RESENHA
Os Mazombos e o Pai Sumé do Peabiru
Autor – Antonio Gusmão
Editora – Qualidade Editorial Ltda, 2013
Segundo FERREIRA DA CUNHA(2006) o
escritor do romance histórico tem a preocupação de trabalhar com as fontes e,
por isso mesmo, de acordo com este autor, este gênero literário encontra uma
grande receptividade seja pelas massas de cultura média, seja por parte das
elites acadêmicas. Para ele “ao
aventuroso, romanesco, pitoresco ou exótico da sua dimensão lúdica se junta
honesto estudo, que não raro se nos desvenda nos alicerces e andaimes”.
Partindo desta assertiva de Ferreira da
Cunha, comecei a ler este livro, achando, em principio que
este romance podia ser classificado como tal; não é, apesar dos inúmeros fatos reais e
históricos que nele se contem, a exemplo dos Bandeirantes, do Caminho de São Tomé, da invasão
dos holandeses, e muitos outros acontecimentos que podem ser comprovados “cientificamente”
porque história é uma ciência, e o que ela pode comprovar, portanto, é cientifico.
PESAVENTO(2000:35-37) diz que o “o texto histórico comporta a ficcão, desde
que o tomemos na sua acepcão de escolha, seleção, recorte, montagem, atividades
que se articulam à capacidade da imaginação criadora de construir o passado e
representá-lo”.
O autor não quis, efetivamente, escrever
um romance histórico; melhor assim, que ele não seja um romance
histórico, porque aí foi onde o ele deu o seu grande “pulo do gato”, fazendo
com que a ficção, ou seja a sua criação, o seu eu de escritor, ultrapassasse os
limites que o conhecimento histórico lhe forçaria a percorrer. Extraordinário o
mote, a causa da reunião dos sete mazombos iluminados.
Fiquei tramada na trama, achei
extraordinário o encontro de todos; como as histórias deles foram imbricadas e
como, de uma maneira ou de outra, a história do Brasil esteve presente, de uma
maneira ou de outra, há acontecimentos reais que valorizam o fantástico da
ficção.
Fiquei entusiasmada com o Caminho de São Tomé, mais ainda porque,
confesso, como historiadora que sou, nunca tinha ouvido falar deste caminho em
particular, sabia das trilhas, mas não deste belo e “fantástico”caminho, que me aguçou a curiosidade,
e hoje já não morro sem saber da sua
existência e do que ele significou para a história dos indígenas brasileiros e
dos incas e para a própria historia do Brasil (Espanha e Portugal).
Todos deveriam ler este livro, aliás gostaria que ele virasse
um “filme”. Fico imaginando este nosso herói mazombo, realizando as suas
aventuras ao lado dos seus companheiros.
Por outro lado, o autor trabalha a questão do gênero, tão esquecida até
mesmo pelos próprios historiadores, embora em franco resgate histórico
cultural, porquanto ele conseguiu
colocar as personagens mulheres
nos lugares devidos, ou seja, no lugar que todas as mulheres poderiam ocupar,
sem distinção alguma por força do gênero. Também gostei de ver que os heróis
negros e indígenas estiveram presentes, sinal de que ele deu o devido valor a
quem sempre o teve durante todo o decorrer da nossa luta por “independência”.
Quisera, a história real, que todos os “mazombos” fossem iguais aos heróis criados pelo autor, certamente a
história teria sido muito diferente, mas na ficção tudo é válido, e ele está
mesmo de parabéns.
Quem começa a ler o livro não
vislumbra, de nenhuma maneira, o final dele, ou seja, ele tem de ser lido de
começo ao fim, e aí é onde está o melhor do autor. O melhor do escritor é fazer
com que a curiosidade do leitor se aguce de uma maneira que ele, simplesmente,
“coma” o livro, para saber qual será o próximo momento, a próxima aventura, e
qual será o final. E isto é o que não falta no livro. Leituras como esta faz
com que os leitores descubram, ou tenham curiosidade, de saber e conhecer os
fatos históricos referidos na trama. A leitura do livro não acaba nele, pois
remete o leitor a procurar conhecer, ou constatar, o que de informações nele se
contém, esta sim, a verdadeira missão de quem escreve um romance permeado com
fatos históricos ainda , por muitos, desconhecidos. Recomendo a leitura.
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