Anda na rua, hoje por necessidade, o que outrora era feito para manutenção do fisico. Já não vai mais para a orla, anda dentro do próprio condomínio onde vive, vai caminhando e sabe que os passos vão numa só direção. Não consegue ser mais forte de que esta vontade de passar pela frente da casa do “ex amor”, que mora no mesmo condomínio.
Não sabe por que vai sempre nesta direção.Já não têm mais nada; nada mesmo. Nem mesmo o “rebento” daquela relação finda foi suficiente para que um mínimo dialogo pudesse ser mantido. Não entende muito bem a causa disto, mas é assim e pronto, o que vai fazer? Aceitar, não adianta insistir, conhece muito bem aquele que outrora foi o seu grande companheiro, o seu amor, o homem por quem um dia esteve apaixonada e que parecia um grande e enorme “urso” desajeitado, mas, amorosamente, apaixonado.
Sim, aquele homem apaixonado era uma maravilha, até mesmo o seu grande egoismo era esquecido em alguns momentos, mas o “desapaixonamento” reativou, e muito, esta sua grande caracteristica.
Bom, mas ela vai andando pela calçada do outro lado da rua e olha para cima. Sabe que ele esta em casa, o que lhe dá esta certeza é o ventilador de teto funcionanado. Ele não gosta de ar condicionado, não se sente bem, e, mesmo podendo ter toda uma casa climatizada, prefere o seu ventilador de teto.
Pensa: “Que será que ele esta fazendo agora: Estará lendo o jornal? Estará com a xícara de café na mão? Será que já escovou os dentes? Estará fumando um cigarro? Ou está simplesmente olhando para cima e tendo as suas grandes ideias, as suas grandes sacadas, arquitentando acusações ou defesas, lembrando de algum processo procurando falhas apresentadas? Que será que faz ele agora? Lembra-se do tempo em que viviam juntos em que ele acordava e descia para a varanda para ler todos os jornais do dia, saber dos acontecimentos, dos comentários, ver se havia alguma manchete falando dele e do seu trabalho, ou de qualquer coisa que interessasse.
De onde passa não o pode ver, salvo se ele estiver na janela ou na varanda, ou ainda na cobertura, fora disto nada, somente o ventilador de teto acusa a presença dele no quarto.
Um pensamento continua martelando: como pode não ter mesmo condição de, ao menos, falar com ele ao telefone? Não há clima, não entende, não consegue realmente perceber como um homem tão brilhante pode ter pensamentos mesquinhos, pode se deixar levar por emoções tão bobas?
Os mundos agora são diversos, ja não pode discutir mais com ele quem esta com a razão: Jung? Freud? Já não podem falar mais de Foucault, Sartre, Simone de Bouvoir e tantos outros, nem mesmo Kierkegaard. Já não pode fazê-lo ri das suas velhas estórias de menina de interior, dos ditos populares que tanto lhe divertiam; já não lhe pode fazer mimos culinários, deixá-lo com água na boca e de água na boca. Não pode, sequer, dizer que não gosta de alguns amigos, que tem restrições a alguns parentes, gozar a cara das pessoas conhecidas, criticar alguns, falar do defeito de outrem. Enfim, sua vida foi desatrelada da dele, não restou nada, a não ser olhar aquele ventilador de teto, tão distante, tão indiferente, fazendo o mesmo movimento rotineiro de todos os dias, mas que é, hoje, o único elo de ligação entre o seu presente e o seu passado, entre ela e aquele homem com quem viveu um belo e grandioso amor, que foi levado pelo vento, um vento poderoso e natural, diferente daquele que o ventilador de teto produz.
O ventilador de teto serve para refrescá-lo. Para ela, entretanto, serve para denunciar a sua presença em casa, e para confirmar que êle ainda tem um amigo fiel: o seu ventilador de teto.
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