sábado, 3 de setembro de 2011

Um belo dia de sol

Acordou. A cachorra de nome interessante, afinal é muito “chic” ter uma animal de raça, está ao seu lado. Contrariamente ao chique da cadela, ela dorme no chão da sala, não que não tenha quartos decentes onde está, mas porque a sala é mais fresca e, além de tudo, por estar sozinha naquela imensa casa feita para abrigar muitos e com amor,dorme sozinha e ali para perceber os ruídos não habituais da noite.
O fato é que a “golden retriever”, presença que lhe foi imposta por outros menos “impostos”, está ali ao seu lado aflita para sair para fazer as suas necessidades. Ela, a cachorra, é mais educada de que algumas pessoas que conhece.
Levanta, abre a porta, já tinha visto pelos vidros canelados das janelas sala que o dia está lindo, apesar de que, se não estivesse, não faria qualquer diferença, porquanto os seus últimos dias têm sido sombrios e feios, porque quando se não está bem na alma, nem mesmo um brilhante dia faz qualquer diferença.
O certo, entretanto, é que se surpreendeu mesmo, o dia está radiante; não há nuvens no céu que está de um azul límpido. O sol brilha em todos os lados, não ha sequer sombras, a não ser a da sua casa sobre a relva verde que cresce e se mostra fresca no jardim. As onze horas ainda não acordaram, esperam o seu horário, mas os vasos  foram pintados, gentilmente, pelo pintor que, delicadamente, depois de pintar tantos grandes espaços, resolveu colorir os caqueiros.
A cadela procura o seu sanitário na grama, tem quase que um lugar especifico para as suas necessidades. 
A “golden retriever” que agora já não pode ser pedante, está deitada do seu lado direito, ela é mesmo linda, mas anda triste; como ela, sente saudades dos “seus”.
Pelo reflexo da tela do note book vê os seus cabelos que o sol dá reflexos dourados. Percebe-se ali, vê que não é mesmo mais nenhuma menina. As marcas do tempo se exteriorizam a cada dia com mais vibração, com mais fortaleza e são fortalecidas pelo que lhe vai ao interior, mas a casa está linda.  Ela gosta do que vê, apesar dos zeros da direita da conta bancária terem aumentado sensivelmente, acha que valeu a pena. Tá tudo limpo, como ela gosta. Limpo e lindo ao mesmo tempo.
Os cavalos marinhos pendurados na parede brilham, foram lavados e vaselinizados. A palmeira esta afastada do muro, porque o chão foi lavado. A obra da casa vizinha sujou tudo de cimento, e o vaso foi retirado do seu lugar habitual.
O peixe de acrílico continua no seu lugar vai ser lavado, mais uma vez; hoje ainda tá cheio de poeira da obra.  O sol esquenta. Os pássaros cantam, a pitangueira é um chamariz e eles vêm abortar as flores que não se transformaram em pitangas que, tanto a dona da casa, como eles gostam.  Alguma coisa acontece com a goiabeira, mas alguém já garantiu que ela se recupera.
As borboletas, do outro lado da parede, armam seu vôo sem bater as asas; são lindas! Ninguém acredita que são feitas de conchas do mar.
Realmente a casa brilha. O sol esquenta o ombro dolorido, mas a vontade de descrever o belo é maior de que a dor provocada pelo movimento da digitação do texto.
Bêbados, acreditem, passam pela porta. As vozes denunciam o estado etílico. São apenas 5:45 horas da amanhã. Um deles fala espanhol, normal neste lugar.
Um momento de extrema paz, tudo calmo, o dia ainda não começou em sua efervescência. Ainda não há som de “arrocha” nas casas e nem nos carros, é tão cedo que nem o carro de lixo passou.
Um bem-te-vi, (será que se escreve assim) enorme, com o seu papo amarelo dá um vôo rasante na varanda. Daqui a pouco ele vai voltar para comer a comida da cara, aliás, acabou de fazê-lo: A comida é de cachorro, mas agrada a pássaros, principalmente os maiores.
A mesa coberta com um “pano” africano harmoniza-se com o ambiente. A claridade do sol faz refletir o dourado que forma a sua diversidade.
O dia vai acordando, o caminhão do lixo vai passando levando a sujeira, não toda, porque ele só limpa o exterior, a sujeira interior tem de ser levada de outra maneira, talvez o sol possa fazer isto, queimando com os seus raios fortes, com a sua quentura, tanta coisa ruim que passa no interior de cada um.As mudas de manjericão, de coentros, alface, couve, hortelã sobreviveram à poeira e a falta de água, o caseiro preguiçoso deixa de molhar, mas elas parecem ser fortes e resistem. Hoje serão relocadas. A hortelã e o manjericão (basilico) trarão  Portugal até a casa, as sementes foram compradas lá.
Realmente, o dia está lindo, vai permanecer assim. Levanta-se. Vai curtir a sua casa, é a única coisa que lhe resta curtir mesmo. Fica satisfeita com os resultados da iniciativa de reavivar as cores. As portas brilham com o novo verniz. O branco das paredes ganhou mais luminosidade, a tinta foi especial, e, por isso mesmo, bem cara, mas o resultado é “esplendoroso”. A escada, envernizada, fica maravilhosa, embora a sua utilidade já não é mesmo tão necessária, afinal, o quarto de cima, o que seria sinônimo de aconchego, de cumplicidade, de “amor” perdeu a sua finalidade, mas, de qualquer maneira, tudo foi refeito, repintado, coisas retiradas e jogadas fora, como se isto fosse suficiente para apagar um passado, que hoje, com este dia maravilhoso, deveria voltar só um pouco, para harmonizar-se com o que o sol e o céu azul já começaram a fazer.
É tudo isto seria perfeito se tudo estivesse no lugar. Filho feliz, ela feliz, família feliz. Tem fé, esperança. Quem sabe um dia o criador lembre que, nem sol e nem céu, nem uma bela casa, são suficientes para amenizar almas, é preciso mais, muito mais, inclusive, e o mais importante: AMOR.          

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