o arquivo. Resultado, namoro a vista. Namorou com ele, que era um filho do dono de uma empresa transportadora que tinha sede no Largo dos Mares, o seu nome era com “G”.O cara era um "patricinho" da época, já morara nos Estados Unidos e vinha cheio de arte para “comer” o que ainda não houvera sido degustado. Também, nesta mesma época, o sócio da empresa, um Cavalo Branco qualquer, queria lhe papar e ela era presenteada com roupas, relógios, cervejas, pois o homem era diretor de uma fabrica de cerveja, que se instalara em Camaçari, inclusive chegou mesmo a ir a sua casa falar com os seus pais, a fim de que eles permitissem que ela fosse a representante da marca na Miss Bahia. Os pais não permitiram.

Se isto era bom por um lado, era ruim por outro, e o ciúme do gerente fez com que este triângulo, que nunca foi amoroso, acabasse, com uma demissão anotada em caneta vermelha na carteira de trabalho, e ela teve de voltar a andar de ônibus, coisa que não fez durante, pelo menos, uns 9 meses, pois só ia trabalhar de carro, pois que os dois, o gerente e o diretor, disputavam este privilégio de levá-la para o trabalho pela manhã. Quem chegasse primeiro, era o motorista do dia.

Teve um “homem muito apaixonado que apesar de ter o nome começado com “J”, era bem conhecido pelo sobrenome, também uma pessoa bem mais velha que ela, que se apaixonou loucamente, Ela ainda não tinha noção do que era efetivamente uma grande paixão, e achava até engraçado alguém querer tanto outro assim. Mas chegou a uma das últimas letras do alfabeto, Aos dezenove anos caiu de rastos por um “V”. Apaixonou-se, amou, amou como se pode amar alguém na vida. Foi amada também, embora um amor efêmero, como efêmera é a felicidade. E por causa deste “V”, quase, pois fim ao sonho de completar um alfabeto de namorados. Antes disto teve um W, que não era inicio de nome de jogador de football, Wesley, Wedson, não! Não era assim; foi um médico, também bem mais velho que ela, que à época tinha dezoito anos enquanto ele tinha uns 30. Alagoinhas presenciou uma boa parte deste amor, que chegou mesmo a ser um caso bonito.

Vai continuar tentando, mas agora as coisas já são mais difíceis, as exigências são enormes e, portanto, tudo mais complicado, também depois do CJ, as esperanças de encontrar um grande amor no alfabeto fica complicado, deve ser problema com nomes compostos, mas não se enganem; ela ainda tem fôlego, “as letras que a aguardem”.

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